Wish List escrita por Zoe


Capítulo 8
Academia


Notas iniciais do capítulo

Enjoy. ^^



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Okay, três desejos já tinham ido: a mudança na aparência, a festa e o beijo. Legal, agora só faltam onze. Haviam se passado quatro dias desde o dia da festa e eu não havia visto o Caleb desde então. Não que eu me importasse. Só estou comentando.

Era uma terça-feira normal. Eu não tinha ido à aula na segunda porque estava com uma dorzinha de cabeça irritante, e hoje passei praticamente a aula inteira na biblioteca, incluindo o recreio. Geralmente tenho as terças-feiras livres, e hoje não foi diferente, então resolvi sair para procurar realizar outro desejo da lista. Liguei para a Johanna (eu não havia falado com ela no colégio, porque ela não é da minha turma e não tínhamos passado o recreio juntas como de costume – ela não é tão fã de bibliotecas) e ela aceitou sair comigo de tarde.

– Mãe, o que tem de almoço? – perguntei já pegando um prato.

– Mas que coisa, menina, abra a panela e veja! – ela falou e eu ri. Sempre havia este mesmo “diálogo” entre nós na hora do almoço.

Já estava enchendo meu prato de batatas com molho e couve quando ela me chamou. No susto já achei que ela fosse brigar comigo por pegar muita batata – “tem outras pessoas para comer também” – e joguei uma (a menorzinha) dentro da panela de novo.

– A Johanna ligou. – ela falou e eu fiquei tentada a recuperar minha batatinha da panela, já que não era sobre isso. – Ela mandou avisar que não vai poder sair com você porque lembrou que tem academia.

– Ah, sério isso? Eu precisava da ajuda dela... – comentei, mais para mim mesma do que para minha mãe, mas ela escutou mesmo assim.

– É mesmo? Ajuda no quê? De repente eu posso ajudar. – ela falou tão solícita e gentil que eu quase aceitei impulsivamente, mas então me lembrei do motivo da ajuda.

Que era para realizar desejos. Desejos malucos. Que a minha mãe nunca iria concordar e provavelmente me proibiria de colocar o pé para fora de casa caso descobrisse da listinha. Ou não, vai saber. Essa mulher que diz ser minha mãe está muito diferente – ainda não consigo compreender o fato de não ter sido escalpelada por causa do cabelo –, então não duvido de mais nada. Mas é melhor não arriscar.

– Hum, coisas de amigas... – tentei enrolar, mas minha mãe não era boba.

– E eu não sou sua amiga?

– É claro que é, mãe, mas é que... Ai, não sei explicar, é só que você não está incluída nisto, é...

– É uma surpresa para mim?

– Hum, não necessariamente... – mas pode ser que você fique bem surpresa se souber, acrescentei mentalmente.

– Ta, não vou ficar te incomodando então... mas se você quer tanto uma pessoa para te acompanhar, que não seja sua mãe, por que não convida aquele seu amigo Tyler? Faz tempo que eu não o vejo por aqui...

E nesta hora eu larguei o meu prato e dei milhares de beijinhos na minha mãe. Como eu não havia pensado nisto antes?

– Okay, obrigada pelas muitas marcas de beijo deixadas nas minhas bochechas, mas será que você deixou também alguma batata para mim? – ela disse olhando feio para o meu prato cheio.

–-------

Corri para trocar o moletom (o outro eu sujei de molho) antes de me encontrar com o Tyler, que aceitou prontamente passear comigo assim que eu liguei para ele o convidando (okay, depois de brigar um pouquinho comigo por ter deixado ele de lado há um tempão, mas eu meio que mereci). Tyler era meu melhor amigo. Era a única pessoa que eu podia contar de tudo, além da Johanna. Mas já fazia vários dias que eu não falava com ele, porque: a. toda essa história de Wish List era coisa da Johanna, e b. apesar de poder contar tudo para ele, eu não contava TUDO para ele. Quer dizer, essas partes envolvendo garotos, por exemplo, eu não contava. Sei lá, dá vergonha, e eu não sei explicar direito por que eu tenho vergonha de falar com ele sobre essas coisas, já que nós somos amigos há vários anos.

– Liv! – ele correu para me abraçar assim que me viu. Ficamos abraçados um tempão antes de ele começar a brigar comigo novamente por ter ficado quase um mês sem falar com ele. Comecei a me explicar e acabei contando tudo sobre a Wish List e os acontecimentos relativos a ela. Contei até do beijo!

– Me deixa ver se eu entendi. – ele começou. – Você quer minha ajuda para realizar desejos estranhos, sem motivo aparente, cujos eu não tenho como ajudar a realizar?

– Ah, para. Você pode muito bem me ajudar com algumas dessas coisas! – retruquei.

– Ah, claro, até porque eu tenho uma tartaruga, animais selvagens, muitas bebidas alcoólicas, sei dar mortal e estou pretendendo te beijar. – a ironia em pessoa falou e eu revirei os olhos, mas também percebi um erro naquela frase.

– Espera, o do beijo já foi realizado! – apontei para a lista.

– É, mas este aqui não. – ele falou apontando para o de cima (“Dar o melhor beijo da vida de alguém e receber o melhor beijo da minha vida”). – E pode crer que se um dia eu viesse a te beijar, seria a melhor coisa que te aconteceria na vida. – Tyler completou sedutor e eu tive um ataque de riso.

–-------

Tomamos café, andamos pelo centro, paramos numas lojinhas baratas e olhamos as vitrines das caras, e finalmente Tyler resolveu me ajudar com a lista.

– Tudo bem, tudo o que eu posso fazer por você é arranjar outra festa, talvez para o mês que vem, e dependendo de você, alguns destes desejos podem ser realizados... E posso te ajudar a encontrar uma academia.

– Academia? Por quê? Ta me chamando de gorda? – me revoltei.

– Calma! É só porque você quer brigar com alguém, não? E não vai poder fazer isso sem nenhum preparo e experiência. A menos que você queira ser bem clichê e só se agarrar no cabelo de outra garota... Nada contra, okay? Aliás, bastante a favor... – ele começou a divagar pensativo e eu dei um leve soco na barriga dele.

– Tudo bem... Mas ainda acho que você está me chamando de gorda. – brinquei.

– Não estou te chamando de gorda... – ele falou. – Mas bem que você podia diminuir a quantidade de batatas...

– Ei! – gritei, e dei outro soco nele, desta vez não tão leve.

Passamos por vários lugares, entrando em cada academia que avistamos e anotando o nome e o respectivo preço no celular do Tyler, que andava o tempo inteiro com ele nas mãos. Até que entramos em uma academia diferente, e ambos percebemos isso, mas foi Tyler que falou primeiro.

– Cadê todos aqueles halteres e esteiras e tudo o mais?

– Não temos isto aqui. – um cara saiu do nada e me deu um susto. – Quer dizer, não nesta sala. Desculpe, meu nome é Samuel. – ele sorriu estendendo a mão.

– Eu me chamo Olivia, e este é o Tyler. – me apresentei enquanto apertava a mão do homem.

– Mas por que não tem todas as máquinas de exercícios aqui? Esta parece ser a “sala principal”.

– E é, mas aqui é uma academia de artes marciais. Está escrito na placa da frente.

– Ah, eu não vi. Qual o nome desta academia?

– Academia de Artes Marciais.

– Oh, desculpe. – falei me corrigindo. – Qual o nome desta Academia de Artes Marciais?

– Ah, não, você entendeu errado. – o tal de Samuel riu. – O nome daqui é “Academia de Artes Marciais”.

Ah ta. Quanta gente sem criatividade! Primeiro uma tinta de cabelo chamada “Tinta” e agora uma academia de artes marciais chamada “Academia de Artes Marciais”. Meu deus, desisto da vida. Enfim, o Samuel explicou direitinho para mim e para o Tyler como as coisas funcionavam ali. Naquela sala “vazia” era onde aconteciam todos os treinamentos. Vários estilos de luta eram praticados ali, onde só havia tatames e aqueles negócios de dar soco mais ao fundo. O Samuel disse que tem outra sala, onde tem as máquinas de exercício para os atletas que quiserem reforçar o treinamento e outra que é meio que um depósito, onde há vários equipamentos para as aulas mesmo, mas que ficam lá para poupar o espaço da sala dos tatames. As aulas são geralmente realizadas três vezes por semana, dividida em grupos de acordo com a idade e arte marcial praticada, e o treino é o mesmo para iniciantes e veteranos.

Quando o Samuel deu uma saidinha para pegar uma tabelinha com preços e horários, chamei Tyler para um canto e comentei.

– Artes marciais! É perfeito! Ao invés de só malhar para ficar forte, eu vou aprender a lutar mesmo!

– Tudo bem, mas você não vai poder brigar fora daqui. Tem que fazer tipo uma promessa assim, eu vi num filme.

Okay, isso estragava um pouco as coisas. Ei! Mas e se não fosse eu que começasse a briga? Eu podia revidar, não? Quer dizer, vamos fingir que eu estou sendo assaltada e o cara bate em mim. Eu não vou ficar parada olhando, só porque não devo fazer isso fora da academia, né? É legítima defesa. É isso! Eu só tenho que fazer com que alguém brigue comigo depois!

Eu ia falar tudo isso pro Tyler, mas o Samuel estava voltando. De repente eu senti muita sede e fui pegar água num bebedouro ali perto, mas antes disse:

– Tyler, vê o preço para mim enquanto eu bebo água, porque se for bom, eu vou entrar para esta academia hoje mesmo!

Eu queria muito que fosse acessível, porque eu realmente estava a fim de participar deste negócio de artes marciais. Só tinha pontos positivos! O dono, Samuel, era super simpático e gentil, eu iria ocupar minhas tardes com algo útil, que me faria ficar mais forte, perder os quilinhos extras (culpa das batatas!), e de repente podia até ver uns gatinhos suados brigando. Brigando por mim. Hum, sem camisa... Opa, exclui essas últimas partes, estava divagando. Mas é sério, se o preço fosse bom, eu ia ficar muito feliz...

Então Tyler chegou e me informou sobre quanto era. E eu não posso dizer que fiquei triste.

–-------

Saí cedo de casa. Minha aula era no primeiro horário de Muay Thai, que foi a arte marcial que eu escolhi fazer, por parecer ser mais completa do que as outras. Coloquei a roupa que eu costumava usar para fazer ginástica na época em que eu não era sedentária e amarrei o cabelo. A academia não era muito longe da minha casa, então resolvi ir a pé, mas só depois fui perceber que foi uma péssima decisão, porque com a falta de preparo físico, quase morri com uma caminhadinha e ainda fui lenta. Lenta o suficiente para chegar atrasada no primeiro dia de aula.

Todos os outros alunos já tinham chegado e estavam em círculo enquanto um cara falava no meio. Cheguei de mansinho toda envergonhada e nem ousei olhar para todos aqueles alunos. Qual foi minha surpresa ao descobrir que o cara que estava falando era o Samuel, o dono e aparentemente também professor de Muay Thai, e que fez questão de me colocar no centro do círculo e me apresentar para todo mundo. Sorri amarelo e aproveitei para dar uma olhada na turma. Todo mundo parecia ter mais ou menos a minha idade, mas eu me senti bem menor que todos eles. Havia apenas duas garotas além de mim, que acenaram quando eu olhei para elas. Os garotos não eram muito bonitos, mas não eram feios. Exceto um. Aquele sim era muito feio. Fiquei com um pouco de medo ao imaginar se ele teria ficado assim por apanhar muito.

Depois de ser devidamente apresentada para todos, Samuel – ou Sam, como ele prefere ser chamado, me levou ao “depósito” e me deu ataduras e luvas. Eu teria que comprar um par para mim depois, mas nesta aula eu usaria aquelas. Aqueles negócios estranhos de colocar na boca eu ia ter que comprar também, mas eu não peguei nenhum emprestado dali por que: a. era simplesmente nojento e b. era usado apenas nas lutas de verdade, o que não ocorreria nessa aula.

– Gente, como de costume, iremos começar com o aquecimento. Como hoje é o primeiro dia da Olivia, vamos com o básico. – Sam falou e os alunos deram risadinhas. Por que eles deram risadinhas, eu não tenho ideia. – Corrida leve ao redor do tatame, pessoal. – ele bateu palmas e todos começaram a correr.

Ótimo. Uma corrida. Eu consigo lidar com isso, pensei feliz e corri com os outros. Apesar da minha respiração ofegante, consegui completar a corrida junto dos outros. Perfeito, o aquecimento já foi.

Foi o que eu pensara. Mas não.

Teve polichinelos, e abdominais, e flexões – nem podia fazer a de mulherzinha, com os joelhos no chão – e agachamentos e levantamento de uns pesinhos. Quase chorei.

– Isso é o básico? – falei ofegante com a garota do meu lado, enquanto dava batidinhas na barriga dolorida pelas abdominais.

Depois deste pequeno aquecimento, foi mandado fazer dupla, o que não me ajudou muito, já que todo mundo ali já se conhecia e já tinham os grupinhos formados. Felizmente haviam faltado alguns alunos e um garoto ficou sobrando. O nome dele era Steve, e ele foi super gentil comigo, e me ajudou a colocar as ataduras.

No primeiro exercício o Sam distribuiu uns negócios meio fofos e duros ao mesmo tempo, com uma alça. O que tínhamos que fazer era o seguinte: um da dupla segurava o treco para o outro bater, de acordo com as ordens do Sam. Como eu não conhecia um único golpe de Muay Thai, Steve e eu concordamos que eu seguraria a coisa enquanto ele aplicava os golpes. Sam me disse para segurar aquele negócio – que eu vou chamar só de almofada a partir de agora, bem em cima, na altura da cabeça. Fiz o que ele mandou e logo que ele gritou “jab–direto-jab” Steve deu uma sequência de três socos na almofada. Foi bem fácil até, e eu disse que ele podia aumentar a força. Sam deu a mesma ordem e lá foram outros socos. Desta vez foi mais forte. Não forte do tipo que me desequilibrou, mas foi forte o suficiente para fazer com que a almofada se movesse e ficasse um pouco torta na minha mão. O problema aconteceu quando eu resolvi ajeitar e o Sam repetiu a ordem.

Foi então que o mundo ficou totalmente preto.


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Notas finais do capítulo

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