- Merda! – Aomine praguejou enquanto fechava o celular e voltava a guardá-lo no bolso da calça. Havia ligado para Kagami e a chamada havia caído na caixa postal. De novo.

Fazia quase uma semana que o ruivo estava fazendo birra – segundo o moreno, claro – simplesmente não atendia às suas ligações e sequer havia aberto a porta quando o mais alto fora até seu apartamento. Bufou irritado. Se soubesse a merda que ia dar, teria mantido sua enorme boca fechada!

- O que é isso? – arqueou levemente uma sobrancelha quando o ruivo lhe entregou um embrulho azul-claro com um belo laço verde-folha encima.

- O que você acha que é, idiota? – retrucou no mesmo tom de sempre, mas era possível perceber um leve rubor em suas bochechas.

Aomine, ainda confuso, desfez o laço e abriu o embrulho, encontrando pequenos chocolates em formato de bolas de basquete. A ficha finalmente caiu e ele se lembrou que Momoi o havia enchido o saco falando sobre os chocolates que havia feito para Kuroko. Era dia dos namorados. Um sorriso malicioso brotou em seus lábios enquanto ele fitava o ruivo.

- Não me diga que passou a noite toda fazendo esses chocolates pra mim?

- É claro que não! – respondeu rápido demais com o rosto ainda mais vermelho do que antes.

Aomine não agüentou e começou a gargalhar.

- O que você é, Taiga? Uma garota? – voltou a rir – Que ridículo... Você está parecendo a Satsuki!

O moreno gargalhou tanto que sua barriga começou a doer e ele sequer notou o olhar magoado do ruivo se tornar irritado antes de ser praticamente chutado para fora do apartamento de Kagami.

- Eu não sou uma garota! Mas você, definitivamente, é um idiota! – o ruivo rosnou e em seguida bateu a porta com força na sua cara, não o deixando nem ficar com os chocolates que havia ganhado.

Na hora Aomine não deu muita importância , simplesmente foi embora pra sua casa, achou que no dia seguinte tudo estaria normal, afinal, não era a primeira vez que “brigavam” e além disso, Kagami não deveria ter ficado tão “irritadinho”, eles nem eram namorados! Bom, pelo menos Aomine não achava que fossem. Tudo bem que sempre que tinham uma oportunidade de se verem eles se encontravam, e quando não estavam jogando basquete em uma quadra qualquer ou então lanchando juntos no Maji Burguer, estavam se agarrando em seu quarto ou então no apartamento do ruivo, e isso já durava quase cinco meses. Mas não era um namoro. Era?

Nunca houve uma conversa propriamente dita à respeito daquele relacionamento, em uma tarde eles estavam jogando um contra o outro e de repente começou a chover, continuaram jogando e em dado momento, Kagami escorregou por causa da água no chão e caiu, levando o outro consigo por estarem muito perto na hora. Os lábios acabaram se tocando sem querer, deixando ambos paralisados pelo choque, mas ainda bastante próximos. As respirações quentes se misturavam e não se soube ao certo quem tomou a iniciativa, mas no instante seguinte os lábios voltaram a se encontrar e o restante da tarde – e a noite – foi passada no apartamento do ruivo, entre beijos, ofegos e gemidos. Desde então eles estavam juntos e Aomine não havia saído com mais ninguém nesse período, Kagami também não.

Aquilo definitivamente era um namoro! E o ruivo definitivamente havia ficado magoado consigo! Droga! Tinha que pensar em uma maneira de concertar as coisas com Kagami e tinha que ser logo. Uma semana inteira sem sequer dar uns amassos no ruivo, não havia sido nem um pouco divertido!

***

- Dai-chan!

O moreno ignorou o chamado da amiga de infância e continuou deitado no telhado do colégio, seus olhos estavam fechados e as mãos entrelaçadas embaixo da cabeça.

- Dai-chan! – a garota subiu até onde ele estava e inflou as bochechas, em uma expressão irritada – Eu estou falando com você!

- Vá embora, Satsuki. – disse simplesmente, ainda na mesma posição.

- Você faltou de novo ao treino! O que aconteceu?

- Não aconteceu nada.

- É claro que aconteceu! Fazia meses que você não faltava mais ao treino e só nessa semana essa já é a segunda vez. – franziu um pouco as sobrancelhas – E aliás, você está um pouco estranho essa semana. O que foi? Kagamin te deu um fora?

Momoi havia ficado à par do relacionamento deles, cerca de três semanas depois de a primeira vez que ficaram juntos. Se dependesse da boa vontade de Aomine em contar, ela nunca teria ficado sabendo, mas como ela era uma grande intrometida... simplesmente havia invadido sua casa num fim de semana em que seus pais haviam ido visitar sua avó que morava em outra cidade e só voltariam no domingo à noite, e os pegou em uma situação digamos... bastante comprometedora. Não que aquilo fosse realmente um segredo, eles só não iriam sair por aí contando para Deus e o mundo, afinal, ninguém precisava saber da vida particular deles. E Aomine preferia mesmo que ninguém soubesse, não que ele visse problemas no fato de os dois serem homens, bom, na verdade havia sim um problema, dois pra ser mais exato, dois enormes peitos que Kagami não possuía. Mas fazer o quê, não se pode ter tudo na vida, não é? O fato é que ele preferia que Momoi não soubesse, ou que pelo menos não ficasse lhe enchendo o saco a todo instante, querendo saber detalhes sobre o relacionamento deles.

- É claro que aquele idiota não me deu um fora! – Eu espero que não – Ele só está fazendo drama por causa de uma bobagem. – finalmente abriu os olhos e passou a encarar as poucas nuvens que haviam no céu.

- Aposto que não foi nenhuma bobagem! O que você fez, Dai-chan? – cruzou os braços, deixando bem claro que não sairia dali enquanto não obtivesse uma resposta.

Aomine bufou irritado e se sentou antes de começar a contar o que havia acontecido na semana anterior.

- Dai-chan! – a garota parecia horrorizada – Como pôde ser tão insensível, seu idiota?! – sua expressão mudou de horrorizada para irritada quando ela pôs as duas mãos na cintura – Kagamin deve ter ficado magoado! O que pretende fazer pra se desculpar?

Aomine fez uma careta.

- Eu não sei. Vim aqui justamente pra tentar pensar em alguma coisa.

- Não se preocupe, Dai-chan! Eu vou te ajudar a ter o Kagamin de volta! – piscou e sorriu para o amigo.

Aomine não sabia se seria uma boa aceitar idéias ou conselhos amorosos de Satsuki, visto que ela não havia conseguido nada com Kuroko, mesmo depois de anos tentando conquistá-lo, mas como ele não tinha a menor idéia do que fazer... Só esperava não se arrepender depois.

***

Definitivamente aquela era uma péssima idéia! Soube disso no instante em que a ouviu, mas a amiga insistiu bastante, dizendo que daria certo. Suspirou e olhou as horas pela terceira vez nos últimos cinco minutos. Será que ele não vem? Havia mandado uma mensagem para Kagami – já que ele não atendia suas ligações – pedindo que ele viesse até a quadra onde sempre jogavam, às quatro e meia da tarde e já havia passado – e muito – das cinco. Se fosse Aomine quem estivesse atrasado, aquilo seria completamente normal, mas Kagami era pontual e sempre avisava quando iria se atrasar. Droga! É bom que você apareça nos próximos dez minutos, Bakagami! Era até irônico, mas o rei dos atrasos, simplesmente detestava esperar!

Mais meia hora se passou e nada do ruivo aparecer. Ele não vem. O sol havia se posto já há alguns minutos e as ruas estavam iluminadas pelas luzes dos postes. Expirou pesadamente o ar para fora de seus pulmões e enfiou as mãos nos bolsos da calça, deu uma última olhada no céu, onde uma lua brilhante já se fazia presente e virou-se para deixar a quadra.Não pode evitar ficar agradavelmente surpreso ao ver o ruivo, apoiando as mãos nos joelhos e bastante ofegante. Pelo visto Kagami havia corrido para chegar até ali.

- A técnica... fez a gente treinar o triplo hoje. – disse entre ofegos. Precisou de alguns minutos para recuperar o fôlego e entrar na quadra, parando a alguns passos de distância de Aomine – Então? O que quer comigo?

Aomine franziu um pouco as sobrancelhas e comprimiu os lábios, Kagami ainda parecia estar bravo consigo. Bom, era agora ou nunca! Afundou um pouco mais a mão no bolso e retirou de lá um pequeno embrulho retangular verde-escuro com um pequeno laço de fita prateada em volta e o estendeu ao ruivo.

- Isso é pra você.

Kagami arqueou uma sobrancelha, mas aceitou, desfez o pequeno laço e abriu a o embrulho, encontrando alguns quadradinhos simples feitos de chocolate. Olhou do doce para o moreno, que parecia estranhamente sem jeito e seus olhos se arregalaram em surpresa.

- Não me diga que foi você quem os fez?!

Aomine fez uma careta antes de confirmar.

- É. Satsuki me ajudou, mas fui eu quem fiz.

Kagami imaginou a cena, o grande Aomine Daiki de avental e colher de pau na mão em uma cozinha preparando aqueles chocolates. Foi inevitável, Kagami começou a rir com aquela imagem que sua mente havia criado, o moreno devia ter xingado e amaldiçoado a tudo e a todos enquanto fazia aquilo. Aomine Daiki fazendo chocolates para si, era algo que definitivamente gostaria de ter visto!

- Não ria, idiota! Eu me queimei várias vezes fazendo isso, sabia?! – resmungou irritado. Depois de todo o trabalho que havia tido, Kagami simplesmente ia ficar rindo da sua cara?

- Não me diga?! – o ruivo falou com sarcasmo – Não é nada divertido ter o trabalho de fazer algo especial para alguém e essa pessoa simplesmente rir na sua cara, não é?

Aomine teve a decência de ficar envergonhado.

- Me desculpe. – baixou o olhar, encarando uma pequena falha no chão da quadra – Eu agi como um idiota e acabei falando merda.

- Você é um idiota e sempre fala merda, Ahomine!

Aomine ia retrucar, mas quando ergueu os olhos e fitou o ruivo, viu um pequeno sorriso brotar em seus lábios antes de ele pegar um dos quadradinhos de chocolate e levar à boca.

- Estão bons?

O ruivo fez uma careta ao engolir o doce.

- Uma grande porcaria.

- Não podem estar tão ruins! – falou quase indignado, afinal, suas habilidades culinárias estavam em jogo.

- Experimente então. – estendeu a caixinha em direção ao moreno para que ele pegasse um chocolate.

- É, está mesmo uma grande porcaria. – constatou depois de comer um pedaço daquilo que deveria ter gosto de chocolate e definitivamente não tinha.

- Eu disse. – sorriu, divertido e guardou seus “chocolates” na bolsa.

- Érr... Nós estamos bem agora? – perguntou incerto.

O ruivo se aproximou um pouco mais e puxou-o pela nuca, selando seus lábios em um beijo calmo e envolvente.

- Sim, nós estamos bem.

Kagami sorriu ao sentir-se puxado bruscamente pela cintura e os lábios finos e quentes de Aomine voltarem a pressionar os seus, num beijo que era um misto de saudade e desejo. O ruivo sabia que mais cedo ou mais tarde, o moreno acabaria fazendo alguma outra merda, mas fazer o quê, afinal, quem mandou ser idiota o suficiente para se apaixonar por aquele outro idiota?