Lembranças escrita por Natalia Beckett


Capítulo 67
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Notas iniciais do capítulo

Florzinhas e cravinhos!
Tudo bem?
Pessoal, desculpa a demora para postar, mas logo depois que me curei da gripe eu peguei uma baita dor no dente ciso. Aquele último dentinho que não serve pra nada, só para doer. =P
Consequências: Eu vou ter que fazer cirurgia desse maldito 3º molar.
Eu tenho pavor de agulhas e passei a semana toda me torturando para a cirurgia que vai ser na sexta. Medo me define, mas mesmo assim consegui escrever.
O capítulo vai deixar muitas florzinhas enfurecidas ao longo da leitura, mas acho que no final todas irão ter uma surpresa. ;)

Desejo a tod@s boa leitura e peço para comentarem ao final de mais um capítulo GIGANTESCO!
E quem quiser me dar uma moral para a cirurgia... Eu tô aceitando... Tô carente. :/



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SÁBADO

Não sei por que cai na idiotice de aceitar sair com a Vick e amigos ontem. Aqui estou eu com cara de ressaca e esperando que isso melhore até a noite, na hora da viagem. Já não tem possibilidade de dormir no avião, com tanta ansiedade rodando em minha mente, dormir vai ser algo improvável. Ontem foi legal, fomos a um clube grunge. Eu não costumo ser o tipo de consumidora de álcool que esquece tudo que aconteceu na noite anterior, mas acho que a bebida foi forte o suficiente para que em poucas doses só me sobrasse borrões na memória.

Logo as horas se passaram e o inicio da tarde me alertava que a hora de ir para o aeroporto estava se aproximando. A mala já estava pronta, apenas alguns ajustes na bolsa de colo e tudo bem. Meus pensamentos eram abruptamente interrompidos pela conversa rápida e cheia de informação da Vick.

– Nem precisa perguntar se já está tudo pronto não é? – Ela fez cara de estúpida e eu apenas a encarei. – Ok! Eu falei com o Rogan, ele acordou agora e está se recuperando de ontem à noite. Ele vai levar você no aeroporto.

– Vick, eu já disse pra ele ontem e digo pra você agora; eu não quero que ele venha me pegar. Eu já combinei com o serviço de táxi, não precisa o Rogan se dar ao trabalho.

– Você sabe que pra ele não é trabalho, não é? O cara é louco por você e ele não é má pessoa! Ele tá só te fazendo um favor. Economiza esse dinheiro do táxi, deixa pra me pagar umas biritas quando você voltar. – Ela falou rindo.

– Justamente por ele ser “louco” por mim que eu não o quero fazendo favores para mim. Isso acaba mal, Vick. Ele vai acabar confundindo tudo!

– Vai acabar mal pra quem? Pelo que eu sei o Rogan já é bem grandinho. Agora se está falando de você, bom... Ai entra no assunto de “você sabe quem” que você não me deixa falar, perguntar ou insinuar sobre. Então...

– Então o assunto morreu aqui, tá legal? – Falei irritada.

– Ok, ok! Viu? Nem posso mencionar...

– Vick, dá um tempo...

– Numa boa, só me diz uma coisa; foi você que terminou com ele, não foi? – Ela questionou numa só vez, sem fazer pausa alguma e eu travei.

– Vick, eu vou dizer só uma coisa pra você... – Falei me aproximando dela. – Não se meta na minha vida amorosa. Se quiser manter nossa amizade num patamar respeitável, não suponha conversar comigo sobre minha vida, beleza? – Falei séria, cenho cerrado.

– Eu nunca vou entender o porquê, mas tudo bem, eu respeito. O assunto morreu aqui. – Ela disse e encenou pondo as mãos para o ar.

– Ótimo! Agora pega ai na mesa a minha ID, por favor. – Com a pouca ajuda da Vick eu terminei de arrumar tudo e aproveitei o meio da tarde para almoçar e descansar até a noite. Ainda precisava me livrar das olheiras.

Acordei faltando pouco tempo para pegar o rumo do aeroporto. Tomei um banho rápido, vesti a roupa que havia preparado e peguei o telefone para confirmar o táxi, porém mais uma vez fui interrompida por batidas insistentes na porta do quarto. Olho pra Vick, mas a mesma está apagada em cima da sua cama. Suspirei tentando relaxar os ombros. Com certeza era o Rogan que batia, ele realmente não aceitou o meu não e isso me enerva.

– Oi K-Bex! – Ele diz assim que abro a porta. – Está pronta?

– Rogan, eu te disse que não precisava vir me pegar. – Disse enquanto ele adentrava no quarto antes que eu abrisse passagem.

– Oh, mas eu não estou forçando barra. Vim para me despedir. Eu espero o táxi com você, tudo bem? – Ele fazia cara de pidonho.

– Certo. Eu vou ligar pra companhia. – Assim que a central atende a atendente informa que aconteceu uma falha no sistema de comunicação e que a central não está conseguindo enviar mensagem para os taxistas. Eu começo a entrar em pânico. Tentei de todas as formas pegar o táxi. Liguei mais duas vezes só para garantir se o sistema havia retornado, mas não havia nada a ser feito. Vick acordou no meio da confusão e começou a conversar com o Rogan.

– Kate, não esquenta. Eu trouxe o carro, eu te levo. Sei que você não queria que eu te levasse, mas foi um imprevisto. – Ele deu de ombros. Isso me cheirava a armação e das grandes. Não gostava disso, mas eu não tinha outra opção. Precisava chegar ao aeroporto e as horas estavam correndo.

– É K-bex, imprevistos não são raros de acontecer, eles acontecem. Ainda bem que você tem amigos como nós. – Vick falou com um braço apoiado em Rogan e piscou para mim. Eu cerrei os olhos involuntariamente.

– Tá, tá, tá! Vamos logo então! – Disse já pegando a mala e entregando ao Rogan. Já fechando a mala do carro Vick pigarreia.

– Vem cá K-bex... Deixa eu te dar um abraço... – A encarei e perdi a voz. Vick não era uma menina que anda por ai abraçando a todos. Mas uma vez isso estava me cheirando à armação. Eu fiquei encarando a menina roqueira na minha frente. – Qual é o problema? Eu não mordo... – Ela disse e veio ao meu encontro. Já abraçada a mim ela sussurrou: – Fica calma, mas ontem à noite eu vi coisas acontecerem. Vocês cismaram em beber o drink nightmare, eu disse que não ia dar certo, mas você bebeu. – Eu tentei escapar do abraço sufocante, mas ela me agarrou e prosseguiu. – Não fuja do abraço ainda... VOU SENTIR TANTA SAUDADE. – Ela disse alto, como quem disfarçava a situação para o Rogan que aguardava dentro do carro. – Continuando... Você vai querer me bater depois que eu terminar essa frase, mas acho que depois do verão você vai ter esquecido que você esqueceu que ontem você ficou com o Rogan. – Eu a empurrei com toda a força do mundo e só assim ela se desvencilhou.

– Ridícula! Você é uma ridícula! Acha mesmo que eu vou cair na sua brincadeirinha? – Eu estava atordoada. Como ela pode brincar com coisa assim?

– Eu brincando? Quem disse? – Ela ajeitava a roupa e fingia como quem tratava um assunto normal. – Eu posso NÃO LEMBRAR quando a “nossa amizade” começou, mas eu sei muito bem definir o quanto é importante sua AMIZADE para mim. – Ela falava em códigos que eu estava captando muito bem.

– Vick, amigos são pessoas que nos tiram de tremendas roubadas e não nos colocam em uma. – Ela me encarou assustada e Rogan colocou a cabeça para fora do carro e começou a nos observar. Eu prossegui. – E você é assim. – Sorri aborrecida para ela. Ela relaxou o músculo da face e se aproximou mais uma vez de mim.

– Ah K-bex, tão bom saber que isso é mútuo! É bom saber que nossa amizade NÃO É UMA BRINCADEIRA, não é? Porque eu não gosto de BRINCAR com meus amigos, nem gosto que brinquem comigo. – Ela cerrou o olhar na minha direção.

– Provas! Provas “dessa amizade”. – Agora eu a abraçava e como um urso, violentamente. Agora era minha vez de sussurrar. – Eu não tenho nenhuma memória sobre esse fato então nem pense em me enrolar para ajudar seu amiguinho. A única coisa que me lembro de ontem foi eu dançando no meio da pista e o Rogan estava... – Um branco dava lugar a um flash revelador.

– Dançando com você. – Vick sussurrou. – Eu não bebi a nigthmare, eu me lembro de tudo. Vocês dançaram e suaram sensualmente. Depois do nada, quando olhei, vocês não estavam mais na pista. Fui ao corredor do bar e vi vocês lá no cantinho no maior amasso. – Agora eu me lembrava. Eu realmente fiquei com o Rogan. Deus! Isso é um pesadelo. Eu não acredito que eu fiz isso. Não acredito!

– Eu quero morrer. – Disse sem pensar e não usei o sussurro. Rogan ouviu e protestou.

– Ok mocinhas, mas antes da senhorita kit-kat vir a óbito, posso ao menos completar minha missão? Entra logo nesse carro, a hora tá passando, você quer perder o voo? – Ele questionou. Eu estava gélida, todas as memórias voltavam como um filme em câmera lenta. Eu estava aterrorizada. O rosto do Rogan chega a minha memória como um borrão, mas agora eu sei que era ele.

– Ela já tá indo. – Vick respondeu. – Vai lá. Você não é a única que não lembra. – Ela sussurrou me encarando. Despedi-me dela e adentrei no carro.

– Me deixa colocar o seu sinto... Esse fecho ai está meio ruim... – Ele veio se aproximando.

– NÃO! – Eu gritei e ele se assustou.

– Tudo bem, tudo bem... Vamos sem sinto? – Eu puxei o sinto com violência e o mesmo soltou com tudo.

– Já veio... Fechei... Tudo pronto. – Informei nervosa.

– Certo. Vamos lá. – Ele disse como quem estranha. Pegamos a estrada e ele ligou o som. A música tocando me trazia memórias mais frescas da noite que se sucedeu. Aquilo estava me matando por dentro. Rogan parou no sinal e de repente, por si só, abriu um largo sorriso antes de me encarar.

– O que foi? – Perguntei estranhando.

– Lembra-se dessa música tocando ontem? – Ele questionou.

– Não. – Menti. O olhar dele entristeceu.

– Oh, foi mal. Então deixa pra lá. – Ele seguiu o roteiro e chegamos ao aeroporto ainda faltando 1h para o embarque. Resolvemos tomar um café e eu não via a hora de liberarem a entrada. Já degustando da cafeína ele voltou a me questionar. – Você lembra alguma coisa de ontem?

– O quê? – Disse me fazendo de desentendida.

– Da música, da pista de dança... Ou de outras coisas, sei lá. – Ele falou sugestivo.

– Rogan, eu me lembro da pista, de um drink azulado e tudo ao meu redor girando. Nem sei dizer como cheguei à minha cama ontem. – Respondi sem o encarar. Eu só olhava para o café.

– Fui eu...

– Oi? – O encarei.

– Eu que te levei até o seu quarto. – Eu estava travada, não conseguia mudar de posição ou soltar uma só palavra. Ele observava minhas feições. – Tem certeza que não se lembra?

– Rogan... – Eu vacilei.

– Você só não quer lembrar, não é? Mas você se lembra.

– Foi um erro. Isso foi errado, Rogan. Isso nunca era para ter acontecido. Nunca! – Estourei.

– Sabe... Um lado meu queria lembrar isso pra sempre... Outro queria apagar esse lance da memória e nunca mais voltar a lembrar. – Eu o encarei procurando entender o motivo da dualidade. Ele prosseguiu. – Ter cuidado de você, após acontecer o que aconteceu naquele clube e ouvir um “Eu te amo, Rick” foi realmente frustrante. – Eu estava sem palavras. Eu não me lembrava desse fator, tanto que as memórias vinham e o rosto do Rogan não ficava claro para mim. O tempo todo eu idealizei o Rick comigo, por isso beijei o pobre coitado do Rogan. Eu o encarava e por mais que eu quisesse, não conseguia elaborar uma boa desculpa sem tornar esse papo uma invasão de privacidade.

– Desculpa por isso Rogan, não foi por mal. Mas...

– Esse cara deve ser realmente importante pra você... – Ele me interrompeu. –... Porque isso nunca me aconteceu e olha que já consolei muitas meninas... Mas dessa vez doeu, principalmente porque ouvi da garota que eu gosto.

– Eu sinto muito por isso. De verdade, Rogan. Mas realmente eu não sei o porquê disso ter acontecido. Eu nunca deveria ter ficado com você. Isso não foi certo, tanto que deu no que deu; eu te magoei sem consciência disso.

– Tudo bem, Kate. Eu supero. – Ele sorriu fraco. Mal tentei finalizar essa conversa e fomos interrompidos pelo anúncio de chamada do meu voo para embarque imediato. Antes de nos levantarmos eu peguei em sua mão e apertei.

– Eu sinto muito por isso. Muito mesmo. Eu realmente espero que você encontre uma garota legal e que possa corresponder ao seu sentimento. Eu não sou essa garota, Rogan. Esse mal entendido foi um ato impensável, com atitudes injustificadas, eu nunca que iria fazer algo como isso de propósito. – Ele fez expressão de lamento e segurou minha mão com mais força. – Eu te desejo toda sorte do mundo. Você é um cara legal e eu espero que mesmo com esse fato lastimável, nossa amizade possa continuar.

– Sem problemas. Eu aceito sua amizade. É o mais próximo que poderei ser seu, amigo. – Sorri timidamente. Ele finalmente entendeu a nossa situação.

– Combinado assim! Agora vamos que está na hora de eu embarcar. – Levantei da cadeira e seguimos para o setor de embarque. Despedi-me do Rogan com um abraço em forma de gratidão pelo favor da carona que eu tanto rejeitei.

Voo tranquilo e pousei em Nova York no horário previsto. Durante todo o voo o Rick não saia da minha cabeça, mas ao rever meu pai no salão de desembarque o meu coração disparou. Ele estava ali, mas diferente da última vez, ele estava ali sozinho. Sua companheira e também minha mãe, não estava ali para me receber e isso me matou mais um pouco por dentro.

Um abraço que não tinha o mesmo nível de calor que anos atrás me envolveu fortemente. Um sorriso reconfortante me tornou um pouco mais segura para pegar em sua mão e por ele ser guiada até o carro. Poucas palavras trocadas. Um silêncio que me incomodava. Sem suportar tentei puxar um assunto.

– Pai, a novidade? Qual é?

– Estamos quase chegando lá...

– A novidade está em casa?

– Mais ou menos nesse caminho... Está quente... – Ele brincou sorrindo timidamente. Acatei suas sugestões e aguardei enquanto cruzávamos a ponte. Logo o caminho foi se tornando reconhecido, mas uma curva diferenciada mudou as coisas de direção.

– Pai! O caminho... – Ele me encarou sorrindo. – Está errado. Você pegou a esquerda, é pela direita...

– O caminho está correto, Katie...

– Como assim correto? Mudaram as mãos das vias? – Eu o indagava sem entender.

– Estamos chegando perto da novidade. – Ele respondeu.

– Mas a novidade não é em casa? Não está em casa a novidade? Não foi isso que você disse?

– E estamos chegando a nossa casa. – Ele me olhou.

– Nossa casa?

– Nossa nova casa. – Ele respondeu. Antes que eu pudesse esboçar alguma reação ele estacionou o carro em frente a um prédio antigo, com direito a escada externa de emergência e muros com tijolos vermelhos. Ainda sem perceber a real situação, papai saltou do carro e abriu minha porta. Pondo a mão em forma de convite, solicitou minha saída do carro. Minhas pernas estavam bambas. O que ele fez com nosso apartamento? – Vamos subir. – Ele falou já com minha mala em mãos.

– Pai... – Esbocei receio.

– Vamos subir então lá em cima nós vamos conversar melhor, tudo bem? – Ele disse apertando a minha mão. Eu não cheguei a demonstrar confirmação, mas ele cuidadosamente me inclinou para realizar o seu desejo. Eu ainda estava digerindo toda essa informação, mas já podia sentir parte do meu chão desmoronando. Quatro meses e meio fora de casa e quando eu volto tudo desapareceu? Com que direito ele fez isso? Tudo que tenho de memórias minha com a minha mãe estavam naquela casa! Como ele pôde fazer isso? Ele não se deu conta do quanto isso iria me deixar arrasada? Ele nem sequer pensou em mim? Nem sequer cogitou na hipótese de me consultar sobre esse acontecimento? Isso é o que ele considera uma “novidade”? Que tipo de novidade é essa? Todo ser humano acredita que a novidade esteja ligada a algo realmente bom, surpreende, mas isso? Isso é cruel! Todo meu corpo está formigando e eu estou à beira de um colapso emocional. Tudo isso corre em mim numa velocidade absurda e nós apenas abrimos a porta da sala. Papai está parado na minha frente e me incita a adentrar, mas eu não me mexo. Não consigo me mexer. Estou internamente pedindo a algum deus existente que me acorde desse pesadelo que parece não ter fim. Porém quanto mais eu estou rezando, mais sinto a falta de ar me atingindo. Vejo que papai movimenta os lábios, ele com certeza está dizendo algo, mas eu simplesmente não consigo distinguir o que é, nem me esforço para conseguir. Meu coração começa a bater como quem está à beira de um infarto. Tudo começa a girar e girar. A vertigem já não permite que meu olhar foque em um só canto dessa “novidade”. Eu estou suando frio e tento de alguma forma expressar que eu devo desmaiar dentro de alguns segundos, mas a minha língua está travada e antes que meu olhar pudesse suplicar algum tipo de ajuda para aquele senhor que me encarava, a paisagem ao meu redor diminuiu e parece que alguém apagou as luzes. Já não há mais aflição, tudo está escuro e incrivelmente tranquilo. Tranquilo.

– Katie! Katie! – Ouço a voz do meu pai bem distante. Minha cabeça está pesada. – Katie! – A mão dele tá dando tapas delicadas na minha face direita. Mas que diabo é isso? Não se pode nem dormir?

– Huuum... – Murmuro.

– Katie, minha filha, acorde!

– Pai...

– Katie, abre os olhos... Olha para o papai... – Aos poucos abri os olhos.

– Ai! Minha cabeça tá doendo...

– Você desmaiou, bateu com a cabeça na queda. Você está bem, querida? – Eu começava a olhar ao redor. Eu estava num quarto que tinha todos meus objetos, mas não era meu quarto de verdade.

– Eu estou sonhando, não estou? – Perguntei meio grogue.

– Meu amor, eu estou aqui do seu lado. Toma aqui um pouco de água. – Ele falou me estendendo o copo. Peguei o copo meio desequilibrada e ele me auxiliou. Aos poucos fui voltando a ter consciência de onde eu estava.

– Novidade? – Perguntei com um tom arredio.

– Katie, a gente precisa conversar as coisas não podem ser assim. Você desmaiou enquanto eu explicava pra você porque nos mudamos...

– Você quer dizer o porquê de VOCÊ ter se mudado. – Eu estava decepcionada.

– Você quer conversar ou brigar? Se você preferir eu espero você se recuperar totalmente e quanto estiver pronta para conversar, nós conversaremos. Mas não vou ficar brigando com minha única filha um assunto tão delicado.

– Pelo menos nós dois sabemos que esse assunto é muito delicado. Delicado até demais.

– Eu vou deixar você descansar. Esse seu novo quarto também tem suíte. Tudo que você gosta de usar está lá, inclusive seu shampoo de cerejas. Se sentir fome eu vou deixar um sanduíche pra você na geladeira. – Eu apenas o encarava, eu ainda estava “armada”. – Eu vou pra cozinha, vou fazer o almoço. Descanse do jetlag e se quiser, à noite conversaremos direito. – Apenas afirmei com a cabeça e fiquei sentada, sozinha nesse novo quarto. Seria um dia longo e complicado. Eu desmaiei e eu sei bem o porquê. Ele me pediu para descansar, mas eu não consegui realizar essa tarefa muito bem. Enquanto a água quente e o cheiro de cerejas se espalhavam em meu novo banheiro, senti minha cabeça aliviar a pressão. Mais um pouco de contemplação nesse novo quarto e iniciei a identificar meus objetos que pelo visto foram cuidadosamente colocados numa posição praticamente idêntica da nossa casa, do nosso antigo lar. Isso prova que ele teve cuidado em tentar me fazer feliz. Aos poucos fui tendo a consciência que meu pai não iria fazer nada de caso pensado, para que eu me sentisse mal ou coisa assim. Pelo contrário, meu pai sempre faz tudo para me fazer feliz e eu não tinha o direito de pensar o contrário justo agora. Se eu precisava de apoio, ele com certeza também precisava do meu. Eu precisava dar uma chance dele se explicar, eu precisava me dar à chance de entender o que aconteceu. O cheiro do almoço invadia meu nariz. Era o cheiro do meu prato favorito. Caminhei em direção do cheiro, com bem pouca destreza achei o cômodo da cozinha. Papai estava envolto numa verdadeira guerra de panelas e utensílios. Caminhei até o seu lado e iniciei uma ajuda ingênua. Comecei a lavar parte da louça já suja. Ele olhou para mim assustado, mas eu sorri em retorno e então ele correspondeu.

– Você está fazendo ravióli? – Ele expandiu o sorriso.

– É seu prato favorito, não é?

– Sim. – Sorri carinhosamente enquanto lavava um prato.

– Talvez não fique tão precioso quanto o da sua mãe, mas eu me esforcei o bastante para deixar esse molho fantástico. – Ele informou inseguro.

– Pai, não se preocupe com isso. Só de comer ravióli ao seu lado eu já me sinto feliz. – Ele então largou a longa colher de pau e solicitou que eu largasse a esponja. Com as minhas mãos ainda molhadas ele me puxou para um abraço apertado e longo. Não houve lágrimas, mas um calor tão agradável e protetor que algo me confortou por dentro. E isso era a sensação de casa, de estar em casa.


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Notas finais do capítulo

Meninas e meninos, e aí? Qual será o real motivo do pai da Kate ter se mudado sem avisar a sua filha? E sobre o lance da Kate com o Rogan? Gente, antes de receber ameaças, o caso do Rogan só serviu para a Kate confirmar que o seu coração sempre baterá, mesmo nas mais inóspitas situações, pelo mesmo cara: Rick.
Galerinha, comentem!



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