Começou com uma festa natalina. Deu certo, todos se divertiram, ficou um gostinho de quero mais. Fizeram o réveillon, novamente um sucesso. Os deuses resolveram expor a possibilidade de aquilo se tornar um hábito em um Conselho Olimpiano que, inclusive para os padrões dela, estava incrivelmente entediante, e logo todos concordaram com a ideia, finalmente, animando-se.

Ao discutir o assunto entre os deuses, notei que Afrodite tinha se animado demais com as novas “possibilidades”. Quer dizer, não que eu não gostasse ou não confiasse na minha irmã, o único detalhe é que um fato amplamente conhecido é o parafuso a menos que ela possui, e não desconfiar quando ela está sorrindo loucamente, olhando para você com aqueles olhos brilhantes dela e praticamente pulando em seu trono cor-de-rosa é que pode ser caracterizado como loucura.

Logo percebi que ela daria um jeito de tentar pôr em prática seus planos diabólicos de amor nessas ocasiões e, como medida de precaução para tentar evitar maiores desastres, me ofereci para ser responsável pela organização de todos os eventos (afinal eu não era a deusa mais organizada de todas à toa, né?). Além de que, isso provavelmente me salvaria de ter que participar diretamente das apresentações. Não sou uma das maiores fãs de me exibir por aí na frente das pessoas, ainda mais em algo que não estivesse estritamente relacionado com o que posso chamar de, por que não, área de conforto, ou seja, a inteligência. Afinal, tenho noção de que um seminário cultural em uma data comemorativa seria um fiasco.

Foi visível que a Dite ficou um pouquinho decepcionada com minha sugestão, mas logo deu de ombros e concordou, como se fosse somente um fato inevitável com o qual ela teria que lidar. No final das contas ficou decidido que essa seria minha função e a cada comemoração seria sorteado um deus ou deusa que seria encarregado de produzir uma apresentação e uma festa temática.

Aqui estamos nós, reunidos para o sorteio da próxima: o dia dos namorados. Nem preciso comentar que Afrodite está praticamente espalhando gliter por aí, e está sorrindo tanto que me faz imaginar que ficará com uma tremenda dor no rosto depois que este Conselho terminar. De resto, os deuses estão como sempre: Deméter e Hades discutindo; Ares e Dionísio completamente entediados; Apolo dando uma cantada em Artemis e ela corando; Poseidon tentando irritar Zeus que, por sua vez, está conversando com sua mulher, Hera; Hefesto consertando algum pequeno objeto em suas mãos e Hermes, é claro, checando as mensagens em seu celular.

Dando um fim à espera, Zeus pegou o potinho com os nomes escritos dentro, sacudiu e retirou um papelzinho. Em uma letra delicada e floreada estava visível a pessoa sorteada da vez que eu teria de auxiliar: Poseidon.

Engoli em seco. Afrodite estava sorrindo.