Em Família escrita por Aline Herondale


Capítulo 25
Carmesim e Alabastro


Notas iniciais do capítulo

Um grande obrigado à Karen Phantom pela ma ra vi lho sa recomendação! Assim como a da Giulianna Valadares. Muito obrigado mores.
Estava de férias, por isso da minha sumida.
Música que me inspirou: https://www.youtube.com/watch?v=Ai5giAL_b3A
Espero que gostem!



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Evie tremia bastante. Seus ombros balançavam e seu peito subia e descia constantemente. Ela olhava para o garoto – morto – mas, na verdade, não enxergava nada. Não conseguia enxergar nada. Sua visão estava turva e desfocada, como a de uma míope. Ela só tremia.

Estava em choque.

Charlie percebeu isso, e mesmo gostando muito da cena sangrenta que via, empurrou delicadamente Evie pelas costas, guiando-a de volta para dentro do prédio da escola.

Assim que encontraram um banco ele a colocou sentada e observou seu estado.

Seu cabelo estava bastante bagunçado – apesar dele acreditar que isso a deixava com um ar mais sexy –, seu vestido amassado e sujo. As mãos dela estavam manchadas de sangue assim como suas bochechas. Charlie tornou a abraçar suas costas e apertou de forma sutil a cintura da menina à fim de garantir que ela não caísse, caso suas pernas viesse fraquejar e a ajudou a andar e tornaram a andar. Ela não podia ficar assim, não lhe era digno.

Charlie escolheu os corredores mais vazios para chegar à enfermaria.

Levaram um tempo maior do que ele previa e Charlie começou a ponderar quando Lena iria sentir sua falta e ir à sua procura. Assim que Evie terminou seu solo ele disse à ruiva que procuraria por um banheiro, mas, estava óbvio, que tinha ido atrás de sua sobrinha.

Evie tropeçava nos próprios pés e saia com dificuldades do lugar e quando se sentou na maca, começou a derramar lágrimas involuntariamente.

No primeiro momento Charlie não percebeu mas quando olhou para a menina, parou no lugar. Charlie encontrou um pacote de algodões e encheu a mão.

Evie não conseguia pensar em nada, não conseguir fazer nada. Seu corpo parecia ter se desprendido de si, e, agora, estava sem vida. Seus pensamentos estavam a mil, mas ela mal conseguia levantar as mãos. Com os ombros caídos e os olhos fixos em qualquer coisa ela viu Charlie se movimentar, se aproximando perigosamente.

Ele se colocou entre suas pernas e levantou vagarosamente seu rosto com uma das mãos.

Evie não esperava menos porém não esperava encontrar seu rosto tão sereno...e tranqüilo. Ele parecia quase satisfeito.

Com a outra mão Charlie começou a limpar as lágrimas da menina com os algodões que havia pego.Depois embebedou no soro encontrado no armário e começou a limpar seu rosto, tirando qualquer vestígio de sangue.

A delicadeza e cuidado com que ele fazia cada movimento, Evie comparou como se ele estivesse limpando uma taça de cristal e não seu rosto.

Ela não pode evitar.

A menina fitou os olhos do seu tio e a todo momento manteve os seus bem abertos, estudando e observando os contorno do rosto daquele homem que a cuidava. Por vários segundos eles ficaram apenas ali, se encarando até que o cansaço foi maior e suas pálpebras se fecharam, deixando-se ser embalada pelos toques sutis e gentis de Charlie.

Ela não viu o sorriso de canto que Charlie exibiu.

– Vamos acorde. – Escutei alguém dizer ao longe. – Evie...Evie, acorde. Você tem que acordar. – E com um sutil tapinha no rosto eu apertei meus olhos e os abri de uma vez.

Charlie me encarava de perto. No primeiro momento estranhei o ângulo em que ele estava mas, com o passar dos segundos, senti que meu corpo estava em um ângulo estranho, e percebi que estava escorada em algo.

Rolei os olhos e...uma parede.

Franzi o cenho e corri os olhos para longe, à minha volta, e não reconheci o lugar. Tudo estava engolido pelas sombras, com míseros feixes de luz entrando por frestas com o local tomado por caixas.

Franzi o cenho e levei uma mão à minha cabeça. Estiquei os joelhos e tentei ficar de pé mas minhas pernas falharam e Charlie precisou me firmar para não cair.

Droga de pernas magras.

– Você está bem? – Ele perguntou sobre minha cabeça. Senti o sopro da sua voz bater nos meus cabelos, próximos dos meus ouvidos.

Concordei com a cabeça.

Arrepiei e me afastei, tomando o cuidado de não encarar meus tios nos olhos. A mera lembrança dos nossos longos segundos nos encarando – minutos mais cedo – fez meu corpo arder em vergonha. Como eu pudera ter os famosos “vinte segundos de coragem” em momento mais inapropriado?

Involuntariamente levei uma mão sobre minha boca e apertei os olhos. Charlie presumiu que eu estivesse passando mal e disse que traria um copo dá’agua para mim.

Novamente calado apenas concordei com a cabeça e ele tomou o cuidado de pedir para eu esperar por ele ali – eu sequer sabia aonde era ali –.

Minha cabeça ainda doía e eu estava ligeiramente enjoada. Sabia o motivo – óbvio que sabia –, só me esforçava para não pensar sobre ele.

Eu só precisava de uma distração. Porém, não uma que tivesse olhos azuis tão indecentes e um sorriso de canto irritantemente belo.

E de repente um estrondo chamou minha atenção para a porta daquele recinto. Uma silhueta escura estava parada na entrada, com toda a iluminação externa escondendo seu rosto.

Protegi o rosto com uma das mãos.

Eu não conseguia enxergar nada mas escutei os sapatos envernizados daquela pessoa caminhar para perto de mim.

Engoli seco.

– Achei você. – Disse uma voz que eu conhecia bem. Tirei minha mão de frente do rosto e encarei Waylon Holt com seus cachos chocolates. Ele arfava e havia tirado o paletó e arregaçado a manga da sua camisa preta.

– O que está fazendo aqui? – Ele me questionou olhando em volta, provavelmente tão perdido quanto eu.

Eu poderia ter lhe feito a mesma pergunta mas me preocupei em também descobri aonde estava, sem sucesso. Dei de ombros e isso pareceu satisfazê-lo.

Waylon Holt se sentiu à vontade o suficiente para colocar o paletó sobre a caixa mais próxima e subir na caixa em que eu estava para se sentar ao meu lado. Ele suspirou e cruzou as mãos.

– Fez uma bela apresentação hoje. – Ele começou. – Mas já sabíamos que você ia se sair bem, certo?

Não respondi. Mentalmente implorava para que Charlie chegasse logo.

– O Senhor Martins te falou que estou estudando para ser regente? Na universidade de Boston?

Novamente não respondi e ele entendeu que estava conversando sozinho.

– Bem, sim, estou. Vai fazer três anos e sabe de uma coisa? Em todo esse tempo eu nunca havia encontrado alguém que toca tão bem como você. Sua técnica é perfeita. – Ele tagarelou. Waylon jogou o corpo para frente e apoiou o tronco com os braços, à fim de encontrar meu rosto.

Fui obrigada a agradecer.

– E nem tão linda.

Levei um susto e o encarei. Nunca imaginei que ele diria algo com aquilo ainda mais para mim. Seus olhos estavam ainda mais negros e pareciam vislumbrados, mas também famintos. E com aquelas palavras Waylon levantou uma mão e pegou meu rosto, fazendo um carinho na minha bochecha.

Talvez fosse minha pressão ainda baixa ou eu ainda estava em choque, mas não consegui bater na sua mão, como queria. Mais uma vez apenas me mantive imóvel, encarando os olhos daquele homem.

E só foi quando escutei alguém chamar meu nome ao longe que o empurrei para trás e cai da caixa. Gritei de dor.

– Evie?! – Duas vozes masculinas gritaram. Levantei o olhar e encontrei Charlie parado a poucos metros de mim olhando, provavelmente, para o Senhor Holt, ao meu lado.

Por alguns segundos todos nós ficamos em silêncio, com Charlie revezando seu olhar sobre mim e Waylon Holt. Me senti extremamente incomodada e um tanto revoltante, afinal, não estava fazendo nada de errado. Não havia pedido para ninguém ir atrás de mim. No entanto ali estavam dois homens enfurecidos pela presença um do outro. Eu quase sentia o cheiro de testosterona no ar.

Me esforcei em ficar de pé sozinha e em algum momento Holt segurou meu cotovelo e me ajudou a firmar os pés.

Charlie protestou de forma quase inaudível. Quase.

– E quem seria você? – Meu instrutor perguntou.

– Charlie.

– Claro. – Debochou, rindo. – E o que quer?

– Evie está comigo. Fui buscar água para ela. – Meu tio levantou o copo que segurava com uma das mãos e se aproximou dois passos. Mas Holt me puxou para trás da mesma forma.

– Ei!

– Evie vai comigo para Boston, não importa o que diga! – De repente Holt disse de forma desesperada, aumentando o tom de voz.

– O que?

– O que?! Eu não disse nada disso! – Nesse momento tento soltar meu braço mas Holt o agarra com mais força e me puxa para perto de si, fazendo Charlie soltar o copo que segurava para deferir um soco no rosto do meu mentor. Tudo acontece em frações de segundos.

Waylon Holt cai para o lado e o escuto tossir.

Charlie se agacha e me ajuda a levantar. Aperta seus dedos contra a curva da minha fina cintura e quando conseguimos dar dois passos alguém puxa meu tio pelo paletó e lhe dá um soco no estômago. Charlie cai de joelhos no chão.

– Venha cá! – Waylon diz enfurecido e tenta agarrar a parte do meu corpo mais próxima mas eu forço meus pés a andar. Infelizmente logo ele está me alcançando e me agarra pela cintura, me jogando sobre uma caixa retangular. – Você vai comigo. Eu preciso de você! – Ele grita e eu tento tirar seu corpo de sobre mim.

E de alguma forma consigo chutá-lo num local sensível. Era tudo o que eu precisava para aparecer a oportunidade de escapar, que quase acontece quando meu instrutor me puxa pelos cabelos e eu solto um grito agudo.

Levo minhas mãos para meu coro cabeludo. A dor é dilacerante.

Charlie aparece mais uma vez na minha visão que começa a ficar turva novamente. Ele soca Waylon outras duas vezes, que finalmente solta meus cabelos.

Estou irada de raiva. Estou cansada desse professor me seguindo pelos corredores da escola, insinuando coisas e me forçando a fazer coisas que não quero. E quando o vejo, parado, com nariz e bochecha manchados em sangue não penso duas vezes e o empurro sobre um enorme monte de madeiras atrás de si.

Ele cai facilmente.

Mas, impressionantemente, começa a rir. E aquilo me deixa mais irada ainda.

Charlie fica ao meu lado, arrumando o cabelo e depois ajeita seu paletó sobre seus ombros. Olho para ele. Por longos segundos meu tio me ignora, imerso nos próprios pensamentos, mas depois leva seus olhos de encontro aos meus. E eu vejo uma tempestade cinzenta.

Torno a olhar para meu instrutor que revela dentes ensaguentados e nariz deslocado. Sua risada ecoa e ocupa todo o recinto onde estamos.

Sinto mais nojo ainda.

Inconscientemente levanto minhas mãos e empurro o enorme vaso azul com detalhes pretos que está sobre a caixa do meu lado. E assisto o objeto cair pesadamente sobre a cabeça e corpo do meu instrutor e de repente...ele para de rir e tudo se torna silencioso novamente.

Sorrio.


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Notas finais do capítulo

O que acharam??
XOXO



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