Chegamos a uma colina e descemos do carro, eu olhei em volta e perguntei:

–É aqui? Cadê o Acampamento?

–É logo ali. –disse Eddie apontando para uma campina.

Olhei para onde ele apontava e de repente vi. Uma linda campina verde e florida. Vimos o grande pinheiro que eu tinha observado de dentro do carro. De lá, ele parecia envolto por fios roxos, mas na verdade...

–O que é aquilo no galho? E aquilo é um dragão? –perguntou Jennifer.

–Aquilo é o Velocino de Ouro. Se você se lembrar das histórias de Ulisses e Polifemo irá se lembrar do Velocino. E sim, é um dragão. Peleu, o encarregado de proteger o Velocino. –disse Eddie.

Argos pegou nossas malas, e então subimos a colina. Percebi que Eddie não usava mais muletas, mas mancava muito ao andar. Não exatamente mancava, parecia que estava trotando.

–Eddie onde estão suas muletas? –perguntei.

–Ah, tudo bem! Acho que vocês já estão prontas pra isso. –ele disse.

–Prontas para o que? –perguntou Jennifer.

Eddie então parou e virou-se de frente para nós. Ele abaixou-se e então tirou seus All Stars. Eu já estava prestes a desmaiar quando vi que ele não tinha pés, e sim cascos, mas quando ele tirou sua calça jeans e eu vi seu traseiro peludo, foi o fim.

–VOCÊ É METADE CABRITO? –eu disse com os olhos arregalados.

–Não Sophie, não. Eu não sou metade cabrito. Eu sou um sátiro! Um híbrido de homem e bode. –disse ele.

Eu e Jennifer nos entreolhamos. Tudo bem. Nosso melhor amigo nem era completamente humano. Será que podia ficar ainda mais estranho? Eu tinha um pressentimento que sim.

Seguimos Eddie em direção de uma grande casa azul e branca, como a de um resort. Parado a entrada da varanda tinha um senhor numa cadeira de rodas. Jennifer arquejou ao meu lado.

–O que foi? –perguntei.

–Era ele. Ele que eu vi na conversa do Eddie naquela névoa esquisita. O tal de Quíron. –ela disse.

Quando estávamos mais próximos olhei mais atentamente para o homem. Aparentava ter 30 anos, e tinha barba. Seu cabelo era um pouco comprido, mas não chegava aos ombros. Tinha intensos olhos castanhos que analisavam a mim e a Jennifer a cada segundo.

–Ah, Eddie! Que maravilha. Você conseguiu. –disse Quíron com um sorriso.

–Fiz o que pude senhor. –disse Eddie. Ele parecia um pouco constrangido.

–Ah, muito bem. Meninas, eu sou o diretor de atividades do Acampamento. Sejam muito bem vindas. Meu nome é Quíron. –ele disse.

–Seu nome me é familiar. –disse Jennifer estreitando os olhos enquanto observava Quíron.

–Você deve ter lido em alguns de seus livros Jennifer. –disse Quíron.

–Sim. Quíron. Instrutor de Héracles, ou Hércules, filho de Zeus. –Jennifer disse rapidamente. – Mas nas histórias antigas da mitologia grega, Quíron era um centauro e viveu a mais de 3000 anos. Você não poderia ser ele... Poderia?

Quíron olhou para Eddie e os dois trocaram um sorriso.

–Na verdade Jennifer, eu sou o mesmo Quíron a qual você se refere. –ele disse calmamente.

–Mas... Você tem 3000 anos? –Jennifer disse. – Mas como? Não me lembro de você ter sido imortalizado nas histórias.

–Eu não fui. Mas os deuses acham que meu trabalho ainda não acabou por aqui. –ele disse. –Venham por aqui. Vocês são umas das únicas que chegaram conscientes aqui. O diretor deve querer conhecer vocês.

–Diretor? Pensei que você fosse o diretor. –falei.

–Eu sou apenas um dos instrutores Sophie. O Sr. D. é o diretor do Acampamento. –Quíron disse enquanto arrastava sua cadeira de rodas em direção a uma mesa.

Nos acomodamos nas cadeiras vazias. Tinha um jogo de cartas sobre a mesa, que imediatamente identifiquei como pinoche, já que jogará algumas rodadas com meu avô.

Então um velho barrigudo, com uma blusa de estampa de leopardo e segurando uma Diet Coke se dirigiu até nós.

–Ah que maravilha, mais pirralhos pro Acampamento. Hum, vocês devem ser Sabrina – o senhor gordo disse apontando pra mim – E você Janete! -continuou ele apontando para Jennifer.

–Sabrina? Meu nome é Sophie... –eu disse irritada.

–Janete? Eu sou Jeniffer. Não tem nada haver com Janete. –disse a Jenn.

–Tanto faz... Bom, suponho que eu deva me apresentar. Eu sou Dioniso, filho de Zeus. Diretor desse Acampamento para pirralhos como vocês! –disse Sr.D.

–Tipo assim, Dioniso? O cara do vinho? –perguntou Jenn abismada.

–Cara do vinho? Passam-se milênios e eu ainda sou reconhecido com o cara do vinho? Sinceramente. –disse Sr. D. exasperado.

–Deixe isso pra lá Dioniso. –disse Quíron. –Eu quero que vocês me contem a história. Tudo o que vocês passaram nos últimos dias até chegar ao Acampamento.

Contamos da Perna de Burro e do cão infernal. Sr. D. disse que não precisava ficar ali e saiu no meio da história. Falamos sobre a acusação de roubo. Quíron e Eddie pareceram preocupados. A cada vez que acrescentávamos informações os dois trocavam olhares significativos.

–Tudo bem. Vejamos o que faremos depois. Temos que preparar o chalé de Hermes para recebê-las, já que ainda não foram reclamadas. –disse Quíron.

–Reclamadas? Chalé de Hermes?- perguntei.

–Sim Sophie. Cada deus ou deusa tem um chalé aqui no Acampamento. O seu chalé depende de que quem é seu pai ou mãe olimpiano. Existiam 12 chalés iniciais, apenas dos 12 olimpianos originais. Mas agora se tem de alguns deuses menores também. –disse Quíron apontando para um círculo de construções completamente descombinadas.

–Tudo bem. Mas e a parte de ser reclamada? –perguntou Jennifer.

–Ser reclamada é ser reconhecida por seu pai ou mãe olimpiano. –disse Eddie.

–Tudo bem. Eddie mostre o Acampamento às garotas, por favor. –disse Quíron.

Eddie nos explicou um pouco sobre a mitologia, e como os deuses gregos vieram parar nos Estados Unidos. Disse que o Olimpo na verdade agora se localiza em Nova York, no Empire State Building. Tentei imaginar como uma antiga montanha da Grécia ficava agora sobre um único prédio. Era realmente confuso. Eddie também me disse um pouco sobre cada deus e deusa. Explicou histórias sobre os olimpianos e de como, agora, os deuses menores também tinha seu lugar no Acampamento e no Olimpo.

De repente tropecei em uma rachadura. Parecia que alguém tinha tentado fechá-la, mas ela era muito extensa.

–O que aconteceu aqui?

–Foi o Nico Di Angelo, ele é filho de Hades. Ele e Percy Jackson estavam sendo atacados por soldados esqueletos, então Nico abriu o chão e mando os esqueletos pro Mundo Inferior. Foi quando descobrimos que ele é filho de Hades. -disse Eddie.

–Quem é Percy? –Perguntou Jenn.

–Aquele ali olha... –disse Eddie acenando para um garoto.

Ele era alto, tinha olho verdes e o cabelo preto. Era bem bonito. Estava com uma camisa laranja, que estava escrito Acampamento Meio-Sangue. O menino veio até nós e falou:

–Oi Eddie. Quem são essas?

–Essas são Sophie e Jennifer! Meninas, esse é Percy Jackson! –disse Eddie. – Um grande herói.

–Pare com isso Eddie. Prazer em conhecê-las meninas e bem vindas ao Acampamento Meio-Sangue. Indeterminadas Eddie?

–Sim. –disse Eddie desanimado.

Então uma luz prateada surgiu. Acima da cabeça de Jeniffer, flutuando, estava uma coruja. Então com a mesma rapidez que surgiu, a coruja desapareceu.

–Mas o que foi isso?

–Oh. Você foi reclamada Jennifer. –disse Eddie com um sorriso. –Você é do chalé 6.

–Chalé 6? O que significa? –ela perguntou ainda atordoada.

–Atena. Você é filha de Atena. Deusa da sabedoria e estratégia em guerra. –disse Eddie.

–Você está lendo isso em que placa? –perguntei. Eu não me lembrava de Eddie ser tão inteligente. Estava sempre acostumada a ver Jenn tagarelando sem parar suas nerdices, mas nunca pensei que Eddie tivesse esse lado.

–Em placa nenhuma Sophie. –ele disse me mostrando a língua.

Então chegou uma menina loira, também com a blusa do Acampamento, com olhos cinza, como os de Jennifer. Ela era bonita e segurava um notebook prateado, com um entalhe de um delta azul.

–Percy! Quíron está te chamando na casa grande. E olá Eddie, vejo que conseguiu trazer todas em segurança. –a menina sorriu pra nós. E estendeu a mão pra mim. –Olá, eu sou Annabeth.

–Hã, olá. –eu a cumprimentei e apertei sua mão. –Sou Sophie.

Annabeth apertou a mão de Jennifer que também se apresentou.

–Já foram determinadas? –Annabeth perguntou.

–Ah, Jenn aqui sim. Ela é sua irmã Annabeth. E Sophie, ainda estamos esperando o contato com o pai dela. –disse Eddie.

–Ah, sim! Jennifer venha! Vou lhe apresentar para os outros campistas do chalé seis. –disse Annabeth. –E Sophie não se preocupe. Tenho certeza que seu pai logo fará contato. -E então ela se afastou, levando Jennifer.

–Eu vou ver o que Quíron quer. Foi um prazer conhecê-las. –disse Percy enquanto se afastava.

Eu, como não tinha sido reclamada ainda, fui com o Eddie. Ele me mostrou os campos, a plantação de morangos, os chalés, uma parede de escalada com lava que eu não via a hora de praticar, esgrima. Enfim o Acampamento era o lugar dos sonhos.

Na hora do jantar, fomos para o pavilhão. E depois ficamos sentados ao redor da fogueira, enquanto os filhos de Apolo cantavam com suas liras e violões. Vi a Jenn com Annabeth e outros adolescentes de olhos cinza. Eles mantinham uma expressão séria, e nunca vi Jenn tão à vontade. Agora ela tinha com quem conversar sobre matemática e ângulos agudos ou obtusos.

Então a cantoria acabou e fomos dispensados. Estava tão distraída que sem querer tropecei no pé de uma menina e quase cai. A garota tinha o cabelo castanho preso por num rabo de cavalo por uma bandana vermelha, e tinha a expressão cruel.

–Olha por onde anda estranha. –disse ela.

–Olha você onde coloca o pé garota. –disse com raiva.

–Você sabe com quem está falando novata?-disse à menina

–Não! E nem quero saber! Agora sai da minha frente que eu tenho mais o que fazer. – eu disse ainda mais nervosa.

Ela me empurrou e eu cai no chão. Ela ficou rindo e eu fiquei tão vermelha de vergonha e raiva que levantei do chão rapidamente. Eu estava com tanto raiva que minha visão estava meio embaçada. Eu cerrei meus punhos e então o chão começou a tremer, e depois começou a rachar. Todos gritavam e corriam de um lado para o outro. Um menino com uma cicatriz abaixo do olho esquerdo, o conselheiro do chalé 11, segurou meus ombros e disse:

–Ei, calma... Não precisa disso! A Clarisse é realmente irritante, mais calma!

Eu me acalmei aos poucos, o chão parou de tremer e a rachadura parou de se abrir. Então uma luz surgiu, assim como havia acontecido com Jennifer, mas ao invés da coruja prateada, uma caveira negra com dois ossos cruzados pairava sobre minha cabeça.

–Sophie você é filha de... Hades! O Deus dos Mortos e Senhor do Submundo. Um dos Três Grandes. –disse Eddie apavorado.

Todos ao redor pareciam muito surpresos, alguns até se afastaram como se de repente eu tivesse uma doença contagiosa.

Eu era filha de Hades, o deus dos mortos.