Amor de Maroto escrita por Helena Prett


Capítulo 19
Pedido Adiado


Notas iniciais do capítulo

Atualização: Seguinte, eu estou pensando em escrever uma continuação para a fanfic Amor de Maroto e queria saber se vocês apoiariam a ideia. Eu sinto muita falta da dinâmica de publicar os capítulos e responder comentários de leitores, portanto acabei pensando nessa como a única maneira de suprir minhas necessidades de escritora. O meu principal problema é que escrever uma fic não é um processo da noite para o dia, ele requer muito tempo e paciência, então a minha real pergunta é se vocês teriam curiosidade de ler se eu elaborasse uma continuação. Se o caso for que não exista essa vontade, nem me darei o trabalho de me preocupar. Comentem o que vocês acham!



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Capítulo 19 - Pedido Adiado

A sexta-feira passou rapidamente, para o alívio dos alunos. Quando se deram conta, já era sábado de manhã, quando iriam para uma visita ao vilarejo bruxo, Hogsmeade. Ninguém mais se importava tanto assim com as regras, tanto que muitos iam mesmo sem ter autorizações. Filch naquela manhã parecia estar um tanto avoado, talvez porque sua gata tinha sumido no dia, o que beneficiou alguns alunos.

Rafael encontrou Lily já no Salão Principal, de onde foram diretamente para o vilarejo. Ela, por conta da grande diferença de altura, tinha que olhar para cima para conversar com ele, que olhava para baixo. Ela nunca tivera esse problema com menino algum, o que tornava a situação engraçada.

Depois de irem à Dedos de Mel, os dois se sentaram em um banco do lado de fora do Três Vassouras. Os dois riam com as caretas que faziam depois de comer um feijãozinho com sabor ruim. Após aquilo, comeram o doce favorito de Lily, as varinhas de alcaçuz.

— Esse é seu doce preferido? - Rafael indagou. A menina assentiu. - Eu nunca tinha comido isso mesmo indo regularmente na Dedos de Mel. Eu adorei! - ela riu.

— Por isso as varinhas de alcaçuz são as melhores! - declarou.

Eles riram e ficaram em silêncio, não se olhando por um instante. Quando Lily levantou o olhar, encarava os olhos azuis penetrantes de Rafael, que se aproximou e pegou-a desprevenida, beijando-a.

Ok, Anna tinha razão, ele beijava muito bem.

Lily acariciava seus cabelos castanhos, se arrepiando todas vez que Rafael apertava de leve sua cintura, a qual segurava firmemente. O beijo era lento, um tanto aconchegante e quente. Fazia tempo que a ruiva não beijava alguém por um grande período de tempo assim, se envolvendo tanto. Porém, ela percebeu que ao longo do ato, aquilo se tornava normal e usual, virando desinteressante. Se recordou dos beijos de Tiago, que a impressionavam a cada segundo, sempre com várias sensações a envolvendo. O maroto não tinha beijos calmos, e sim profundos e um pouco acelerados, e ele tinha uma pegada… Lily sentiu um arrepio só de pensar, formando um sorriso na boca. Logo se tocou: aquele não era Tiago. Ele não era a pessoa que ela amava e a amava de volta. O beijo não era o mesmo. O toque era menos delicado. Aquilo não era o que ela queria.

Delicadamente, Lily se afastou de Rafael, descolando suas bocas. Ele tinha um olhar calmo e sereno, algo que nunca aconteceria com Tiago, que tinha os olhos desafiadores e agitados, sempre pronto para fazer algo insano. Era disso que ela gostava nele, dessa adrenalina que o controlava constantemente, a animando ao mesmo tempo. Era disso que ela precisava. Era dele quem ela precisava.

Antes que pudesse dizer algo, Lily sentiu alguém cutucar seu ombro, a fazendo virar imediatamente. Uma menina baixinha, magra e branca estava diante dela, colocando os cabelos louros atrás da orelha. Parecia ser tímida, pois não parava de mexer os dedos dos pés em seus chinelos.

— Me pediram para te entregar. - a loira declarou, estendendo o braço. Sua mão segurava um pequeno envelope, que Lily reconheceu na hora.

— Qual é o seu nome? - a ruiva lhe perguntou docemente.

— Milena. - respondeu, encarando o chão.

— Mi, quem te pediu para me entregar essa carta? - questionou, tentando fazer com que ela falasse. Para seu azar, a loira não era muito facilmente persuadida.

— Não posso te contar. - declarou, indo embora.

Lily, ignorando o fato de Rafael parecer não estar entendendo nada, abriu o envelope, pegando o retângulo de papel. Pensara que o poema tivesse acabado, mas pôde ler mais um verso.

— O que está escrito aí? - o moreno a perguntou. Talvez Lily pudesse desmascará-lo naquele momento.

“basta um instante”. - leu a ruiva em voz alta, o encarando depois. Nenhum sinal de familiaridade com o verso apareceu no rosto do menino, o que intrigou Lily. - Tem uma coisa que eu queria te perguntar… - a ruiva disse.

— Pode falar! - o menino responde, sorrindo.

— Bem, na verdade, eu queria saber se você conhece um poema… Eu o li esses dias e gostei.

Quando Rafael perguntou-lhe qual era, Lily o recitou. De tanto ler seu pergaminho, já tinha decorado os versos.

quando eu vi você

tive uma ideia brilhante

foi como se eu olhasse

de dentro de um diamante

e meu olho ganhasse

mil faces num só instante

basta um instante

— Nossa, esse poema é lindo! - o moreno concordou. - Nunca o tinha ouvido, quem é o autor?

Aquilo não fez muito sentido para Lily. Realmente não fez sentido. Ele tinha que ser a pessoa que estivera lhe mandando os versos, não existia outra possibilidade. Não era viável. Definitivamente não era. A ruiva provavelmente ficou um bom tempo pensando, pois o menino a chamou instantes depois.

— Lílian? - isso a fez despertar. - Quem escreveu o poema?

— Isso é uma boa pergunta… - respondeu, ainda avoada. - Rafael, eu adorei sua companhia, mas eu realmente preciso procurar uma pessoa. - Lily declarou. - Até mais! - se despediu, saindo em disparada. Precisava encontrar Anna ou Carol. Precisava resolver aquilo.

——

— Eu esperava que ela viesse sozinha à Hogsmeade. - Tiago resmungou, de cara fechada.

— Ela recebeu vários convites. - Anna lhe contou. - Se não fosse o dele, ela provavelmente aceitaria o de outro.

Tiago e Anna andavam sem rumo pelo vilarejo bruxo. Anna ainda não encontrara seu namorado, Sirius Black, mas não tinha pressa nisso, pois sabia que hora ou outra o acharia. Os amigos observavam Lily e Rafael andar na frente de vitrines, conversando e rindo.

— Não. - Tiago discordou. - Lílian apenas aceita convites quando a pessoa a interessa. E ela parece estar bem caidinha por ele… - notou amargamente.

— Eu não me preocuparia com isso. - a morena deu de ombros. - A Lena me disse que vai atrás dela em pouco tempo. - Anna o informou. - Bem, já vou indo, pois Sirius deve estar me esperando perto da Casa dos Gritos. Até logo!

O maroto se despediu da melhor amiga e rumou para a Dedos de Mel. Talvez um doce fosse lhe fazer bem.

Ao entrar na loja, ficou olhando as prateleiras, procurando algo que lhe agradasse. Avistou ratinhos de açúcar, que eram deliciosos. Na prateleira abaixo, Abacaxis Cristalizados, que Lily sempre dizia que eram os preferidos do Professor Slughorn. Ao lado, viu ratinhos de sorvete, dos quais Lily gostava. As varinhas de alcaçuz sempre foram as preferidas de Lily. A figurinha dos Sapos de Chocolate sempre fascinaram a ruiva, que as considerava “uma forma de aprender mais”. Tiago parou de andar. Ele gostava tanto dela que até quando ia comprar doces se remetia à imagem de Lily. Será que isso nunca pararia?

——

— Carol! - a ruiva exclamou ao finalmente avistar a amiga.

— Lily? - a loira indagou. - Você não estava com Rafael?

— Longa história. O fato é que não era ele que estava me mandando os versos do poema. - isso fez com que a expressão da amiga se tornasse um ponto de interrogação.

— Como assim? - Carol indagou, logo olhando para Remo. O maroto, porém, não deu nenhum sinal de que sabia de algo, pelo contrário, isso também era novidade para ele. - Então, quem foi?

Os três não faziam a mínima ideia. Lily olhou para Remo.

— Eu não sei de nada, Lil, sinto muito. Pergunte a Anna, ela é a melhor amiga dele. - o maroto disse.

— Dele quem? - a ruiva perguntou, sem entender o amigo.

— De Pontas, quem mais poderia ser?

Lily não tinha pensado nele. Mas ele não era de mandar coisas assim, o que não fazia sentido.

— Tiago? Mas assim não faria sentido, ou faria? Ele nem deve saber o que é um poema ou qualquer coisa que se relacione a literatura trouxa, aliás, Potter não cursa a aulas de estudo dos trouxas. - ela argumentou. - E o que Anna teria a ver com isso?

O amigo deu de ombros. Quase nunca ficava sabendo das intenções de Tiago, por mais próximos que fossem. Ele explicou isso a Lily, que saiu em disparada atrás de respostas. Era impressionante a sua vontade de saber as coisas.

Após entrar no castelo, Lily percebeu que ninguém capaz de ajudá-la estava lá. Ela rumou então para a beira do lago negro. Como já estava entardecendo, o céu estava colorido com tons de amarelo e laranja, o deixando avermelhado. Ela costumava ir lá naquele horário para observar o fenômeno natural do tempo e também para pensar. Antes, ia com Tiago, sempre se sentando com ele à beira do lago, se apoiando na árvore ali presente. Lily suspirou, abraçando suas pernas contra o peito.

Passos a trouxeram de volta à realidade. Duas meninas vinham em sua direção. Pareciam ser melhores amigas, uma morena mais alta e outra mais baixa, ambas magras e lindas. Elas vestiam roupas trouxas, o que impossibilitava Lily de identificar suas casas.

— Lílian Evans? - a mais baixa perguntou. Lily assentiu, esperando que elas prosseguissem. - Bem, pra você. - disse, lhe dando um envelope.

— Nossa, ele é lindo! Se vocês não fossem fofos juntos, eu juro que pegava!

— Victoria! - a menina mais baixa reprimiu com voz firme a mais alta.

— Desculpa, Mari, mas é verdade! - Victoria se defendeu. - Eu sou sincera, o que eu posso fazer? - Mariana revirou os olhos, soltando ar pelo nariz. - E tem também essa flor aqui. - a morena entregou-lhe um lírio branco.

Antes que Lily pudesse perguntar qualquer coisa, as duas já estavam indo embora, discutindo.

Logo, a ruiva abriu o envelope, tirando o pedaço de pergaminho retangular.

“e você tem…”– Lily começou a ler a carta em voz alta.

“… um amor bastante”. - uma voz masculina vinda de seu lado completou o verso.

——

— Alto lá, Black! Pode tirar agora essa sua mão daí. - Anna o chamou a atenção. - Agora. - insistiu. Sirius, relutante, tirou sua mão de debaixo da blusa da namorada. - Estamos em um lugar público, controle-se. Já é demais estarmos nos beijando tão evidentemente. - ela se ajeitou, colocando a caixa do presente do seu lado. Sirius lhe dera uma rena de pelúcia dentro de uma caixa de sapatos, com um laço, para engana-la. A menina achara estranha a embalagem, mas logo viu que era uma coisa tão meiga, que até duvidou que fosse Sirius quem a tivesse dado.

— Claro que não! - o maroto protestou. - Eu sou seu namorado, Prett!

— Sendo ou não, você não pode ser tão pervertido em público. - justificou seus pensamentos, o beijando novamente para calá-lo.

Eles ficaram assim por um bom tempo, com Anna sempre tirando a mão de Sirius de debaixo de sua blusa, de sua bunda, ou do bolso traseiro de sua calça. Aparentemente, ninguém deu muita importância, mas sempre tinham alguns raros olhos curiosos vagando por perto, querendo saber quem era a menina que beijava Sirius Black.

— Esse local não é muito evidente para o casal? - Carol ironizou, fazendo com que os dois se separassem, corando em seguida. - Alguém viu a Lily? - a loira foi direto para o assunto. Como os dois negaram, ela prosseguiu. - Quem estava mandando as cartas para ela não era o Rafael. - contou.

— E…? - a morena pediu que continuasse.

— E que ela quer saber quem foi e eu não sei quem foi, então vim até vocês perguntar isso.

— Já temos tudo sob controle, relaxa. Na hora certa ela descobre. - Anna disse, voltando a beijar o namorado. Carol ficou confusa, mas não deu muita importância, pois combinara de encontrar com Remo em cinco minutos no Três Vassouras, rumando para lá.

——

Lily estava um tanto perplexa. Era a voz dele, de quem ela esperava ser, mas não de quem gostaria que fosse… Não. Era, sim, de quem ela gostaria. Ao ouvir a voz forte, a ruiva logo pôde sentir uma chama dentro dela se reascender, a transformando nela mesma novamente. Como sentira falta de ouvi-lo daquela maneira calma e sedutora.

Se virou, encarando-o. Ele vestia uma camisa e um par de jeans. Mas não era qualquer camisa, era a sua camisa. Quer dizer, não sua, mas ela tomara posse dela para lembrar dele quando não estivessem juntos. Lily riu e continuou sorrindo. Não conseguia parar de sorrir.

— Qual é o sentido em tudo isso? - Lily o perguntou, pensando e revisando todas suas teorias.

— É fácil: eu sou o seu admirador secreto!

— Não seja bobo, Tiago! - Lily o empurrou de leve, ainda sorrindo. - Como assim é você? Quer dizer, a letra não era nem sua nas cartas e… Ah… Eu tinha me esquecido que você é canhoto.

— Foi a letra mais bonita que eu já fiz na vida, sinta-se honrada. - Tiago brincou, a puxando para perto. - Eu percebi que se não fizesse alguma coisa, você nunca mais gostaria de mim do jeito que gostava, então resolvi fazer algo romântico para te reconquistar e, pelo que eu vi, deu certo, pois você ficou obcecada pelo remetente das cartas. - Lily fez menção de suplicar, mas ele foi mais rápido. - Não adianta negar. Eu percebi que, quando recebia as cartas, você ficava procurando a pessoa e Anna me disse que você não parava de imaginar sobre isso. Eu particularmente desisti na metade do caminho, mas a sua amiga e Sirius me fizeram seguir em frente.

— Como assim?

— Quando descobri que você tinha ficado com o tal de Rafael, - Lily corou. Não era para ele saber daquilo. - eu já tinha mandado algumas cartas, mas você estava achando que quem as tinha mandado era ele, e não eu. Eu quase desisti do plano na hora, mas Anna me disse que você não tinha gostado do beijo dele como gostava do meu. E no dia seguinte, ela me disse que você ainda estava apaixonada por mim, mas era orgulhosa demais para me dizer. Por isso, eu continuei com o plano.

Ainda confusa, Lily não disse nada. Não entendia mais nada.

— A Anna te fez continuar? - o maroto assentiu. Ele fez menção de falar algo, mas Lily o cortou. - Agora sou eu quem vai falar. - declarou, o fazendo rir um pouco. - Você é um imbecil, sabia? - o maroto ficou com uma expressão de dúvida, em entender. - Você me conquista, me seduz, me namora e me deixa ir embora. Eu meio que comecei a ficar com Rafael porque tinha certeza de que você nunca mais iria me querer, pois eu o tinha ferido. Pensei que você tinha desistido de mim, então me conformei e continuei minha vida, procurando outra pessoa que me fizesse feliz. Só que ninguém é capaz de me fazer feliz como você faz. Só com o seu toque eu me arrepio toda; seu beijo me faz querer cada vez mais; seu olhar me atiça. Estar com você me faz bem. Eu fui uma idiota ao tentar acreditar no contrário.

— Hmmm, então você ainda me ama? - ele a perguntou, mesmo já sabendo a resposta. Lily assentiu, o olhando apaixonadamente. - Nesse caso… - Tiago se aproximou, beijando-a.

Anna, apesar de estar certa sobre o beijo de Rafael, nunca tinha comentado sobre outro detalhe: o beijo de Tiago era muito melhor.

Aquele beijo, mesmo que pré-avisado, pegou Lily de surpresa. Mas foi uma surpresa boa. Ótima, aliás.

— Tem uma coisa que eu acho que lhe pertence. - Tiago disse, colocando a mão no bolso. Deste, tirou uma caixinha preta, abrindo-a. Lily pôde ver uma pulseira delicada com uma libélula e um olho grego. O maroto pegou o pulso da ruiva, colocando o acessório. - Bem melhor em você do que na caixinha, não acha?

— Definitivamente. - concordou, o dando um selinho. - Tiago, faz sentido nós voltarmos, considerando o que ocorreu no passado? - ela o perguntou, preocupada.

— Então vamos começar do zero. - o maroto brincou. - Prazer, meu nome é Tiago Potter e sou da Grifinória. Você é… Ah, vamos, só finja que não me conhece, Lírio! - a menina riu, continuando com a encenação.

— Me chamo Lílian Evans e, que coincidência, sou da Grifinória também! - exclamou.

— Sabia que você é bem mais bonita pessoalmente? - o maroto a cantou.

— Nossa, mas se nós acabamos de nos apresentar, de onde você me conhece? - Lily indagou, desconfiando da resposta.

— Dos meus sonhos. - Tiago respondeu, fazendo ela revirar os olhos. Ele ignorou o ato, apenas beijando-a.

Então nesse momento Lílian Evans se lembrou do melhor beijo que podia ganhar. Por pouco não o esqueceu por completo. Tiago colocou sua mão na cintura da ruiva, a apertando de leve. O maroto acariciava as mechas vermelhas dela, que o puxava pela nuca e pelos cabelos negros. O beijo era mais agitado, porém não deixava de ser cativante.

— Ei, - Tiago a chamou, interrompendo o ato. - eu te amo. - disse apaixonadamente. - Não sei como eu consegui ficar todo esse tempo sem você. Realmente não sei.

— Seu besta. - o respondeu, rindo. - Eu também amo você. - disse, igualmente apaixonada.

— Lily, não sei se você percebeu, mas estamos molhados. Está chovendo. - Tiago notou. A ruiva de fato não tinha percebido. - Vamos sair daqui, você não pode pegar um resfriado. - falou protetoramente, a escoltando. O casal estava encharcado da cabeça aos pés, mas não ligaram.

Ao chegar em uma parte dos jardins mais perto da área coberta, Lily e Tiago voltaram a se beijar, só que dessa vez de uma forma mais intensa. Por sorte, aquela parte do castelo estava vazia, pois os amassos começaram a se tornar mais ousados.

— Precisamos sair daqui. - Lily disse, um tanto ofegante. Tiago a olhou surpreso, sem compreender direito o que ela quis dizer com aquilo. - Sim, você me entendeu bem.

O maroto continuou com cara de dúvida por mais algum milésimos, tornando-a de surpresa, e depois de paixão. É, a última o definia muito bem nesse momento. Ele a pegou no colo, girando. Ele sabia que ela não gostava que ele fizesse isso, mas mesmo assim ele sempre insistia.

Tiago a guiou por alguns corredores do castelo, mas logo saiu deste novamente. Lily já sabia para onde ele a estava levando e não hesitou. Seus cabelos pingavam, assim como as roupas. Alguns minutos depois o casal adentrou no campo de quadribol, o cruzando para chegar aos vestiários. Quando chegaram lá, fecharam a porta atrás de si, sem nem sequer se preocupar em tranca-la.

Na primeira tentativa que Tiago fez para tirar a camiseta de Lily, a mesma o impediu.

— E se alguém nos pegar aqui? - se preocupou. Não tinha nenhum problema em se entregar para ele, porém tinha medo de ser vista daquela maneira por alguém sem ser seu namorado. Ela estava muito exposta.

— Ninguém vem aqui esse horário. - Tiago disse, sem parar de beijá-la.

A camiseta molhada de Lily foi logo jogada para o lado, não se apresentando mais necessária, assim como a camisa de Tiago, que estava ensopada. A ruiva, ainda o beijando, passou a mão pelo peitoral nu do maroto, que apertava sua cintura fina com mais força. A calça jeans de Lily saiu de seu corpo tão facilmente que ela nem viu, só percebendo quando sentiu o toque quente e macio dos dedos de Tiago em sua coxa, que estava sendo apertada. A menina deixou escapar um gemido, logo o contendo.

O maroto descolou sua boca, indo para o pescoço fino e comprido dela, o beijando. Lily sentiu uma sensação diferente, logo percebendo que ele estava com a boca em sua clavícula. “Então isso é um chupão…” pensou, se entregando à sensação. Era uma das melhores coisas que já tinha sentido na vida.

Mas, como todos sabem, tudo que é bom acaba.

A porta do vestiário de abriu com força, assuntando Lily. Para sua sorte, quem estava na porta era Remo, seu melhor amigo. A ruiva então relaxou o corpo, não se importando mais de estar apenas de calcinha e sutiã na frente de seu namorado e de seu amigo. Quer dizer, sim, estava bastante envergonhada, mas podia ter sido pior. Lily se sentou comportadamente no colo de Tiago, que ainda estava tenso com o susto que tomara.

— Ok, péssimo momento. - Remo disse, desviando o olhar imediatamente ao ver a cena. - Já entendi o lance que está rolando aqui, mas temos uma situação urgente. Muito urgente. - enfatizou, agora os encarando. O maroto parecia preocupado, mais preocupado que qualquer um dos dois já o tivesse visto. - Tem como vocês virem comigo? - perguntou, ainda aflito.

— O que aconteceu? - Lily a perguntou alarmada. Nunca vira o amigo daquele jeito. - Remo…

— Apenas venham.

O casal obedeceu à ordem, se vestindo o mais rápido possível. Secaram suas roupas com magia para não ficarem pingando pelo castelo.

— Aluado, - Tiago chamou. - o que aconteceu? - ele não respondeu. - O que aconteceu? - insistiu em um tom mais forte.

— Anna. - disse simplesmente. - A culpa foi minha. - se culpou.

— Remo, o que aconteceu? - Lily estava começando a ficar mais preocupada. Eles já estavam perto da Torre da Grifinória.

— A culpa foi minha. Deveria ter sido eu, e não ela. - o maroto continuou a se culpar, sem explicar de fato o que estava acontecendo. - Mila tem um problema mal resolvido comigo, e não Carol. E muito menos Sirius ou Anna.

— Remo Lupin. - Lily o chamou, fazendo-o parar de andar. - O que aconteceu? - insistiu, segurando seu braço.

— Mila Macfield não gosta da Carol, disso qualquer um sabe. Mas ela também não simpatiza com Black, pois o mesmo já ficou com ela e Mila não gostou muito quando ele disse que foi apenas uma ficada, e nada mais. Mila queria se vingar disso também. - Remo prosseguiu. - Tudo o que Almofadinhas conseguiu dizer pra mim foi que, antes que algo acontecesse com ele, Anna entrou na frente, levando a facada no lugar dele. - a voz do maroto falhou. Lily não pediu que continuasse.

Tiago não disse nada. A expressão dele e de Lily ficaram vagas e desesperadas. Isso não podia ter acontecido com Anna. Não podia.

— Onde ela está agora? - Tiago perguntou imediatamente para Remo, que não respondeu. - Onde ela está agora, Aluado? - seu tom de voz foi ficando cada vez mais severo.

Lupin abaixou a cabeça, evitando olha-lo. Essa notícia já foi ruim o suficiente para ele, mas aquilo destruiria Tiago. Acabaria com ele.

— Remo… - a voz de Lily quase não saia de sua boca de tão fraca. Ela estava com medo da resposta que o amigo poderia dar.

— St. Mungus. - respondeu apenas, ainda encarando o chão. - Ela perdeu muito sangue e… - ele parou de falar, deixando que sua fala se perdesse no ar.

— E…? Diga logo, Aluado. - Tiago exigiu. Ele estava ficando muito irritado com tudo aquilo.

— O corte foi profundo demais. A chance de ela sobreviver é… - Remo não continuou, pois sabia que não era necessário falar a palavra “mínima”.

Tiago imediatamente abriu a boca. Ao ver a situação de Lily, ele abraçou a namorada, que começou a chorar. Ninguém nunca a tinha visto chorar daquela maneira. A menina soluçava, molhando a camisa de Tiago, que não parecia se importar com as lágrimas. Remo e Tiago mantinham suas expressões firmes e fortes, fingindo que estava tudo bem, mesmo não estando nada bem. O segundo estava ruindo por dentro.

— Shhh… - Tiago acalmou-a. - Ela vai ficar bem, você sabe disso. Foi só um susto. - ele amaciou seus cabelos ruivos delicadamente. - Ei, se acalma. - pediu serenamente, quase sussurrando em seu ouvido. - Venha, vamos para a Sala Comunal. Não há mais nada que possamos fazer.

Então, Lily, Tiago e Remo continuaram seu caminho, entrando pelo retrato da Mulher Gorda ao dizer a senha. A Sala estava cheia, mas não tinha nenhum sinal de seus amigos. Pedro não estava à vista, muito menos Sirius ou Carol. Provavelmente, estavam em seus respectivos dormitórios.

— E Sirius? - Lily perguntou preocupada a Remo. Ela ainda soluçava.

— Ele está no dormitório. Não quer falar com ninguém. Talvez Pontas consiga alguma coisa.

— Eu preciso ajudá-lo. - Tiago disse de cabeça baixa. Mesmo não demonstrando, ele estava a ponto de começar a chorar, mas não faria isso na frente de todos.

— Eu sei. - Lily respondeu-o compreensivamente, o dando um selinho e subindo a escadaria em espiral, entrando na ala feminina. Para sua surpresa, o dormitório estava vazio, sem nenhuma mudança desde que saíra de lá pela manhã, tirando o fato de que era possível notar na cama de Anna uma rena de pelúcia, um presente de Sirius para a namorada, já que o patrono da morena era uma rena. A ruiva estranhou, parando para pensar. Carol tinha que estar com Sirius. Ele era o melhor amigo dela.

Lily então rumou para a ala masculina, batendo na porta antes de entrar no dormitório. Estavam todos lá: Sirius, Carol, Remo, Pedrinho e Tiago. Ela nunca tinha visto um cenário tão desanimador na vida. Tiago finalmente tinha cedido e deixado algumas lágrimas caírem. Seu rosto estava um pouco molhado, mas ele fingia que não estava. Ninguém falava. Todos estavam sérios, sem conseguirem olhar nos olhos de qualquer pessoa.

Black tinha os olhos vermelhos e inchados e bochechas molhadas. Ele encarava o chão, com cabeça e ombros baixos. As lágrimas insistiam sair de seus olhos. Suas mãos estavam um pouco vermelhas, como se um tinteiro de tinta vermelha inteiro tivesse despejado seu conteúdo nelas. A ruiva logo raciocinou. Alguém teve de tirar Anna de lá, e esse alguém foi Sirius, que teve de lidar com o sangue da namorada.

— A culpa foi minha… - Sirius disse com uma voz trêmula. - Eu devia ter me segurado em pé. - ele se culpou. - Eu devia… - sua voz falhou, trazendo mais lágrimas. - Por que ela fez aquilo? Por quê? - sues olhos agora estavam cerrados.

— O que de fato aconteceu? - Tiago sabia que era péssimo da sua parte perguntar agora, mas depois Sirius não iria querer mais comentar sobre o assunto.

— Anna, como vocês sabem, gosta de ser mais discreta, então nós só basicamente namoramos “escondidos”. - ao falar a última palavra, fez como se a mesma estivesse entre aspas. - Eu disse que precisava falar com ela, então fomos andar pelo castelo para conversar. Eu realmente precisava de mais privacidade para falar sobre aquilo com Anna, então fomos para o lado mais vazio da escola. Alguns minutos depois, o infeliz do Miguel Anton apareceu, estragando com a minha alegria.

— Quem? - Carol o perguntou, sem reconhecer o nome.

— Miguel Anton. Um babaca com quem Anna já ficou. - explicou, falando o nome do corvinal com desprezo. - Ele começou a nos amolar, da mesma maneira que fez no Baile de Inverno quando eu e Anna estávamos sozinhos. Eu já estava começando a perder a paciência com ele novamente, mas Anna pediu que parássemos de brigar. Então eu parei, porém ele fez uma coisa que me irritou mais ainda: chamou Anna de “meu amor”. Nesse momento eu fiquei muito irritado, e ia partir para cima dele, mas Anna nos empurrou. E quando eu digo “nos empurrou” quero dizer a mim e a Miguel. Ela jogou o corpo dela em nós dois que acabamos perdendo o equilíbrio, quase caindo. Nisso, fomos dois ou três passos para o lado. Eu não tive como entender o motivo dela ter feito aquilo na hora. Ela nos empurrou para o lado com o corpo, mas não teve tempo de voltar, então a adaga atingiu o lado esquerdo do abdome dela. Ela se manteve o máximo que pôde em pé, com as mãos no punhal da adaga. Eu me levantei o mais rápido possível e segurei seus braços, e sorte que eu tinha o feito, pois no momento seguinte Anna não se sustentava mais com as pernas, que cederam. Ela, com o resto de força que tinha, tirou a arma de seu corpo. Não sei se ela devia ter feito aquilo, pois mais sangue começou a sair do corte.

———(flashback on)———

— Eu consigo andar. - Anna disse a Sirius, segurando os braços dele. - Eu consigo. - ela queria convencer a si mesma de que conseguia, então deu o primeiro passo. Suas pernas cederam instantaneamente. O maroto a segurou, e impedindo de cair. Sirius tentou a colocar no colo, mas a menina não deixou. - Eu não estou tão ruim assim. Eu consigo chegar até a ala hospitalar andando, pode ter certeza disso. - sua voz era quase inaudível, de tão fraca que estava. Seus olhos estavam semicerrados. Ela estava começando a ficar mais branca do que já estava, o que o preocupou.

— Anna, sem chance. - ele a pegou no colo, contra sua vontade, e saiu correndo para a enfermaria.

Por sorte, estavam perto do local, e conseguiram chegar lá em apenas alguns minutos. Sirius adentrou com Anna no colo e a deitou na cama vaga mais próxima. Seus braços e camisa estavam ensopados de sangue, assim como as roupas e mãos de Anna. Ela tentava ao máximo manter os olhos abertos, por mais que quase não tivesse mais forças para tal feito. Estava ficando cada vez mais difícil para ela respirar. Seu cérebro já não conseguia processar as imagens e os sons direito. Tudo rodava, escurecendo aos poucos nos cantos de seu campo de visão.

— Anna! - Sirius a chamou desesperado. A fala se tornou apenas um ruído abafado para ela. - Anna, não feche os olhos! - ele pediu, enquanto Madame Pomfrey e a Professora Mcgonagall examinavam o corte. - Olha pra mim! - Anna tentava manter contato visual, mas era difícil. Sirius não tinha soltado a mão dela em nenhum momento sequer. A mão da morena ficava cada vez mais fraca. Não podia perdê-la. - Anna!

———(flashback off)———

— A Professora Mcgonagall também estava lá e veio ao meu encontro assim que me viu colocar Anna na cama. Depois que avaliaram o estado do corte, ela disse que… - Sirius soluçou. - levariam Anna para o St. Mungus, pois, segundo Madame Pomfrey, estava muito profundo e… - o maroto respirou fundo, encarando o chão. - e a lâmina da adaga estava impregnada de veneno. - o maroto, continuou encarando o chão. Não queria ver as feições dos amigos. - Eu deveria estar mais atento naquele momento. Deveria ter visto e me colocado na frente da lâmina. Devia tê-la protegido. Devia ter sido eu, não ela. - Sirius se debulhou em lágrimas novamente.

Carol procurou com os olhos por sua amiga, mas nem Lily e nem Tiago estavam à vista naquele momento. Lily não tinha aguentado e entrou no banheiro o mais rápido possível ainda no meio da fala de Sirius. Tiago correu para ajudá-la ao ouvir o barulho da namorada vomitando. A ruiva nunca se dera bem com situações como aquela, mesmo que não tivesse visto a cena.

— E esse tal de Miguel? - a loira perguntou.

— Quando Anna foi atingida, ele se aproximou para ajuda-la. Ele parecia desesperado. Eu disse que se ele encostasse um dedo nela, pagaria com a vida. A ameaça bastou para que ele saísse de lá. Ele murmurou algo como “Era pra ter sido você e não ela”, mas eu não prestei muita atenção no momento.

— Ei. - Carol abraçou Sirius, passando os dedos por seus cabelos negros. - Ela vai ficar bem, você sabe que vai. Não precisa se preocupar com isso. Os medibruxos e curandeiros vão saber o que fazer. - mesmo que não tivesse certeza de suas palavras, elas pareceram confortar Sirius, que parou de soluçar. - Você está mais calmo? - a menina o perguntou docemente. Ela não teve resposta. - Sirius? - Carol pode ouvir o menino voltar a soluçar. - Ei… - ela o abraçou. - Vai ficar tudo bem. - repetiu. - Não precisa se preocupar. Ela vai ficar bem.

— A Professora foi bem clara ao dizer que as chances dela sobreviver eram mínimas. - Sirius lamentou, perdendo as esperanças. - Eu não vou conseguir viver sem ela. Não vou.

— Ela vai voltar bem, você sabe que vai. Pare de ser tão pessimista! - Carol o reprimiu. - Se o corte era profundo e Anna conseguiu suportar consciente até a ala hospitalar, ela consegue mais ainda. Ela é forte, você sabe disso.

Sirius não a respondeu. O maroto colocou a mão no bolso, pegando um objeto. Era uma caixa preta pequena. Ele entregou para Carol.

— O que é isso? - a loira indagou. O maroto apenas fez um sinal com a cabeça para que ela abrisse a caixinha preta. - Oh meu Merlin! - Carol exclamou.

— O que foi, Carol? - Remo perguntou, ao ver a expressão da namorada.

Sirius respondeu pela loira, que ainda estava em choque.

— Lembra que que eu disse que tinha chamado Anna para conversar e para isso precisava de mais privacidade?

— Prossiga. - o maroto com cabelos cor de areia pediu. Sirius continuou a falar.

— Eu ia pedi-la em casamento.


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Notas finais do capítulo

quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem um amor bastante

esse poema nao eh meu. quem o escreveu foi o talentoso Paulo Leminski :)