Os Guardiões escrita por Mariane, Amanda Ferreira


Capítulo 27
Segredos e despedidas


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiii lindos e lindas do nosso coração.
Aki esta novo capítulo esperamos que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/479772/chapter/27

Tudo deu exatamente errado na festa. Descobri que Nicolas é um canalha. Tem uma namorada linda. Perdi meu irmão de vista. Vim parar no meio do nada, encontrei um lobo e.... Uma coisa boa. Lucas.

Fiquei paralisada encarando seus olhos cor de mel. Os cabelos desgrenhados como me lembrava, uma barba surgindo. Ele sorriu de um jeito que nunca vi antes. Uma mistura de carinho com alivio. Pensei em pular em cima dele, mas antes que fizesse isso, ele esticou a mão e a parou no ar como se fizesse um sinal de PARE.

Fiquei confusa, mas estiquei minha própria mão e coloquei diante da sua e foi ai que percebi. Não senti sua pele, era como se eu estivesse tocando o ar e como se ele não estivesse ali.

– O que é isso? - perguntei. Eu seeeeei! Foi à pergunta mais idiota que pude arrumar.

– Isso é a barreira mágica da cidade guardiã. - ele falou e senti meu corpo se arrepiar de ouvir novamente sua voz. - A barreira que me impede de entrar e de.... Tocar você. - Olhei-o procurando sinais de uma piada, mas seu rosto era serio e triste. Virei olhando o lobo que nos encarava... Lembrei imediatamente do meu sonho. Era ele. O lobo do meu sonho. Era ele! Minha cabeça martelava. Quem era aquele lobo? Mas antes que a ideia pudesse aprofundar outra passou pela minha cabeça. Por isso ele não me atacou. Porque não podia.

– Aqui é um dos portais da cidade. - Lucas falou chamando minha atenção.

Encarei-o e ele caminhou de um lado para o outro. Estava vestindo um jeans, camisa branca e botas. Tão lindo....

– Lucas... – minha voz começara a ficar embargada pelo choro acumulado. Minha mente girava e meu peito apertava. Eu estava tão confusa. – Lucas... Eu... – falei mais uma vez e minha voz se perdeu. Meus olhos arderam e por fim me entreguei ao choro. Pouco a pouco as lagrimas começaram a escorrer manchando toda a minha maquiagem e embaçando minha visão. Eu nunca fui muito de chorar, mas minha vida estava tão louca ultimamente.

– Hei Kate... – falou com uma voz mais delicada – O que esta acontecendo? Você está muito abatida...

– Minha vida está muito confusa. – resmunguei.

– Não estou entendendo... – falou preocupado franzindo a sobrancelha – Estão te tratando mal?

– Mal? Eu? – falei surpresa – Nunca. Eles são tão... Minha família é tão... - tentei falar, mas não havia adjetivo bom o suficiente para descreve-los – Eles são as melhores coisas que já aconteceram na minha vida. Meu pai é o cara mais maravilhoso do universo. Eu tenho um irmão! É. Eu tenho um irmão! – falei um pouco mais animada secando minhas lagrimas que já haviam parado de escorrer. – E eu tenho uma madrasta. Ou melhor, boadastra. Porque ela é tão perfeita.... Isso. A palavra correta para descrevê-los é perfeita. Minha família é perfeita! E a Maggie continua me dando tanta força...

– Então agora é que eu estou confuso. – falou sorrindo de leve. Um sorriso triste, mas sincero. – O que há de errado?

Nicolas aconteceu. É o Nicolas que está estragando minhas fantasias , pensei, mas não pude falar nada, pois sabia que magoaria Lucas.

– Estou muito confusa... É muito pra absorver, entende? – perguntei já mais tranquila.

– Claro que entendo. – falou – Mas me conta. Quem são seus pais?

– Os Mozarts. – falei e um sorriso se formou assim que percebi que ele reconheceu o sobrenome – Eles são muito legais, não são?

Lucas assentiu meio desconfortável e percebi que lançou um olhar de esgueira para o lobo.

– Está tudo bem? – perguntei curiosa. - Eu nem sei o que dizer depois daquela festa, foi tudo tão rápido e...

– Sim. É só que estou muito feliz que você esteja contente. – falou me lançando um sorriso de partir o coração. – Eu não queria que tivesse acontecido daquele jeito. Que você visse o que viu e de uma forma tão complexa.

– É... Eu pensei que fosse mais um pesadelo. - resmunguei.

– Eu sinto muito. - ele caminhou na minha direção, mas parou suspirando. - Por um lado foi bom. Você agora conhece sua verdadeira família e posso garantir que você ficou na melhor família de guardiões que se pode ter por aqui.

Sorri desanimada e avancei um passo. Estiquei a mão com força e como imaginei, ela bateu em uma parede invisível.

– Eu só quero que saiba que eu nunca machucaria você. - ele falou vindo para na minha frente. - Mesmo estando.... – falou, mas então parou. Infelizmente eu sabia que ele ia falar "trabalhando para Kora." - Eu nunca te machucaria. - repetiu.

– E eu não vou deixar que machuquem você. - falei baixo demais, mas acho que o lobo marrom ouviu, pois soltou uma bufada de deboche.

– Eu queria poder... - ele engoliu em seco e olhou vagamente para o chão. - Não pertenço mais a este lugar e... Preciso ir. Se me pegarem aqui... – ele não completou. Afinal não era mistério nenhum o que fariam com Lucas.

– Tudo bem. – falei um pouco triste.

Ficamos nos olhando por longos e bons segundos. Eu queria tanto beija-lo. Queria conforto. Um abraço, um carinho.... Mas mesmo assim me forcei a sorrir e acenar.

– Quando podemos nos ver de novo, Lucas?

– Me encontre aqui amanhã por volta das 19 horas. – falou piscando pra mim. - Mas não pode contar a ninguém que me viu aqui hoje.

Assenti já sabendo o obvio. Aproximei-me esticando a mão e ele logo entendeu colocando a sua em frente a minha.

– Vai ficar tudo bem. - sussurrou e então sorriu.

Ele se afastou e contorceu o corpo inteiro. Poucos segundos a pele já tinha sido tomada por um pelo negro e lustroso onde olhos dourados cintilavam. E o lobo preto que vira na festa retornou me dando as costas.

– Eu espero que sim. – falei baixinho.

Ele sumiu na escuridão e o outro o seguiu, mas antes deu uma olhada para trás me encarando como se pudesse me matar com apenas o olhar e então se foi também.

Fiquei lá ate a ultima sombra de meu lobo negro sumir. E por fim com um pesado suspiro me virei e voltei melancólica em direção à trilha de onde tinha vindo.

***

Ser lobo era uma das sensações das quais eu nunca deixava de me surpreender. Era uma sensação de liberdade... Apesar de ser extremamente dolorosa cada transformação. Tudo era recompensado quando o lobo me tomava por inteiro. A selvageria que dominava minha mente, a sensação de liberdade de que eu podia fazer tudo. Apesar de amar ser lobo, ser humano era ainda melhor. E confesso que sinto falta da época em que podia controlar o ar a minha volta. Um tempo que parecia a mil anos atrás.

Assim que deixara Kate do outro lado da barreira, segui por um pequeno trecho ate o acampamento com o lobo ao meu alcance. Eu conseguia ouvir sua respiração descompassada, mostrando claramente que estava irritada. Tinha também suas pisadas firmes deixando as marcas na terra. Eu conhecia cada centímetro daquela loba. Desde a mandíbula pesada, que era o seu ponto forte à virada da pata traseira, que era seu ponto fraco. Eu saberia facilmente quando algo a incomodava.

Mil coisas martelavam na minha cabeça. Os Mozart's. Os Heenk's. Os anciões. Kate. Tudo girava e girava sem se ligar. O vento batia no pelo do meu pescoço e o cheiro da floresta estava grudado no meu focinho.

Por fim, avistei a velha luz avermelhada do acampamento e parei lentamente ouvindo a loba atrás de mim soltar uma bufada e caminhar na minha frente. A cauda comprida passou raspando nos meus olhos e pude sentir seu aroma natural de terra molhada. Respirei fundo e a segui. Tudo estava silencioso. As cabanas fechadas ate o topo. A fogueira se apagando lentamente e o som dos grilos nos arbustos. Farejei a procura de algo errado e nada. Estiquei as orelhas e ouvi gemidos ao longe. Provavelmente casais acampando.

Sacudi o pelo e me dirigi a um lugar seguro onde pudesse tomar minha forma humana. Minha velha amiga cabana. Minha pele se esticou, ouvi estalos, senti algo se fechando no peito e quando dei por mim já tinha voltado a ser o velho Lucas.

O frio tomou minha pele exposta. Vesti um moletom e sai novamente.

Observei ela atirar insetos no fogo. Aproximei-me sentando-me ao seu lado. Ficamos em silencio vendo o fogo queimar e notei seus cabelos mais vermelhos perto das chamas. Ela também estava de moletom.

– Lucas, você ouviu a mesma coisa que eu? – perguntou quebrando o silencio. Analisei seu olhar firme e soube do que ela estava falando. Eliza era o ser mais fascinante da face da terra. Apesar de ainda estar novinha, com seus dezesseis anos, ela era muito mais madura que muita mulher adulta. Apesar de ser gêmea de Daniel Mozart, Eliza era diferente. Em tudo. Lizy tinha cabelos castanho-avermelhados, olhos castanhos puxados para um leve esverdeado, a pele era mais bronzeada, talvez conseqüência de ser loba cerca de noventa por cento da vida. Era magra de uma forma musculosa, mas sem comprometer sua feminilidade. Talvez dez ou quinze centímetros mais baixa que eu. Mas com uma determinação tão voraz quanto de uma leoa.

E esse era seu único defeito. Sua personalidade. Lizy era muito impaciente, teimosa, irritada e claro de quebra, mal-humorada. Só havia quatro pessoas no mundo que ela não tinha vontade de matar de cinco em cinco segundos. Eu, Daniel e seus pais.

Suspirei pegando um graveto e levando a fogueira.

– Claro que eu ouvi Lizy. – falei e em um gesto involuntário passei a mão em meus cabelos. – Eu sei que você deve estar um pouco...

– Chocada? – perguntou ela me olhando secamente – Não. Estou... Não sei o que estou. – admitiu zangada voltando a olhar o fogo.

– Claro que sabe Eliza. – murmurei revirando os olhos. – Você só não quer admitir.

– O que você quer que eu fale Lucas? – perguntou me encarando – Que estou soltando fogos? Que esse momento foi o que eu sempre quis? Minha irmãzinha de volta pra família?

– Lá vamos nós. – reclamei baixinho. – Lizy, não quero que você admita nada. Só quero que... – tentei explicar.

– Que eu entenda que está apaixonado por ela? Ou que agora o meu pai está dando uma festa em homenagem a ela?

Fiquei mudo. Se eu estava apaixonado? 97% de certeza que sim. Se eu poderia ficar com uma guardiã? Não. Se a Kate poderia sair para me ver? Também não.

– Você sabe que seu pai sempre a esteve procurando. - falei quase inaudível, mas eu sabia que ela podia ouvir. - Devia estar feliz por ele.

– Estou. - falou baixo. - Mas não quer dizer que eu concorde com tudo isso.

– O que você quer afinal de contas? - a fitei esperando encontrar algo ali, mas diferente da sua loba que eu conhecia bem, a sua humana sempre me deixava confuso. Ela sustentou meu olhar por tempo suficiente para me deixar incomodado e então voltei a olhar a graveto nas mãos.

– O que eu quero? - ela resmungou. - Quero que enxergue a verdade que está na sua cara o tempo todo. Nós somos os inimigos, Lucas. Nós matamos os guardiões. Nós os transformamos. Nós estamos do lado negro da historia.

Ela ficou de pé e a olhei.

– E você devia saber que não existe espaço para um romance entre um lobo e uma guardiã. Então... Desista.

Ela se virou e seguiu para a escuridão da floresta. Eu sabia o que ia fazer. O sempre fazia quando não me queria por perto. Correr.

– Eliza. - chamei, mas ela me ignorou. Puxou a blusa de moletom pela cabeça e eu virei o rosto a tempo, enquanto ela tirava a calça e eu ouvia o estalo dos seus ossos tomando uma nova forma. Quando a olhei novamente, lá estava à loba cor de café me encarando com seus olhos negros. Balancei a cabeça, mas ela bufou e se virou correndo para dentro da escuridão da floresta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Guardiões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.