Ao que parecia, a tinta foi tão permanente quanto seu remorso.

Você pediu desculpas baixinho como se estivesse com medo de me olhar encolhida num canto do quarto. Eu não sabia como olhar para você. Eu queria dizer que estava tudo bem. E que eu já havia feito coisas muito piores para que eu tivesse sequer a capacidade de pensar em te condenar pelos teus atos. Mas eu não conseguia levantar a cabeça. Meu corpo estava doido, e meus braços tremiam. Estava tudo bem, Charles, eu juro. Você só precisava me abraçar como sempre fazia. Mas você tentou se aproximar, e eu me encolhi. Eu queria ser pequena para que só sobrasse espaço para o amor. Mas você foi embora. Não tentou me abraçar, conversar comigo ou me chantagear com chá e alguma bebida alcoólica. Você só abriu a porta, e se foi. Não disse nada, e deixou que a batida da porta falasse por você. Era um “adeus”, Charles? Porque no modo ensurdecedor que a porta se fechou lentamente, pareceu. Era como subtrair todas as frases confusas ditas por você. “Você está sozinha, Dominika. Você pode morrer, mas ainda está viva. Eu também posso morrer. Mas farei isso longe de você, e espero que faça o mesmo.”

Quando você escreveu isso, Charles? Quando eu estava desmaiada no hospital, ou no chão do nosso meu banheiro? Não eram garranchos charmosos como você sempre escrevia. Eram letras cursivas que pareciam carregadas com o seu sotaque inglês, e manchadas com minhas lágrimas que na verdade não caiam. Eu estava sozinha. Na minha mente, eu sempre estive. Mas a verdadeira solidão era muito mais aterrorizante.

Dominika Barllet