Cartas Para Ninguém escrita por Pepper


Capítulo 6
A troca de Cartas


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem, esse foi caprichado!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/480931/chapter/6

Pra completar o meu visual comprei um alargador, e fui aumentando, na quinta-feira eu fui pro parque, passear, enquanto Caique Ficou em casa. Fui no mesmo lugar em que deixei a minha carta e vi um envelope preto, abri e li... Era de Ninguém, o meu ninguém. Cada palavra, eu não acreditava, era o meu ninguém. O efeito Fênix estaria acontecendo? Bom, decidi que ele estava certo, eu deveria ir atrás do efeito fênix, e já tinha começado quando fui ao salão e mudei meu visual. Eu estava superando, crescendo, deixando o passado pra trás para viver o futuro, já me sentia de certa forma, bem.

Uma duvida persistiu, quem seria meu ninguém? Que seria ele? Poderia ser qualquer um, e eu queria vê-lo, e logo, saber quem é, conversar. Eu iria responder, e tentar marcar encontro para vê-lo e fazer um novo amigo com quem eu pudesse contar. Sabe, eu tenho o Caique, mas as vezes sinto que sou mais um peso do que uma amiga, novamente insuficiente. Insuficiente para ser uma boa amiga, e se eu desabafasse com outro amigo, seria um alívio para ele, um peso menor, eu não sei, isso o faria bem, se preocupar com ele e não só comigo. Não me sinto merecedora de Caique, aliviar seu peso, que por desventura sou eu, seria bom.

Fiquei um tempo naquele lugar refletindo, pensando... A curiosidade me dominava junto com o medo. Um amigo chegou, era o Rapha, e nos colocamos a conversar. Depois de muita conversa ele me disse:

– Sabe, eu conheço a verdadeira Anna.

– Como assim? – perguntei rindo.

– Você é solitária, acaba sozinha no final, sempre... Você é uma Aventureira solitária, que caminha sempre sozinha com medo... Da vida... – Eu olhei pra ele séria, bom, fiquei quieta para refletir um pouco sobre tais palavras. Talvez seja verdade, talvez eu sempre acabe sozinha, talvez seja esta a minha sina. Não sei, talvez seja meu destino, uma aventureira solitária vagando na terra. Mas eu tenho meu Ninguém. Afinal, será mesmo? Acho que estou sonhando com esse meu Ninguém, pode existir os Ninguéns das pessoas. Aquele que as correspondem quando elas não esperam, e os Alguéns, aqueles que esperam sempre uma resposta, perdidos numa desilusão estão quase desistindo até acharem aquele Ninguém que a corresponde. Mas também deve ter os Aventureiros Solitários, aqueles que acabam sozinhos no final de cada capítulo, aqueles que vagam pelo mundo solitários, só com eles, só com suas mentes. Talvez esse cara seja o Ninguém, mas talvez não o meu Ninguém, talvez eu seja a Aventureira Solitária... Não sei. Isso só o tempo descobrirá.

Talvez eu devesse me encontrar com ele, conversar pra ver se ele é meu Ninguém, ou eu sou mesmo uma aventureira solitária. Mas não posso ir rápido, preciso ver se ele me responderá as outras cartas. Logo teria de escrever outras.

– Anna? – Perguntou Rapha.

– Sim?

– Você ficou pensativa de repente. Sobre você ser uma Aventureira Solitária, eu não vejo isso como coisa ruim, você é a pessoa mais sábia que eu conheço, e você me terá pra sempre contigo mas, no final você esta sozinha, isso é bom pois, você segue seus pensamentos, sua mente se molda sozinha sem ajuda de ninguém. Você é a única garota de 15 anos que deu um nome para um efeito natural da vida que acontece diariamente! Anna, você criou o Efeito Fênix, você observou a vida toda para percebê-lo. Você é um gênio. Você comparou uma fênix a um acontecimento constante na vida de todos. Isso porque você é uma aventureira solitária. Passou pelo Efeito Fênix, o criou. – Dava para sentir o entusiasmo na voz do Rapha, como se ele estivesse guardando essas palavras a muito tempo. Tá bom, eu criei o efeito Fêniz, e daí? Qualquer um poderia tê-lo criado. E talvez eu seja mesmo uma aventureira solitária.

– Obrigada Rapha, mas agora tenho que ir, vou sair com o Caique hoje. Tchau até mais.

– Até mais Anna. – nos abraçamos e fui embora. Não tinha nada combinado com Caique eu só queria escrever a carta, tinha muita coisa para escrever, e também queria pensar, No que? Não sei, mas eu precisava pensar.

Cheguei, Caique não estava em casa, achei estranho, ele deve ter saído com um garoto que ele conheceu, qual o nome? Ah, não lembro. Comecei a reler a carta de Ninguém, e pensar no que escrever, quando comecei a escrever o meu celular toca, número desconhecido, hesito em atender, estava concentrada na carta, mas agora já tinha perdido a linha de raciocínio, não custava atender.

– Alô? – mudo. Caiu a linha. Volto para a carta, depois de muito tempo termino de escrever o 10º rascunho, chego a um final que me satisfaz. Tenho um perfeccionismo com o que escrevo... Normal ou não, não sei, mas tenho essa mania de querer ser a melhor em tudo que sou boa, não basta ser boa, tenho que ser a melhor, e quando fracasso, ou alguém me supera, eu fico mal e tento ser a melhor, mais determinada e focada.

Quando terminei fui pro quarto dormir um pouco, como sempre faço, eu durmo de dia quando quero que o tempo passe mais rápido assim o futuro virá mais cedo, e talvez junto com ele a felicidade. Assim espero, pelo menos. Sei que o certo é viver um dia por vez e esperar paciente pelo dia de amanhã, mas quem consegue? Quem realmente consegue? Uns se matam, outros tem suas depressões, alguns dormem para o futuro chegar mais rápido... Todos nós temos uma saída para tornar o sofrimento suportável. Já pensei em me matar, claro, não nego. Apesar do suicídio ser muito banalizado hoje em dia, ser considerado um ato infantil e idiota, não acho isso, sinceramente prefiro ser feliz e ter câncer, do que ser saudável e infeliz, se tenho a felicidade, o amor, já me basta para querer viver, mas e aqueles que nem isso tem? Quando ter saúde significar ter uma vida perfeita, eu irei valorizar a minha. A dor emocional é menos suportável pelo fato de nenhum remédio curar, de não ter tratamento, de você se sentir sozinho, abandonado sem razões para viver aqui. As pessoas acham ruim quando alguém se mata, diz que tem gente que luta para viver, mas quem se mata simplesmente não tem mais chão, já está perdido, cansado de sentir a mesma coisa todos os dias, sem amor, sem felicidade, sem razão, pra quê viver assim? Está claro que para se matar é preciso coragem e egoísmo, isso eu não tive. Cheguei perto. Não sei porque mas decidi me matar de um jeito diferente, era uma sexta, tudo tinha acabado de dar errado, eu estava chorando, isso foi antes de eu vir para a casa do Caique, eu estava no meu quarto, minha mãe via a novela na sala, eu vi uma sacola transparente, e coloquei na minha cabeça e amarrei forte no pescoço, o ar estava sumindo, e minha visão estava turva, sentia um alivio vendo que estava aos poucos morrendo, dei um sorriso. Estava apagando quando ouvi minha mãe me chamando, então penso em como ela ficaria quando achasse meu corpo ali... Hesitei, estava quase sem consciência quando soltei a sacola e respirei fundo, fiquei lá respirando e voltando ao meu normal, lavei o rosto e fui pra sala, minha mãe já impaciente sem saber porque demorei tanto assim para ir até a sala... Minha mãe a única que não me conhece, em NADA... Para ela eu nunca fiquei mal por ninguém, sempre sorri e disfarcei, por ela. Tenho inveja de quem confia seus segredos em sua mãe, mas eu não podia... Eu queria protegê-la da verdade, também sei que não se deve fazer isso, mas minha mãe biológica era amiga dela, e quando ela morreu, Maria Toledo sofreu mais do que qualquer um, e lutou para ter minha adoção. Eu não queria fazê-la ver que minha felicidade está além de seus esforços... Além do fato de que ela viaja muito e se preocupar comigo seria um fardo em sua vida profissional.

Cartas Para alguém...

Bom, obrigada por responder minha carta, lamento se atrapalhei ou o incomodei com minhas palavras. Eu não esperava uma resposta, mas a vida é cheia de surpresas! Creio que esta foi uma surpresa boa. Você então é o meu Ninguém? Aquele que me corresponde quando eu menos espero? E eu a sua alguém? Apenas escreve sem esperar que alguém corresponda... Estou criando uma tese boa, ou não... É sobre as pessoas, os Ninguéns, aqueles que correspondem aos Alguéns, que por sua vez já não esperam ser correspondidos. Mas tem aqueles, que penso que me encaixo, os Aventureiros Solitários, sabe, aqueles que no final acabam sozinhos sempre, vagam no mundo com sua própria mente, com seus próprios pensamentos, isso é bom, mas é solitário. Pensei hoje... Talvez você seja o Ninguém de outra Alguém, talvez eu esteja fadada a ser uma Aventureira solitária, talvez seja a minha sina. Talvez eu não tenha nascido para ser a Alguém de um Ninguém, ou para ser a sua Alguém. Não quero atrapalhar a busca desta Alguém por você, mas sei que preciso te ver, para conversar, para você entender este meu jeito de ver, ou talvez eu mesma precise me entender.

Quero que saiba que estou correndo atrás de meu Efeito Fênix, Mudei, coloquei alargador, piercing, raspei a lateral de meu cabelo e renovei meu guarda-roupa, isso esta tendo um efeito positivo, mas ainda durmo quase todos os dias esperando que passem mais rápido para o futuro lindo e perfeito chegar. Sim isso não é o certo, mas é minha maneira de suportar esta dor que ainda não passou por inteiro, ainda tem as lascas, as marcas. Sabe, estou cansada, por isso durmo sem sono com essa tola esperança de que tudo melhore...

Estou sempre acompanhada, mas no final de cada capitulo acabo solitária, o sol me guia, a sabedoria ilumina, e o rancor é só mais uma sombra. Os ventos sopram para leste, estou indo para Oeste ver se acho a razão, ver se acho um sentido, ver se acho um ato inconsequente neste caminho solitário, cavalgo sem cavalo, corro sem sapatos, vivo sem vida, sinto sem alma, apenas mais uma aventureira solitária.

Para Ninguém, minha gratidão.

Abraços, Alguém.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!