Selfless and Brave. escrita por comfortablynumb


Capítulo 17
From Eden




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Honey, you're familiar like my mirror years ago
Idealism sits in prison, chivalry fell on its sword
Innocence died screaming, honey, ask me I should know
I slithered here from Eden just to sit outside your door

Em direção ao centro de treinamento, encontrei Mia. Olhei-a de soslaio e dei de ombros. Hoje é o último dia do primeiro estágio, e embora eu me importe com a classificação, não gostaria que seu desempenho fosse afetado pela notícia de sua irmã. Portanto, esperarei. Esperarei o momento certo até revelar-lhe.

Desde o dia anterior, não tenho visto Joseph ou Clary. Passei a madrugada treinando com sacos de areia no centro de treinamento, com o objetivo de melhoras meus golpes e ocupar minha mente. Apesar do cansaço, não me sinto sonolento.

Todos já estão posicionados em volta do ringue. Amah, que está acima dele, espera o murmúrio cessar para começar seu discurso.

– Se vocês chegaram até aqui, parabéns, sobreviveram ao fim do primeiro estágio. Agora farão o que mais fizeram durante sua estadia em nossa facção: lutarão. - ele conclui, indo em direção ao quadro negro.

Observo as letras garrafais que preenchem o quadro. Com a morte de Diana, toda a lista de lutas tivera que ser adaptada, e um dos iniciandos terá que lutar mais de uma vez. Olho o número Quatro escrito duas vezes. Lutarei contra Clary e Eric, mas ambas lutas serão no segundo expediente. Decido direcionar-me novamente aos sacos de areia.

Golpeio uma, duas, três vezes. Todos os golpes parecem ineficazes, pois o saco permanece imóvel. Mesmo assim, continuo golpeando.

– Não é o suficiente. - Amah diz.

Viro-me e vejo o instrutor me encarando.

– Seu dever não é me criticar, mas me instruir.

Ele se aproxima ainda mais de mim. Consigo ouvir sua respiração e me distancio.

– Me bata. - diz ele.

– O quê? – Eu disse "me bata".

– Não. Para que eu faria isso?

– Simplesmente me bata!

Eu o obedeço.

Desfiro um golpe em seu estômago. Ao socar, percebo que seu abdômen está rígido, logo, o golpe fora inócuo. Ele retribui com um soco em minha garganta e em meu nariz. Recuo, indo para trás, e sem hesitar ele leva seu corpo contra o meu.

Eu tombo até nós dois cairmos no chão. Amah está acima de mim e continua me encarando por longos segundos. Franzo o cenho, nutrindo uma sensação extremamente desconfortável. Sei que se quero ter uma vida de glória, preciso ser melhor que isso. Preciso ultrapassar meus limites. Tento decifrar o que há por trás de seu olhar, mas dou de ombros ao perceber sua situação. Ele está distraído e continua a fitar-me. Minhas mãos estão livres e sei que é hora de lutar.

Agarro um de seus dreadlocks com a mão esquerda, e com a outra soco a parte inferior de seu queixo. Ele solta um grunhido, enquanto tenta se soltar de minha mão, que pressiona sua cabeça ainda mais para trás. Decido soltá-lo para me levantar.

Quando já estou de pé, vejo os pés de Amah se movimentando, a fim de me dar uma rasteira. Salto para o lado de sua cabeça e me agacho, preparando-me para outro soco.

– Desistência! - ele grita.

Sorrio e estendo a mão a ele. Amah aceita e se levanta.

– Foi uma boa luta, afinal. Mas ainda luta como uma garotinha! - ele ri e eu faço o mesmo.

– Ah, a única garotinha da luta foi você. Me encarando por tanto tempo para quê? Queria me beijar?

Amah balbucia.

– Vai se ferrar! - diz com um sorriso fraco. Eu sorrio em resposta e ele desvia o olhar.

– Preste atenção nas minhas dicas. Clary pode ser ágil e forte, mas não é invencível. Se conseguir derrubá-la, está é a sua chance de vencê-la. Quanto a Eric, esteja atento, pois ele vem treinando há bastante tempo com Kira. Você pode ter lutado uma ou duas vezes com ele, mas isso não o torna experiente. Ainda há muito a aprender, marica. - ele sorri e se vira.

– Obrigado, garotinha! - grito num tom amigável. Ele dá de ombros.

Volto-me ao saco de areia. Desta vez, aplico os meus golpes em vários lugares do objeto, que, finalmente, se mexe. Além de meus braços, golpeio com minhas pernas e pés. Apesar do esforço, sinto-me revitalizado. Sinto que estou apto a lutar.

+++

Não esbarro com Clary ou Joseph durante o almoço. Decido comer algo e gastar o resto de meu tempo treinando. Sei que classificação dos transferidos sairá hoje à noite, portanto, esforço-me ao máximo para a luta que se seguirá. Também estou ciente de que duas lutas não poderão classificar todo o meu desempenho durante o primeiro estágio, mas acredito que possam ser cruciais.

Tento ocupar minha mente com a luta, pois há uma série de fatores que fazem com que eu queira esquecer da realidade. Uma delas é o dia da visita. Após o fim do estágios, todos os transferidos podem receber visitas de seus pais. Uma pontada de tristeza invade a minha mente quando penso nisso: sei que meu pai não me visitaria, embora eu não queira, de fato, que ele venha.

Caminho pelos corredores em direção ao centro e sinto a brisa fria me alcançar. Uma sensação serena invade meu corpo e eu aproveito esse breve momento de paz em meio ao caos.

Chegando ao treino, ouço grunhidos femininos vindos do final da sala. Ao me aproximar, vejo Maddie socando um dos sacos de areia. Ela está suada e pouco tempo depois se afasta do objeto.

– Parece que eu não fui o único a ter essa ideia. - digo.

– Preciso treinar. - ela retruca, com a respiração ofegante. - Não quero terminar vigiando fazendas da Amizade. Quero algo... grandioso.

Assinto com a cabeça, concordando. Embora eu saiba que as primeiras colocações do ranking nos recrute a liderar a facção, sei que posso negar. Além de não me sentir como um líder, sei que isso acabará me levando a meu pai.

– Estamos na disputa, afinal - digo, lançando-lhe um sorriso. -, por que não lutamos?

Ela anui.

– Por que não?

Nós dois caminhamos até a arena. Cerro o meu punho, regulando minha articulação e observo seu corpo: apesar de pequena, seus braços são definidos e seu corpo também. Respiro fundo e aperto sua mão antes de entrarmos no ringue.

A erudita se encontra em uma extremidade e eu em outra. Nos entreolhamos e ficamos em silêncio por breves segundos.

– Avance, marica. - provoca Maddie.

Sigo seu conselho e avanço. Em dois passos, encontro-me a sua frente. Ela tenta desferir um golpe em meu rosto, mas desvio e ela atinge o ar. Decido usar minhas pernas a fim de golpeá-la no rosto, mas quando o faço, ela as segura, e, pressionando seu corpo, joga-me no chão. Rolo em direção oposta, me levantando rapidamente.

Lembro-me ligeiramente do que Amah me falara e levo meu corpo contra o dela. Assim como eu, ela cai no chão. Diferentemente do instrutor, seguro as mãos da garota. Levo minha cabeça contra a dela com força, fazendo com que ela solte um grito. Tiro minhas mãos de seus braços e tento desferir um soco em seu rosto.

Ela desvia e responde com um soco em minha garganta. Afasto-me e agacho-me devido a dor, que parece se intensificar. Logo, ela avança e continua a golpear-me, desta vez em minha orelha, olhos e boca. Uma gota de sangue de minha boca cai no chão. Ignoro Maddie e foco o meu olhar naquela gotícula. Maddie leva seu pé esquerdo à minha coluna.

Caio no chão, e Maddie sorri.

– É a única coisa que pode fazer, Careta? - ela sorri com escárnio. Por um breve segundo, vejo a imagem de Jeanine à minha frente e estremeço.

Dou de ombros e fico em silêncio, perdendo-me em devaneios.

Maddie, Jeanine, Audácia, Divergentes, tudo parece estar distante demais. Agora, sinto-me preso a meu não luxuoso quarto da Abnegação, o qual vivi metade de minha vida sendo maltratado por Marcus. Seu discurso contra o meu egoísmo era oculto de soberba e maldade. Marcus era egoísta, assim como eu. A linha tênue que nos divergia era classificada pelo modo como ele agia. Eu era egoísta e bondoso. Marcus era egoísta e perverso.

Todas as agressões sofridas por mim passaram-se como um flash em minha cabeça. E por fim, lembro-me da gota de sangue retirada após Marcus me agredir. Uma lágrima escorre de meu rosto. Só então me lembro de outra gota de sangue derramada. O sangue que queimara o recipiente da Audácia.

E num súbito, isto faz-me sentir forte novamente.

Acordo do devaneio com o rosto de Maddie próximo ao meu. Seu punho está cerrado e sua expressão está confusa. Num ímpeto, rolo para o lado direito. Ela me acompanha, entretanto, sou mais rápido e levanto-me antes de conseguir me alcançar.

– O que houve? - ela subitamente para. - Você estava em êxtase com minha beleza?

Sorrio e não perco tempo. Levo meu corpo até o dela e ela cai no chão, surpresa.

– Parece que você é que está. - rio e soco seu nariz.

Ela leva suas duas mãos em meu rosto e crava suas unhas em minhas bochechas. Solto um grito de dor e ela consegue se recuperar. Ajoelhada, ela remove suas mãos de mim e atinge minha barriga. Quando se levanta, se afasta. Decido avançar, até perceber o que realmente ela está fazendo.

Vejo seu corpo alcançando o ar com velocidade, e embora queira desviar, ela parece rápida demais. Seus pés atingem o meu peito, e sinto uma dor alucinante invadindo-o. Caio no chão e ela pousa graciosamente acima de mim. Prestes a finalizar a luta com um golpe em meu rosto, decido impedi-la. Seguro seu punho antes mesmo que ele me atinja e o contorço. Seus olhos exprimem a mesma surpresa previamente desfrutada por ela e ela berra.

– Acredite, Maddie, eu só pararei quando você desistir.

Ela semicerra os seus olhos e logo depois dá uma risada. Sua outra mão se encontra em meu pescoço, e novamente sinto suas unhas perfurarem meu tecido epitelial. Agora, a dor parece se aprofundar, atingindo a garganta e meus nervos.

– Apesar de ter nascido na Erudição, sempre fui treinada a controlar minhas dores. Fui predestinada a isso, e não irei desistir tão facilmente, Quatro.

Sinto o sangue alcançar minha cabeça e perco a respiração aos poucos. Ainda assim, minha mão continua localizada na de Maddie. Por fim, decido desistir.

Um sorriso enigmático surge no rosto da garota. Ela tira sua mão de mim e então consigo respirar de modo ofegante.

Encaro-a por alguns segundos enquanto me recomponho. Ela faz o mesmo, até quebrar o silêncio.

– Me desculpe, mas regras são regras. Ou eu acabo com você ou tenho uma vida de merda. - ela sorri e eu faço o mesmo.

– Tudo bem. Só estou... surpreso. Não é sempre que recebo uma surra de uma erudita inexperiente.

– Algo que aprendi na Erudição e aqui é que não podemos subestimar nossos adversários. Você me subestimou e teve o que merece. - ela dá uma piscadela e corre em direção à saída.

Continuo no ringue, e decido deitar-me. Encaro o teto escuro do local, sem qualquer pensamento em mente. Respiro de modo irregular e permaneço intacto até ouvir passos em minha direção. Levanto minha cabeça e enxergo duas figuras: Joseph e Clary. Eles se acomodam no chão da arena.

– Onde você esteve durante todo esse tempo, seu babaca? - Clary indaga de forma rude, como se estivesse aos nervos. Lanço-lhe um olhar generoso, e ela se acalma.

– Foi mal. Estava precisando deste tempo sozinho.

– Estamos em perigo e você resolveu desenvolver seu senso egoísta justamente agora? - Joseph revira os olhos.

– Sou um ser humano, afinal. Tenho camadas, e essas camadas se alternam de vez em quando. Agora, a camada egoísta é a determinante.

– Filosofia estranha. - Clary bufa. - Tudo anda muito estranho ultimamente, na verdade. Caça aos divergentes, Jeanine interrogando Joseph, mortes e mais mortes. - ela olha fixamente para o chão, com o olhar vago.

– Jeanine interrogando Joseph?

– Sim, Quatro. Enquanto vocês foram interrogados pelos líderes da Audácia, fui interrogado pela líder da minha antiga facção. Tudo pareceu muito ameaçador, para falar a verdade. Ela me informou a gravidade de tal pesquisa que desenvolvemos sobre os divergentes e, indiretamente, me ameaçou. "Embora tenha escolhido a Audácia, cuja facção é tão digna quanto a sua de origem, acredito que sua aptidão à Erudição ainda seja abrangente. Portanto, creio que saiba como agir perante a uma situação que envolva segredos. O que espero de você é muito mais que força, embora seja essa a principal virtude cultuada em seu lar atual. Espero de você força e inteligência. E, neste caso, sigilo seria a palavra que se adequaria à sua inteligência. Seja inteligente e sua estadia em Chicago será bem-vinda." - ele diz, abrindo e fechando aspas com as mãos. - Obviamente estou parafraseando.

– Se eles o interrogaram, por que não interrogariam Maddie e Pharrel? - questiono, uma pontada de preocupação invadindo o meu corpo.

– Maddie e Pharrel participaram da pesquisa em relação aos divergentes, sim. - Joseph começa, alternando o olhar a mim e à sua namorada. - Porém, eles não foram os pesquisadores, mas os pesquisados. Tecnicamente, Jeanine não os escolheu, eles se voluntariam a fim de participar da pesquisa. A líder da Erudição não concordava com a entrada dos dois, visto que Maddie era o único resquício de família que ela tinha e Pharrel era seu namorado. Caso algo acontecesse algo a eles, Jeanine não se perdoaria.

– Resquício de família? - Clary franziu o cenho.

– Maddie Matthews. Sobrinha de Jeanine.

Recordo-me dos momentos em que via a líder erudita no corpo de Maddie e sinto um calafrio. De repente, uma simples transferida tornara-se a peça chave para a salvação dos divergentes. Ou a destruição. Ignoro o pensamento quando ouço a voz de Joseph ainda mais baixa.

– Por fim, eles entraram, porém, tiveram que assinar um contrato de sigilo, assim como todos os cientistas envolvidos. Jeanine sabia que estávamos prestes a realizar os testes de aptidão e a escolher nossa facção. Embora achasse que todos permaneceríamos lá, ela cogitou a possibilidade de mudarmos. Se mudássemos, o contrato de sigilo não significaria nada, poderíamos tagarelar sobre o experimento que fizeram em divergentes e todo seu plano estaria arruinado. Quando começaram as pesquisas com o cérebro dos dois, Jeanine percebera que eles não eram divergentes. Logo, ela submeteu Pharrel e Maddie ao soro da memória, o da Abnegação. Este soro é poderoso, mas Jeanine não suportaria ver todas as boas memórias que sua sobrinha tivera com ela apagadas. Então, ela manipulara o soro a fim de que ele só apagasse uma porcentagem quase negativa de sua memória, que no caso, seria a parte dos acontecimentos até então atuais dela e de seu namorado.

– Isso não faz sentido, afinal, ela deveria ter submetido todos os futuros iniciandos ao soro, não? - pergunto.

– E submeteu, mas sou divergente e não posso ser controlado. - ele sorri. - De qualquer jeito, durante o interrogatório, fingi que não sabia de nada. Espero que minha atuação tenha sido convincente.

– Como ela poderia ter tanta certeza de que Pharrel e Maddie não se lembram de nada? - Clary diz, ainda com as sobrancelhas arqueadas.

– Ela é inteligente, mas não tanto quanto aparenta ser. A manipulação do soro da memória foi um tiro no escuro, mas ela achou que realmente daria certo. Além disso, eles não foram interrogados porque não estavam no ocorrido com Diana, sabe?

– Entendo. - Clary responde, fazendo uma pequena pausa e trocando um olhar apreensivo a mim, como se estivesse prestes a ouvir algo ruim. - Mais uma pergunta: o que aconteceu com os divergentes que foram submetidos à pesquisa?

Joseph engole seco e responde:

– Eles foram mortos.

+++

Cerca de uma hora depois, estávamos todos novamente reunidos. Clary e Joseph permaneciam ao meu lado esquerdo, enquanto Pharrel e Maddie estavam do lado direito. Sem mais delongas, Kira chamava os nomes que estavam no quadro em ordem. A primeira luta do segundo expediente seria de Zöe, a garota de pele oliva e cabelos longos, e Pharrel.

As lutas prosseguiam de maneira rápida, fazendo com que a minha - que era uma das últimas - chegasse na mesma intensidade. Enquanto mantinha o meu olhar preso às lutas, observava também os variados golpes. Muitos evoluíram, enquanto outros permaneceram estagnados.

– Preparado para perder, Careta? - ouço um sussurro em meu ouvido. Eric. Viro-me e fito o seu rosto. Ele está repleto de piercings, e os óculos que Eric usava no começo da iniciação já não estão mais ali. Arqueio o cenho e solto uma risada.

– Estou quase certo de que não irei perder. – mantenho minha respiração e voz regulares, a fim de transmitir segurança. – Além do mais, esta luta não significará absolutamente nada para mim. Já nos confrontamos diversas vezes e em todas elas você perdeu. Se realmente acha que me vencendo irá vencer também seu estereótipo de fracassado, está muito enganado. - faço uma pausa e aproximo-me de seu ouvido. Sussurro no mesmo tom em que ele fizera. – Você é o perdedor da história, Eric.

Vejo suas mãos cerradas vindo em minha direção. Antes mesmo de elas me alcançarem, seguro-a, fazendo com que as articulações de meus dedos fiquem brancas.

– Não acha melhor deixar isto para a arena? – indago, num tom irônico. – Ou prefere acabar comigo aqui para ter alguma vantagem na hora da luta?

Encaro seus olhos azuis, que estão semicerrados, exprimindo raiva. Permito-me sorrir e, de fato, faço. Estou contente com o meu desenvolvimento. Há algum tempo, jamais faria isso. Apenas me curvaria e ignoraria tais comentários. Entretanto, desenvolvi meu senso de coragem e não me arrependo. Sou corajoso. Ele abaixa sua mão e se vira.

Acordei do devaneio com os gritos de Kira ao exclamar meu nome.

– Está esperando o quê? – Joseph questiona ao meu lado, me cutucando.

Ignoro e sigo em direção à arena, a qual Clary já está e se posiciona ao lado esquerdo de Kira. Ao me aproximar, percebo seu semblante concentrado. Sei que esta luta será difícil.

– Boa sorte. – digo a Clary, que parece ignorar o comentário.

Inicialmente, concentro-me em seus olhos. Lembro-me vagamente de um conselho em que minha mãe dissera um pouco antes de morrer. Ela dizia que seres humanos podem ser complexos, mas alguns não conseguem esconder suas reais intenções, e as transmitem pelo olhar. Bloqueio meu pensamento ao ver o corpo esguio de Kira deixando o recinto. Sinto a adrenalina percorrendo em minhas veias, e num ímpeto de bravura, corro em direção à garota.

Ela se afasta antes mesmo de eu conseguir alcançá-la. Aos poucos, se aproxima novamente e desfere um golpe em meu rosto. Faço o mesmo, mas ela bloqueia o soco com suas duas mãos e aproveita o meu erro para empurrar-me para trás. Apesar de seu corpo forte, cambaleio e não caio.

Ouço um grunhido de raiva vindo da garota, que na mesma intensidade, tenta fazer com que eu caia. Desvio e ela atinge a extremidade da arena.

– Qual é, Clary! Você consegue ser melhor que isso. - ouço Eric dizendo, mas ignoro o comentário.

– Quem lhe deu a permissão de se direcionar a mim, pedaço de merda? - ela retruca, sem sequer olhar para o garoto, apenas com os olhos concentrados em mim. O silêncio preenche o local, e Clary e eu estamos estáticos. Meus músculos estão tensos, mas tento manter a calma.

Após aproximadamente seis segundos, me aproximo da garota. Ela faz o mesmo, e nossos corpos agora só são separados por míseros milímetros. Vejo um sorriso de escárnio preenchendo o seu rosto e sei o que ela está prestes a fazer. Sorrio em resposta e sinto a sua perna atingindo o meu estômago. Não sinto dor, afinal, enrijeci os músculos localizados ali. Antes mesmo de ela retirar seu joelho dali, levo minhas duas mãos a ele. Seguro-o com força, e ao tentar se afastar Clary cai no chão.

Ajoelho-me em cima de suas pernas para que a garota esteja impossibilitada de contra atacar com os membros inferiores, mas deixo suas mãos livres. Ela prepara suas mãos para um soco, mas defendo-os com os meus dois braços. Faço o mesmo, conseguindo arrancar-lhe uma pequena gota de sangue de sua boca.

Sem hesitar, ela desfere uma sequência de golpes incrivelmente rápidos em várias partes de meu rosto, concentrando-se na parte superior. Estremeço, sentido uma leve tontura que a faz ganhar alguns pontos de vantagem. Por fim, usa seu cotovelo e atinge uma de minhas têmporas. Decido deixar escapar um grito de dor e rolo para o lado.

Ela se recompõe e levanta. A tontura se intensifica ainda mais, e a única coisa que eu me lembro é de ver seu punho vindo em minha direção.


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