Selfless and Brave. escrita por comfortablynumb


Capítulo 6
Heroes


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, me desculpem pela demora, é que eu realmente estava ocupado com as provas e testes, então, decidi parar para focar nos estudos. Maaaas, estou de volta e com um novo cap, espero que gostem :D



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Though nothing, will keep us together
We could steal time, just for one day
We can be Heroes, for ever and ever
What d'you say?

Livre.

Dei de ombros aos murmúrios da Audácia e o olhar espantado das pessoas da Abnegação, pois sabia que meu ato impulsivo causaria uma histeria. Desviei o olhar do chão e concentrei-me na postura de meu pai. Ele mantinha a mesma postura indiferente de antes, o que fez com que eu ficasse indignado, porém acostumado. A reação dele não era surpreendente, afinal, sinto que nunca se importara com outra pessoa. Marcus é egoísta, embora nem mesmo ele saiba.

A Cerimônia de Escolha já estava acabando, e primeiramente, os iniciandos da Audácia se reuniram em uma única fileira, mas logo depois, toda a facção estava reunida em um só aglomerado.

Tudo que conseguira pensar naquele momento era em minha outra identidade. A identidade oposta a que todos conhecem. A identidade de um Tobias forte, com uma arma em seu punho. Uma identidade gloriosa.

Esperei ouvir o último nome e observei a garota da Audácia alcançar o palco e em seu rosto, visualizava lágrimas escorrendo. Quando deixou seu sangue preencher o recipiente da Abnegação, consegui ler seus lábios, que diziam "eu sinto muito". Um garoto ao meu lado, nascido na Audácia, ficara irritado com a escolha da menina e pronunciou uma única palavra: Careta.

+++

A primeira coisa que fiz como um iniciando da Audácia, fora tirar o casaco cinza de meu corpo, deixando cair no chão. Não olhei para trás, pois a multidão me levava cada vez mais para a porta das escadas, e eu precisaria acompanhar minha nova facção. Enquanto os eruditos praguejavam, nós corríamos o mais depressa possível.

Descendo as escadas, encontrei Julia, que ainda estava com seus óculos. Seus olhos encontraram os meus, mas não trocamos nem uma palavra sequer, pois ambos estávamos assustados demais para conversarmos.

A lua cheia daquela noite refletia sua luz no Eixo e as estrelas no céu brilhavam de modo mais forte. Como uma criança abnegada, minha família e eu não saíamos tanto, exceto se necessário, então essa fora a vista mais bonita de Chicago. Engulo em seco, lembrando que talvez seja a última vez que eu veja isto. Acordo do devaneio quando vejo Tori e a multidão correndo. Corro, mas não com a mesma intensidade de antes.

— Se continuar nesse ritmo perderá o trem. — Tori tentou procurar fôlego.

— Mas... eu vou ter que pular num trem em movimento? Isso é imprudente!

— Essa fora sua escolha, Careta. E isso não é nem o começo. — ela deu de ombros e seguiu em frente. Fiz o mesmo.

O primeiro grupo de pessoas a entrar é o de nascidos na Audácia e a facilidade em embarcar no trem faz com que eu estremeça, mas logo ignore ao perceber que é a minha vez de pular. Minhas mãos estavam tremendo e meu corpo também, pela fusão de nervosismo e da ventania que entrava em contato com os meus braços marcados por hematomas ao longo de toda a minha vida. Fechei os olhos, pensando no quarto cinza com os livros das facções, o baú com o vaso azulado de Evelyn e no rosto inexpressivo de Marcus. Nada além de memórias que eu terei o prazer de esquecer.

O baque entre meu corpo e o chão frio do trem fora forte, não insuportável. Senti-me zonzo por alguns segundos, até perceber que eu era o único que estava ainda no chão. Joseph estendeu sua mão e eu levantei-me. Todos continuavam me encarando, portanto, preguei meu olhar nas janelas do trem. Nas trilhas enferrujadas, o trem ia seguindo um movimento reto, porém cada vez mais alto. Agora, estávamos no topo da cidade e eu conseguia ver as luzes dos prédios atrás de mim e ainda o farol de alguns carros.

— Está tudo bem, Tobias? — Joseph perguntou. Anuí com a cabeça e ele deu de ombros.

Sentei-me junto a Julia e ele. Os dois aparentavam estar atordoados com tudo o que acabara de acontecer.

— Sim, tudo ótimo o suficiente para um ex-abnegado. Digo, na nossa facção não fazemos isso, porque seria um ato egoísta.

— Na sua ex-facção. Agora estamos aqui, em rumo a uma facção que sabe se lá o que acontece. Ainda me pergunto o que eles tomam no café da manhã pra acordarem nessa histeria toda... — ele retrucou, e eu sorri fraco.

— Estamos prestes a saber, se não morrermos antes. — apontei até a porta do trem, que agora estava sendo aberta por um possível instrutor da Audácia de cabelos negros e pele pálida e Tori.

— Nós vamos ter que pular de novo? Joseph... eu estou com medo! — Julia pronunciou, desta vez abraçando-o e ele retribuindo. — Se eu soubesse que seria assim... — Joseph a interrompeu pondo seu dedo em seus lábios.

— Apenas fique calma. Em alguns minutos estaremos no complexo da Audácia e tudo ficará bem.

— Estaremos na Audácia, fazendo sabe se lá o quê. — ela bufou.

Ficamos em silêncio por minutos, um silêncio barulhento e ao mesmo tempo alvoroçado. O vento batia nos cabelos de Tori, e ela estava na beirada do trem, como se nada estivesse acontecendo.

— Certo, Amah, comecemos logo com isso. — ela disse e o instrutor acenou em afirmativa.

— Ei! — Amah tentava fazer com que sua voz fosse mais forte que o barulho do vento lá fora.

— Essa é a segunda parte de sua iniciação. Vocês só precisam pular e alcançar o topo do prédio, logo ali. Se não conseguirem, vocês já sabem o que irá acontecer.

— Só precisamos pular? — uma menina da Amizade retribuiu, num tom arrogante. — Se fosse tão fácil assim... — Amah sorriu sarcasticamente.

— Se é tão difícil assim, por que escolheu a Audácia? Se há uma coisa que você aprenderá a ter aqui, é coragem. Caso, contrário, é melhor desistir agora e perder o resto de sua vida vivendo na miséria como os sem-facção. — todos estavam olhando para a garota e para ele.

— Se eu escolhi esta facção, é porque eu tenho um propósito. E eu sei muito bem o que devo fazer!

— Certo, garotinha. Então mostre-nos que é corajosa o suficiente e pule agora.

Tudo que conseguíamos ouvir naquele momento era a respiração ofegante da garota. De repente, ela se levantou e o trem, que desacelerou, continuava andando. Seu rosto corou, mas ela mantinha o olhar desafiador. O que acontecera fora rápido demais e em frações de segundos, eu vi o corpo magérrimo da garota atingir o topo de um prédio abandonado. Sã e salva.

Os nascidos na Audácia estavam perplexos, mas logo ignoraram o ato rebelde da garota e fizeram o mesmo, sem se preocupar com a enorme distância entre o automóvel e o edifício. Quando praticamente todos os membros realizaram o feito com êxito, só restavam o casal de eruditos e eu. Julia estava em prantos, enquanto Joseph tentava confortá-la.

— Nós podemos fazer isso juntos, vocês sabem.

— Ande logo, Careta! — Amah fez uma pausa. — Não quer virar um sem-facção, certo?

Olhei para Joseph, e ele assentiu, como se ele pudesse resolver àquela situação. Mantive minha postura ereta, e a respiração precária de antes já estava voltando ao normal. Quando estava realmente pronto, me impulsionei e deixei que a adrenalina tomasse conta de meu corpo. Senti-me revitalizado e seguro, depois de cair de joelhos no Edifício.

— Nada mal. — um garoto de olhos azuis acinzentados, que usava trajes da Erudição. Ignorei o comentário e esperei os dois últimos eruditos do trem. Eles estavam prestes a pular juntos, até ouvirmos uma voz forte atrás de nós, que já estávamos no prédio. Max.

— Não! Ela deverá fazer isso sozinha. E não tente desafiar a minha ordem. Joseph lançou-me um olhar triste e Julia tentava recuperar-se dos choros. Deu um beijo em sua testa e pulou para fora do trem, deixando-a sozinha. Agora, o trem estava acelerando e não esperaria por ela, caso não pulasse. Num ato desesperado, ela pulou, alcançando a ponta do prédio. Desajeitada, ela tentava se equilibrar, porém o vento a impulsionava para trás.

Corri em sua direção, mas fui barrado pelo mesma voz. Agora, apenas as mãos de Julia a sustentavam.

— Max... Por favor. — Tori pediu.

— A Audácia é uma facção para os que realmente encaram seus medos e não pestanejam sequer uma ordem dada pelos seus líderes. Ela não duraria muito aqui de qualquer jeito — respondeu, ríspido.

— Qual é o seu problema? — Joseph avançou, mas recuou ao ver que Max acabara de sacar a arma.

— Joseph... eu não iria sobreviver aqui. Boa sorte. — Julia disse, a voz estremecida.

De repente, sua mão já não está mais segurando o edifício, e todos os iniciandos se debruçam diante do prédio. Tudo que conseguimos ver é o corpo alto e magro da menina, desaparecendo na escuridão.


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