Sentimentos insanos escrita por Freddie Allan Hasckel


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de dedicar esse capítulo e meu eterno agradecimento a duas pessoas em especial: Crawling e CláudioKun. Se não fosse por vocês talvez eu não tivesse passado do prólogo, obrigado pelo apoio, incentivo e sugestões. Espero que gostem da minha singela homenagem



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Terça-feira,

9 de Junho de 1953

Caro confidente,

Todos os dias parecem ser iguais, sempre a mesma gororoba é servida, os meus companheiros repedindo as mesmas loucuras, o meu maior consolo agora é a companhia de Thomas. Somo como dois animais de adaptando em um meio hostil

– Sabe que dia é hoje? – perguntei enquanto nos empanturrávamos com essa comida asquerosa.

– Não tenho idéia, desde que fui aprisionado perdi a noção de tempo – relatou ele realizando o contorno dos seus lábios com a colher de plástico a fim de retirar o excesso de mingau.

– Terça-feira. Temos uma visitinha marcada com nosso querido psiquiatra. Já planejou as bobagens que vai contar? É melhor ser bem convincente se não... – coloquei os dois indicadores na lateral de meu rosto próximo aos olhos e fingir estar tomando um choque. Ele entendeu o recado, sabia que eu estava me referindo ao eletrochoque, de fato essa é uma das palavras que mais cito nesse diário, até você, caro leitor, recebeu a minha mensagem.

– Pensei que talvez você pudesse me ajudar com isso, afinal, já é bastante experiente – pediu-me ele encarando através de seus olhos azuis.

– Somos chamados um a um logo depois do almoço, temos bastante tempo até lá para planejar algo.

– Obrigado! – sussurrou ele.

– Você tem dinheiro? – perguntei do nada, sempre fui direto ao ponto, não sou o tipo de pessoa que faz rodeios. A minha pergunta aparentemente assustou-o, pois ele cuspiu sua última colherada no prato em reação de surpresa.

– Sou milionário, por isso eu escolhi esse hotel de luxo para passar as férias de verão. – ele ironizou a minha pergunta.

O meu plano de fuga está quase todo arquitetado, o único problema é que precisamos de um capital inicial, pois por mais trouxa que o zelador seja, ele nunca colocará fé em um plano de assalto de dois internos de um hospício. A única louca o suficiente nesse lugar que nos daria credibilidade é Suzy. Ela é uma mulher velha, tem aproximadamente cinquenta anos e age como uma criança de cinco, passa o dia todo penteando uma boneca careca com um garfo de plástico, ou então ornamentando sua camisola branca com tinta como se a mesma fosse uma tela. Fico feliz por escrever as minhas memórias em papel, e não em minhas roupas. Apesar de todas as suas bizarrices ela é a única verdadeira doida que eu tenho certo convívio, ela quem me fez companhia durante o surto de ontem, gritávamos “Balinhas” enquanto devorávamos as pequenas peças do tabuleiro de dama. A que ponto cheguei, se isso não é o fim do poço, por favor, não quero chegar nele. Não queria fazer isso um dia, eu ao menos tive um copo de água para fazer com que aqueles pequenos pedaços de madeira deslizassem melhor pela minha garganta.

– Vamos precisar de algum se quisermos sair daqui! Por que você não vende um de seus órgão?

– Por que você não vende um dos seus?

– Porque fui eu quem devorou um tabuleiro de dama no dia anterior, ou você se esqueceu? Devo estar podre por dentro!

– Jamais vou esquecer essa cena!– ele parecia se divertir ao recordar.

– Vende seu corpo para alguma das enfermeiras, bonitão do jeito que você, aposto que muitas delas estão interessadas

– Então serei o “gigolô do hospício”, é isso mesmo que você está sugerindo? – ele sempre tem que encontrar alguma forma de fazer piada em todas as situações, isso me faz acreditar que ele será um doido forjado mais perfeito.

– Só sei que temos que pensar em algo. Está vendo o homem com o rodo a sua esquerda, o que parece mais louco que os nossos colegas – sim, o zelador tem um jeito ruim de encarar a todos, parece que vai devorar nossas almas com aqueles olhos negros feito jabuticaba, no inicio me colocavam medo, depois descobri que era só um disfarce para que ninguém se aproximasse dele.

– Quem? – interrogou ele curioso olhando por cima dos ombros de maneira nada discreta.

– Estou começando a achar que você realmente merece estar aqui – bati em sua cabeça com força, isso já está virando um hábito, é uma força maior que eu, e acreditem ou não, bater na cabeça do Thomas tornou um dos pequenos prazeres que esse lugar me proporciona. – O com dente podre bem ali, ele é o zelador, mora em uma fazenda próxima a nossa antiga morada, sustenta a esposa e os três filhos, e ele não é bem remunerado para isso. Ele é a nossa chave, é da ajuda dele que precisamos, mas sem dinheiro é impossível

– Pensei que ele era um interno maniado em limpeza, já viu a cara que ele faz enquanto está passando o rodo? É bizarro! Algum outro plano para conseguir dinheiro?

– Talvez, vem comigo! – agarrei as mãos de tom e o guiei para o centro do salão social, só espero que ele saiba dançar.

Por um instante eu congelei, as mãos grandes de Tom se tornaram as delicadas de Claire. E então eu estava de volta a nossa noite de formatura, mais precisamente em seu quarto, o papel de parede coral com pequenas rosas brancas desenhadas, a cama alta e bastante confortável onde já passei tantas horas. Não pensem besteira, até esse momento a minha inocência estava quase toda preservada. A atmosfera carregada pela emoção do baile, os trajes extremamente elegantes, limousines, bebidas, e o tradicional sexo pós baile. Nunca fui do tipo popular, sempre me chamavam de c.d.f., ao contrario de Claire, que sempre foi desejada por todos, inclusive o capitão de time de futebol. Eu sempre tive vontade de provoca-lo dizendo que ela era minha, mas o nosso amor sempre foi as escondidas. Minha garganta coçava de desejo de gritar para o mundo “Claire Walter é minha, somente minha”, era isso o que minha cegueira permitia pensar. Ela vestia um vestido rosa bem clarinho com um caimento suave, que acompanhado pelo seu cabelo preso em um coque deixava a maior parte do seu busto a mostra. Eu engoli seco controlando todo o desejo que pulsava dentro de mim. Ela estava tão linda, mas tudo o que eu imaginava era o seu corpo nu junto ao meu. Claire veio em minha direção segurando a correntinha que eu havia lhe dado no ano anterior, um pequeno relicário estava pendurado, ele trás dentro de si o nosso amor, as iniciais de nossos nomes: “A e C”. Após a terceira tentativa eu consegui fecha-lo, minhas mãos estavam extremamente tremulas.

– Estou pronta! – informou-me ela. E eu a conhecia bem o suficiente para entender o duplo sentido em sua frase, ela não estava falando apensas de sua roupa, estava pronta para se entregar a mim.

– 387! – gritou Tom me trazendo de volta a realidade.

– Sabe dançar? – perguntei dando os meus primeiros passos, eu queria guia-lo de maneira inusitada até a janela de onde apresentaria o meu plano.

– É assim que pretende ganhar dinheiro? – interrogou ele franzindo o cenho, mas me acompanhando. É um péssimo dançarino. Extremamente duro, o que ele tem de forte, tem de travado, mas isso eu resolvo com o tempo. Bailamos por todo o salão como os loucos que acreditam que somos, sem música.

Tentamos fazer um grand finale digno de uma companhia de dança. Corri na direção do homem que me esperava de braços abertos, e não fomos bem sucedidos. Tom escorregou me arremessando para longe, cai em cima de uma das bonecas da Suzy, ainda acredito que o braço da pequenina está perdido na minha costela.

Bom, meu tão querido cúmplice, o dia ainda reserva grandes surpresas. Contudo, fica para a nossa próxima conversa, prometo lhe contar tudo sem ocultar nenhum detalhe. Não seja curioso.

Com carinho, A.


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Notas finais do capítulo

Gente, a parte cômica ficou para o próximo capitulo porque eu acabei empolgando demais nesse