Sutil escrita por Jibrille_chan


Capítulo 8
Capítulo 8




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Segunda-feira é sempre um porre. E essa segunda-feira, em particular, parecia ainda mais chata do que de costume. Eu lá estava interessado em saber as projeções de venda dos malditos eletrônicos nas ilhas Filipinas? A minha única e real vontade era de sair pelos corredores daquela maldita empresa, encontrar Yuu e prensá-lo contra a primeira superfície plana que eu encontrasse.


Não me lembrava de uma ocasião em que eu me divertira tanto como no dia anterior. E isso não estava relacionado com o fato de Aoi ter decidido me beijar no meio da chuva. Por mais que eu lhe lançasse olhares fuzilantes, eu me divertia ao lado dele. Eu não queria sair do lado dele.


Outras mudanças eram perceptíveis em mim. Antes dessa reunião maldita começar, Kai havia ido até a minha sala perguntar o que havia acontecido. Quando eu perguntei o porquê, ele me disse, sorrindo, que era porque ele nunca havia me visto chegar bem humorado na empresa, cumprimentando todos os funcionários que via com um sorriso na cara.


Eu lhe sorri, dizendo que nem havia sido uma mudança tão brusca assim. E, pensando bem, fazia tempo que eu não gritava com alguém - que não fosse Aoi, claro. Até mesmo com o moreno eu estava gritando menos. Na verdade... eu queria mais a companhia dele. E aquela reunião estava realmente muito chata. Senti alguém me cutucando levemente.


- Takashima-san? Está ouvindo?


Olhei para a cara de meu sócio engravatado, recebendo o mesmo olhar interrogativo dos meus quatro amigos àquela mesa.


- Não. Estava tão chato que eu não estava prestando atenção. Acha mesmo que eu estou ligando se vamos vender ou não pras ilhas Filipinas? Eu tenho cara de quem gosta desse tipo de coisa? Pois então, eu odeio. - levantei-me da mesa. - Senhores, estou me retirando. Preciso redigir minha carta de demissão.


E, sob olhar espantado dos meus sete sócios, levantei-me da mesa e saí, sem dar nenhuma explicação. Assim que cheguei na minha sala, ouvi quatro pares de pés vindo atrás de mim. Sorri ao ouvir a voz de Ruki.


- Uru? Como assim, demissão? Você... vai largar a empresa?


- É, parece que sim, Ruki.


- E seu pai?


- Ele que vá pros quintos dos infernos. Nunca gostei disso, Ruki. Vocês quatro sabem bem disso. Só que agora... eu cansei.


Vi o sorriso sacana de Kai se formando.


- E isso por acaso tem algo a ver com um certo intérprete moreno?


O sorriso de Kai espelhou-se no meu rosto.


- Tudo. Aliás... alguém viu Yuu por aí?


Vi os quatro trocando um olhar estranho, e eu gelei. Odiava ser o último a saber das coisas.


- Uru... - Reita começou, o olhar triste. - Aoi pediu demissão hoje de manhã, antes mesmo de você chegar. A essa hora, ele já deve ter embarcado.


- Embarcado? Pra onde?


- Pra Alemanha. Pro... casamento dele.


Pisquei duas vezes. Depois comecei a rir. Os quatro ficaram me olhando, como se estivessem observando um louco no meio de uma crise.


- É, não tem jeito mesmo. O que vocês acham de ir pra Alemanha?


X X X X X X X X X X

Cheguei em casa apressado, mas não tanto para não notar um envelope endereçado à mim na caixa do correio. Sorri ao ler os kanjis do nome de Mei no remetente, abrindo o envelope e dando de cara com um convite de casamento. Aquela visão, por mais que eu soubesse que aquele casamento não iria acontecer, fez com que surgisse um nó em minha garganta. Depois notei um pedaço de papel com uma caligrafia fina.


Uru-chan,


Primeiramente, lhe devo um favor, ne? ^^ Então. Decidiram adiar o maldito casamento pra depois de amanhã! Eu e Yuu quase matamos nossos pais por isso ¬¬. Enfim! Estou mandando o convite para que você possa assistir o show que será a minha fuga! 8D


Uru... o amor não é algo que se encontra todo dia, numa esquina qualquer. Ele não fica lá parado te acenando dizendo "oi, pode vir que eu sou todo seu". É algo que você tem que batalhar e correr atrás. Eu aprendi isso com Yuu, porque ele não desistiu de você.


Então eu sugiro que você venha logo pegar o que é seu. XD


Faço votos para que você se lembre do que esqueceu.


Mei


Ahn... "Faço votos para que se lembre do que esqueceu"? Eu acho que não entendi essa parte... Peguei a carta dela e o convite, indo para o meu quarto e começando a arrumar as malas. De fato, eu estranhava alguns detalhes sutis, mas que faziam muita diferença, que Aoi sabia de mim. Também estranhava que eu tivesse uma vaga lembrança de alguém me chamando de Kou-chan, mas...


- Você fica melhor sorrindo, Kou-chan...


Aquele sorriso... me era familiar de algum lugar. Aquele otimismo, a vontade de viver... quem mesmo que ele me lembrava? O sorriso quase infantil, com o piercing...


As roupas que eu tinha na mão caíram no chão. O piercing. Estava na minha cara o tempo todo, esfregando e rebolando, e eu ignorei. O bendito piercing. E então, como se tivessem sido destampadas, as minhas lembranças voltaram. Eram lembranças do tempo em que eu estudara no internato da Suíça. Eu odiava aquele lugar com todas as minhas forças, que mais parecia uma prisão. E lá...


~~ FLASHBACKS DO URUHA ~~


As paredes são altas como as de uma prisão. Por mais que eu não goste dessa comparação, é isso que elas parecem ser. O lugar todo é uma prisão. Sem querer, trombo em alguém.


- Ah! Me desculpe, eu estava distraído...


O rapaz sorri pra mim, me estendendo a mão para que eu me levante do chão. Eu não sei seu nome, mas acho que está no último ano. Nunca havia conversado com ele, apenas o observado de longe. Era... uma beleza diferente.


~


- Kou-chan! Aqui!


Viro-me instantaneamente, sorrindo ao ouvir a voz dele. Chego perto da árvore onde ele subiu, curioso a respeito do que ele está fazendo. Ele sorri abertamente, e vira-se pra mim.


- Você deveria subir aqui, Kou-chan! A vista é linda!


Meio hesitante, subo na árvore, ficando muito próximo à ele. Ele sorri, seus olhos castanhos brilham de felicidade.


- Olha! Dá pra ver a cidade daqui!


Acabo sorrindo, observando a paisagem que sem dúvidas é linda.


- Dá uma sensação de liberdade, não é... Shiro-kun?


~


- Huh? Você... não gosta de escuro?


Nego com a cabeça, envergonhado. Havia contado meu segredo sem pensar. Ele me passava confiança o suficiente para lhe confessar até mesmo essas pequenas coisas.


- Ah, mas isso é normal, Kou-chan. A maioria das pessoas tem medo do escuro. Eu já tive... mas aprendi a não temê-lo.


Continuo cala, olhando para um ponto qualquer do chão.


- Se você quiser... eu fico com você no seu quarto até você dormir. O que acha, Kou-chan?


Sorrio, verdadeiramente feliz, mergulhando no castanho daqueles olhos.


- Seria ótimo, Shiro-kun.


- Você fica melhor sorrindo, Kou-chan...


~


- Ne, Shiro-kun?


- Hm?


- O que vai fazer quando sair dessa prisão?


- Heh. Vou colocar um piercing!


- Um piercing?


- É! Você acha que ficaria legal?


- É, acho que sim. Vai ser de metal?


- Não sei... o que você acha?


- Eu acho que deveria ser preto... Pra contradizer o "branco"¹ do seu nome...


Ele ri, assentindo. E eu tenho certeza de que ele vai acatar minha opinião.


~


- Sério, Kou-chan? Seu algodão doce preferido é o azul? Mas qual a diferença?


- Hm... Eu não sei. Mas parece que o azul tem um gosto diferente...


- Hm... Azul... Aoi...


E ele sorri, enigmático, e eu resolvo que é melhor não perguntar.


~


Estávamos naquele banheiro já a algum tempo. Nos encostamos na pia, um do lado do outro, e eu ainda digeria a informação.


- Como assim... não vamos mais nos ver, Shiro-kun?


- Eu vou embora daqui. Eu estou no último ano, ne?


Ah sim. Havia me esquecido de que ele era mais velho do que eu. Ele iria para o colegial e eu amargaria dois anos de solidão naquela prisão.


- Eu não... quero que você vá... Shiro-kun.


Ele sorri, mesmo que ainda há um traço de melancolia em seu sorriso.


- Kou-chan? Você quer me ver de novo?


- Q-quero...


- Então, de algum jeito, eu vou te achar! Eu prometo isso a você!


Sorrio para ele, grato. E o sentimento que me arde não pode existir. Lágrimas ameaçam deixar meus olhos, e ele me puxa para um abraço apertado. Ah... o calor daqueles braços... Eu iria sentir falta, com certeza. Delicadamente, ele ergue meu rosto, e sem aviso nenhum, cola seus lábios nos meus.


Afasto-me assustado, e saio correndo, só parando no meu quarto. Eu iria esquecê-lo... e esquecer aquele sentimento que me parecia tão errado. Não quero me lembrar... Quero apenas esquecer...


~~ FIM DOS FLASHBACKS DO URUHA ~~


Shiro-kun. Abreviação de Shiroyama. Shiroyama Yuu. Aoi. A tristeza de ter que ficar longe dele havia sido tão grande que eu me forçara ao máximo para esquecê-lo. Eu devia ter percebido. Os mesmos olhos gentis, os mesmos sorrisos... e o bendito piercing. Era por isso que ele sabia tanto de mim, eu já havia contado tudo.


Como eu era burro! Eu devia ter percebido antes... Mas ele estava diferente. Bem, não que na época do ginásio ele fosse de todo feio, mas ainda tinha um pouco do esteriótipo do "gordinho rejeitado". Agora ele era o "moreno alto, bonito e sensual". Como eu ia adivinhar?


Além do mais, eu não o chamava de "Yuu" ou mesmo de "Aoi"... droga, o algodão doce! Azul. Aoi. Respirei fundo, socando as roupas na mala com mais pressa. Eu precisava vê-lo de novo. E logo.


X X X X X X X X X X

Já estávamos no avião. Burlando trezentos regulamentos e normas, Nao havia conseguido o jato para que nós cinco viajássemos. Nós cinco, já que os outros quatro se recusaram terminantemente a me deixarem ir sozinho. Havia se passado metade do percurso, quando meu celular tocou. E eu já sabia quem era.


- Bom dia, pai! Em que posso ajudar?


Meus quatro amigos olharam para mim, cada um expressando algo diferente.


- Koyou! Onde você está? O que pensa que está fazendo?


- Uma pergunta de cada vez, por favor. Eu estou num avião, indo pra Alemanha.


- Ale... Alemanha? O que diabos você vai fazer na Alemanha? Certamente tem algo a ver com a empresa...


- Na verdade, não. O senhor ainda não viu minha carta de demissão?


- Demissão?! Como assim, demissão?! Koyou, você não pode...


- Eu posso sim. Já sou maior de idade e posso muito bem decidir a minha vida sozinho, sem a opinião de um velho inútil como o senhor.


Sim, eu havia pegado pesado. Mas eu estava ficando muito irritado com aquele velho.


- Koyou, por favor, releve o nome da família...


- Nome? Nome?! Que nome? De uma empresa idiota da qual eu nunca quis fazer parte?


- Você nunca me disse...


- O senhor sequer perguntou. E eu sinceramente cansei de viver fazendo as suas vontades, para agradar ao senhor. Cansei de ser a sua marionete. O senhor possui dois genros saudáveis e vagabundos. Ponha-os para trabalhar, oras!


- Koyou, não diga isso...


- O senhor sabe que é verdade. E nada do que você disser vai me fazer mudar de idéia.


- Mas o que você vai fazer na Alemanha? Por acaso está fugindo?


- Não, eu estou indo parar um casamento.


- Como é que é?


- Estou indo parar um casamento. Sabe, não se pode deixar a pessoa que ama se casar com outra pessoa.


- Koyou, se você está fazendo isso só por um rabo-de-saia...


- O senhor realmente não me conhece, não é mesmo? Acha mesmo que eu faria tudo isso por um romancezinho de esquina? E quem foi que lhe disse que eu vou lá roubar a noiva?


- Uma das madrinhas, então?


- Não, eu estou indo roubar o noivo. E se me der licença, eu ainda preciso planejar como vou fazer isso. Adeus, Takashima-san.


Sem nem esperar por uma resposta, desliguei o parelho, arrancando a bateria fora, para não ter o desprazer de ter que ouvir a voz daquele velho patético novamente. Depois encarei os quatro pares de olhos, que me olhavam assustados.


- Quê foi, gente?


Kai acabou sorrindo.


- Definitivamente, Aoi não foi uma boa influência pra você.


Peguei o travesseiro ao meu lado e atirei contra ele, acertando seu rosto em cheio. Quando ele voltou a me encarar, eu lhe estirei a língua, sorrindo.



Continua...

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Notas finais do capítulo

¹ Shiro, ou shiroi, em japonês, significa "branco". Uma das POSSÍVEIS traduções do sobrenome Shiroyama é "montanha branca" (e esse branco seria por causa da neve). Mas depende do kanji.... >—>



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