Paz Temporária - Sombras do Passado escrita por HellFromHeaven


Capítulo 20
Surpresas




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Meus antigos pesadelos se misturaram com as cenas de desespero que presenciei e tornaram minha noite de sono uma merda. Saí da cama feito uma barata tonta e fiz o máximo possível para chegar até aquele maldito quarto subterrâneo sem desabar e dormir no chão. Bem, pelo menos isso garantirá que minhas olheiras características não sumam. Mandei alguns infelizes para a morte e estava esperando o almoço. A manhã foi bem tranquila. Apenas três suspeitos. O meu “coleguinha” Winkston foi quem trouxe minha marmita. Se as pessoas pudessem matar com os olhos, ele já teria me trucidado centenas de vezes. Encarei-o um pouco para me certificar de que ele não havia feito nada estranho com meu almoço e depois comecei a comer. A tarde estava silenciosa e monótona, então acabei tirando um cochilo ali na cadeira mesmo. Fui acordada com um barulho alto vindo do meu lado. Levei um puta susto e quase caí da cadeira. Meu fã nº 1 estava me encarando com seu ódio de sempre. Como eu ainda estava desnorteada pelo sono não entendi bem o que estava acontecendo, então ele resolveu esclarecer as coisas:

– Escute aqui sua pirralha. Seu trabalho não é dormir então é bom que eu não te encontre assim de novo. Esse soco foi na mesa, mas o próximo será em você.

Dei um sorriso todo torto e concordei com a cabeça. Quando olhei para frente, vi um homem sentado na outra cadeira. Ele era um coronel. Levei outro susto “Mas o quê? Estão suspeitando até de gente assim? As coisas não devem estar boas...”. Esperei o meu fã sair do quarto e voltei meu olhar para o coronel para fazer meu trabalho. Estava começando a me concentrar quando ele me interrompeu:

– Boa tarde, pequena.

Aquilo me pegou de surpresa. Ele falou de modo calmo e descontraído. Não apresentava nenhum sinal de nervosismo e tinha uma expressão séria no rosto.

– B-boa tarde...

– Você é aquela garota da polêmica da instalação na floresta maldita, não é?

– S-sim...

– Por que o nervosismo? Sou eu quem está sendo interrogado.

Fiquei um pouco envergonhada e olhei para baixo. Minha timidez era uma desgraça. Qualquer primeiro contato com alguém sempre foi desastroso.

– Hm. Uma interrogadora tímida. Não se vê isso todo dia.

Ele estava certo. Eu deveria ser uma vergonha para todos os outros carrascos e, ao mesmo tempo, ser a mais eficiente. Chega a ser engraçado.

– Bem, faça o seu trabalho. Não te atrapalharei mais.

Aquilo foi um pouco estranho, mas agradável. Todos os outros que passaram por mim tinha uma expressão de desespero, nervosismo ou impaciência e nenhum foi educado. Até cheguei a hesitar em olhar o passado dele. Ele parecia uma boa pessoa. Infelizmente eu não podia fazer tal coisa e comecei meu trabalho. Seu nome era Jack Strider, 29 anos, cabelos negros e lisos que iam até o pescoço, olhos negros e profundos e uma reputação de dizer apenas o indispensável. Entrou no exército aos 16 anos por falta de escolhas. Seus pais foram mortos por fazerem parte de um grande protesto contra o atual governo. Ele se uniu aos assassinos de seus pais para poder destruir o governo de dentro para fora. Empenhou-se o máximo e acabou conquistando um alto posto e desde então passou a reunir o máximo possível de informações que poderiam ser usadas contra o governo. Ele planejava vender tudo para Cherland e até chegou a fazer contato com um dos oficiais de lá há pouco mais de um mês. Uma história muito mais interessante do que as últimas que vi. Por mais que ele fosse um sujeito interessante, as acusações eram verdadeiras e eu deveria denunciá-lo. Chamei o cabo (sim, aquele amorzinho de pessoa era um dos meus subordinados) e me preparei para anunciar a sentença. Ele estava estranhamente calmo e permanecia com a mesma expressão de quando eu acordei. Meu fiel escudeiro entrou e me perguntou com toda sua educação:

– Já acabou? Fale logo que esse puto é culpado.

O Sr. Winkston odiava o coronel apenas pelo seu jeito sério e reservado, mas isso não vinha ao caso. Olhei novamente para Jack, que continuava tranquilo e comecei a falar:

– Acabei sim... Ele é...

Estava prestes a dizer “culpado” quando ouvi alguém dizendo:“Se eu fosse você, eu pouparia esse aí. Na sua situação, toda ajuda é bem vinda.”. Olhei ao redor para conferir quem havia dito aquilo, mas não encontrei ninguém. Achei aquilo estranho, mas resolvi seguir o conselho do sábio vento.

– Inocente.

Como estava olhando para Jack pude notar que ele se espantou, mas rapidamente voltou a sua expressão de sempre. Voltei meu olhar para meu capacho e pude ver o ódio se instaurando em seus olhos. Não sei se o motivo era eu ou o fato de um de seus “inimigos” estar livre da morte... Provavelmente era a soma dessas duas coisas.

Passei o resto do dia e só interroguei mais duas pessoas, ambas culpadas. Tive bastante tempo livre e o usei para pensar no porquê de eu ter mentido e se aquilo poderia me prejudicar mais para frente. Acabei chegando à conclusão de que era improvável. O coronel não tinha muito contato com ninguém dentro do forte e era muito cauteloso. Ele provavelmente não seria pego. Quando meu expediente acabou, saí e notei que o líder do meu fã-clube não me esperava lá fora. Estranhei, mas acabei ignorando e seguindo meu caminho. Estava caminhando tranquilamente por uma pequena trilha que levava até o prédio dos oficiais. Era um pequeno atalho que encontrei no primeiro dia quando vasculhei a porra toda. Estava totalmente distraída e parei para contemplar o Sol se pondo atrás de uma montanha que ficava em frente ao forte. O céu estava alaranjado com apenas algumas nuvens. Aquilo estava lindo. Por mais simples que possa parecer, aquela visão me fez sentir um pouco melhor com tudo o que estava acontecendo.

Voltei meu olhar para frente e ia continuar meu caminho, mas senti uma forte pancada no lado direito da minha cabeça. Eu caí de quatro e, mesmo estando um pouco tonta, me virei para ver o que havia acontecido. Avistei algo que me fez entrar em desespero: Winkston e mais dois homens estavam parados me encarando com expressões nada agradáveis. Tentei me levantar para sair correndo, mas levei um forte chute no estômago de um deles e caí encolhida. O meu cabo preferido me deu mais dois chutes, eles pareciam se divertir com aquilo. O único que ainda não havia me chutado se preparou para dar um puta chute na minha cara. Fechei os olhos e me preparei para o impacto, mas nada aconteceu. Abri lentamente os olhos, um por um, e vi que Winkston o havia impedido:

– Qual o seu problema? Os olhos dela são preciosos e o general vai matar a gente se danificarmos eles.

– Oh... É verdade. Foi mal.

– Esqueçam a cabeça e se concentrem no resto do corpo. Vamos apenas nos divertir um pouco com esse verme.

Lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos. Eu não tinha para onde correr e meu corpo era fraco demais para poder me defender. Não havia outra escolha a não ser aceitar meu destino e levar uma surra.

– Agora chora né? Na hora de foder com centenas de trabalhadores honestos é outra coisa né? Você me dá nojo!

Trabalhadores honestos? Eu riria se não estivesse tão apavorada. A dor que sentia em meu estômago era grande demais para eu falar algo. Malditos coturnos.

– Hey, Winkston. Você disse que é só não machucar a cabeça não é?

– Sim. Por quê?

– E você disse para nos divertirmos com ela, não?

– Sim...

Eu não gostava de onde aquela conversa estava indo. A expressão do homem começou a mudar para um sorriso perverso enquanto me olhava. Aquilo ia dar merda.

– Então... Como ela resolveu foder com nossos familiares... Que tal fodermos com ela?

É. Agora ferrou de vez. Os três se entreolharam e deram sorrisos maliciosos e perversos. As lágrimas em meus olhos se intensificaram enquanto eu tentava rastejar para longe dali. É claro que fui impedida por um deles. Ele me tirou do chão e me manteve de pé enquanto me imobilizava. Winkston pegou sua faca que ficava em seu cinto e cortou os botões do meu paletó. Eu usava uma camiseta por baixo, mas ele rapidamente começou a cortá-la também. Meu desespero apenas se intensificava. Eles riam enquanto eu me debatia na tentativa falha de me libertar. Ele terminou de cortar minha camiseta. Era isso, só restava meu sutiã e minha calça. Sua atenção se voltou para a minha parte inferior. Sua mão começou a abrir meu zíper. Minhas esperanças haviam desaparecido. Cheguei a pensar em cometer suicídio com aquela maldita faca e pelo menos ferrá-los de algum jeito. Mas eles provavelmente se livrariam do meu corpo e sairiam impunes. Fechei meus olhos e apenas me perguntei “Por quê? Eu só fiz o que era certo. Impedi maníacos insanos de continuarem retalhando pessoas inocentes em uma base subterrânea na floresta. Eu não queria prejudicar ninguém. Por quê?”. De repente ouvi um som de impacto. Abri rapidamente os olhos e vi o homem que estava atrás do Winkston caindo de bruços. Atrás dele estava o coronel Strider com uma expressão de desaprovação em sua face.

– O que vocês pensam que estão fazendo?

O rosto de Winkston enrijeceu e ele apontou a faca para Jack.

– Não é da sua conta. Apenas continue circulando.

– Não te ensinaram a respeitar aqueles que estão acima de você?

Isso era a última coisa que ele queria ouvir. O cabo partiu para cima de Jack empunhando a faca. Ele tentou finca-la em seu peito, mas o coronel apenas desviou para o lado e deu uma joelhada em seu estômago. Winkston caiu de joelhos e cuspiu um punhado de sangue. O homem que em segurava começou a tremer. Strider o encarou com um olhar frio e assustador. Ele me largou e saiu correndo. Winkston tentou levantar, mas levou um chute no rosto.

– Deveria se envergonhar por atacar uma indefesa garota de 14 anos. E se isso já não fosse vergonhoso o suficiente, você ainda precisou juntar um trio para fazê-lo. Pessoas como você me dão nojo.

O coronel deu um último chute na cabeça de Winkston, que desmaiou. Ele retirou seu paletó e me estendeu. Eu aceitei, me livrei de minhas roupas rasgadas e o vesti. Logo depois, ele tirou de seu bolso um lenço rosa com bordados de flores e o usou para limpar meu rosto.

– Fique tranquila. Eles não vão lhe incomodar mais. Venha comigo.

O acompanhei até seu quarto no prédio dos oficiais. Era bem maior que o meu, na verdade parecia um pequeno apartamento. Sentei no sofá (sim, tinha até um sofá confortável e eu com minha humilde caminha) e ele me trouxe uma xícara de chá. Ele sentou ao meu lado e apenas me encarou enquanto eu saboreava a bebida quente. Parecia o melhor chá que eu já havia bebido. Talvez pelo meu alívio no momento em que o degustava. Depois que eu terminei lhe entreguei a xícara. Ele a colocou em cima da mesa de centro e me olhou de volta.

– Você teve sorte de eu estar passando por ali.

– Pois é... M-muito obrigado mesmo.

– Não precisa me agradecer. Você me tirou do corredor da morte. Era o mínimo que eu poderia fazer para retribuir.

Eu tinha até esquecido desse detalhe de tão desesperada que estava.

– Aliás, por que você não me condenou?

– Eu... Eu... Não sei bem... Apenas... Senti que seria uma boa ideia...

Ele riu. Algo que ninguém daquele forte havia presenciado. Fiquei um pouco espantada, mas lhe retribuí um sorriso.

– Bem, seja como for eu tenho que agradecer. Sei qual é a de suas habilidades especiais, então não preciso fazer rodeios. Você sabe que eu quero acabar com esse governo de merda. E...

– É eu sei... Na verdade, eu também gostaria de sentir um gostinho de vingança depois do que esses filhos da puta fizeram com meus amigos. Só não sei como...

– Hm. Entendo. Nesse caso, proponho uma parceria. Pelo jeito meu plano de vender informações foi por água abaixo, mas tentarei pensar em algo logo.

– Uma parceria?

– Sim. Se algum de nós tiver uma ideia deve comunicar ao outro o mais rápido possível. Vamos acabar com esses malditos.

Ele me estendeu sua mão. Parece que seguir aquele conselho foi uma boa ideia. Minhas esperanças voltaram e eu sorri enquanto apertava sua mão.

– Por mim está ótimo!


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Notas finais do capítulo

Aqui está o capítulo 20! Fico extremamente agradecido a todos que me apoiaram durante todo esse tempo. E gostaria de dizer que eu não estaria nem perto daqui se não fosse por vocês! Acho que o próximo só sairá semana que vem. Agradeço a quem leu até aqui e espero que gostem do rumo que a história está tomando
Até o próximo capítulo =D



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