#Jamie

Jamie estacionou o carro em frente ao apartamento aonde Nora vivia. Ele estava cansado da ponte que Natasha havia colocado entre eles e precisava pelo menos descobrir o que havia feito de errado e se redimir. Ela não podia estar apenas com raiva de sua dedicação no trabalho. Não seria justo.

Nora ficou receosa de abrir a porta para ele, mas a verdade era que ela estava tão cansada daquela guerra quanto ele. Assim que ouviu sua voz, Ben apareceu correndo na sala e o abraçando pelas pernas.

– E ai, garoto? Senti sua falta, sabia? - Jamie se controlou para não chorar por seu filho que não via a quase uma semana. Era como se Ben preenchesse um vazio que só apareceu depois que ele sumiu.

– Senti sua falta, pai. Mamãe não me conta histórias, não faz torta de limão comigo, não me leva para tomar sorvete e caminhar na praia. Só você o faz - Ele disse, ainda agarrado as pernas de Jamie.

– Ben, você não pode correr quando estou te arrumando - Nat reclamava enquanto vinha de dentro. Quando viu Jamie, ela deu uma risada debochada - Devia imaginar que era por sua causa. Ele sempre foi mais imprudente na presença do pai.

– Do que está falando? Nunca o encorajei para ser imprudente, Natasha. Você sabe disso. Estou aqui para falar sobre nós, mas parece que você ainda está incomunicável, se é que deixou de ser um dia - Jamie explodiu. Ele estava cansado de ser o único errado nessa relação.

– Eu não sou incomunicável, seu pateta. Estou me comunicando agora e estou mandando você sair - Nat apontou para a porta. Jamie continuou imóvel - Estou dizendo!

– Você não é minha chefe, por isso não me manda. Agora, cale a boca e me escute - gritou. Nora pegou na mão de Ben e o levou até o quarto - Eu costumava amar esse seu gênio. Você era perfeita assim.

– Agora a culpa é minha? Eu não mudei, Jamie, você mudou - Nat gritou de volta.

– Mudei no que? Pelo amor de Deus, mulher! Me diga! - ele respirou fundo e sua voz saiu suave dessa vez - Se eu fiz algo que te magoou ou ofendeu, diga agora, Nat. Ben precisa de nós e não de toda essa confusão que geramos sempre que estamos no mesmo cômodo. Converse comigo, meu amor.

– Quando nos casamos, costumavamos ser eu e você sempre e para sempre. Depois que Ben nasceu, começou com abandonar com tudo o que planejamos, depois abandonamos a nós mesmos e agora...

– E agora o que? Diga, Natasha! - ele pedia. Tudo o que ele queria era tirar a angústia dela e começar novamente, se amarem novamente.

– Nem vamos mais para a cama. Parece bobo, mas é verdade. Você não me acha mais atraente, Jamie - seus olhos estavam cheios de lágrima e ele quis gritar o quanto a amava e a achava atraente, mas não o fez.

– Se é o que acha, mas não culpe Ben por suas inseguranças, Natasha, não faça isso. A culpa é sua, toda sua, e só agora eu vejo isso. Meu Deus! Esse tempo todo me culpando, mas você é a culpada por tudo estar desmoronando. Você não conversa, não diz o que sente nem o que te incomoda, trata nosso filho com frieza, cria regras absurdas. Você nunca foi feliz e odeia o fato das pessoas a sua volta serem, não é?

– Eu... - por um momento, ela absorvia tudo o que ele havia dito, se perguntando se era verdade o fato de que ela não suportava a felicidade alheia, foi quando um par de lágrimas escorreu pelo seu rosto e ela limpou o mais depressa que pode - Eu e minha mãe vamos fazer um cruzeiro. Tirei férias do hopital. Vai durar um mês e meio.

– Você não pode fazer isso? Eu vou ficar um mês e meio sem ver o Ben? Quatro dias é uma coisa, mas um mês e meio é...

– Eu não disse que vou levá-lo. Olha, Ben foi a melhor e a pior coisa que me aconteceu e é por isso que o deixarei com você. Você precisa sentir um pouco dessa sensação em sua vida. Você precisa de Ben, tanto quanto ele precisa de você. Só assim você vai me entender - Nat dizia como se fosse verdade que ela estava pensando mais neles do que em si mesma - Mãe, traga a mochila do Ben.

Nora apareceu uns minutos depois, com Ben e sua mochica do Harry Potter nas costas. Ela balançava a cabeça, negativa pela atitude de Nat. Nora agarrou os ombros de Nat, depois alisou seu rosto.

– Olhe bem para esse garoto, Natasha, por que é disso que você vai se lembrar todos os dias, arrependida de sua decisão - ela disse, se afastando e indo até o neto, só para beijar no alto de sua testa, depois ela sumiu nos cômodos a dentro.

– Você não vai voltar, vai? - Jamie sussurrou, aproveitando a distração de Ben com o ziper da mochila - Eu não acredito que você está fazendo isso. Quer saber, eu te quero longe da gente.

– Não vai ser dificil - ela disse, caminhando até a porta e abrindo. Seu coração parecia duro como uma pedra e, mesmo vendo seu próprio filho partir, ela não derramou uma lágrima sequer - Vai ser melhor assim - disse para si mesma.

#Jude

Davis observava uma foto dele ao lado de Lydia em seu celular. Era fato de que ele sempre teve uma queda por ela e Jude desejava que fosse reciproco, para assim ela largar de seu pé. Quando tinham quinze anos, ambos foram os primeiro beijo um do outro, em comum acordo, mas depois disso, Lydia se declarou completamente apaixonada por ele e isso não mudou mais, nunca mais.

– Esquece essa garota, Davis. Ela não é para o seu bico - Jude aconselhou, como sempre, mas era como se Lydia tivesse o cegado. Ele estava apaixonado, quase obcecado.

– É que ela é para o seu bico, não meu. Acontece que somos a mesma coisa, irmãozinho - ele guardou o celular novamente no bolso. Jude derramou um pouco de leite em um copo e pegou duas torradas em uma vasilha dentro do armário.

– Porque você é tão babaca? Não vê que eu fujo dela que nem gato foge do banho? Por mim, é toda sua, Davis. E não me chame de irmãozinho. Foi você que nasceu dez minutos depois de mim, então eu sou o mais velho - Jude reclamou, mordendo sua torrada três vezes seguidas, sem mastigar. Depois ele tomou um pouco de leite. Davis sorriu para ele. Os dois tinham brigas infantis muitas vezes, mas tudo sempre acabava em sorrisos e, as vezes, abraços.

– Acho que tem razão em relação a ela. Eu gosto tanto que me faço de idiota muitas vezes. Me desculpe por isso, mas não consigo evitar - Davis rouba a última torrada da mão dele e sai pela porta da sala.

Jude toma um banho, troca de roupa, monta em sua moto e parte para New Tric. Davis ainda não havia chegado, Ellie muito menos, mas, para a sua surpresa, a pessoa certa estava sentada na beirada do palco, com as pernas nuas até metade das coxas balançando para fora. A saia curta que ela usava deixava-o com uma visão quase privilegiada.

– E ai, gata? - ele a chamou. Sarah parecia pensativa, tanto que quase pulou para fora do palco quando ele a chamou - Algum problema?

– Sabe, na aventura que tive com Ellie e Logan esses dias, eu percebi uma coisa. Percebi que minha vida tem sido um saco. Preciso fazer algo diferente, divertido. O que me sugere? - ela perguntou.

A verdade era que ele nunca tinha feito nada extremo com sua vida, só encher a cara em todas as comemorações, mas isso não parecia ser o que ela precisava.

– Eu posso descobrir alguma coisa. Espere um instante - ele correu para trás do bar e pegou o telefone. Alguns instantes depois, Kevin atendeu o telefone - E ai, Kevin? Estou precisando de uma ajudinha sua. Tem uma gata aqui, que eu estou muito afim, querendo sair para fazer algo radical. O que me recomenda?

Kevin explicou sobre um amigo que organizava passeios radicais pela cidade. Isso seria perfeito para o que Sarah queria. Só bastava saber se ela o faria ao lado dele.

– E então? - ela estava ansiosa - Preciso respirar novos ares.

– Eu encontrei a coisa certa. Basta saber: está livre fim de semana? - perguntou.

– Bem, o restaurante está com pouca reserva. Acho que consigo alguém para me substituir - ela se levantou do palco e jogou seus braços, animada, sobre os ombros de Jude - Obrigada. Isso mudará minha vida. Você verá. Lhe sou grata, Jude. Você é um grande amigo.

Jude desanimou por um instante na palavra amigo, mas, nesse fim de semana, ele a faria mudar de ideia com relação a isso. Ela descobriria um cara na medida que ela precisava, ele esperava.

#Logan

Sua costela ainda reclamava, mas estava muito melhor. Jogado no sofá de sua sala, ele tinha uma latinha de cerveja em uma mão e o controle da televisão no outro. Logan gostava mesmo era de assistir o canal de música, aonde via seus rappers preferidos cantarem. Seu celular começou a tocar. Era a segunda vez que Jen ligava. Ele deixava cair na secretária eletrônica, mas ela acabava mandando uma mensagem escrita mesmo. Atende a porcaria do celular, bebado inútil– ela deixava. Logan lia, apagava e fechava o celular. Logo vinha outra Eu juro que se você não me atender...– ela não terminara. Logan sorriu, apagou e fechou o celular uma segunda vez. A última mensagem veio Desculpe por antes, amor. Você sabe que sou instável desde... Bem, quando quiser, me ligue de volta– ela mandou beijos. Logan odiava quando ela usava aquela história para fazê-lo ter pena dela. Com raiva, ele jogou o celular contra a parede. Isso fez sua costela doer mais, mas um porre de cerveja acabaria com a dor, então ele virou a latinha. Queria poder esquecer Jen, esquecer Ellie, que não saia de sua cabeça, esquecer tudo que o fazia se sentir mais fraco, mais vulnerável. Ele nunca havia se sentido assim antes. Ele sabia o quanto Jen havia sofrido com tudo aquilo, mas olhar para ela lhe causava uma dor mais que insuportável.

Depois de algumas horas, ele já havia pego no sono quando a campainha tocou. Já haviam três latinhas de cerveja caidas no chão, apesar de ele só lembrar de ter bebido uma. Ele as escondeu debaixo da mesinha de centro, com medo de ser seu pai e, em seguida, abriu a porta.

– Preciso de você - Ellie disse assim que ele abriu a porta - Estava dormindo? Desculpe.

– Tudo bem. É que eu gosto de abrir a porta e ouvir um 'Olá! Como você está?' primeiro - ele brincou, saindo do caminho da porta e voltando a se jogar no sofá - Vai ficar ai fora?

– Não - ela entrou - Olá! - ela gritou, enquanto se jogava no sofá ao lado dele - Eu podia perguntar como você está, mas sei que vai dizer 'Estou bem, obrigado' e tenho certeza de que será mentira, então... Vou deixar no suspense, esta bem?

– O que quer? Disse que precisa de mim - Logan não se sentia justo e nem mesmo no humor para visitas hoje. Ele queria se enterrar naquele sofá, encher a cara e dormir até a sensação ruim passar.

– Estou planejando uma discoteca na New Tric. Quer me ajudar a descobrir o que é uma discoteca? - ela tinha um sorriso que, por alguns instantes, o fez querer sorrir também.

– Porque não assiste os embalos de sabado a noite? - ele disse, mas quando o sorriso dela desapareceu, ele mudou de ideia - Discoteca? Um tipo de festa muito popular nos anos 70. Vai ter que falar com o DJ para baixar muita música desse tipo, principalmente música disco e rock n' roll da época. A firma de decoração vai ter que trazer um daqueles globos espelhados com luzes para todo o lado e eu sugiro que eles tenham murais de grandes talentos daquela época. Se quiser, peço a Jen para divulgar. Ela é ótima nisso.

Ellie o abraço por alguns instantes. Por algum motivo, o abraço dela tirava meio peso que ele estava carregando naquele dia. Ellie emanava uma luz e era exatamente daquilo que ele precisava agora.

– Sabia que seria bom te procurar. Agora vamos! Vou te levar até a New Tric, nem que eu tenha que te carregar nos ombros.

Logan não discutiu. Por causa dela, ele sentia que não devia se entregar tão facil, não importava o que havia acontecido no passado. Ellie era boa para ele.

Os dois chegaram na New Tric e encontraram Sarah muito feliz, conversando com Jude.

– Então, irmão... Eu tenho que falar contigo - Sarah o puxou em direção aos banheiros da boate - Eu falei com papai, que falou com um cara, que falou com outro cara e te conseguimos um emprego.

– Como é? Eu não pedi ajuda a vocês. Tramaram isso cotra mim desde quando? - ele fechou os olhos e respirou fundo - É trabalho de que?

– Em um hotel. Você seria o recepcionista. Olha, eu sei que não é o que você sonhou. Você quer ser escritor, eu sei, mas o dinheiro que seus avós lhe deixaram não vai durar para sempre, ainda mais gastando todo santo dia em bebida - quanto mais Sarah falava, mais vergonha de olhá-la ele sentia.

– Desculpe se não sou o irmão perfeito, mas recepcionista? Quanto vou ganhar? Uns R$1ooo por mês? Não dá para viver com esse dinheiro.

– Também não dá para viver com dinheiro nenhum. E é assim que você vai ficar se não aceitar. Papai espera a resposta essa semana ainda. Pensa bem, pateta - ela lhe deu um beijo na bochecha e voltou para o bar, aonde Ellie e Jude estavam.

Ele se juntou a eles uns minutos depois, jogando seu braço em volta da cintura de Ellie. Ela olhou para ele com um sorriso meio envergonhado, mas não o afastou. Isso era bom. Era uma sensação boa...Bom, era até Jen entrar e dar de cara com a cena.

– Sabia que havia um motivo para você não atender o maldito celular - ela começou a gritar, apontando o dedo indicador em direção a Ellie - Essa vadia... Se afasta dele!

– Para com isso, Jen! Estamos só conversando - Logan tentou acalmá-la, mas Jen tirou um canivete do bolso e apontou na direção dele - Jen...

– Achei que você nunca me abandonaria, depois de tudo o que passamos juntos - ela começou a chorar e tremer com o canivete na mão. Logan pensou que aquela era a melhor hora de tentar pará-la, mas Jen apontou o canivete para o próprio pescoço.

– Não faz isso, Jen - Ellie pediu, chamando a atenção de Jen para ela.

– Você não entende. Ele nunca poderá ficar com você. Ele fez um juramento. Porque não nos deixa em paz, Elizabeth? - o canivete estava tão perto que uma manchinha de sangue apareceu no meio de seu pescoço.

– Jen, eu quero que faça algo por mim, esta bem? - Logan começou a falar. Sua voz era suave e seu sorriso era quase verdadeiro, a não ser pelo fato de que ele não tinha motivos para sorrir. Ele deu dois passos na direção dela.

– O que esta fazendo? Fica longe dela, Logan! - Sarah gritou, mas Logan não parecia ouvi-la.

– Eu prometi cuidar de você, não prometi? Acha mesmo que vou trocá-la por Ellie? Ela não é nada como você, Jen. Ela não é incrivel, ela não tem sua força nem mesmo sua beleza e sensualidade. Eu não a amo como eu te amo. Agora, porque você não me beija? Pare com isso e me beije, Jen. Eu quero beijar você - ele pedia, pegando na mão dela e fazendo-a soltar o canivete no chão. Ele chuta o objeto na direção do palco e a abraça, depois eles caminham até a porta e ele a leva para sua casa.

Jen deita em sua cama e abraça seu travesseiro. Depois de tudo o que ela fez, talvez Ellie nunca mais o olhasse na cara. Talvez fosse melhor assim. Talvez ele não merecesse nenhum pouco daquela boa sensação, depois de tudo o que ele fez.