Os Guardiões escrita por Mariane, Amanda Ferreira


Capítulo 39
Mais amaldiçoados


Notas iniciais do capítulo

Aleeeeluiaaa! Voltamos! o/ o/
Queridos e queridas, aqui estamos com mais um capítulo, não demoramos muito dessa vez. Enfim. Obrigado pelos comentários anteriores e pela compreensão.♥
Um beijo enorme e não deixem de dar a opinião de vcs! Isso é muiiiiiiito importante para nós.
☼☺♥♥
Lembrando que *** significa mudança de narrador.
Boa leitura!



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Sabe aquele momento em que sua vida parece estar fora de controle? Que você sente que é só um espectador de um filme de terror? Que tudo o que vê é assustador e que você não poderia fazer absolutamente nada?

Naquele instante eu me sentia exatamente assim. Apenas a Katherine inútil de sempre.

Havíamos parado em um hotel e pedido um quarto duplo. Leninha estava uma pilha andando de um lado para o outro enquanto Nicolas tentava convencer a recepcionista de que não éramos criminosos. Pelo menos não houve discussão entre nós novamente, ate porque Leninha sabia que Nicolas cortaria sua garganta caso ela abrisse aboca. Não que eu acreditasse que ele teria coragem... Mas pelo sim ou pelo não, melhor não arriscar.

Yve estava desacordada. No carro, Nicolas havia explicado que a transformação do vampirismo. Dividida em duas etapas: a dor e inconsciência junto com alucinações e por fim a sede. Yve aparentemente estava no primeiro estagio.

Eu estava inquieta ouvindo Nicolas subir e descer o tom de voz com a mulher atrás do balcão, e minha consciência disparava com uma vozinha irritante fazendo toda a minha esperança evaporar. Eu estava tão inerte em pensamentos que não reparei que estava enterrando as unhas no meu braço esquerdo, fazendo-o sangrar. Ate que Leninha delicadamente retirou minha mão se sentando ao meu lado no banco de espera do hotel.

Encarei-a reparando que os cabelos estavam mais compridos e que a escova semanal tinha ido embora deixando o então natural anelado de seus fios. Ela tentou sorrir, mas seus olhos azulados me diziam outra coisa.

– Quer me contar o que está havendo? – perguntou cruzando as pernas.

– Não sei por onde começar. – confessei.

– Por que não começa desde o inicio na Kince?

Respirei fundo e fechei lentamente os olhos. Comecei com os sonhos, escondendo meu duvidoso parentesco com as deusas, então falei das pesquisas com Nicolas, minhas desconfianças, a inimizade de Lucas, Nicolas e Maggie.

Falei da noite do baile, da mentira da explosão, das semanas seguintes, da nossa verdadeira natureza, da minha verdadeira família. Contei-lhe tudo e ate um pouco mais, como Mayara e meus irmãos gêmeos separados.

Ela apenas ouviu sem me interromper (novidade). Silenciosa e atenta a cada detalhe. Depois que terminei, um silencio caiu sobre nós.

– Sinto muito Kate. Muito mesmo. – falou depois de alguns segundos. – Nem sei o que imaginar se estivesse no seu lugar com todo esse...

Alguém pigarreou interrompendo-a. Era Nicolas com os cabelos bagunçados e uma expressão debochada.

– Acho que a Katherine não se importa, já que drama é o seu segundo nome. – falou.

Revirei os olhos pensando numa resposta bem horrenda para da-lo, mas não tive muito tempo quando ele caminhou ate Yve passou os braços por ela e a tirou do sofá indo ate as escadas, depois se virou para mim e Leninha e falou seco.

– Vão dormir na recepção por acaso?

Bufei e peguei as mochilas o seguindo escada acima. Foi questão de segundos assim que Nicolas colocou Yve na cama. Ela soltou a respiração e seus olhos se abriram num rompante. O grito que veio do fundo de sua garganta me fez pular quase derrubando Leninha que vinha logo atrás de mim.

– O que você fez com ela? – gritei para Nicolas que amarrava cordas nos pulsos da garota.

– Agora ou vou me arrepender depois. – falou indiferente. – Ela vai perder a sanidade por causa do veneno no sangue e vai acabar fazendo algumas besteiras. Só estou salvando nossos pescoços.

Não argumentei. Se ele estava fazendo isso, tinha uma boa razão e sua explicação foi bem convincente.

– Só não a machuque. – exigi abaixando a cabeça.

Leninha também não questionou nossa decisão, mas não parecia bem. Suspirei desabando numa poltrona ao lado da cama e assisti Nicolas amarrar um pano na boca de Yve que mantinha os olhos sem foco e sem vida.

– Você precisa dormir. – Nicolas falou se virando pra mim.

– Não consigo com tudo o que está havendo.

– Se formos atacados, preciso de você lúcida. – respondeu. – Já tenho dois pesos mortos, não preciso de um terceiro.

– Às vezes me esqueço de como você é cavalheiro. – fiz uma careta.

– Disponha. – falou cinicamente se afastando da cama.

***

Nervosa? Eu estava em pânico total. Eu nunca havia transformado ninguém. Ate aquele momento.

Sem mais o que fazer, levei Bruno aquela casa em que ele tinha me levado anteriormente. Ele havia desmaiado. Típico. O veneno de lobisomem agia em fases.

A primeira era a inconsciência. A segunda a dor física e psicológica inconfundível. A terceira a insanidade, febre e alucinação. A ultima: transformação que originaria uma explosão violenta de raiva e sede de sangue humano.

Deitei Bruno na cama e o despi rapidamente e cuidadosamente. Corpos nus não eram grande novidades para mim, eu já tive minha cota de homens pelados para uma vida toda... Consequência de sua matilha ser 80% masculina. Eu estava suando frio, eu tinha acabado de destruir uma vida inocente.

Que tipo de monstro eu sou?

Ele gemia baixinho cada vez que eu tirava uma peça de roupa. Olhei fixamente para a mordida em carne viva que sangrava lentamente em um fluxo grande que eu havia deixado em sua pele macia.

Ainda desorientada corri para o banheiro fazendo tudo metodicamente. Recolhi uma bacia, pus soro fisiológico e peguei ataduras. Corri de volta para o quarto. Bruno suava encharcando o lençol caro.

Comecei a limpar a ferida delicadamente e percebi uma coisa quente e úmida brotar de meus olhos. Eu estava chorando. E soluçando em potencial.

– Eu não queria te ferir... – gemi – Perdão.

Cada palavra era dita com muita dificuldade por conta dos altos soluços.

– Agora você será amaldiçoado. – choraminguei – Culpa minha...

Depois de fazer a limpeza total, queimei a bacia. Seria mais seguro para prevenir imprevisto já que toda a bandagem estava com meu veneno. Fiz um curativo e o vesti com roupas leves.

Apaguei a luz e sai do quarto. O que seria daquele garoto agora? Encarei meu reflexo no espelho da sala. Meus olhos pareciam mais vividos, a pele num bronzeado lustroso. Era assim? Assim que lobisomens ficavam quando mordiam alguém?

Eu ainda podia sentir o gosto do sangue. Doce e amargo... Delicioso e repugnante. Eu iria pirar.

Ele vai me odiar quando acordar!

Por fim decidi que faria tudo certo e no fim Bruno decidiria como eu seria tratada, mas por enquanto eu seria sua enfermeira. Eu lhe devia isso.

Deixei-o dormir e tomei um banho quente rápido. Comecei a fazer uma sopa, ele poderia acordar com fome, ou apenas dormir ate amanhã, mas pelo sim e pelo não, melhor estar prevenida.

Enquanto a água borbulhava eu olhava estática para meu reflexo no assoalho. Monstro. A palavra parecia estampada em cada milímetro do meu corpo.

–Oi. – falou a voz em minhas costas.

O susto foi tanto que eu agarrei uma faca que estava ao meu lado e a taquei sem nem mesmo confirmar minha suspeita. Por sorte ele foi mais rápido e a pegou no ar.

– Fiquei preocupado.

Virei-me com os olhos ardendo. Quando eu acho que não pode piorar me surpreendo, obrigada universo.

– O que você esta fazendo aqui Lucas? Como entrou... – e meus olhos foram diretos a janela aberta da sala.

– Fiquei preocupado. – falou dando de ombros.

– Preocupado?

– Lizy...

Estremeci quando ele falou meu apelido com tanta intimidade, tanta doçura.

– Não fale comigo, saia daqui! Não quero saber de ninguém, estou muito ocupada...

– Cuidando do seu recém-criado?

Engoli em seco.

– Como você sabe?

– Eu estava te espreitando, vi o que você fez. – falou casualmente.

O encarei perplexa. Será que ele tinha visto meu quase sexo? Ou só me viu arrastando o garoto rumo ao apartamento e dando uma desculpa culpando a bebida por ele estar daquele jeito.

Senti as pernas fracas, me apoiei na pia e ele se aproximou devagar. Estendi a mão o parando antes que chegasse perto demais.

– Eu só quero te ajudar. – falou tentando focalizar meus olhos.

– Eu não quero, eu não preciso da sua ajuda. – falei rancorosa. – Eu não preciso de caridade, nem de migalhas. - me recompus. - O que houve? Katherine te deu um pé na bunda e você agora me quer como premio de consolação?

O encarei da forma mais cruel que pude. Acho que minhas palavras o chocaram, pois nunca vi Lucas com aquela expressão... Tão chocada.

– Nunca foi minha intenção. – ele olhou para o piso claro.

– Nunca é. – falei amargurada – Não é o que todos dizem?

– Mas Lizy...

– Vá à merda Lucas! – rosnei. – Agora saia e me deixe e paz.

***

“Eu tinha acabado de voltar de um treino com Sarah, minha cabeça latejava de ódio e raiva. Entrei soltando fogo pelo nariz quando esbarrei em uma menina de mais ou menos quinze anos vestida com uma capa preta, um vestido estilo túnica grega amarelo bebê, o cabelo preto trançado caído para o lado. Ela tinha olhos cor de rosa que me abalizaram metodicamente.

Gelei de medo. Era uma das servas de Mayara, eu tinha certeza.

– Boa tarde, a senhorita deseja algo? – perguntei largando minha mochila no chão e fechando a porta.

– Katherine Mozart, sou Daya. – falou – Minha senhora pediu para que eu lhe entregasse esse bilhete.

Aproximei-me e peguei a cartinha. O envelope era branco com um lacre a vela preto igual à tatuagem na clavícula de Mayara.

– Obrigada. – falei.

– Não há do que. – falou e saiu cobrindo o rosto com o capuz.

Abri o lacre ignorando minhas coisas largadas no chão subi para meu quarto. Uma letra redonda e rústica estava escrita cuidadosamente ali.

“Querida Katherine, me encontre hoje às 18 horas em minha sala. Darei algumas instruções a você. Preciso que venha só. Você sabe o assunto.”

Cheguei à sala de Mayara às 18 em ponto. Acho que ela não esperava muita pontualidade de mim, porque quando entrei em sua sala ela alisava uma foto com expressão doce.

Pigarreei e ela logo se recompôs guardando a foto.

– Não imaginei que você seria tão pontual.

– É... Acontece uma vez na vida outra na morte... – respondi e ela sorriu. – Você me chamou.

– Sim! Sente-se – falou e me sentei. – Katherine, como eu prometi te daria mais informações sobre sua missão quando chegasse a hora.

– Sim.

– Pois bem. Como você sabe Kora manipula os clãs, certo?

– Sim. – falei e franzi a sobrancelha – Mas não entendo como.

– Muito bem. Ela tem seu próprio conselho. – falou – Ela é uma deusa meticulosa, entenda isso Kate, ela sabe manipular as pessoas e pessoas fracas são fáceis de ser manipuladas. Quando Kora criou os amaldiçoados ela previu que seus bichinhos seriam poderosos. Mas poderosos a ponto de se rebelarem. Então ela precisou criar uma formula para que eles fossem sempre leais. Ela criou uma raça semelhante a nossa. Ela convidou quatro humanos a uma seita. Humanos são tolos, acham que podem ser melhores que todos, são ambiciosos e mesquinhos sempre querendo mais. Esse povo é muito volúvel. E ela se aproveitou disso. Em uma noite de eclipse quando a penumbra caia sobre a terra e seu poder estria maior ela transformou esses humanos. Eles beberam de seu sangue e se transformaram em uma espécie de bruxos. Eles seriam imortais, fortes, ágeis, inteligentes e principalmente cegamente leais. Os humanos perderam as almas, e corpos sem almas são marionetes, não tem vontade. Kora viu vantagem e então começou a segunda parte de seu plano. Cada um deles fora resignado para uma função. Por exemplo, dois deles cuidariam de uma matilha de lobo. Ela fez um feitiço de ligamento, um alfa de uma matilha seria ligado eternamente a um feiticeiro. Para que eles fossem leais ao feiticeiro e consequentemente à deusa. O alfa teria vontade própria, mas suas vontades teriam que ser limitadas e caso ele desobedecesse alguma regra, seria morto e substituído. Dois dos feiticeiros foram designados para clãs de vampiros. Cada chefe do clã seria ligado a um feiticeiro e isso o tornaria um escravo com livre arbítrio limitado, assim como os lobos.

– Ok, mas ainda não entendo o que devo fazer nessa missão.

– Tudo ao seu tempo Katherine. – respondeu. – Muito bem. Kira ficou assustada com isso e criou os guardiões, correto? Muito bem. E logo em seguida vendo que não era o suficiente ela engravidou de mim. Só que Kora não gostou da ideia de ter uma sobrinha. Então logo em seguida ela gerou uma criança. Um menino, Ethan. Ele é poderoso. E o braço direito da mãe. Não sei ao certo qual exatamente são seus poderes. Mas sei que ele é um problema, mas o curioso é que ele se mantém quieto e exilado. Não se mete em conflitos da mãe. Isso é bom.

– Isso ainda não explica o que devo fazer na minha missão. – resmunguei baixinho rezando para não ser ouvida.

– Katherine. – falou Mayara num tom repreensivo e duro. Encolhi-me. – Para você entender sua missão terá que entender a historia como ela é. O que você sabe não é um terço do que precisa. Você é uma criança, ainda aprendendo a dar os primeiros passos. Se quer ser bem sucedida nessa missão terá que deixar a birra e me ouvir. Tudo o que eu disser.

– Sim, perdão.

– Muito bem. – continuou – Kira durante séculos observou o desenvolvimento da historia achando veemente que todos os amaldiçoados estavam perdidos para sempre. Ate que uma vez um vampiro a surpreendeu. Ele conseguiu se desvincular dos domínios de Kora e virou nômade. Isso deixou Kira com certa duvida. Talvez eles ainda tivessem o livre arbítrio e poderiam ser salvos.

– E...

– E que ela não conseguia mais aguentar Kora e suas tramoias, ela tinha que vencer a irmã. Ela começou a pesquisar. – falou - Ate que um dia ela criou uma arma. Feita do metal celeste, fundida em fogo frio e banhada no fogo das lamentações. Hamph a adaga da morte. Infelizmente ela não poderia dar a qualquer um. A arma só poderia ser manejada por uma pessoa especial. – ela sorriu.

– Quem seria?

– Acredito que seja você. – deu de ombros. - Então ela a escondeu antes que Kora soubesse. Hamph seria a arma que derrotaria Kora. A única arma com poder o suficiente para derrotar a deusa. Ela não a mataria, mas a baniria do mundo. Destruiria sua essência e demoraria muito tempo para ela se recompor.

Foi ai que eu entendi.

– E onde está a adaga? – perguntei inquieta.

– Ninguém sabe. – Mayara ficou de pé. – Terá que descobrir.

– Eu terei que encontrar a arma, matar Kora e libertar os amaldiçoados, certo?- falei – Mas como farei isso, terei que caçar um por um dos bruxos e mata-los também?

– Não, só é preciso matar um e os outros definharam, pois são conectados. Se um cair todos caem. – falou – Mas você precisa matar Kora e um dos seus servos ao mesmo tempo.

– Infelizmente não sei me dividir. – falei sarcástica.

– Mas é pra isso que Nicolas esta indo. “

Pulei da poltrona acordando de minha lembrança. O quarto estava cheio de vozes. Nicolas estava perto da janela conversando com uma figura alta e magra. Olhei para a cama e Yve dormir calmamente. Voltei à atenção ao homem e só quando ele se virou que dei conta de que o conhecia. Pele pálida, cabelos claros sobre a testa e olhos profundos cor de mel.

– Alex? – perguntei a mim mesma.

– Hola a ti también – ele sorriu de lado acenando para mim.

Fiquei de pé puxando uma adaga da bota.

– Nicolas, o que esse verme está fazendo aqui?

Nicolas olhou vagamente entre mim e ele e suspirou pesadamente.

– Desculpe ruiva! Também não gosto dele e gosto ainda menos pelo que fez na clareira, mas a vida nos prega peças. – balançou a cabeça. – Alejandro ou Alex como preferir, veio pagar-me um favor, um antigo e grande favor.


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Notas finais do capítulo

Kate: http://www.polyvore.com/kate/set?id=166209204
Yve: http://www.polyvore.com/yve/set?id=166207944
Leninha: http://www.polyvore.com/leninha/set?id=166207942



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