Sentimentos insanos escrita por Freddie Allan Hasckel


Capítulo 6
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/481997/chapter/6

Domingo,

20 de Junho de 1953

Caro confidente,

Eu lamento a demora, não foi proposital, apenas me exilei de tudo e todos nos últimos dias. Não só pela dor física, ou estresse mental, e sim por essas feridas internas que nunca cicatrizam. Espero me recuperar um dia, esquecer de todo o passado, e recomeçar a minha vida do zero, mas isso só se concretizará após a minha vingança.

Noite passada quando todos estavam dormindo, eu ainda refletia, foi então que ouvi duas vozes no corredor, aproximei-me para escutar melhor e não foi uma noticia muito agradável:

– Em no máximo um mês estaremos prontos para testar o novo tratamento! – reconheci a voz entusiasmada do psiquiatra.

– Qual dos malucos será o primeiro? – não sei de quem é essa segunda voz, o máximo que pude identificar é que é oriunda de um homem.

– 401 e 397! – respondeu ele. Um aperto tão grande se fez em meu peito ao ouvir o número ‘401’ que quis arrancar meu coração com as mãos. Thomas. Eu cheguei a um estagio da vida em que já não me importo comigo. Já passei por tantas torturas nesse lugar, que mais uma ou outra não me incomodam, quem sabe dessa vez a morte chegue para mim. E mesmo ele possuindo um físico muito melhor que o meu, talvez não suporte, o homem está aqui há apenas três semanas, e sua aparência é pior que a minha. Procedimentos novos são tão agressivos, que eu prefiro nem pensar no pior, sabe por quê? Porque isso não vai acontecer, não a ele, nem que custe a minha própria vida.

Todos esses dias que não lhe dirigi uma palavra, fiz o mesmo com Tom. Ele não saiu do meu lado um segundo, sempre respeitando o meu tempo e cuidando de mim assim como um dia fiz com ele. De vez em quando ele tinha surtos intencionais na minha frente só para me animar, e por alguns segundos funcionava. Contudo, o vazio da minha alma é tão grande que qualquer felicidade se dissipa em segundos.

– Precisamos conversar! – eu disse e logo os olhos do homem se arregalaram, foi a primeira frase que ele ouviu sair de minha boca em dias.

– A que devo a honra que ouvir a sua voz? – perguntou ele sentando na cadeira ao meu lado.

– Thomas, eu posso confiar em você? – perguntei encarando fixamente seus olhos azuis. Eu precisava perguntar, era importante para mim analisar o grau de sinceridade em suas palavras, gestos e tom de voz. Uma coisa que aprendi nesse último ano é discernir a verdade da mentira.

– Sempre! – respondeu ele firmemente sem hesitar. E a resposta foi-me satisfatória. Não houve rodeios, medo, e nem por um segundo ele desviou o olhar do meu, e por um momento senti que nada nos abalaria.

– Existem coisas sobre mim que você precisa saber!

– 397, tudo o que você fez no passado pouco me importa. O passado passou, estamos aqui, e no agora você é tudo o que eu tenho, é a minha sanidade, minha companhia e acima de tudo somos cúmplices. Não te julgo pelos seus erros, assim como não desejo que você me julgue pelos meus. Eu confio em você, não preciso saber de mais nada – relatou ele calmamente enquanto segurava as minhas mãos, sua voz assumiu um tom tão doce que por um momento eu pensei em dá para trás, e esquecer de tudo que eu tinha para dizer, mas não posso.

– Eu não posso te envolver na minha loucura sem saber da minha história, Tom. Não é justo, então se prepare! – disse fazendo um segundo de silencio para reorganizar minhas ideias. – O meu mal teve inicio na infância, assim que a família Walters se mudou para a casa do lado. A filha do casal era tão delicada e de uma beleza indescritível que foi impossível não me apaixonar instantaneamente. Tivemos uma bela amizade por toda infância, mas no meu interior eu tinha a certeza de que era algo mais. Sua família era bastante humilde, mas de uma ganância sem fim, com exceção da minha Claire, era isso que eu acreditava pelo menos. Nosso bairro possuía um padrão elevado para a sua condição financeira, sendo assim eles só conseguiram adquirir a casa ao lado devido a uma herança de um parente pouco distante. Anos mais tarde meu pai adoeceu, e eu o vi definhando pouco a pouco até a morte, nós tentamos diversos tratamentos alternativos, mas foi em vão. Ele quem tomava conta dos negócios da família, sendo que todas as nossas posses se tornaram minha responsabilidade quando ele faleceu, pois minha mãe de nada entendia. Eu era praticamente uma criança tendo de ser um adulto, e os negócios já não iam tão bem como antes, ainda mais com todos os gastos que tivemos com aqueles tratamentos, mas pouco a pouco eu estava conseguindo nos reerguer. E nesse período os laços entre Claire e eu somente aumentaram. Começamos a nos envolver, estávamos apaixonados, ao menos a parte que me cabe estava. Ela dizia esconder o nosso amor de seus pais, pois tinha medo que deles, e que não queria que eles estragassem um sentimento tão puro. Aquelas duas criancinhas ingênuas cresceram e foram para faculdade, a mesma faculdade, a qual eu quem pagava com o dinheiro da minha família. Os pais dela, astutos demais, descobriram de alguma forma. Todos eles armaram um golpe para mim, deixaram-me sem nada, não que eu ligue para o dinheiro, mas eles me tiraram a minha mãe. Ela nem sabe do meu paradeiro, como eu também não tenho noticias dela, eles me lançaram aqui como se eu fosse um bicho, e mesmo que Claire não tenha culpa no cartório, o que eu duvido, ela assistiu a tudo de camarote e não fez nada – assim que terminei a história não pude conter o choro, eu parecia tão frágil com todas essas lágrimas escorrendo por minha face. Thomas me deu um abraço forte, sincero e amigo como jamais outro que recebi em minha vida.

– Vai ficar tudo bem, eu te dou a minha palavra, jamais vou sair do seu lado e nós vamos encontrar a sua mãe – prometeu ele sem me soltar.

– Eu tinha uma vida antes disso tudo, Tom. Eu tinha um amor, eu era alguém, faltava um ano para eu me formar em direito. E agora, o que eu sou? Nada, ninguém! Mentira, é pior que isso, sou uma pessoa insana internada em um hospício!

– Um pouco de pensamento positivo não ia lhe cair mal, 397! – brincou ele limpando minhas lágrimas com seu polegar.

– Nós temos no máximo um mês pra sair daqui, depois disso nossas chances serão quase nulas – informei ele sem muitas explicações.

– Está sabendo de algo que eu não sei?

Eu o respondi de maneira afirmativa com a cabeça

– O que eu tenho que fazer? – perguntou ele querendo dar logo o bote.

– Amanhã! – respondi.

Eu já havia tido diversas emoções para um dia, não era hora de me preocupar com isso. Por isso me ocupei em brincar com Suzy, dançar com Tom e juntos tivemos os nossos tão clássicos surtos. Pelo menos dessa vez eu não tive que ingerir nada desagradável. Pois bem, caro confidente, vejo que amanhã será um longo dia.

Guarde bem o meu segredo, você pode fazer isso? Honestamente, espero que sim.

Alex B.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!