P.o.v Alice
Depois de algum tempo juntos, eu e Clint achamos melhor descer do terraço. Ele foi na frente para ver se a barra estava limpa.
– Vem, o corredor está vazio. - disse, me puxando pela mão porta a fora. - Você vai pra tal sala, agora? - perguntou.
– Acho que não... sou meio antisocial sabe. E acho que já deve estar um pouco tarde, vou dormir.
– Está bem, vou comer alguma coisa, e também acho que já vou deitar.
– Ok. Eu até te daria um beijo agora, mas acho que não é uma boa ideia. - disse olhando ao redor. - Boa noite.- dei um sorriso em sua direção e ao passar por ele, esbarrei propositalmente em seu braço. - Boa noite. - respondeu. Me virei e acenei em sua direção antes de ir para meu quarto.
Caminhei devagar, não tinha pressa de chegar ao meu destino. Meus pensamentos divagação em direção a Clint, mais principalmente em direção ao Doutor Banner. Como ele conseguia se controlar daquela forma? Será que ele ficaria zangado se eu o importunasse com algumas perguntas? Pelo o que Clint me tinha contado, zangar ele não era nada bom. Já tinha ouvido muito sobre o Hulk, pesquisado também, entretanto as informações obtidas eram muito simplistas.
De passo em passo cheguei em meu alojamento, e ao passar pela porta, resolvi abandonar todos os meus questionamentos. Afinal, estava me preocupando em vão.
Coloquei uma roupa leve para dormir, e ao deitar, simplesmente capotei.

...

A cantina estava cheia, como de costume naquele horário. Os agentes se preparavam para mais um dia de serviço. Era estranho trabalhar para a Shield, se você levar em consideração que para o resto da humanidade o seu emprego não existe.
– Bom dia, Lily!
– Hey, oi Daniel! Dormiu bem? - perguntei com um leve sorriso.
– Melhor impossível. Olha, você vai estar ocupada no final de semana? Eu estava pensando se você não gostaria de ir comigo ao cinema? - Daniel dizia tudo com uma casualidade enorme. Talvez uma tática para que eu não percebesse que ele estava propondo um encontro.
– Bem, Daniel... eu adoraria, mas...
– Você tem namorado, não é? - interrompeu-me, baixando os olhos azuis - eu devia saber. Desculpe. - na verdade essa era uma boa pergunta até pra mim. Namorado? Acho que meu relacionamento com Clint não poderia se encaixar como um namoro, estava mais pra um romance secreto.
– Não, eu não tenho namorado. - disse convicta, afinal, eu não estava mentindo- é que nesse final de semana eu vou visitar minha mãe. Desculpe, vou estar ocupada. - a expressão de Daniel mudou rapidamente. A cara decepcionada se transformou em um sorriso.
– Bom, se é assim, a gente pode deixar pro próximo fim de semana. O que acha?
– Eu acho... acho ótimo. - disse, talvez fosse legal sair com Daniel. - Mas só como amigos, ok? - não pretendia ter um romance com ele, apesar de ele ser lindo, eu gostava mesmo era do meu arqueiro.
– Ah nunca se pode ter tudo não é mesmo... - disse Daniel, sorrindo- Como amigos, eu prometo. Até mais Lily - falou, e ao se encaminhar para uma mesa qualquer, me deu um beijo na bochecha. Com toda certeza ele via esperança com uma possível evolução de amizade... soltei um suspiro e me encostei mais na parede, em um canto da cantina.
Agradecia aos céus por ser sexta-feira, o que significava que após o treino eu estava dispensada. Estava louca pra rever minha família...

P.o.v. Sharon
Da minha mesa pudi observar toda a cena. Não bastava querer o Barton, a sem noção da Cooper agora queria Daniel também. Minha paciência já estava no limite com aquela garota. Talvez estivesse na hora de aprontar alguma com ela... mas o quê? Eu precisava pensar, pensar bem. Afinal, eu não podia me comprometer. Tinha que mostrar o lado falso dela. Tinha que alertar Clint, sobre ela é Daniel, mas eu não podia falar diretamente. Pense Sharon... pense... talvez se... isso! Não era a melhor tática, mas era o que tínhamos para hoje.

P.o.v. Alice
Depois do café, segui para a área de treinamentos. Apenas Esther já estava presente. Nos últimos dias, eu e ela conversamos bastante. Era uma garota legal, inteligente, engraçada... mas eu suspeitava de que ela estivesse interessada em Davi.
– Esther! - disse sorrindo ao me aproximar.
– Oi Alice. Pronta pro fim de semana?
– Sim, não vejo a hora de subir na minha moto... E você o que vai fazer?
– Nada... acho que vou ficar em casa mesmo.
– Porque você não convida o Davi pra dar uma volta. - sugeri como quem não quer nada.
– Tá tão na cara assim?... - perguntou mordendo o lábio inferior. Apenas balancei a cabeça em afirmativo contendo um sorriso.
– E se ele não aceitar?
– E porque ele não iria aceitar? - respondi fazendo-lhe outra pergunta. - Olha, sua chance tá vindo aí! - falei enquanto observava Davi passar pela porta. - Vai lá! - ela parecia meio indecisa, com certeza estava nervosa.
– Tá bom, eu vou... me deseje sorte. - pediu ao se levantar.
– Bom sorte! - desejei com um sorriso no rosto.

...

O treinamento foi bem fácil, apenas alguns exercícios de resistência. Não demorou para que Clint nos liberasse. Durante todo o treino, eu não conseguia tirar os olhos dele. Ele ficava uma delícia naquele uniforme.
Fiquei pensando sobre o que ele me tinha dito no terraço ontem. Clint Barton não parecia fazer a linha romântico, talvez conquistador, mas não tinha cara de se envolver em sentimentos mais profundos.
Fingi arrumar alguma coisa na bancada pra que todos saíssem, e eu pudesse ficar sozinha com ele.
Assim que ficamos a sós, me aproximei.
– Oi.
– Oi. - ele parou o que estava fazendo para me olhar. - Você está ficando muito boa na parte física... só precisa melhorar um pouco de concentração.
– Obrigada. Vou tentar me concentrar mais... - respondi abaixando a cabeça. Eu poderia convidá-lo para ir comigo até a casa da minha mãe. - Clint, você... nada, esquece. - por um segundo a ideia tinha sido boa, entretanto parecia estúpida agora.
– Diga. O que foi? Está tudo bem? - perguntou me direcionando os olhos verdes.
– Claro, não era nada. - respondi tentando ser convincente. - Olha, esse fim de semana eu vou estar na casa da minha família, ok? Você pode me ligar se quiser. - Eu tinha dado o número de meu celular pra ele, há alguns dias.
– Ah, claro. Você vai sozinha? - perguntou virando o corpo e se encostando na bancada, na mesma posição que eu estava.
– Sim- respondi com um sorriso- com quem eu iria? - esta tinha sido a indireta mais direta que eu tinha dado em toda vida. Entretanto, para minha decepção, ele permaneceu em silêncio, e por algum tempo em também fiquei calada, ainda com esperança. Mas nada...
– Acho que já vou... é um pouco longe. Até segunda. - falei com um tom mais agudo que o normal. Dei um leve beijo na bochecha de Clint. Contando os passos, segui para a porta quando o ouvi me chamar.
– Alice?
– Sim. - me virei em expectativa.
– É só... tenha cuidado... - eu havia pensado que Clint pudesse se oferecer pra ir comigo, mas estava sendo boba. Ele nunca iria querer conhecer minha família. Pra que? Ele não queria nenhum compromisso, eu era apenas uma diversão. Um passa tempo.
A culpa também era minha, eu permite isso, não foi? Comecei a andar mais rápido, precisava sair da Shield, precisava pensar.
Continuei até meu quarto, me troquei, peguei minha bolsa. Antes de ir pra casa da minha mãe tinha que dar uma passada em casa.

P.o.v Clint
Assim que Alice saiu, me virei e deu um soco na bancada.
– Mas que merda eu estou fazendo? - perguntei a mim mesmo.
– Você está gostando dela, não está? - a voz vinha dos fundos da sala.
– Natasha? A quanto tempo você está ai? - perguntei a olhando.
– Por que você não se ofereceu pra ir com ela? - perguntou usando daquele indiferença mortal, que era mestre em transmitir.
– Olha Natasha, eu gosto muito de você, mas por favor não se meta. - disse gesticulando com os braços, já estava ficando irritado.
– Está bem, não vou me meter, só depois, não diga que eu não tentei ajudar. Por que você é tão cabeça dura, Clint?
– Eu tô indo, tá legal. - falei lhe dando as costas, não queria discutir com Natasha.
Estava quase na porta quando a escutei.
– Não deixe ela escapar... depois, pode ser um pouco tarde. - me virei e olhei bem eu seus olhos, e não pude deixar de ver. Ela estava certa. Me virei e corri em direção a meu quarto. Com sorte alcançaria Alice na garagem.

P.o.v Natasha
Me sentei em um banco e fiquei observando enquanto Clint saia a procura da garota. Ele merecia... merecia alguém melhor. A tal menina parecia ser legal, e talvez pudesse ajudá-lo e cuidar dele, coisa que eu não consegui fazer.
Me levantei e caminhei para o fundo da sala de onde eu tinha visto tudo o que tinha acontecido.
– Você merece, Clint.

P.o.v Clint
Corri em direção a meu alojamento. Só precisava pegar algumas roupas, coisa rápida. Destaquei a porta, e rapidamente coloquei algumas peças em uma mochila.
Já estava saindo, quando vi um envelope branco no chão, perto da porta.
Me baixei e o peguei. Não estava lacrado e dentro tinha apenas uma folha de papel. Desdobrei a folha, nela se apresentava uma caligrafia desconhecida pra mim.

" Cuidado Barton, a agente Cooper não é o que parece ser. Está te enganando com Marsh, cuidado. "

P.o.v Alice
Um pouco mais calma, caminhei até a garagem. Não estava muito cheia, apenas alguns agentes desconhecidos se preparavam pra ir embora.
– Alice? - era a voz de Clint. Me virei e o vi andando em minha direção, será que ele tinha mudado de ideia e queria ir comigo?
– Clint? - falei em meio a um sorriso. - O que faz aqui...
– O que você tem com o Marsh? - Clint estava sobressaltado, um pouco vermelho.
– O que? Marsh? Daniel? O que tem ele? - perguntei confusa.
– Você sabe do que eu estou falando, não se faça de boba. Olha, leia isso. - ele me entregou uma folha de papel. Passei os olhos pelo bilhete, e não pude acreditar no que estava acontecendo.
– Quem te mandou isso? - perguntei um tanto transtornada.
– Não sei, e não me interessa. É verdade? Você tá saindo com o Marsh? - falou de um jeito muito rude.
– Não... claro que não, eu e o Daniel somos amigos...
– Amigos? Você acha que eu tenho cara de otário? Eu vou acabar com ele, aquele filho da mãe... - Clint estava me assustando, minhas mãos começaram a tremer. - Eu já vi o jeito que vocês se olham. Aposto que devem passar bastante tempo juntos, não é mesmo. Seus quartos são tão pertinho um do outro... - Clint estava fora de si, eu sabia. Mas daí a supor que eu estava dormindo com Daniel era outra coisa. Sem pensar dei um belo tapa na cara dele.
– Nunca mais olhe na minha cara... entendeu? - Falei em tom que nem eu mesma conhecia. Ele tinha se calado e agora me olhava com aqueles intensos olhos verdes. Me virei e subi na moto. Arranquei sem olhar pra trás.

...

Corri o mais que pude. Precisava pensar em algo que não envolvesse Clint. Entretanto eu não conseguia fazer meu peito parar de arder a cada pulsação. Eu estava com raiva, muita raiva. De Clint, do bilhete, da pessoa que o havia mandado, estava com raiva de mim mesma.
Passei rapidamente no meu apartamento, para pegar umas coisas, mas estava no piloto automático. Não conseguia me concentrar em nada, apenas repassava aquela cena na minha mente.
O jeito de Clint, o que ele disse, a desconfiança... nada parecia certo.
Enquanto seguia para a casa de minha mãe, em minha moto, tentava ao máximo arrumar explicações para o que tinha acontecido. Quem seria capaz de fazer aquilo? Jogar tão baixo como naquele bilhete?
Mas o que mais me incomodava não era a carta anônima, o que me perturbava era a reação de Clint.
Talvez, quando ele me perguntou com quem eu iria a casa de minha família, esperava uma confissão. Como se eu pudesse ser tão covarde e mesquinha ao ponto de sair com ele e Daniel ao mesmo tempo. Era essa ideia que ele fazia de mim, essa ideia que aumentava cada vez mais o rombo no meu peito.
Pensei em parar em algum lugar, esfriar a cabeça, mas se eu demorasse não chegaria antes do anoitecer. Resolvi seguir em frente.

Continua...