O relógio teimava em despertar sem que a tecla de parar funcionasse. Eu não queria ir para o colégio. Eu ainda não sei como reagiria se Rick ainda não aceitasse falar comigo. Céus! E se ele aceitasse, eu não saberia por onde começar. Não sei o que dizer para que ele me perdoe. Que não torne isso mais difícil do que já é.

Sem coragem me virei na cama e tentei dormir de novo. Mas não consegui. Ontem só adormeci por causa do chá que mamãe me deu. Fiquei então pensativa. Tentando organizar em mente as palavras certas para convencer Rick do quanto eu o amo e do quanto eu nunca quis magoá-lo. Mas depois de um tempo os pensamentos me pareciam inúteis. Eu precisava olhar dentro dos seus olhos, tocar o Rick. Posso não ser tão boas com palavras de amor como ele, mas tudo que eu diria seria verdadeiro. Papai bateu na minha porta me chamando. Antes de levantar afundei a cabeça no travesseiro buscando força. Depois respirei fundo e me levantei.

No caminho até a escola mamãe respeitou meu silêncio e apatia. Eu pensava se talvez me afastar do Rick não fosse o melhor. Sentir essa dor apenas uma vez. E não uma segunda vez, que seria quando eu fosse para Stanford. Mas será que Stanford merecia tanta certeza e atenção como as pessoas em minha vida estavam dando? E se acontecesse de eu não ser admitida? Eu e Rick estaríamos sofrendo à toa. Céus! Minha mente estava um turbilhão.

– Tchau mãe. – Sorri fraco descendo do carro.

– Kate! – Ela me chamou a atenção para olhar para ela. – Você saberá exatamente o que fazer. Não se preocupe. – Piscou para mim. – Até mais tarde.

Ela saiu com o carro enquanto eu encarei a calçada até a entrada da escola. Caminhei desconfiada até avistar Lanie no lugar de sempre.

– Oi girl. Como você esta?

– Angustiada. Não sei o que fazer.

– Oh Kate, tenha calma. Eu ainda nem o vi passar.

– Será que ele não vem?

– Não sei girl. Mas vamos entrar que é o melhor que a gente faz.

Hoobastank -The Reason– https://www.youtube.com/watch?v=dUpSREIjapY

As aulas do dia passaram vagarosamente. Tenho um branco em minha memória sobre todo conteúdo aplicado pelos professores. Disfarçadamente procurei Rick em toda escola durante o intervalo. Não o achei. Resolvi arriscar ir até o telhado. Também não. Ele havia faltado. Eu era o motivo. Meu coração se partia um pouco mais. Voltando para o restante das aulas, Espo me perguntou pelo Rick. Disse que assim como ele, eu não sabia.

Porque ele estava se comportando assim? Eu não queria ter lhe causado tamanha dor, dor essa que também me atingia. Eu não achei que seria uma boa ideia ir até a casa dele para procurá-lo já que minhas ligações ele não atendeu. Eu não estava bem. A angústia não me permitiu comer quase nada durante e depois do café da manhã. No caminho pra casa passei num café, peguei um cupcake de cereja. A única coisa que me apetecia, com o sabor que me fazia lembrar os dias em frente ao Metropolitan com o Rick. Ele não podia estender isso por mais tempo. Essa briga está me matando aos poucos.

Perdida em meus pensamentos não prestei atenção que ao entrar no prédio havia alguém sentado no sofá da recepção. Apertei o botão chamando o elevador e aguardava apaticamente. Não demorou muito e a porta abriu. Assim que entrei uma mão familiar evitou das portas se fecharem.

– Rick?

– Podemos conversar? Em outro lugar? – Ficamos nos olhando, encarando ambas as olheiras, buscando respostas prévias com o olhar, até que o alarme de porta aberta do elevador soou.

– Tudo bem.

Eu apenas o segui lado a lado. Caminhamos até um parque arborizado perto da minha casa. Sentamos num banco amparado por sombras. Ainda ficamos em silêncio. Dessa vez olhávamos para tudo ao redor de nós. Isso estava me matando e ser forte nessa hora não era minha melhor opção. Uma lágrima escorreu por minha face. Após a segunda começar a marcar meu rosto Rick me olhou. Em silêncio ele deslizou um dedo pelo meu rosto capturando a lágrima. Olhei para ele. Não havia o que dizer ali naquele minuto. As pálpebras dele avermelhadas anunciava uma vontade eminente de chorar comigo. E o anúncio se fez realidade na certeza de um abraço repentino.

Estávamos ali, sem palavras, abraçados num choro silencioso. Depois de alguns minutos abraçados ele se afastou um pouco e olhava no fundo dos meus olhos. Eu não evitava. Olhar no fundo dos olhos dele também era necessário. Isso me fazia enxergar que a minha dor era a dele. Por minha culpa. Minha culpa!

– Desculpa Rick. Desculpa-me. – Ele acariciou meu rosto com as costas da mão.

– Não quero suas desculpas Kate. – Ele partia meu coração novamente.

– Mas eu...

–... Eu quero sua sinceridade. Quero a verdade. Quero nossa relação limpa Kate. – Engoli seco enquanto me questionava o que realmente ele queria de mim.

– Rick, eu sinto muito. A última coisa que eu queria era que você soubesse disso daquele jeito. A última coisa que eu queria era magoar você. Eu tentei adiar para fazer da situação algo menos doloroso ou assustador. Mas eu adiei demais.

– Porque Stanford Kate? Por quê?

– Porque quero seguir a carreira de direito Rick. Porque meus pais me influenciaram para ir para essa instituição e se esforçaram a vida toda por isso. Porque esse é o meu sonho Rick... Mas isso tudo, todos esses planos, foram feitos e idealizados antes de você entrar na minha vida. E agora eu simplesmente não sei o que fazer.

– Eu não tenho o direito de te pedir para mudar de ideia Kate. Não quero ser o motivo da sua angustia. Não quero que você se sinta dividida ou coisa do tipo. Mas eu também não posso ir atrás de você.

– Eu não quero por você numa situação dessas Rick. Você também tem seus planos. Não seria justo com nenhum de nós dois.

– Queria que meus planos fossem nossos planos! – Eu me silenciei sentindo um pesar. – Porque você não me contou antes? Eu me senti traído. Eu te mostrei tudo que eu sentia Kate, e de repente eu descubro que você tem segredos relevantes ao nosso destino. Segredos que você não me revelou.

– Eu fui uma estúpida Rick. Agora eu sei.

– Kate, você precisa confiar em mim. Confiar no que eu sinto por você. Eu não estaria aqui, não teria vindo te procurar, se você não fosse realmente importante para mim.

– Rick... Eu te amo tanto. Eu tenho tantas boas lembranças de nós dois. Viver o que nós começamos a viver agora é tão mágico pra mim. Principalmente quando essas lembranças me veem a mente. Eu não quero estragar tudo.

– Também não quero! Nem quero viver isso como se houvesse uma data de validade. Eu apenas sinto medo de te perder Kate. Medo de você ter outros segredos que não me permita te enxergar ai dentro de si. E se você se esconde como posso aprender seus limites? Como posso te ajudar quando você precisar?

– Eu sei Rick. É difícil pra mim. Não sou perfeita! – Ele me olhou encarando – Mas tenho motivo para tentar. – Sorri de forma doce ainda olhando para ele.

– Você é perfeita pra mim Kate. Só quero que você me deixe ser bom para você. – Como era doce a forma que ele me olhava. Sorri timidamente.

– Rick, você é o garoto que meu coração esperava. Meu coração parece que foi feito para ser seu. E eu nunca me senti como me sinto com você, com ninguém antes. Isso é novo pra mim. Mas é bom, é verdadeiro. Eu não sou tão boa com palavras quanto você... Mas Rick, você me deixou ver como é você ai dentro – Pousei o dedo carinhosamente no coração dele. – E você me fez a garota mais feliz que eu poderia ser. Eu amo você.

– Eu te amo Kate. Eu queria te ter para sempre ao meu lado. Porque eu também nunca me senti assim antes... Kate... Talvez a gente possa aprender a viver distantes. Talvez possamos fazer isso dar certo. Quem sabe estaremos um dia planejando NOSSO destino?

– Quem sabe? – Sorri largamente. – Podemos tentar... Eu quis falar com você ontem mesmo, mas você me pediu tempo. Eu não sabia o que fazer. Eu não queria um tempo de você. Eu não posso.

– Eu só achei que fosse melhor assim. Eu queria pensar. Mas é difícil pensar, principalmente em coisas boas quando imagino que você pode estar chateada comigo porque eu não quis falar com você naquela hora.

– Eu fiquei chateada. Mas pensei que você estivesse com mais raiva de mim. Pensei que nunca mais você iria falar comigo. Eu não sei dizer direito... Foi uma sensação muito ruim.

– Eu só sei de uma coisa... Aqui, agora, no presente, eu te tenho aqui na minha frente. – Ele passa a acariciar meu pescoço e rosto. – E eu não quero ser o cara estúpido que gasta a oportunidade do presente só porque possivelmente prevê o futuro. Você está aqui nos meus braços e essa nossa discussão só me fez ter certeza do quanto cada minuto com você é precioso pra mim. – Ele encostou a testa na minha. Eu agora me sentia “em casa”. Meu sorriso se expandia. – De como cada minuto sem você é horrível pra mim. Eu te amo muito pra deixar de aproveitar isso... – Ele me beijou.

O beijo era o melhor até agora. Era um beijo saudosista, intenso. Beijo de desculpas. Beijo de renovação. Ele deslizava as mãos na minha nuca causando um arrepio gostoso. Minha felicidade era indescritível enquanto minhas mãos deslizavam pelo cabelo dele e minha boca sentia seu sabor. Com ele eu me sentia inteira. Sentia-me capaz de tudo. Não conseguia mais imaginar minha vida feliz e completa sem o Rick ao meu lado. Ainda que guiada pelas sensações, essa era uma certeza que me tomava, mas que não tinha explicação.