20 anos. Uma idade de celebração para muitos de meus amigos estava se provando uma dor de cabeça, afinal, eu não tinha mais desculpas para fugir de Dimitri. Não é que eu não o amasse, Deus era a prova de todas as loucuras que eu já tinha feito por ele. Não, a questão era puramente orgulho e vaidade, afinal, quem seria louco o bastante para se casar aos 18? Mas agora eu tinha 20 anos e essa era minha data de limite e a prova disso era o anel que Dimitri tinha posto no meu dedo no instante que o relógio bateu meia-noite, comprovando que era meu aniversário.

Flashback On

O dia hoje tinha sido cansativo, estressante até. Lissa tinha ido a diversas reuniões do conselho, a grande parte discutindo a lei da maioridade dhampir, uma questão que ainda não tinha sido derrubada. E em cada uma delas ela pedia minha opinião, não só como guardiã, mas também como amiga, e no fim do dia eu sentia que minha cabeça iria explodir de tanta informação. Estávamos quase lá, era uma questão de dias até que uma nova votação fosse feita e aquela lei ridícula dos dezesseis anos fosse derrubada. E logo em seguida Lissa iria propor que os Moroi aprendessem a lutar ao lado de seus guardiões. Uma verdadeira revolução, mas o que esperar de uma rainha coroada aos dezoito? Eu permiti que um sorriso tocasse meus lábios enquanto eu era preenchida de orgulho por minha melhor amiga. Ela não era mais a menina frágil que tinha sido quando voltamos para São Vladimir, agora ela era uma soberana e estava em pleno controle de si mesma e de seus poderes, e sem minha ajuda.

Claro que isso não era tudo o que tinha mudado. A prova disso era o lugar onde estava me dirigindo, não o dormitório dos guardiões como se esperaria, mas minha própria casa. Minha e de Dimitri. Casa essa que tinha sido um presente de aniversário adiantado de Abe. “Você vai precisar de privacidade e de sua própria casa agora que está para completar 20 anos”. Ele disse com um sorriso diabólico. Como se eu precisasse de mais um lembrete do que estava para acontecer. Frustrada e com todos esses pensamentos me rodeando eu me deixei cair na cama e apagar. Mal havia fechado os olhos quando senti um tremor e achando que pudesse ser um terremoto acordei assustada. Terremoto... Sei. Só se o terremoto atendesse pelo nome Dimitri Belikov. Senhor de uma beleza exuberante e todo meu, ele tinha se jogado ao meu lado e agora me observava com um sorriso iluminando o rosto.

- Olá Roza. – ele disse com um sotaque carregado e eu me senti arrepiar.

- Que horas são? – perguntei a ele, pois pra mim parecia que o sol ainda brilhava no céu. De fato, parecia que ele estava no pico.

- Exatamente meia noite. – ele disse alargando o sorriso. Eu joguei o travesseiro no rosto e gemi. – Você sabe que dia é hoje? – ele perguntou lutando para pegar o travesseiro de mim.

- Não. – reclamei me virando pra ficar de costas pra ele.

- Isso mesmo amor. Hoje é seu aniversário de vinte anos. – ele disse dando um beijo no meu pescoço. E por mais que meu corpo todo tenha se acendido eu me esforcei para ignora-lo. – Rose. – Dimitri me chamou e não pela primeira vez. Quando viu que eu continuaria ignorando-o ele se levantou passando as mãos pelo cabelo, visivelmente frustrado.

- Por Deus Rose! Você não facilita mesmo né? – eu me virei pra ele e vi a tristeza em seu olhar.

- Me desculpe. – murmurei envergonhada.

- Você não me ama mais é isso? Por que se for eu... Eu... Eu posso ir embora ou...

- Não é isso. – eu o interrompi. – Eu te amo mais do que qualquer outra pessoa e você sabe disso. Sabe que eu fui ao inferno e voltei só pra ter você ao meu lado. Duvide de tudo, até de Deus, mas nunca duvide do meu amor por você Dimitri, por que tem horas que essa é a única certeza que eu tenho. Eu só acho que sou muito nova pra casar. – argumentei.

- Rose, nós moramos juntos. Já vivemos uma vida de casado. Sabe muito bem que um pedaço de papel não vai alterar em nada. – diabos, eu sabia que ele estava certo. Para todos os efeitos nós éramos casados. – Me deixa te fazer feliz Rose, me deixa ter o prazer de ver você entrando de branco e dizer “aceito” na frente de todo mundo. Por que eu te prometo, eu vou fazer de você a mulher mais feliz do mundo. – eu olhei dentro de seus olhos castanhos e naquele momento eu vi não só o amor, mas também a devoção que ele sentia por mim. E se aquela era a forma de fazê-lo ter certeza de que eu nunca o abandonaria então eu aceitaria.

- Tudo bem. – disse com um suspiro.

- Sério? – ele perguntou abrindo outra vez o meu sorriso.

- Sim, eu caso com você Dimitri Belikov. – eu respondi abrindo o sorriso também. Ele me pegou pelo colo e começou a nos girar pelo quarto. – Tá, agora me põe no chão. – disse rindo dele. Ele me pôs e correu até sua gaveta tirando de lá uma pequena caixinha preta. De dentro dela ele tirou um anel com uma pedra – acho que era solitária que eles chamavam – mas em volta da pedra o anel era todo trabalhado com vários desenhos, entre eles uma rosa.

- Esse foi o anel de noivado de minha avó. – ele disse colocando-o em meu dedo. De repente eu senti a responsabilidade de usar aquele anel, era a prova de que Yeva me achava digna de seu neto. Eu escondi meu rosto em seu peito enquanto sentia a felicidade me tomar.

Flashback Off

Assim que cheguei pra tomar café da manhã com Lissa fiz de tudo pra esconder minha mão, nervosa com o que ela pudesse dizer e as piadinhas que Christian diria. A mesa estava belamente posta com tudo o que eu mais gostava de comer e, percebi subitamente, estávamos apenas eu, ela, Christian e Dimitri. Um café da manhã em família. Assim que me viu ela veio correndo ao meu encontro, me abraçando e desejando um feliz aniversário e pelo brilho em seus olhos eu tive que certeza que ela já sabia.

- Me deixe ver! – exclamou saltitando. – Meu Deus! É tão lindo! – ela disse com um suspiro.

- Foi da avó de Dimitri. – eu disse com um sorriso sereno. Ela olhou pra ele e naquele instante eu soube que eles estavam aprontando algo. Eu não precisava de laço para dizer, eu a conhecia bem o suficiente.

- Vamos comer? – ela disse me puxando para a mesa. Eu passei o resto do dia tentando arrancar dela o que estava acontecendo, mas Lissa se recusou a abrir o bico. Disse que era surpresa. Ela chegou ao ponto de cancelar toda a sua agenda pra passar o dia comigo. Nós estávamos agora no spa da Corte enquanto eu recebia uma deliciosa massagem nas costas. Já havíamos pintados as unhas e arrumado nossos cabelos. Sim, eu estava me sentindo uma mimada, mas não iria reclamar.

- Você não vai mesmo me contar o que tá aprontando? – disse fazendo um biquinho.

- Até de noite você descobre Rose, eu prometo. – Lissa disse revirando os olhos. Eu bufei e apenas virei para o outro lado, me permitindo relaxar graças à massagem.

~VA~

Eu estava sentada em frente a um espelho no palácio real enquanto me maquiavam. De olhos fechados. Eu não sabia o que Lissa estava aprontando, mas ideias passavam na minha cabeça e acredite, nenhuma delas era boa. Eu estava torcendo para que fosse apenas uma festa de noivado, por que se não...

- A maquiagem está pronta, mas eu preciso que você continue com os olhos fechados. – a voz da bicha pomposa soou em meus ouvidos. Eu o senti puxar e repuxar meus cabelos, prendê-lo com um milhão de grampos e depois borrifar alguma coisa fedida nele. Quando ele por fim acabou e eu achei que fosse poder abrir os olhos... Lissa veio e colocou uma venda neles.

- Lissa! – exclamei.

- É uma surpresa! – reclamou de volta. – Agora eu vou precisar que você coopere. – ela disse me puxando pra levantar. Senti alguém me despindo – coisa que me vez corar de vergonha – e depois me vestindo. Me fizeram trocar inclusive de calcinha e sutiã! E então senti algo deslizando por minha pele, algo que supus ser um vestido. Em seguida Lissa me obrigou a sentar calçando meus pés. – Cuidado ai que eu calcei saltos em você. – ela disse me puxando pra ficar em pé.

- Acabou? – perguntei bufando de raiva.

- Quase. Só mais um instante e eu tiro a sua venda. – Lissa disse pegando minha mão e me guiando até sabe Deus aonde. – Pronto. – disse retirando a venda de meus olhos. A cena a seguir fez com que eu prendesse a respiração e pensasse seriamente em desmaiar. Ou fingir um desmaio pelo menos.

- Vasilisa Rhea Dragomir! – exclamei e senti ela se encolher ao meu lado. – Eu não acredito nisso! – estávamos no topo da escadaria do palácio, a abaixo de nós estava o hall gigantesco que dava para o salão de bailes e todo o caminho, e por todo quero dizer todo mesmo, estava marcado por um tapete vermelho, buquês de rosas rosas brancas e candelabros. E no pé da escada se encontrava meu pai, Abe Mazur.

- Pare de reclamar, essa é sua única chance de se olhar no espelho. – ela disse me guiando até um. Eu estava linda, devo admitir. O vestido era em estilo sereia e descia pelo corpo delineando minhas curvas, a parte de cima vinha em tecido até os seios onde subia uma renda delicada. Ele era lindo e simples, algo que eu definitivamente usaria em meu casamento. A parte de cima de meu cabelo estava puxada para trás, preso com uma fivela, deixando uma cascata de cachos caindo pelas minhas costas. A maquiagem era simples, mas ainda sim realçava meus olhos. A única cor se encontrava em minhas unhas e lábios, ambos vermelhos.

- Não acredito que você planejou meu casamento sem que eu sequer suspeitasse. Eu vivo colada em você! – exclamei.

- Lembra todas as reuniões do conselho que você não pode participar? – ela disse sorrindo.

- Você é uma diabinha Lissa Dragomir. – ela apenas revirou os olhos e me estendeu o buquê de rosas brancas.

- Vai se casar, anda. – eu estiquei a mão e notei que as mesmas tremiam.

- Eu não sei se eu consigo Liss... – admiti timidamente.

- Por Deus Rosemarie! É o Dimitri quem está te esperando no altar. Você não vai abandoná-lo, vai? – a proposta era tentadora, mas eu nunca faria uma coisa dessas com o homem da minha vida, então respirei fundo e comecei a descer os degraus. Abe me pegou pelo braço e eu respirei fundo novamente quando me virei para o salão e comecei a caminhar. Lissa já estava em seu lugar, o lugar da madrinha, claro.

Assim que dei o primeiro passo os acordes começaram a tocar e eu imediatamente reconheci a música, era From This Moment, uma das preferidas de Dimitri. As letras foram fazendo seu efeito em mim e então Abe teve que me segurar para que eu não saísse correndo ao encontro daquele homem perfeito que me esperava no altar. Seu sorriso era brilhante e contagioso e eu não pude não me sentir feliz por estar me casando com ele. Dimitri era quem me fazia ser uma pessoa melhor. Ele era meu melhor amigo, meu porto seguro e meu amante e de repente pareceu besteira temer tanto por esse momento. Por que eu sentia no fundo do meu coração que não existia ninguém mais no mundo para mim, era ele ou nada. Quando cheguei ao altar Abe me deu um beijo no rosto e me passou para Dimitri, que me deu um beijo terno na testa e então o padre começou o sermão. Eu não era muito de sermões, ou de religião, mas naquela hora eu prestei atenção em cada palavra. Ele disse sobre a importância de permanecermos unidos, que juntos éramos mais forte do que separados – e eu sabia por experiência própria que isso era a mais pura verdade – falou também que deveríamos nos respeitar e nos amar, buscar sempre a compreensão e nunca a discussão. Me virei para Dimitri e vi seus olhos brilhando de emoção e soube que, assim como eu, ele acreditava em cada palavra do que o padre estava dizendo. E então chegou a hora dos votos.

- Rose. – ele disse segurando minha mão tremula. – Você sabe que como guardião eu nunca esperei ter a chance de vivenciar um momento como esse. Quando eu olhava para o meu futuro ele parecia vazio, por que infelizmente essa é a realidade para muitos de nós, mas então você entrou em minha vida como um trem bala que perdeu o freio. Você trouxe luz, energia e paixão, me fez conhecer um outro lado da vida e um outro lado de mim mesmo. Me lembro certa vez de ler um texto que falava sobre que a pessoa certa é na verdade a pessoa errada. Ele dizia que a pessoa errada te faz perder a cabeça, fazer loucuras, perder a hora - e Deus sabe que você me fez perder a hora muitas vezes - morrer de amor. Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar toda a vida esperando você. E se eu tiver algum dia que esperar por você, eu esperarei Rose. Por que você vale cada minuto da espera. Cada minuto passado até que eu te encontrasse é recompensado quando eu olho em seus olhos e vejo todo o seu amor por mim. Eu te amo e te amarei para sempre. – ele finalizou fazendo com que meus olhos se enchessem de água. Eu cocei a garganta e então era minha vez.

- Dimitri. Meu Camarada. A primeira vez que eu te vi tive uma vontade enorme de te arrancar a cabeça. – eu disse fazendo com que todos rissem. – Mas você sabe o que dizem, que o amor e o ódio andam de mãos dadas. E não foi nem um pouco difícil amar você. A cada dia que você me mostra toda sua dedicação, todo seu carinho e paixão, eu sinto meu amor aumentar. Você me transformou, fez a menina rebelde, inconsequente e impossível se transformar na mulher controlada, centrada e quase que responsável. - brinquei. - Você me ensinou muito mais do que como ser uma boa guardiã. Você me ensinou que o amor é uma força poderosa, me ensinou que milagres existem sim e durante o caminho, se tornou meu melhor amigo, meu porto seguro, meu amante... E agora meu esposo. Você é meu lar, é a força que me mantem de pé e minha razão para seguir lutando. Dizem que quem encontra o verdadeiro amor se torna imortal, então é isso que nós seremos. Por que eu te amarei por toda a eternidade. – finalizei limpando a lágrima que escorria por seu rosto.

Trocamos as alianças, o padre finalizou a cerimônia e então nos declarou casados. Logo nossos amigos e familiares vieram nos abraçar. Estavam todos ali, todos os nossos amigos – inclusive Adrian, com uma Sydney radiante ao lado – meus pais e os Belikov. Todos nos encaravam com lágrimas nos olhos e felicidade estampada no rosto.

- Feliz Sra. Belikov? – Dimitri perguntou enlaçando minha cintura e me puxando para a nossa primeira valsa.

- Muito. – respondi selando nossos lábios em um beijo calmo e cheio de amor.

- Se eu soubesse que você queria tanto assim se casar teria proposto antes. – ele disse rindo. Eu dei um soco que leve em seu braço.

- Vocês me pegaram de surpresa. – admiti.

- Foi tudo ideia de Lissa. – ele disse sorrindo.

- Aquela maluca! Ela que me aguarde quando for a vez dela se casar. – eu disse olhando para minha melhor amiga que dançava com Christian.

- Ela te ama, você sabe. – ele disse erguendo meu queixo para que pudesse me beijar. – Assim como eu. - Eu olhei nos olhos de meu marido e os vi repletos de amor e soube então que tudo o que passamos tinha valido a pena, por que essa era a recompensa final.

- Assim como eu te amo. – disse afinal, deitando minha cabeça em seu peito. Tudo estava em paz.