Reyna já terminava a maquiagem, mas a verdade é que não acreditava no que estava prestes a fazer. Como assim estava se arrumando para um encontro com aquele palhaço hiperativo que fazia questão de lhe tirar a paciência todos os dias somente pelo fato de respirar?

Realmente não sabia.

Não se sentia mal por ele ser um idiota ou porque havia jurado jamais ceder às investidas dele a menos que uma enchente acabasse com toda a vida no deserto do Saara. Não, não era isso. Sentia-se mal por ela mesma. Estava usando-o e isso era o que a deixava mais decepcionada.

Ora, ora... Reyna Avila Ramírez-Arellano não era assim tão sem coração, no fim das contas. Sabia que Leo nutria sentimentos por ela desde antes de ela sequer pensar em namorar Jason Grace. O mesmo que, por um acaso era o melhor amigo de Valdez. E era exatamente por isso que escolheu o garoto... Caso contrário, preferia sair com o tarado da machadinha.

Ou talvez um morador de rua que tivesse pelo menos três dentes dentro da boca.

− Ual maninha! – Disse Hylla quando viu a morena entrar na sala. – Até tinha esquecido como você ficava fora de um moletom! – Riu debochadamente. – Reatou com o loirinho metrossexual?

Reyna ignorou seus pensamentos homicidas e limitou-se a sentar no sofá.

− Pelo menos o meu problema é temporário e limita-se a um moletom... – Disse amarga – Agora quando se trata de intromissões e comentários desnecessários, o buraco é mais fundo...

− Delicada e doce como uma cocada de limão. – Retrucou Hylla. A verdade é que era bom ver que sua irmã estava de volta ao seu humor negro e sarcasmo. Desde o fim do relacionamento mal saía do quarto e ouvia a mesma playlist horrível por todo o tempo que passava acordada. – Posso saber quem é o garoto?

Ding Dong

Elas se entreolharam. Reyna ficou parada como se a irmã fosse um animal selvagem que atacaria a qualquer movimento seu. E Hylla correu, pulando todos os obstáculos: mesa de centro, sofá, degrau, balcão... Não poderia deixar de conhecer o novo pretendente da irmã, que estava perdendo a corrida por causa dos saltos e a saia que usava.

− Boa noit... VALDEZ? – Ela tentou se controlar. Inutilmente. O fato era que ver Leo Valdez indo buscar sua irmã para um encontro era algo que só imaginava em um universo paralelo anos luz dali.

− Boa noite, cunhada! – pegou-lhe e beijou-lhe a mão. – Eu sei que pareço extremamente lindo hoje, mas cuidado com a histeria... Sua irmã pode ficar com ciúmes. – Ele piscou pra finalizar e finalmente notou Reyna alguns passos atrás da irmã. – Pronta para a melhor noite da sua vida, ángel?

Reyna revirou os olhos, vestindo o casaco. Será que ele nunca ia parar? Ela se aproximou da saída e ele estendeu-lhe o lírio que carregava. Ela ignorou o gesto e passou direto sem ao menos se despedir da irmã. Ele então deu de ombros e desviou a flor, dando-a para Hylla, que sorriu maneando a cabeça.

− Boa sorte, Leo... – Ela disse. - Tente fazer com que ela tenha alguma diversão.
Leo sorriu. Era tudo o que ele queria. Mas como atravessar toda aquela muralha de indiferença e sarcasmo? Passara anos de sua vida tentando, mas ela simplesmente o odiava mais a cada vez que ele tentava conversar com ela. Mas tudo bem, tornava tudo mais interessante, mesmo que já tivesse a ponto de desistir. Jurou que seria a última tentativa. A mensagem de texto número 600. Se não conseguisse, pararia de tentar... Estava ficando sem ideias e aquela era sexagésima forma que inventara para chama-la para sair nos últimos três anos.

E não, não desistira quando ela namorava Jason. Porque antes de namorar com ele, Leo havia prometido convidá-la pra sair em todos os fins de semana e feriados até que ela aceitasse. Jason achava graça.

“Rosas são vermelhas, violetas são azuis... Saia comigo hoje e te mostrarei como um Valdez seduz! – Leo”

Alguns chamaria de sorte, mas Leo era otimista demais para isso. Só poderia ser o destino! Relera a resposta mais vezes do que pôde contar e ainda pediu para que Nyssa ligasse para saber se o celular de Reyna não havia sido roubado. E não havia. Era ela. Finalmente havia aceitado sair com ele! E ele ficou sem reação... Planejara tudo em sua mente muitas vezes, mas agora que era pra valer, nada parecia o suficiente.

Com a felicidade que sentiu em receber uma resposta dela, quem visse de fora acreditaria que ela se declarara e ainda jurara amor eterno. Mas tudo o que continha na resposta era um simples e direto:

“20:00. Em ponto.”

Entraram no carro moderno e muito extravagante, na opinião de Reyna. Leo sabia de tudo o que a morena passara nos últimos tempos e tomaria o máximo de cuidado para não fazer com que ela se sentisse pior do que já se sentia. Tentaria acima de tudo seguir o conselho de Hylla, ele queria que ela se divertisse.

E era isso que estava disposto a fazer. Porque essa chance ele não teria novamente.
(...)

− E então, o que quer fazer primeiro? – Perguntou Leo animadamente quebrando o silêncio que se estabelecera durante todo o percurso.

− Tanto faz. – Respondeu secamente.

− Okay, então. – Leo suspirou. Não seria fácil, mas não desistiria. – Então eu vou te levar até um beco escuro, te matar, tirar proveito de você e te desovar em algum rio quando terminar.
Ela o encarou pela primeira vez na noite.

− Quer dizer que além de chato, você pratica necrofilia? – Ela perguntou sem emoção, alfinetando.

Leo sorriu perversamente.

− Eu quis dizer que tiraria alguns de seus órgãos e venderia no Mercado Livre. –Pararam no sinal. – Mas a sua ideia é muito melhor.

Ela revirou os olhos mais uma vez. Deveria ter ficado em casa. Passa todos esses dias isoladas e pra quê? Sair com a pessoa mais detestável do mundo na primeira oportunidade?

− Cinema? – Perguntou Leo. – Eu poderia tentar passar meu braço sobre os seus ombros e tocar sua mão quando fosse pegar a pipoca...

− Cinema. – Ela disse. – É um ótimo lugar... Pelo menos lá você vai ficar calado.
Finalmente ela estava sendo Reyna de novo. Leo não pôde deixar de sorrir.

− Menos conversa, mais ação... Está me surpreendendo, ángel. – Brincou, ouvindo-a bufar em seguida.

− Tanto faz, Valdez. Eu realmente não me importo. Já estou saindo com você mesmo, o que poderia ser pior?

Leo não desviou os olhos da rua. Então era isso mesmo. Ele passara o dia inteiro tentando afastar aqueles pensamentos e ser o mais otimista possível, mas a verdade é que ele sabia. No fundo ele sabia que Reyna só aceitara sei convite pra tentar de algum modo atingir Jason, que agora estava com Piper. A mesma que, por um acaso, é a ex de Leo.

Mudou a direção bruscamente, ouvindo um protesto da garota logo em seguida. Ele lutara por aquele encontro e faria o que fosse necessário para que valesse a pena para ela, mesmo que isso ferisse seu orgulho.

– Mas eu tive uma ideia melhor. – Ele provaria que sair com ele não era assim tão ruim.

Céus, pensava Reyna, será que ainda dá tempo de ir com o tarado da machadinha?