Summer Rain escrita por yliabentes


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem dessa pequena história, mas se não gostarem eu nao ligo -.- eu fiz p/ mim mesmo tah? :P



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                Era um dia quente de verão.  A brisa morna fazia o calor se intensificar e os cabelos de Anne ficarem molhados na ponta. Aquele devia ser o dia mais quente do ano, apesar de que os dias naquela cidade eram quentes durante metade do ano, pelo menos. Ela estava na varanda de sua enorme casa colonial e nem assim o calor se amenizava. Sua família era uma das pioneiras na produção de café e sua propriedade era vasta, mesmo descontando-se os enormes cafezais. O vestido de verão de renda branca inglesa que Anne usava começava a colar em suas costas na cadeira de vime. Ela decidiu caminhar um pouco, talvez pudesse ficar à beira do rio que corria pela propriedade e fugir um pouco daquele calor enorme.

                Mesmo que pudesse se ver na superfície espelhada do rio, à sombra de uma enorme mangueira, Anne ainda sentia um calor descomunal. Uma gota de suor escorria de seu rosto branco. Decidiu trançar seus longos cabelos castanhos. Não era seguro ficar na beira do rio, como seu pai sempre lhe alertava. O rio dividia sua propriedade de outra cujo dono era mal encarado e mal visto por todos. Anne nunca o tinha visto. Lorde Augusto. Ouvira na última missa que o homem contraíra uma doença grave. Não podia ver sua casa dali, já que suas terras eram maiores que as de Lorde Augusto, mas ela via a grande casa cinzenta do homem. As janelas estavam fechadas e a construção tinha uma atmosfera funesta.

                Anne não sabia dizer se era o calor que a tinha deixado tão sonolenta, mas ela acabou adormecendo sob a árvore frondosa. Talvez o cochilo tenha sido profundo, pois acreditava até que pudesse estar sonhando. Pelo menos sentiu um frio reconfortante em seu rosto, como se mergulhasse na água cristalina do rio. Ainda que receosa, abriu os olhos, deparando-se assustada com o rosto sobrenaturalmente belo de um homem que tocava seu rosto.

                - A senhorita está bem? – indagou o homem com uma voz aveludada.

                Anne assentiu com a cabeça, levantando-se para ficar sentada na grama, tendo os olhos verdes na mesma altura dos olhos avelã do rapaz. Ele era muito belo, seus cabelos loiros ondulando-se por seu rosto com algumas mechas curtas, mas preso em um rabo de cavalo atrás, onde era comprido. O rosto dele era branco, quase sem vida. As sombras da árvore copada o deixavam ainda mais doentio. Os lábios cinzas eram cheios e o nariz era fino em contraste com o queixo largo.

                Anne notou que os olhos do rapaz estavam em seus lábios vermelhos. Ficou desconcertada.

                - Q-quem é o senhor? – perguntou.

                - Chamo-me Augusto – ele inclinou a cabeça, condescendente. – Suponho que já tenha ouvido falar de mim, não?

                - Sim – admitiu a menina. – E não tenho ouvido coisas muito agradáveis a respeito do senhor.

                - Naturalmente – Augusto ficou sério por um tempo, mas logo voltou a abrandar usa expressão em uma curiosidade sutil. – Costuma dar ouvidos ao que dizem por aí, senhorita...?

                - Meu nome é Anne – respondeu a moça. – Penso que nem sempre dizem a verdade. Ouvi dizer que estava doente.

                - Talvez eu esteja... – disse ele, deixando Anne confusa.

                A menina achou que talvez ele estivesse triste por pensar na possível doença, porque abaixou os olhos, pensativo. Então decidiu falar sobre outra coisa:

                - Está muito quente hoje, não acha? – perguntou.

                - Não sei – Augusto deu outra resposta que deixou Anne confusa. – Eu sinto frio.

                - Como isso é possível? – ela franziu a testa, olhando para o homem.

                Augusto retribuiu seu olhar, olhando-a em silêncio durante alguns instantes. Então pegou as mãos de Anne, que estavam repousadas em seu colo e colocou no próprio rosto, tendo as suas sobre as dela. Anne instantaneamente sentiu o gelo da pele dele. De certa forma, o toque amenizava o calor que sentia.

                - Assim – ele disse, enquanto Anne ainda o observava ,curiosa. Suas mãos ainda estavam em seu rosto, mesmo que as mãos de Augusto já estivessem longe das suas.

                Augusto tocou as tranças de Anne, deixando uma de suas mãos pousar no pescoço quente dela quando trouxe os cabelos para frente do ombro. Seus dedos tocaram suavemente a região, acariciando-a e causando calafrios na menina. Logo seus rostos se aproximaram e eles selaram um beijo com seus lábios opostos. Os de Anne, vermelhos e quentes, os de Augusto, brancos e gélidos. Para Anne, a sensação foi maravilhosa. Como se mergulhasse em uma cascata, aliviando o seu calor por fora, mas, de certa forma, aumentando-o por dentro.  O beijo durou longos instantes, fazendo suas línguas íntimas o bastante para tomarem um movimento coordenado. As mãos de Augusto acariciavam a nuca dela enquanto as de Anne tocavam o rosto frio e branco do homem.

                Ela não soube dizer em que momento perdeu a consciência.

... ...

                Muito tempo se passou desde que Anne tinha visto pela primeira vez o Lorde Augusto. E só se lembrava dele agora porque estava em uma situação muito parecida, quase um deja vu. Aquela noite era, sem dúvida alguma, a mais quente do ano. Quase podia ver as ondas de calor subindo do asfalto. Ela estava no terraço de seu apartamento observando os prédios e ruas abaixo. As antigas casas coloniais e os cafezais enormes tinham dado lugar a arranha-céus e largas avenidas. A antiga cidadezinha mal se podia reconhecer em meio àquela paisagem tão diferente.  Ela também havia mudado. Não só fisicamente, mas seus cabelos longos tinham dado lugar a um corte curto e repicado, com pontas para fora, e o antigo vestido de renda deixara de existir. Ela usava uma blusa de verão, de uma seda leve, cinza. Tirando isso, suas feições continuavam perfeitamente idênticas às daquela tarde ensolarada e quente na beira do rio.

                Decidiu procurar por um frigorífico, onde pudesse aliviar a sede. Alcançou as ruas em um salto e logo caminhava pelas calçadas daquele bairro, outrora nobre, agora apenas um subúrbio perigoso. Não tinha medo. Não esperava encontrar nada que pudesse fugir de seu controle no caminho, mas estava enganada.

                Logo que parou em um cruzamento para atravessar uma das pistas o viu. Mesmo depois de todos aqueles anos ela o reconheceu. Os cabelos dele também estavam mais curtos, caiando por seu rosto nos belos cachos mais longos. Os mesmos olhos avelã. A mesma pele cadavérica sob o luar forte, agora como a sua. Augusto estava olhando para ela, talvez com o mesmo olhar condescendente de séculos atrás, mas Anne sentia certa apreensão. Ele ficou parado quando ela atravessou a rua, parando perto de si.

                - Ainda com raiva de mim? – perguntou, receoso.

                Então Anne entendeu o motivo de sua ausência tão longa. Todos os anos em que passou imaginando por onde andaria, e o que acontecera àquele que fora o grande amor de sua vida. Deixou Augusto apreensivo por mais alguns minutos. Ele merecia isso. Mas logo abriu um sorriso, também condescendente.

                - Lorde Augusto, por que demorou tanto a aparecer? – indagou.

                Pode ver o tão esperado sorriso outra vez nos lábios dele, antes que se unissem outra vez. Intensos, sem a antiga condescendência. Suas línguas se uniam com certo fervor e o beijo deles tinha a intensidade exata de um reencontro e o desespero de uma despedida, mesmo que tivessem a eternidade pela frente.

                Então uma chuva de verão desabou por seus corpos frios por fora, mas aquecidos pela chama de um amor por dentro. Seus corpos molhados se uniam ali, e dali seguiriam para sempre.


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Notas finais do capítulo

E ae? Reviews? bjs!



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