Você era estranho.

“Marco Bodt do distrito Ginae, sul de rose, senhor!” foi a primeira vez que ouvi sua voz, “Vim para entrar para a polícia e dedicar meu corpo ao rei, senhor”!

A única coisa que pensei ao ouvir suas palavras foi: Idiota.

E a segunda vez, estávamos no refeitório, seus olhos praticamente brilhavam ao conversar com aquele exibido do Eren.

“Pessoal, chega de perguntas por favor, há coisas que as pessoas não gostam de lembrar!”

Trinquei os dentes, por que estava se preocupando com o Jaeger? Isso me irritava. E muito. Mas na época não entendia o por que. Não pretendia conseguir um inimigo logo de cara, no primeiro dia, foi por SUA causa que comecei aquela briga! Quando me dei conta do que estava fazendo, tentei contornar a situação, mas aquele idiota do Jaeger se negou. E ainda havia a Mikasa, a garota mais linda que eu já vira.

E num belo dia, eu estava sozinho, satisfazendo minhas necessidades carnais, pensando nela e PUF! Você apareceu em minha mente, substituindo-a instantaneamente. Tem ideia do quanto aquilo me irritou?

Acha que não percebi no dia do teste de cinto para o DMT o quanto você me olhava? O quanto seu sorriso era contagiante, o quanto seus olhos eram calorosos? Aquilo estava me enlouquecendo! Todas as noites, eu sonhava com você, nem eu mesmo entendia como aquele sentimento estranho podia ter surgido do nada.

Mas sempre que eu via o seu sorriso, tudo era explicado.

Me diz pra que se esforçar tanto? Você era tão fraco, frágil. Mas em todos os treinos dava o máximo de si e se desgastava completamente.

Tem ideia do quão bonito ficava quando me olhava admirado? Quando eu te contava os truques com o DMT e te incentivava a entrar para a polícia. Não faria aquilo com qualquer um, eu só não queria perder você, a sua ingenuidade era uma das coisas que mais me encantava.

A partir daquele dia, passei a me esforçar cada vez mais! Só para ver o seu rosto animado ao falar comigo, adorava ser o motivo do seu sorriso.

Eu não queria entrar na policia para me proteger.

Eu queria te proteger.

E houve toda aquela confusão, o buraco aberto na muralha, mas no dia seguinte estaríamos nos dois, juntos em outro lugar, se sobrevivêssemos, e eu não deixaria você morrer. Mataria qualquer titã que se pusesse em meu caminho.

Você era meu.

Nunca saiu do meu lado, mesmo com o meu jeito impulsivo, egoísta, imprudente, você nunca desapareceu. Sempre se manteve a minha vista, onde podia me apoiar, e eu poderia te proteger.

“Jean, obrigada! Eu consegui fugir graças a você!” enquanto fugíamos, novamente vi seu sorriso, sua gratidão “Foi graças a você! Eu não te disse antes? Você é um bom líder!”

Ah, eu fiquei muito puto! Mesmo com suas palavras, não era um bom líder! E aqueles malditos do time de emergência... Se você não tivesse me segurado, não sei o que teria feito. Obrigada.

“Não acho que eu seja qualificado para líder, não diga mais aquilo” respondi-lhe.

Você apenas sorriu gentilmente, baixou a cabeça e proferiu com sua voz doce:

“Quero que me escute sem ficar chateado. Mas você não é muito forte Jean, e por isso consegue entender bem como os mais fracos se sentem. Sendo assim, consegue identificar bem a situação de cada um, você sabe bem o que deve ser feito no momento” nesse momento ergueu o rosto, o castanho de seus olhos era tão gentil, seu sorriso era tão amável, “Suas instruções foram correta. Por isso eu pulei naquela hora e estou vivo agora”.

Eu queria te beijar.

Você era tudo... Tudo o que não havia em mim. Tudo o que eu precisava.

Eu estava tão preocupado em sobreviver, tão preocupado com tudo que estava acontecendo, tão surpreso com a transformação do Eren em titã, que não percebi quando você não estava ao meu lado.

Após vencermos, pela primeira vez, os titãs, começou o trabalho na coleta de corpos para as famílias. E claro que colocaram todos os recrutas sobreviventes para ajudar.

Eu só não sabia que você seria um dos corpos.

Depois de recolher e ajudar na nomeação de muitos corpos, já não aguentava mais aquilo, então olhei para o meu lado.

E você não estava ali.

O próximo corpo para identificação era...

O seu.

“Ei...” murmurei “Você é... O Marcoh?”

“Recruta, você sabe qual o nome dele?”

“Achei estranho não ter visto ele...” continuava perdido em meus pensamentos “Mas... Se tratando dele... Isso não é possível...” senti o chão sumir aos meus pés, meu coração falhou e meu peito apertou-se, sentia-me asfixiado “Marcoh... O que foi que aconteceu?” Engoli seco, não conseguia respirar. Meu Marcoh... Meu Marcoh havia morrido “Alguém... Alguém viu os últimos momentos dele?”

“Qual é o nome dele? Responda logo, se souber.” Insistia a mulher.

Lancei lhe um olhar ameaçador, mas ela se manteve inexpressiva e disse numa voz sem nenhuma emoção:

“Você entende a situação, recruta? Já faz dois dias que a fenda do portão foi bloqueada. E mesmo assim, ainda não terminamos de recolher os corpos. Desse jeito, tememos que uma epidemia possa se espalhar. Temos que evitar uma segunda catástrofe, de qualquer maneira. Você ainda não têm tempo para lamentar a morte de seus companheiros, entendeu?”

Seus olhos continuavam frios, insensíveis, suas palavras perfuravam-me como facas.

Olhei para Marcoh. Para o meu Marcoh que continuava desfeito no chão.

“104º brigada de recrutas” falei quase desabando sobre mim mesmo “Líder do 19º grupo... Marcoh Bodt...”

Eu nunca me esqueci de suas palavras. Do seu apoio. De você.

Agora estou aqui, na tropa de exploração.

E juro que vingarei sua morte.

Me perdoe Marcoh, eu nunca lhe disse...

Que te amava.

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