É como um quadro. E ela está ali, tão bem incrustada em minha mente que embaça minha visão da realidade. Perfeitamente emoldurada em meu mundo de fantasia, que jamais terei de volta. É doloroso estar tão distante, mas simplesmente não posso parar de assistir.

Ela estende sua mão sorrindo graciosamente, convidando-me a segui-la.

Não faça isso. Deixe-me aqui. É mais fácil partir se me deixar primeiro.

Tínhamos uma paixão tão intensa que não poderia ser compreendida (e, na verdade, nunca o foi), apenas sentida. No arrepio a correr pela espinha, no disparar do coração; tão intensa que chega a assustar. Um coração suporta tamanha paixão? Eu não sei. Fugi antes que pudesse experimentar a sensação de ter o peito inflado com a dor, essa coisa plagiada, desmentida e reinventada tantas e tantas vezes, mas que se trata de um único sentimento imortal: amor.

Apenas a lembrança daquele tempo é capaz de me fazer sorrir.

As cores do meu quadro mental se embaçam e brilham; expandem-se, giram, libertam-se, dançam livremente. Um sonho tão vívido quanto à realidade. Mas o que é a realidade? Ela é real.

Eu quero estar lá. Lançar-me à imensidão colorida e misturar-me ao caleidoscópio de sonhos borrados. Já não posso vê-la devido ao carnaval de cores, mas ela está esperando por mim, eu sei. Eu quero tê-la! Onde eu possa tocá-la e sentir que é real e não fruto de um delírio efêmero.

Estendo meu braço em direção ao nada, almejando tudo.

Então ela segura minha mão e me aperta contra si, mergulhando-nos no oceano colorido. Ouço seu coração retumbar com força. Minhas mãos percorrem seu corpo, sentindo-o, comprovando sua presença irreal. Ela me prende tão intensamente que quase não posso respirar. Também senti sua falta, meu amor.

Qualquer sentimento que outrora nos trouxe problemas, medo, insegurança parece ter evaporado quando o calor dos corpos juntos aumentou a temperatura ao redor. Se um dia tivemos medo de estarmos juntas, esse dia foi-se embora como se vão às ondas. Eles irão voltar, uma hora. Mas nenhum vai ser tão inesperado como o primeiro, podemos lidar com isso. Se estivermos juntas. Eu sei.

É tão utópico! Mas que lei impede os casais de sonharem?

Olhamo-nos. Seus olhos lampejam carinho. Estou chorando por algum motivo, a felicidade escorrendo por meus olhos. Aperto-a em meus braços e me deixo afundar no turbilhão de sensações: a paz mesclada à euforia de voltar àquele quadro, meu mundo. O lugar de onde nunca deveria ter saído e do qual jamais me afastarei.

Porque ela é meu mundo.