Tomoeda High escrita por Uma Qualquer


Capítulo 15
Novata




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Gameboy abriu um novo tópico de discussão.

Tópico: O que vocês sabem sobre cadernos de bruxa?

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Respostas: 1

Postado às 05:00

@shura respondeu:

Tente descobrir no festival. Ou então... Espere até as aulas retornarem!


Sakura não chegou a conhecer sua mãe, mas sempre sentiu falta dela. Queria saber como era ter alguém com quem conversar, sem ser o pai, o irmão ou as amigas. Alguém a quem pedir conselhos. Alguém que lhe ajudasse a costurar um kimono, ou mesmo lhe ensinasse a como se maquiar.

Ela via outras mães e imaginava como deveria ter sido a sua. A de Tomoyo era uma mulher bonita e elegante, porem um tanto fria. A relação dela com a própria filha era bem distante. Mesmo não reclamando disso, Tomoyo também se ressentia por não ter uma mãe que cuidasse dela mais de perto. Sakura imaginava o que seria pior: uma mãe ausente, ou uma que sequer existia.

Enquanto pensava nessas coisas, sentia-se flutuando ao som de uma melodia conhecida. Alguém cantava aquilo para ela dormir, mas só agora ela lembrava.

Por que nunca lembrou antes?

Kiss me sweet, I’m sleeping in the silence

All alone in ice and snow…

Ainda estava flutuando, mas aquilo não era normal. Pessoas não flutuam do nada. Então seus pés pousaram sobre um chão liso, branco como as paredes que se estendiam sem fim. Estava em um longo corredor. Já não vestia o kimono rosa, mas um vestido alvo e etéreo, cobrindo apenas seu busto e da cintura para baixo. Braços, pescoço e costas estavam nus. Enquanto caminhava, as sedas da saia flutuavam como se estivessem debaixo d’água.

Ela então começou a correr.

In my dream I’m calling your name

You are my love

Quando achou que o corredor jamais teria fim, ela viu algo indefinido movendo-se à frente. Desconfiada, acelerou a corrida até chegar ao final, e cair no chão, cansada.

Era o mesmo espelho do outro sonho. Nele, porém, ela não se via mais velha. Era exatamente a mesma Sakura de antes, usando aquele estranho vestido de fada, e agora notava que havia um kanzashi de lótus branca em seu cabelo.

A melodia parou de repente. Enquanto Sakura recuperava o fôlego, viu seu reflexo no espelho mover-se por conta própria. Sentada, assistiu a si mesma se erguendo, ajeitando a saia e sorrindo para ela.

– Lembra dessa música, não lembra?

Sakura balançou a cabeça, como que hipnotizada pelo espelho.

– E de mim? Por que não se lembra?

Ela então levantou-se assustada, olhando para seus próprios olhos verdes. Mas não eram seus. Aquela não era ela.

– Quem é você? –indagou aflita.

Seu reflexo deu um sorrisinho.

– Quem é você? –ela ecoou a pergunta, dando-lhe as costas e correndo para longe dela.

– Volta aqui! –Sakura gritou, mas não podia segui-la. A superfície fria do espelho era uma barreira intransponível. Frustrada, a garota esmurrou o espelho.

E então, a parede de vidro desabou em cima dela.

Sakura despertou no mesmo instante, assustada, o suor escorrendo pelo rosto enquanto um frio intenso lhe gelava os ossos. Olhou ao redor, respirando rápido, confusa e amedrontada. Ao menos conseguiu se dar conta de que estava em casa, coberta por seu edredom.

– A terceira vez, too-san– ouviu a voz de Touya vindo de longe. Ele estava ao telefone, do lado de fora de casa. –Quando te liguei daquela vez foi a primeira, mas depois ela teve um apagão quando saiu pra estudar com uns amigos. A frequência está aumentando, será que já não era hora de...

– Hora de quê? –ela indagou, parada na porta. Estava toda enrolada no edredom, um aspecto abatido no rosto.

Touya olhou-a por um momento, antes de se voltar para o telefone. –Ela acordou. Vou cuidar, sim. Ligo mais tarde.

Ele se apressou em levá-la para dentro de casa. Sakura foi caminhando aos tropeções, sentindo as pernas moles como água.

– O que aconteceu? –indagou ela. – O que houve comigo?

– Você tem um distúrbio do sono– Touya disse enquanto preparava um chá. –Deve ter puxado da kaa-san mas o seu parece mais forte. O too-san está pensando em te levar a um especialista o quanto antes, já que essa coisa está ficando mais grave.

– Mais grave?

– Você apagou por três dias seguidos.

Sem reação, ela viu Touya despejar o líquido quente na xicara dela. Voltou para o pequeno balcão da cozinha, onde preparava os ingredientes para uma sopa.

– Três... dias? –murmurou assombrada.

– O moleque disse que foi logo quando os fogos começaram. Depois disso, você não acordou mais.

– Isso já aconteceu antes?

– Não que eu saiba.

Em silêncio ela tomou a xicara de chá, e percebeu que estava faminta. Esperava que Touya terminasse logo aquela sopa.

Ficou observando os ombros largos dele se movendo enquanto cortava os vegetais. Havia algo de estranho em seu silêncio.

– Nii-san...

– Hm?

– Acha que, se eu for a esse especialista, esses apagões vão parar?

– Não sei dizer. Vamos torcer para que sim.

Estranho, ela pensou. O modo como ele parecia distante. Tudo aquilo era muito estranho.

Kiss me sweet...– entoou baixinho, observando o fim de tarde pela janela. –I’m sleeping in the silence...

Touya voltou-se para ela, uma sobrancelha erguida. –Onde ouviu isso?

– Alguém cantava pra mim quando eu era criança, mas não sei quem– ela disse. –Você lembra quem era?

Ele franziu a testa. Acenou negativamente e lhe deu as costas, voltando ao trabalho.

Tomoyo apareceu algumas horas mais tarde para visitá-la, e ficou imensamente aliviada de encontrá-la acordada e desperta. Depois de se alimentar devidamente e tomar um banho, Sakura se sentia nova em folha.

– Ficamos com medo de ser algo sério– Tomoyo contou. –Quase te levamos ao hospital, mas Touya-san disse que não era preciso, já que você só estava dormindo.

– É verdade– Sakura sorriu, envergonhada por causar toda aquela preocupação. –Estou totalmente recuperada.

– Que bom –ela abriu a bolsa, tirando um monte de pacotes de doces e um caderno. – Chiharu mandou os doces e Rika fez as anotações das aulas pra você. Naoko queria mandar umas histórias de terror, mas achamos que não seria muito adequado no momento.

– Diga a elas que agradeço. Sinto muito por ter causado tanta preocupação...

– Oh, não se importe com isso. Desde que esteja bem, ficamos todos felizes. Syaoran-kun estava muito preocupado com você. Ele veio aqui te ver um monte de vezes.

– Pois é– Touya confirmou, de cara amarrada.

– Você tratou ele bem, certo? –Sakura indagou ao irmão, ansiosa. –Ele não fez nada de errado.

– Pra sorte dele.

Ela revirou os olhos e Tomoyo sorriu.

– Pensando bem– Sakura olhou para o relógio na parede– ainda são seis horas. Eu devia ir até lá visitá-lo.

– Tá maluca? –Touya exclamou. –Você acabou de acordar de um sono de três dias. Não vai sair daqui pra canto nenhum.

– Mas ele tá preocupado comigo– Sakura insistiu. –Ele nem sabe que eu já acordei.

– Ligue pra ele então.

– Ele não tem telefone.

– Mas que droga de adolescente ele é? Como é possível aquele moleque não ter um telefone?

– A propósito– Tomoyo acrescentou– o irmão gêmeo dele também não tem.

Touya bateu a mão na testa, impaciente. Então, tirou o telefone do gancho e discou um número rapidamente.

– Tsukihiro-kun, será que dava pra você dar uma passada aqui?

Yukito sabia o número do templo, mas ao ver que Sakura queria muito ir até lá, decidiu que podia levá-la de carro sem problemas. Sob o olhar feio do irmão, Sakura vestiu um casaco e entrou no Accord, acompanhada de Tomoyo, que também queria conhecer o templo.

– Vê se não dorme por lá– Touya exclamou, antes de fechar a porta.

Kurogane informou aos visitantes que os irmãos Li haviam saído para resolver um assunto pessoal, e só estariam de volta mais tarde. Mas avisaria a eles que Sakura já estava desperta.

– Você dorme mesmo, hein, garota– Meiling comentou enquanto servia chá a ela e aos outros. Ao notar o constrangimento dela, deu um risinho. –Qual é, você ainda não tá cismada com aquela história entre mim e...

– Não, não, tá tudo bem– Sakura apressou-se, sorrindo de volta.

– Eles só voltam mais tarde? –Yukito indagou. –Tem certeza de que não é perigoso, sensei?

– Claro, eles sabem se cuidar.

Sakura sabia que eles deviam estar em sua ronda noturna, então também não se preocupou. Não muito, pelo menos.

Enquanto isso Tomoyo fitava o monge em silêncio. Kurogane tomava seu chá calmamente, quando então percebeu o olhar insistente da garota.

– Algum problema? –indagou.

– Não, é que eu estava observando seus gestos. O senhor realmente tem jeito de quem lida com artes marciais.

– Isso é verdade –Meiling disse. –O sensei ainda dá aulas de kendou pra uns moleques que aparecem de vez em quando.

– Mesmo? –Tomoyo quase sorriu, e então baixou a cabeça. – Tem muitos mestres de artes marciais na minha família, mas todos são homens. Eles não permitem que mulheres sequer toquem numa espada de treino.

– Sério? – Sakura exclamou. –Eu não sabia disso.

– Sua família tá atrasada alguns séculos– Meiling afirmou. –Uma mulher pode lutar tão bem quanto um homem. Não há razão nenhuma pra esse tipo de regra existir hoje em dia. Sensei, o senhor devia dar aulas a essa garota o mais rápido possível.

Kurogane já ia mandar Meiling calar a boca, mas ao ver a expressão ansiosa de Tomoyo, voltou-se para a garota.

– É o que você quer? –indagou, sério.

Ela meneou a cabeça devagar. – Minha mãe nunca ia permitir.

– Ok, né– Meiling deu de ombros. –Uma vida dedicada a agradar sua mãe deve ser uma maravilha.

– Calada, pirralha– Kurogane finalmente trovejou.

Mais tarde, enquanto se despediam, Sakura lançou um olhar de dúvida para Kurogane. Devia contar a ele sobre aqueles sonhos estranhos? Será que eles tinham alguma coisa a ver com a descoberta da realidade em que estava vivendo?

Como se adivinhasse seu pensamento, Kurogane curvou a cabeça levemente. –Sintam-se a vontade para visitarem o templo, sempre que desejarem.

Ela então percebeu que ele não se referia apenas a ela mesma, mas a Tomoyo também. Sorriu em agradecimento, por si mesma e pela amiga.

Na escola, Sakura ficou aliviada em perceber que logo ela não seria o assunto de conversas por muito tempo.

– Então –Naoko chegou animada– lembram quando eu disse que dois cambistas britânicos estariam na Tomoeda?

– Isso foi no começo das aulas– Chiharu observou.

– Pois é, parece que só agora ela resolveu se matricular.

– “Ela”? É uma garota?

No corredor os irmãos Li conversavam com outros alunos, quando Ciel Phantomhive passou por eles. A expressão imperiosa em seu rosto chamou a atenção dos dois, uma vez que a criança olhou diretamente para eles.

– Qual foi agora, tampinha? –Syaoran indagou despreocupado, quando se afastaram dos outros.

– Boca fechada– disse ele azedamente. –Estão sabendo da nova aluna, não é?

– Sim, e daí? –indagou Tsubasa.

– Daí que vocês vão fazer o mesmo que fizeram comigo. Vão intimidá-la.

A frase, dada praticamente como uma ordem, pegou os dois de surpresa.

– Qual é, só porque é uma garota vocês vão deixar ela em paz? Pensei que vocês fossem os guardiões desse território ou algo assim.

– E nós pensamos que você era um gentleman– Tsubasa amarrou a cara. –Não intimidamos você, nem vamos intimidar uma novata. Não há o menor motivo pra uma coisa dessas.

– É mesmo? –disse Ciel, irônico. –Esperem só até ela se apresentar.

Quando todos os alunos se organizaram em seus lugares na sala 4-O, e Michaelis-sensei chamou a nova aluna com um ar um tanto consternado, os irmãos Li finalmente entenderam do que Ciel estava falando.

Ela caminhou com desenvoltura até a mesa do professor, sob o olhar boquiaberto da classe inteira. Curvou-se num cumprimento educado e sorriu levemente para os alunos.

– Meu nome é Kinomoto Tsubasa– disse. –Sou japonesa, mas passei boa parte da vida na Inglaterra. Por favor, me orientem enquanto eu estiver aqui.

Ninguém esboçou a menor reação. E se alguém ali poderia estar mais em choque do que todos, esse alguém era Sakura.

Pois aquela garota chamada Tsubasa era a cópia exata dela.


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Notas finais do capítulo

Quem assistiu o anime provavelmente lembra da música *-* #nostalgia
Obrigada às várias pessoas que estão lendo, e especialmente as que estão comentando. Que são em menor número, mas o bastante pra me dar uma motivação a mais. Mesmo assim, você aí, caro leitor fantasma, manifeste-se! Seu feedback é importante pra mim!
Ademais, o próximo cap sai em breve. Pra não prolongar muito o suspense. Té maisinho! :*



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