As Long As You're There escrita por iheartkatyp


Capítulo 8
Her choice was made.




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Se estava confusa antes, agora sua situação estava dez vezes pior. O fundo debaixo dos olhos deixava claro as noites que Clara passara sem dormir. O rosto cansado demonstrava seus dias de tortura. Não conseguia passar um dia sem pensar na fotógrafa que a assombrava há meses. Agora, tinha nas costas o peso de estar destruindo a própria família. O primeiro divórcio da família seria da filha mais nova e isso não estava certo. Pelo menos, não para ela e para o jeito que foi criada. Jogada na cama, sua cabeça parecia um nó dado por um escoteiro formado: daqueles que precisam apenas de um puxão para se soltar, mas precisam de inteligência o suficiente para encontrar o puxe certo sem apertar mais ainda o nó. As mãos fracas lhe deixavam triste. Não conseguia comer. Cadu entrou no quarto cambaleando, e Clara fechou os olhos, fingindo estar dormindo. De leve, se virou para o lado contrário. Da última vez que checou o relógio, eram três e meia. Três e meia. Quando Cadu se deitou ao lado dela, sem o menor cuidado para não acordá-la, Clara pode sentir o cheiro de álcool que lhe invadia as roupas e hálito. Certamente havia usado a briga com ela para encher a cara, o que não a agradava nem um pouco. Fechou os olhos. O pensamento que ela menos queria lhe veio á tona: Onde será que estaria Marina nesse momento?

Sentia-se suja. Volúvel. Era tão... Errado. Tudo aquilo era errado. Não sabia se deveria arriscar a acabar deixando as coisas piores do que já estavam. Não era aquilo que era queria. Ao lembrar-se de Clara, não tinha mais a sensação boa que teve quando seus olhos encontraram os dela. Lembrava-se de Cadu, e também de Ivan. Aquela criança doce que não merecia nenhum mal que lhe fosse feito. Sabia que Clara devia estar estranhando o sumiço da amiga, mas ficou surpresa quando viu a silhueta conhecida parada em sua porta. Como um balde de água fria que lhe é jogado no rosto, Marina despertou. Com a mão no peito, como alguém que leva um susto grande, ela tentou controlar a própria respiração. Não estava surpresa apenas por Clara estar ali. Estava surpresa também por ver no rosto dela as mesmas feições que o seu carregava: os olhos fundos, as olheiras cobrindo as partes debaixo dos olhos e a expressão cansada de alguém que não prega os olhos há dias. Clara parecia preocupada, e se aproximou da cama onde Marina ainda estava deitada. As duas em silêncio. Ela precisava saber.

–Acho que precisamos conversar. –Disse Clara. –Eu não posso mais te ajudar com as coisas do estúdio. Se esse silêncio entre nós vai continuar, prefiro que seja definitivamente. Bruscamente. Para que nenhuma das duas sofra demais. Marina... Eu mal consigo olhar pra você.

–Você diz como se tudo fosse tão fácil pra mim. Me apaixonar e me render á alguém, ser dominada quando eu costumava ser a dominadora. E, para completar: uma mulher casada. Você ama sua família, Clara, e é por isso que tem medo de se arriscar. Mas se tem medo do fogo, não deveria brincar com ele. Ver você com o Cadu, dizendo que o ama de tal maneira me faz pensar que todos os seus olhares subjetivos para mim não tem o menor sentido. E você age como se realmente não tivessem. –Os olhos mareados de Clara fizeram com que Marina tivesse de se segurar para não chorar junto á ela. –Olhe nos meus olhos e diga que não me vê de maneira diferente. –Os olhos de Clara nem ao menos se levantaram para fita-la, mas Marina pode ver a primeira lágrima descer. Sem forçar, puxou Clara para um abraço, puxando-a para a cama. Ela suspirou, cheirando os cabelos de Clara. Ah, como sentiu falta daquele cheiro.

–Não é fácil pra mim também, sabe? Eu nem sei o que tô fazendo. Eu não consigo tocar meu marido sem pensar em você, ou sair em família com o Cadu e o Ivan e não desejar que você estivesse lá. É tão errado e ao mesmo tempo tão certo. –Clara cuspiu as palavras enquanto o soluço de seu choro a atrapalhava. –Eu não posso jogar tudo para o alto de uma hora para a outra, Marina. Eu simplesmente não posso. Mas nenhuma das opções que tenho me parecem fazer sentido: deixar o homem com quem dividi dez anos da minha vida por alguém que acabei de conhecer, ou deixar a mulher por quem estou apaixonada pelo idiota que não se lembra nem ao menos do meu aniversário.

Mesmo em meio á lágrimas que lhe adentravam até os lábios, Marina sorriu. “A mulher por quem estou apaixonada”, ela repetiu baixinho, para si mesma. Entendeu, agora, que para ter Clara, teria de fazer com que ela desistisse de tudo que construiu por anos: a família, o filho, a união familiar.

–Estou amando você, Marina. E não há duvidas do que eu quero. Só tenho que achar um jeito de fazer tudo certo. Não posso magoar meu filho. –Marina ouviu a declaração em silêncio, lembrando-se do dia em que Clara adormeceu em seus braços, e Marina lhe disse, durante o sono, que a amava. Chegou o rosto para perto do de Clara, e suspirou fundo, passando os polegares por debaixo dos olhos dela. As lágrimas que traçavam um caminho suado em sua pele agora não estavam mais lá. Foram substituídas por um sorriso que deu á Marina vontade de sorrir também. Com o sorriso devolvido e a sensação de dever cumprido, Clara não se sentia tão mal. Com os olhos brilhando, Marina grudou os lábios de Clara nos dela, sentindo o gosto elo qual tanto ansiava nos últimos dias. Não queria que Clara desistisse de sua vida, mas também não podia desistir da sua. O beijo se aprofundou, e Marina conseguiu, pela primeira vez, explorar o corpo da mulher que lhe causava calafrios. Clara deu um sorriso adorável em meio ao beijo selvagem, dando á Marina permissão para continuar o que as duas não haviam terminado.

Sabia que enfrentaria muitas coisas que ainda viriam ao seu encontro, mas sabia o que queria. A confusão e o turbilhão de sentimentos que a atingiam todos os dias quando tentava dormir não estaria lá nunca mais.

Sua escolha estava feita.


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