Charles, eu continuo a escrever cartas que não serão entregues para você. Os papéis marcados pela xícara de chá. Os rabiscos de uma mão tremida. Borrões e erros de gramática apagados com lágrimas.

Eu conheci alguém ontem, Charles, e eu consegui te esquecer por cinco minutos, ou menos. Emma que-eu-não-sei-o-sobrenome, chegou devagarzinho com o clichê do "você tem fogo?", e eu não pude deixar de sorrir ao encara-la. Os cabelos longos e negros com uma franja reta-não-completamente-reta, o sorriso bobo nos lábios, e os olhos amendoados e molhados. Ela estava chorando e tinha um lado do rosto vermelho. Usava um vestido preto e nada mais para protege-la do frio da noite. Senti vontade de abraça-la quando eu disse "tenho fogo, e uma blusa de frio sobressalente caso precise", porque ela chorou, Charles.

E eu vi que ela estava tão quebrada quanto eu.

A conduzi até o meu nosso apartamento, e ela me preencheu por uma noite. Me deu carinho, beijos, e orgasmos. Isso é tão errado, não é? Porque ela dava risada toda vez que eu chamava o teu nome, e não estava nem ai para esconder os cigarros que fumava. O corpo dela tinha tantas marcas roxas que parecia comigo. Parecia que era minha aquela dor.

"Domi, desculpe-me sair assim. Você já está quebrada demais, não precisa de mais uma rachadura na sua vida. Obrigada pela noite.
Emma."

Emma foi embora tão rápido quanto surgiu na minha vida. A sanidade dela era muito maior do que qualquer problema para se manter comigo. E eu senti a falta dela, e sua. Porque eu olhei para o lado da cama, e ela estava vazia.

As paredes estavam vazias. Meu corpo era rabiscado por hematomas e cicatrizes.

Mas meu peito estava vazio.