No capítulo anterior Kate acabou discutindo com o Rick após o seu namorado ouvir a voz do Henry no quarto da Kate. Kate estava resfriada e com um forte sentimento de angustia. Vick e Henry fizeram companhia para a amiga assistindo episódios de Nebula-9. Kate está preocupada com o Rick. Ela está cansada de brigar. No capítulo que se segue Kate está indo para Nova York depois de algumas semanas dessa discussão.

Era um pouco mais de 5 horas da manhã, mas quem disse que eu conseguia me manter com os olhos fechados por mais tempo? Minha mala já estava toda pronta. Era questão de minutos para que eu tomasse banho, o café da manhã e partisse para o aeroporto. Jenny ficou de me levar lá. Mas apesar de tudo está preparado meu coração ansiava por voltar pra casa. Nada soava melhor para mim do que ouvir minha mãe chamar meu nome para ajudar com a ceia de Natal. –Quer saber, vou me levantar! – De nada adianta ficar aqui deitada curtindo meus devaneios.

Ao fechar a porta do banheiro no escuro, esqueço-me de tirar meu dedo mindinho da frecha da porta.

– AI!

– K-Bex? – Perguntou Vick sonolenta. Eu infelizmente a acordei. – Tá tudo bem ai?

– Desculpa. Ai... Sim, sim. Tudo bem.

– Você acabou de quebrar uma regra do nosso acordo. – Ela falou séria.

– Desculpa Vick. – Sai do banheiro e tentei transparecer meu real arrependimento.

– Ah garota... – Vejo pelo pouco de luz saído do banheiro um travesseiro voando em minha direção.

– Ah! Vick!

– Vai se arrumar logo e me deixa dormir mais cinco minutinhos... – Ela respondeu sorrindo.

– Tá... foi mal.

Adentrei no banheiro e dentre poucos minutos estava pronta. Os primeiros raios do Sol já começavam a aparecer. Arrumo as últimas coisas na minha bolsa e verifico os documentos e a passagem. Calcei os sapatos e coloquei o cadeado na mala. Tomaria café no aeroporto.

– Já tá pronta K-Bex? Isso é que é vontade de voltar pra casa hein? – Vick perguntou se levantando. – Ainda são 06:30 da manhã! Você só embarca às 10h!

– Eu sei, mas eu não consegui dormir.

– A Jenny vai te levar né?

– Ter uma moto nessas horas não serve pra muita coisa. – Ela esfregou os olhos após um longo bocejo. – Você vai quando?

– Vou o quê?

– Pra casa.

– Não sei. Estou pensando ainda.

– Eu não aguento mais esperar. Ter passado ação de graças longe da minha família já foi ruim o suficiente.

– Sorte a sua. Pra mim quanto mais longe melhor. Mas esquece disso... Já tomou café?

– Vou tomar no aeroporto.

– Até lá você vai cair né? Bora! Eu pago seu café. Presentinho de Natal. Vou trocar de roupa ok?

Tomamos o café da manhã, conversamos coisas sobre o próximo período dentre outras coisas até que Jenny chegou. Chegamos ao aeroporto e a Jenny esperou até me ver embarcar. Ela realmente é uma ótima amiga. Sabe, eu não tenho problemas com avião, mas eu nunca me senti tão nervosa como nesse voo. A ansiedade está me corroendo. Antes de entrar na aeronave enviei uma mensagem para mamãe e disse que em breve estaria a abraçando.

Ao pousar eu senti uma alegria que me preenchia por todos os lados. Assim que cruzei o portão de desembarque avistei meu pai acenando alto com o braço direito enquanto a outra mão descansava confortavelmente no ombro da minha mãe com um sorriso aquecedor. Andei apressada, puxando a mala com o menor cuidado. Meus pais vieram ao meu encontro. E que encontro!

– Senti tanta falta de vocês! – Eu sorria e os apertavam em meus braços. Era tudo tão recíproco.

– Oh minha querida, deixe-me olhar para você. – Mamãe pediu se afastando um pouco. Sorri para ela amplamente. – Minha menina! Está linda como sempre! – A abracei como se não houvesse amanhã.

– Estávamos contando os minutos Katie. Nem acredito que você está aqui novamente. Parecem até que foram anos que se passaram. – Papai desabafou enquanto deslizava a mão suave sobre meus cabelos.

– Eu também estava ansiosa, pai.

– Então vamos? – Mamãe pediu amavelmente. – Temos muita coisa para conversar e pôr em dia não é? – Ela deslizou o indicador na ponta do meu nariz.

Sai abraçada com a mamãe enquanto papai puxava a mala. Caminhamos até o estacionamento e eu adormeci, como quando criança, docemente no banco de trás. Papai me acordou assim que chegamos ao prédio. Saudades que eu estava de me sentir assim tão aconchegada. Mas ao entrar no elevador e olhar o celular percebi que nem tudo seria como eu gostaria que fosse. Rick, que havia prometido me encontrar de noite, enviou uma mensagem para desmarcar. Ora! Por que ele não me ligou? Eu já estou em Manhattan. O que custava para ele me ligar?

Mamãe tinha feito meu prato favorito. Papai me conseguiu uma bola autografada de um dos maiores jogadores da liga de Baseball. Tudo estava perfeito. E só quem já esteve por algum tempo fora de casa sabe o quão bom é voltar e sentir o cheiro do seu próprio ambiente. Mas eu não conseguia disfarçar minha decepção com o Richard. Claro, mamãe percebeu.

– Que ruguinha é essa? – Ela perguntou carinhosa enquanto papai cochilava de frente a televisão. Suspirei.

– O Rick não vai vir me ver hoje, e também não me ligou para ao menos falar comigo. Saber como foi à viagem. Essas coisas...

– Vocês não estão bem, certo?

– Não. – Ela fez uma expressão de lamento. Papai se mexeu um pouco.

– Vamos para o seu quarto. – Mamãe se levantou me dando a mão. Sentou-se na beirada da minha cama enquanto eu me joguei com pernas cruzadas no centro da mesma.

– Mãe, eu acho que isso não vai dar certo. Eu acho que namorar a distância com a gente não tá funcionando. Tá tudo errado.

– Kate, o que tá havendo? Vocês têm discutido muito?

– Sim. – Mordi os lábios inferiores. – Mãe... – Pus meu cabelo atrás da orelha e a encarei. – A gente tem brigado por tudo, por coisas pequenas, só por não saber com quem a gente está no outro lado da linha. Rick pira o tempo todo e eu não sei como lidar com isso. A gente não tem tempo, a gente pouco se liga. Eu fiquei doente e Rick alegou não ter tempo de me ligar. Fora o fuso-horário. Mãe... – Suspirei. -... Eu...

– Meu amor, eu sinto muito em ouvir isso. Pensei que as coisas estavam indo bem, nunca fácil, mas bem. Vocês estão com dificuldades de acreditar um no outro, como se houvesse motivo. Desde daquela vez que levei vocês foi assim. Você não confia nele?

– Não se ele não confiar em mim!

– Kate, se nenhum de vocês dois cederem, vai sempre se tornar mais complicado. Tenha isso em mente. Alguém precisa ceder.

– Mas ele não cede em nada! Tudo ele desconfia! Tudo!

– Então a mais flexível é você meu amor. E você precisa saber lidar com isso se quiser levar a relação para frente. Mas filha... – Ela pôs a mão sobre a minha. – É algo muito complicado e desgastante para dois jovens. Às vezes o melhor a se fazer é dar um tempo. Procurar entender como a vida funciona sem aquela pessoa. Durante esse tempo você vai mesmo sem querer se pôr no lugar dele e vice versa, daí pode surgir um retorno ou a certeza que se separar foi o certo a fazer.

– Mas mãe... – Eu comecei a lacrimejar. – Eu não quero dar um tempo! Eu... Eu só quero que ele compreenda.

– Converse com ele então pessoalmente, Katie. – Ela secou minha lágrima – Mas seja sincera ao dizer tudo que você está sentindo por ele e para ele. Vocês precisam ser sinceros.

– E vocês me deixaram sozinho, babando em frente à televisão? – Papai falou batendo levemente na porta do quarto.

Já era noite e vencida pelo cansaço adormeci. Acordei novamente cedo. Mamãe já preparava o café. Papai estranhou eu estar arrumada, cabelos penteados e banho tomado tão cedo. Sorri em direção da mamãe e informei que estava saindo, eu iria até o quarto do Rick na Columbia. Eu não deixaria para depois.

Adentrei pelos portões e me identifiquei como estudante de Stanford interessada em transferência. Não tive problemas para entrar. Perguntei para alguns veteranos onde ficava o dormitório dos alunos de direito. Ao achar, entrei num corredor barulhento, com muitas paredes coloridas e portas com placas ou pichadas. Era de se estranhar, mas a porta do Rick era uma das mais psicodélicas. Bati cinco vezes seguidas sem pensar duas vezes. Um menino de olhar vazio, cabelos bagunçados e samba-canção abriu a porta.

– O que é?

– Aqui é o quarto do Richard Rodgers?

– É sim... Quem é você?

– Sou Katherine... Amiga dele. – Não quis dizer quem era. Pelo visto o Rick não havia falado muito de mim pro seu colega de quarto.

– Ih Katherine, acho melhor você voltar outra hora... O Rick tá meio... – Ele olhou para trás, acho que para avistar o Rick. –... Ocupado. Se é que me entende... – Ele riu debochado.

– Ah é? Poxa. Isso é uma pena. – Ele foi fechando a porta quando eu o barrei segurando a mesma. – Sabe por que é uma pena? – Falei em tom de ordem. – Porque eu desconheço o verbo ocupado no Rick! – Empurrei a porta, assim como o menino cheirando a álcool e outros odores e adentrei no quarto.

– Você não pode entrar aqui assim não ô! – Perdi meu sentido por um momento. Era como se nenhum barulho ou ruído existisse mais. Eu não acreditava no que eu estava vendo. Eu não acreditava no Rick que eu via na minha frente. Eu não conseguia formular nada além de um murmúrio gélido que saiu de minha boca.

– Rick?