Katniss Everdeen P.O.V ON

Barulho irritante invade meus ouvidos.

Permaneço de olhos fechados.

Barulho irritante outra vez.

Ignoro, virando para o outro lado da cama.

Mais uma vez esse barulho?!

Droga!

Abro os olhos lentamente e uma claridade terrível me cega, fazendo-me fechar os olhos no mesmo instante. Maldita cortina branca! Pisco os olhos me acostumando com a claridade e percebo que a origem do barulho infeliz que atrapalhou o meu maravilhoso sono, é o meu despertador. Que por sinal, continua tocando, e tocando, e tocando... Soco o despertador fazendo ele se calar e me sento na cama, lembrando de uma pequena coisa...

HOJE COMEÇAM MINHAS AULAS!

Ferrou! Eu poderia xingar Deus e o mundo agora, mas, acho que seria muito indevido acordar os vizinhos as seis em ponto da manhã, com meus gritos. 'Tá que eles são todos malucos, mas, nem eles merecem essa maldade.

Levanto preguiçosamente da cama e me dirijo ao banheiro. Olho-me no espelho e... Agora seria uma boa hora pra dar uma passadinha no spa. Estou literalmente um horror! Esfrego meus olhos antes de começar minhas higienes matinais. Dentinhos, hora de acordar!

Após meus dentes devidamente limpos e cheirosos, se é que dentes tem cheiro, me livro da roupa que uso pra dormir, que consiste em uma blusa de manga curta roxa, quatro vezes maior que eu, com um panda na frente, e um velho short preto curto, e enrolo meu cabelo em um coque antes de entrar embaixo do chuveiro de onde sai uma água super, hiper, ultra, mega gelada. Ok, me chame de masoquista, mas, se eu tomar banho de água quente, provavelmente eu vou acabar caindo no sono dentro do box. É, isso já aconteceu... Longa história, melhor nem lembrar!

Tento aproveitar o meu banho ao máximo, o que é quase impossível, já que a água está um gelo. E, depois de alguns minutos, resolvo que já congelei o suficiente. Me enrolo em uma toalha e me dirijo de volta ao quarto, encontrando uma senhora mexendo em alguma coisa em cima da minha cama.

— Ér... Bom dia?! - digo, chamando sua atenção.

Assim que a senhora se vira, vejo que ela é uma das empregadas, e, cara, como ela parece a velha do Titanic!

— Ah, bom dia, senhorita Everdeen. - diz abrindo um sorriso simpático. Gostei da tiazinha. — Só vim deixar seu uniforme, já estou me retirando.

Ok, não gosto mais tanto assim da tiazinha. Ela disse que veio trazer meu O QUÊ?!

— Opa, opa, opa, meu o quê? - arqueio as sobrancelhas em sinal de confusão. Deus, que eu tenha entendido errado, que essa boa velhinha tenha vindo trazer...

— Seu uniforme escolar, e... Ah, um bilhete da Sra. Shields. - diz me entregando um papel que contém uma bonita caligrafia em vermelho.

"Bom dia, Kat! Saí mais cedo para o trabalho. Se precisar de algo, peça a algum dos empregados. Prim e Rue não vão a escola hoje, só voltarão da casa do pai à tarde. Deixei tudo organizado para o seu primeiro dia. Espero que o uniforme sirva! Caso contrário, peça a ajuda a Greasy, ela é o anjo da guarda dessa casa! Boa sorte no primeiro dia, espero que goste da escola. Peça ao motorista que te leve, ele já sabe seus horários. Beijos, tia Cash.

PS: Você precisa estar na escola ás sete e meia. Não enrole para se arrumar, mocinha."

Quando termino de ler, vejo que a tiazinha já não está mais no meu quarto. Encaro a minha cama, vendo aquele projeto de roupas estirado nela. Espera um minuto... Aquilo é uma... Saia?! Oh não, uniforme com saia? Eu já estou desanimada pra ir para a escola, e agora ainda vou ter de usar saia? Que tipo de mundo é esse, que tudo conspira contra a minha alegria?!

Acho que não tenho outra escolha.

Reviro os olhos e sigo para o closet, andando até a parte das gavetas. Me desenrolo da toalha, pegando as minhas roupas intimas e vestindo-as. Ok, hora de vestir o projeto de roupas. Volto ao quarto e pego a blusa, vestindo logo depois aquela coisa totalmente insuportável, mais conhecida como saia. Ok, eu estou patética.

Para completar, ainda tem uma gravata ridícula. Necessidade? Nenhuma. Sorte a minha que eu ajudava meu pai com suas gravatas, caso contrário, eu não saberia como amarrar esse treco no meu pescoço. Mas, pra melhorar um pouco, tem uma bota completamente diva, da cor preta. Finalmente algo nesse uniforme que não seja da cor vermelho-te-cegarei.

Então é isso? Esse é o maldito uniforme? Me olho no espelho da porta do closet depois de ter colocado tudo e... Oh Gosh! Estou ridícula! Aquela escola com certeza é um pontinho vermelho bem chamativo no meio do mapa Mundi.

Todo o uniforme é em vermelho berrante, exceto pela bota e blusa, a gravata parece aquelas gravatas de um palhaço bem sem graça e eu estou pensando seriamente em tirar essa coisa escrota do meu pescoço, mas, acho melhor não, não estou a fim de me encrencar no meu primeiro dia de aula. E essa saia... Cara... Que coisa... Eu preciso mesmo usar? Por mim todo o uniforme seria da cor da bota, e ponto. E não, não estou sendo dramática. Qual é? Blusa branca social, saia vermelha xadrez, gravata xadrez igual a saia... Eu realmente não quero ir pra aquela escola!

Decido por melhorar o visual. Coloco um cordão com um pingente de gatinho, uma pulseira estilo punk, e um par de brincos de florzinhas pretas. Ok, por que eu tenho esses brincos? Eles são tão gays. Nada contra gays, mas enfim... Faço uma maquiagem não tão simples, porém leve, e finalizo com um olho de gatinho feito pelo meu delineador. Solto meu cabelo e vejo que o mesmo parece um ninho de pombos. Faço uma careta para o espelho e vou até o banheiro, atrás de uma escova. Cabelos, não compliquem minha vida!

Depois de pentear meus cabelos e dar um jeito nele, fazendo um rabo de cavalo não muito elaborado, deixando minha franja caída sobre meus olhos, olho o relógio e vejo que ainda tenho um tempo antes de ir pra tortura, vulgo: escola. Resolvo ir tomar café. Pego minha mochila, que já contém meus materiais, todos de panda, dentro e rumo em direção a cozinha.

Enquanto desço as escadas, um pensamento me invade: Eu vou pra mesma escola que o loirinho! Por um lado isso é bom, já que ele é lindo, mas, por outro é ruim, já que ele é estranho. Digamos que ele é estranhamente lindo. O que me lembra também que ele disse que me apresentaria aos amigos dele. E eu realmente espero que sejam pessoa normais. Espero.

Chego a cozinha e encontro a mesma cozinheira que a Tia Cash estava conversando ontem de manhã... Poucas horas antes... Daquele jantar desastroso... Só de lembrar já me causa calafrios.

— Bom dia! - cumprimento, fazendo com que ela desvie a atenção de algo que está mexendo em uma frigideira.

— Ah, bom dia, senhorita Everdeen! - diz, abrindo um sorriso. Ok, ela já é a segunda pessoa que me chama de Senhorita Everdeen. Qual é a dificuldade de dizer Katniss?! É um nome tão bonito! — Fiz panquecas, ovos mexidos, suco de laranja e tem algumas frutas... Aceita algo? - pergunta, me fazendo notar tudo que ela me oferece em cima da mesa e bancada.

— Ãhn... Eu aceito as panquecas! - digo abrindo um sorriso.

Sento-me em uma das cadeiras da bancada e logo em seguida a cozinheira me serve prontamente. Começo a reparar nela e... Ei, espera um minuto... Essa é a tal da Greasy Sae? Lembro-me da Tia Cash dizendo algo sobre uma cozinheira.. " ... E também não precisa se preocupar com a comida das garotas, porque nós temos a Greasy Sae."

— Obrigada, ér... Hum... Só uma perguntinha básica... A senhora é a Greasy Sea? - pergunto franzindo o cenho.

— Oh, sou eu sim, senhorita! - diz sorrindo de forma terna. Gostei dela! Retribuo seu sorriso e resolvo provar as panquecas. AI, MEUS, DEUS! Que coisa MARAVILHOSA! Como eu pude passar 17 anos sem provar isso?! — Pela sua cara, acho que gostou das panquecas. - diz em tom animado.

— Gostar?! Eu não gostei... Eu AMEI! - digo voltando a devorar a panquecas. Ah, qual é?! Aposto que o mundo inteiro faria a mesma coisa se estivesse no meu lugar!

Depois de praticamente limpar o prato onde a minutos atrás havia o café da manhã mais maravilhoso de todo o universo, percebo que tenho quarenta minutos para ir pra escola.

— Valeu mesmo, Greasy! Juro que nunca comi panquecas tão gostosas! Agora eu tenho de ir pra escola. - respiro fundo tentando relaxar. — Sabe onde eu posso encontrar o motorista? - arqueio as sobrancelhas em sua direção.

— Tenho quase certeza que você pode encontra-lo lá fora. - diz recolhendo meu prato da mesa.

— Ok, obrigada! - digo me levantando, pegando minha mochila e saindo da cozinha.

— Boa sorte! - consigo escutar sua voz e, eu não a vejo, mas posso garantir que ela está sorrindo. Ela realmente gosta de sorrir. Solto um risadinha baixa e rumo para fora da casa.

É, a Greasy estava certa. Assim que saio de casa, vejo o motorista limpando um dos vidros do carro, que está estacionado no jardim, bem próximo ao portão principal. Me aproximo dele interrompendo-o.

— Bom dia, senhorita Everdeen! - ah não! Mais um com essa histórinha de "Senhorita Everdeen"?

— Bom dia! - forço um sorriso.

— Já está na hora de conduzi-la para a escola? - nossa! Por que ele fala de um jeito tão certinho?

— Ah, isso! Já 'tá na hora sim. - Infelizmente! Completo em pensamento.

— Oh, então vamos! - diz abrindo a porta do carro pra mim.

Não sei porque, mas, sinto uma súbita vontade de olhar para a casa do loirinho. E é o que eu faço. Na verdade, é o que os meus olhos fazem, sem a minha autorização. Nenhum sinal dele. Suspiro e entro no carro. Logo em seguida, o motorista entra também, fazendo o carro ir em direção a minha tortura.

Depois de, no máximo, uns trinta e cinco minutos, que mais parecem segundos, chegamos a bendita escola. É, parece que a escola não é tão longe de casa... O que significa que se eu quiser fugir... Deixa pra lá!

Desço do carro e me despeço do motorista. O lado positivo disso? Eu não preciso andar de volta pra casa, pelo menos. Olho para a frente, encarando a estrutura da minha nova escola e... WOW! Como esse lugar é grande! Se é assim por fora, imagine por dentro. Socorro!

Por um minuto me sinto a pessoa mais solitária do mundo, vendo as pessoas se abraçando... E rindo... Ok, chega do momento melodramático! "Vamos lá Katniss... Não vai ser tão ruim assim. Coragem!"

Suspiro e forço minhas pernas a me tirarem da calçada e passar pelo primeiro portão, ou projeto de grades de prisão, se preferir. Olho ao redor procurando por algum sinal do loirinho. Preciso desesperadamente achá-lo.

— Katniss? - uma voz estranhamente familiar me chama ao longe. — OMG, NÃO ACREDITO! KATNISS?!

Procuro com os olhos pelo ser que me gritou e...Essa não! Que eu esteja vendo coisa!

Ferrou!