Tomoeda High escrita por Uma Qualquer


Capítulo 10
Praia




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Kinomoto Fujitaka sempre ensinou aos filhos que, não importava se o dia estava bom ou ruim, eles não deveriam faltar às aulas. De fato o dia estava meio frio com a proximidade de junho, mas parecia tão bom quanto qualquer outro.

Sakura concordava. Ainda assim, preferiu desligar o despertador e ficar no seu futon a manhã inteira.

Na Tomoeda, sua ausência foi imediatamente notada. Primeiro por Ciel, que lançou um olhar para os Li, que chegavam logo depois. Não falou nada, mas eles entenderam a mensagem.

“Deem um jeito nisso.”

– Eu nem sei onde ela mora– Syaoran resmungou para si mesmo, durante a aula. –Não tenho o número dela nem nada. Droga, não sei nada sobre ela...

– Você sabe o bastante– Tsubasa lhe passou um bilhete. – Pegue o metrô, é mais rápido que a bicicleta.

No bilhete havia o endereço de Sakura. Syaoran imediatamente levantou-se, pediu licença para ir ao banheiro e sumiu pelo resto do dia. Sempre tão impulsivo, Tsubasa pensou. Esperava que ao menos ele tivesse lembrado de levar o cartão de passe do metrô...


Em seus sonhos, ela se olhava num grande espelho, que a refletia dos pés à cabeça. Se via, mas não se reconhecia. A garota do outro lado parecia mais velha, mais inteligente e até meio maliciosa, embora seu reflexo fosse exatamente igual ao de Sakura.

Antes de despertar, ela viu a garota sorrir e ir embora, sumindo no infinito branco que o espelho refletia.

– Quem é...? –perguntou sonolenta, ao ouvir a porta bater.

– Syaoran– a voz soou um tanto insegura, do outro lado. –Eu... Vim ver como você estava.

Ela despertou imediatamente. Ainda estava de pijama, o cabelo desgrenhado, a aparência de alguém que acabara de acordar de um sono bem profundo.

Com certeza, não era a aparência que queria que Syaoran visse, mas não tinha jeito. Ela lhe pediu para esperar, ajeitou os cabelos, vestiu um robe do irmão (ficava gigante nela) e entreabriu a porta.

A primeira coisa que notou foi o frio lá fora, que entrou numa lufada de vento gelada casa adentro. Depois foi Syaoran, as mãos enfiadas nos bolsos, cabelos revoltos sobre os olhos. Vestia apenas parte do uniforme de inverno – a calça escura e a camisa branca de mangas longas. Sem o casaco e naquele frio ele tiritava levemente, mas não parecia se importar. Olhava para Sakura ansioso, e ela imediatamente abriu a porta.

– Vai pegar um resfriado- ela exclamou preocupada.

– Tudo bem– ele sorriu, esfregando o nariz disfarçadamente. –Eu não fico gripado tão fácil.

Tinha sido uma caminhada curta da estação de metrô até ali, mas foi o bastante para sentir os ossos congelarem. Mas nada importava para Syaoran, agora que estava com Sakura.

Ela corou levemente; estava sozinha e o condomínio quase vazio, mas ter um garoto como visita a desconcertava. Ainda mais quando era o garoto por quem estava apaixonada, e que pelo jeito era um aprendiz de samurai com alguma super força ou algo do tipo.

– Espere aqui– ela se decidiu e apontou para as almofadas sob a mesinha. – Vou fazer um chá pra gente.

– Tá acordada há muito tempo?

– Na verdade, acabei de acordar.

– Ah– Syaoran franziu a testa numa expressão culpada. –Foi mal.

– Tudo bem– ela sorriu e apanhou a chaleira no armário. – Se você não viesse, eu só ia levantar quando meu irmão chegasse de tardezinha. Ele ia me dar uma bronca daquelas.

Syaoran sentou-se e ficou observando a garota apanhar xícaras e um pote de biscoitos. Não tinha pensado muito bem no que ia dizer; achou que seria melhor decidir na hora. Mas não contava com o próprio nervosismo. Ele tentou controlá-lo o máximo que pôde – Sakura vivia fugindo dele meses atrás, e se agora o recebia em casa, não podia dar motivos a ela para expulsá-lo dali. Especialmente depois da noite passada.

Ela trouxe para a mesa uma bandeja com o chá e biscoitos. O rapazinho a ajudou a servir as xícaras, e o aroma quente das ervas o acalmou um pouco mais.

Reparou que, mesmo tendo acabado de acordar, com o cabelo meio despenteado e marcas de travesseiro no rosto, ela lhe parecia tão linda como sempre. Não conseguia parar de olhar aquelas íris esmeraldinas, e adorava ver as faces dela corarem ao sentir seu olhar sobre ela.

– Desculpa vir tão de repente– ele disse por fim, desviando o olhar para a janela, tentando finalmente deixar a jovem à vontade.

– Não, tudo bem– ela respondeu rápido. –Eu é quem agradeço por vocês terem tomado conta de mim. Realmente, eu não sei o que eu estava fazendo naquele lugar ontem...

O semblante dela pareceu perdido de repente. Sakura não poderia dizer como chegou à casa de Ciel, ou como conseguiu esconder sua presença: isso Syaoran entendeu na mesma hora.

– Bom, quanto a isso, não se preocupe– ele disse logo. – Sebastian-sensei já conversou com seu irmão, então ficou tudo bem.

– É, e eu também não falei nada pra ele. Mesmo assim...

Ela emudeceu por um instante, e Syaoran não soube o que fazer. Pelo jeito, as coisas seriam mais difíceis do que Tsubasa tinha tentado lhe alertar... Afinal ele pegou a xícara e tomou um pouco do chá.

– Pensando bem, – retomou a palavra, tentando achar um jeito de falar daquele assunto– acho que entendo agora porque você vivia fugindo de mim, não é? Devia saber que tinha alguma coisa errada comigo. Digo... Sobre ontem e tudo mais.

– Não, eu... –ela murmurou fracamente, tentando por os pensamentos em ordem. – Sei que não era da minha conta, mas eu sentia que você e seu irmão estavam envolvidos com algo perigoso. Nunca ia imaginar o que era, mas eu tinha medo que vocês se machucassem. Eu me preocupava muito com vocês...

Ela apanhou a xícara também, e os dois beberam em silêncio por um momento, cada vez mais constrangidos.

– Eu... Preferia que você não tivesse visto, Sakura– Syaoran disse afinal, num suspiro. – Preferia que nunca soubesse. Na verdade, a ideia é que ninguém saiba. Mas o jeito que aconteceu, com você lá sem eu saber, correndo perigo... Não queria isso.

– Eu não estava te seguindo– ela exclamou alarmada, a hipótese lhe fazendo corar de vergonha. Ao mesmo tempo, uma ideia perpassou sua mente, “será que eu não estava mesmo?”

– Não, eu sei– ele a tranquilizou, fitando-a nos olhos. –O que eu quero dizer é que não era pra você saber. Seria mais seguro se não soubesse. Eu me importo o bastante com você pra não querer que lhe aconteça algo de mau.

O coração dela palpitou de leve. Mesmo depois do que Tsubasa lhe falou – e talvez por isso também – ela sentia uma ansiedade estranha lhe tomar, fazendo seu raciocínio ficar difícil.

Acima de tudo, ela queria muito ouvir o que ele tinha a dizer. Sabia que para Syaoran devia ser uma tarefa árdua, já que pelo jeito ele vivia escondendo muito bem a sua identidade do resto do mundo. Naquele clima tenso, ele jamais se sentiria à vontade para revelar qualquer coisa.

Então ela reparou na farda da Tomoeda que ele vestia. Aquilo lhe deu uma boa ideia.

– Você tá cabulando aula, não é?

Ele sorriu, culpado.

–É, eu meio que dei uma escapada.

– Bom, eu nem fui pra escola hoje... – ela deu de ombros, animando-se. –Por que a gente não cabula aula juntos?

Syaoran mal podia acreditar. Ela estava lhe chamando para um encontro? Se bem que ele estava lhe devendo mesmo...

– Claro– sorriu, a felicidade inundando seu peito. –Tudo bem pra você sair nesse frio?

– Sim, só vou trocar de roupa. –Ela olhou para o rapaz pensativa, então levantou-se e foi ao cabideiro atrás da porta.

– É do Touya-nii, mas vai servir em você– ela lhe deu um casaco de malha grossa azul-escuro.

Ele agradeceu e foi esperá-la do lado de fora, já que a casa só tinha um cômodo além do banheiro, e ele já tinha deixado Sakura constrangida o bastante para um dia só. Minutos depois ela apareceu de cabelos penteados, tênis, jeans branco e um casaco cor de creme. Pôs a chave de casa numa bolsinha vermelha que levava do lado do corpo, e juntou-se à Syaoran, que ainda a fitava meio admirado.

– Vamos...? –sorriu, um pouco mais confiante.

– Vamos– ele sorriu em resposta.

O caminho de volta à estação foi bem melhor que a saída dele, na opinião de Syaoran. Tinha um monte de coisas para dizer a Sakura, e tinha coisas que ele também queria saber sobre ela. Mas no momento, tê-la ao seu lado era o bastante para não se preocupar com nada.

– Tem algum lugar que você queira ir?

– Algum lugar? –Sakura indagou.

– É, a gente tá cabulando aula. Podemos ir pra qualquer lugar.

– Hmm, deixa eu ver... A praia, eu acho. Mas não tem nenhuma por perto, não é?

– Deve ter. Vamos olhar no mapa da estação.

A pequena aventura começou a empolgar os jovens. Assim que chegaram, saíram pedindo informações a todos que encontravam. Logo descobriram que havia um metrô partindo dali em alguns minutos, e que levaria menos de uma hora para passar pelo litoral.

– Perfeito– Syaoran disse. – Assim eu vejo como é também.

– Você nunca esteve numa praia? –Sakura o encarou surpresa.

– Não que eu lembre. Na verdade, a gente não sai muito de Tokyo, sabe...

– Hm...

Compraram sucos em caixinha e sentaram-se nos bancos, esperando o metrô chegar. Ela balançava os tênis devagar embaixo do banco, enquanto ele observava os trilhos, pensativo. Então o veículo chegou e os dois entraram.

Em silêncio, viam a paisagem pela janela mudar aos poucos. A cidade movimentada ia ficando para trás, dando lugar a campos verdes e plantações que se estendiam horizonte afora. Syaoran então lhe contou que ele e Tsubasa não costumavam sair de Tokyo porque, às vezes, precisavam fazer o que fizeram na noite passada.

– Aquelas pessoas eram más? –Sakura indagou curiosa. –Elas pareciam bem fortes.

– E eram –ele respondeu. – Mas não, não eram más. Eles são empregados do Phantom-kun, e não queriam que a gente entrasse na casa dele.

– E... Por que vocês queriam entrar na casa dele?

– Tinha umas coisas que ele precisava explicar pra gente. Ele meio que estava de má vontade quanto a isso, mas no final tudo correu bem.

Ela assentiu. Claro que aquela história possuía muitos detalhes que ela queria saber, mas a viagem seguia tranquila, e ela decidiu esperar que Syaoran contasse na hora certa.

Havia uma parada de cinco minutos numa cidadezinha. O rapaz pediu que Sakura esperasse por ele e sumiu de vista. Enquanto ele não vinha ela esperava na porta do veículo, sorrindo para uma criancinha que acenava para ela. Pouco antes das portas se fecharem Syaoran voltou esbaforido.

– Quase que a gente ficava aqui– ela disse preocupada. –Eu não ia embora sem você.

Ele lhe sorriu, parecia satisfeito. Ainda estava sem fôlego para falar, mas lhe entregou o que tinha em mãos: um pacote de sakura-mochi.

Ela pegou o presente, agradecida. –Sabia que é meu doce preferido desde criança?

– Sim, o aniue me contou– ele respirou fundo, tentando afastar a lembrança do irmão. –Você só tinha tomado chá quando saiu de casa, achei que devia comer alguma coisa.

– E eu estava com fome mesmo. Obrigada.

Dos campos, eles viram a paisagem mudar para montanhas e rochedos. E então, por trás de uma serra, o mar surgiu diante deles. Estava um tanto cinzento naquele dia frio, mas não deixava de ser uma visão incrível.

– Era assim onde você morava? –Syaoran indagou.

– Aham– Sakura sorriu. –Enoshima vive do mar, praticamente. A cidade toda tem o cheiro do oceano.

– Sente falta de lá?

– Agora bateu uma saudade sim– ela admitiu.

Quando chegaram na estação, Sakura imediatamente saltou para fora. Reconhecia aquele cheiro de mar, que a animava a buscá-lo mais de perto. Ela pegou Syaoran pela mão e saiu da estação quase correndo, na direção da praia, que ficava do outro lado da cidade. Ele se deixou levar pelo impulso dela e os dois foram correndo pelas calçadas, rindo e chamando atenção dos que passavam por eles.

– Meu pai não ia gostar de me ver cabulando aula assim– ela confessou.

– Acho que até o Kinomoto-san te entenderia.

Os dois tinham chegado à mureta que percorria o litoral. Lá embaixo havia uma faixa de areia escura e úmida, na qual as ondas do mar se espraiavam preguiçosas. O horizonte parecia tão infinito, como nada que Syaoran lembrasse de ter visto alguma vez.

– Nosso país é cheio de lugares assim– Sakura comentou, diante do olhar maravilhado dele. –Você não poder sair pra ver... É meio triste.

Suas mãos se encontraram novamente, entrelaçando os dedos. Syaoran assentiu, num sorriso fraco.

– É por uma boa causa.


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Notas finais do capítulo

Demorou mas saiu :) Obrigada por ler, e se possível, dê sua opinião sobre a fic! Té maisinho :***



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