– Senhor Hawthorne, já adiantei os papéis e o novo grupo para treinamento chega amanhã. Então, estou de saída, ok ?

– Effie, já disse que pode me chamar só de Gale.

– Eu sei, mas é que é difícil acostumar com isso. Eu vou tentar parar de te chamar de senhor. É uma promessa.

– Tudo bem. Muito obrigado Effie, até amanhã.

Com um sorriso no rosto ela fechou a porta e saiu. Mesmo depois de anos, ainda acho estranho à ver sem toda aquela maquiagem pesada e roupas extravagantes. Acho que com o tempo ela acabou se tornando mais humana, e menos superficial. Desde a revolução, não só ela como muitas coisas mudaram muito.

Já eram quase 18h, estava quase na hora de buscar a Rose na escola. Effie já tinha adiantado uma boa parte do trabalho, então só fechei o escritório e fui embora.

No carro, sempre ouvia as notícias do dia. Atualmente as coisas estavam bem tranquilhas. De repente, ouço a voz da Katniss no rádio. Não à via fazia anos, e ouvir sua voz de novo depois de tanto tempo foi uma sensação estranha, não ruim, nem boa. Sua voz estava muito diferente, mais pesada, densa... triste. Meus pensamentos me levaram para floresta onde nos conhecemos e caçamos por vários e vários dias, mas esses pensamentos de tempos "felizes" não duravam muito. Logo aquele olhar vazio e culposo com o qual ela me encarou no dia da morte de sua irmã, chegavam.

Por muito tempo eu nunca entendi essa culpa que ela jogava em mim, mas não demorou muito que para eu começar a me culpar também. Isso acabou trazendo uma tortura mental diária. Não conseguia me livrar dessa culpa, um certo dia pensei em uma maneira de resolver, tinha chegado ao meu máximo. Eu estava prestes a me m...

– Papai, papai ! - gritou ela vindo correndo em minha direção - Hoje a professora falou sobre o você na aula. Isso não é legal ?

Logo me lembrei o motivo de não ter feito algo terrível. Eu estava olhando pra ele. Somente de ver um sorriso em seu rosto me faz esquecer de qualquer preocupação ou problema que eu tenha. Toda vez que a ouço falar é como se o mundo parasse para ouvi-lá contar suas estórias, que muitas vezes me usava como super herói fazendo coisas que só ela conseguia entender.

– Ah, é ? - Eu respondi colocando-a dentro do carro - E o que falaram ?

– Disseram que você foi muito importante na luta que teve contra um senhor muito mal. Ela disse que ele senho fazia coisas muito ruins, mas vocês lutaram com eles e você deu um soco nele que fez cair todos os dentes. Depois fez ele comer sua torta de limão, e como você cozinha muito mal, ele morreu.

Não me contive e tive que rir.

– Tem certeza que essa foi o que sua professora disse ? Acho que não foi bem assim que a coisa toda aconteceu...

– Foi sim - disse ela fazendo careta - ela disse isso, e disse o quanto o papai é o melhor.

Essa conversa rendeu até em casa. Ela continuou falando coisas cada vez mais absurdas sobre a guerra, e de como eu com meu super poderes, ajudei os distritos. Vê-la assim hoje, quase que me faz esquecer de como a encontrei.

– Continua.