Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 98
Apostas de Verão - parte 5 - Malihini


Notas iniciais do capítulo

Malihini = visitante



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Na praia, Fabrício e seu amigo Pablo procuravam o local onde se encontrariam com o professor de surf.

— Será que é aqui?

— Deve ser. No site dizia esses pontos de referência.

— Vamos esperar ver se ele aparece.

Mas, outra pessoa apareceu.

— Bom dia. Vocês são os alunos brasileiros?

Os dois viraram para a pessoa que falava e Fabrício logo se encantou a ver a jovem de pele bronzeada e longos cabelos loiros.

— Oi... – Falou com um sorriso bobo.

— Oi.

O amigo dele entrou na frente. – Olá, bom dia. Sim, somos os alunos brasileiros. Pelo visto, você também é.

— Não, eu nasci aqui, mas como meu pai é brasileiro ele me ensinou a falar português. O meu pai será o professor de vocês.

— Não acredito! – Fabrício exclamou. – Então, você é a filha do professor? É com você que eu estava me comunicando esses dias?

— Você é o Fabrício?

— Sim, sou eu. Você é a Kalena?

— Sim! Nossa... – Ela o olhou de cima a baixo. – Você é melhor que sua própria descrição.

Fabrício abriu um largo sorriso orgulhoso. – Imagina... Que coisa né? Nem precisou a gente se encontrar à noite como a gente pretendia, com um lenço vermelho para se reconhecer...

— Bom, a gente ainda pode se encontrar à noite se você quiser.

Fabrício logo aceitou por mais atirada que ela parecesse. O amigo dele, porém, não estava gostando nada do jeito fácil daquela garota.

...

Os três passeavam pela praia conversando, ou melhor, apenas Fabrício conversava com a garota, enquanto o amigo ficava de lado.

—... Por causa desse evento meu pai não pode começar hoje as aulas, mas amanhã de manhã podem vir que ele começará, sem dúvida. Mas, se quiserem, eu posso dar umas dicas a vocês...

— Sério?

— Sou uma profissional. Não surfo tão bem quanto ele, mas é só uma questão de experiência. Depois eu te mostro uns vídeos meus, se você quiser...

— Eu quero. Então... O que significa seu nome, Kalena? Deve ter um significado bem bonito para combinar com você.

Ela riu. – Na verdade, é a forma havaiana de Karen.

— A-Ah...

O amigo disfarçou o riso.

— Tá rindo de quê, Pablo?

— De nada, conquistador...

— Vai ver se eu estou na esquina.

— Isso é uma praia, não tem esquinas aqui, bobinho!...

— Pablo, vai dar um mergulho, tomar uma água de coco, vai fazer alguma coisa, vai.

— Tá bem... Eu os deixo sozinhos se é isso que você quer.

— É, é o que eu quero.

— Ótimo.

— Ótimo. Vai.

— Vou mesmo.

— Já devia ter ido...

Pablo saiu emburrado sem gostar nada da ideia de deixar Fabrício sozinho com ela.

— Então, onde estávamos?

— Você perguntou o significado do meu nome.

— Ah, é, sim... Então, é isso? Seu nome é Karen?

— Não. Eu nasci aqui e recebi um nome havaiano. Meu nome é Kalena Miliani. Kalena é só a forma havaiana de Karen que era o nome da minha mãe.

— E Miliani?

Ela pegou em seu braço e o acariciou. – Significa suave carícia.

Ele se arrepiou e gostou daquilo. Ela continuou explicando segurando em seu braço.

— Meu pai diz que quando eu nasci ele me chamou apenas de Kalena em homenagem a minha mãe. Eles não eram casados, apenas namoraram. Meses depois que eu nasci ela voltou para a Califórnia, onde ela vive, e eu fiquei aqui com ele.

— Então eles se separaram pouco depois que você nasceu?

— Sim, ele diz que minha mãe não aceitou muito bem a realidade dele.

— Que realidade?

— Ele confessou a ela que é gay.

— Oh, não me diga! Sério? – Ele achou engraçada a coincidência.

— Sim. Eu mantenho contato com ela, mas prefiro viver aqui. Aqui me sinto livre. Mas, antes de ela ir embora ela adorava quando eu penteava os cabelos dela com meus dedos. Ela dizia que meus dedinhos de criança eram suaves e desembaraçavam o cabelão enorme que ela tinha, como o meu. Daí o nome de “suave carícia”, ou seja, Miliani.

— Legal!

Ela segurou em sua mão para andar mais junto a ele.

— Se juntar os significado de Karen com Miliani, sabe o que meu nome quer dizer?

— O quê?

Ela sussurrou em seu ouvido. – A virgem das suaves carícias.

Fabrício não pôde evitar ficar com as bochechas vermelhas.

— B-Bonito nome!

— O seu também é bonito, Fabrício... Sabe o que significa?

Coçou a cabeça. – Pra falar a verdade eu sei sim, significa ferreiro ou o que mexe com metal. Vem da mesma origem de artesão, algo assim...

— Hum... O que mexe com metal? Combina com você, com esse cabelo de ouro que você tem. – Ela acariciou seus cabelos.

Ele deu uma risadinha sem jeito ainda ruborizado.

— Oh, que bonitinho... Você sempre fica assim quando recebe uma carícia de uma mulher?

— Eh... N-Não, é que você me pegou de surpresa...

Ela riu e lhe deu um beijinho na bochecha.

— Vem, vou te mostrar um lugar muito especial...

...

Depois...

— Eu não te disse que era um lugar único? Me diz se essa paisagem não é inesquecível.

— Uau! – Exclamou Fabrício por causa da belíssima paisagem que dava para ver de cima do morro onde Kalena o havia levado. – É muito lindo, Kalena!

— É sim. Eu vinha aqui direto desde criança. Olha isso. – Mostrou umas cicatrizes no joelho. – A prova de que já caí muito daqui de cima. – Riu. – Hoje eu adoro vir aqui para ficar sozinha. Mas... De vez em quando, eu trago alguém especial.

— Eu sou esse alguém especial?

Ela chegou junto a ele e falou: - Quer que eu te prove que eu te achei especial?

— Como?

Ela levou uma mão à nuca dele e trazendo-o para mais perto o beijou.

Fabrício ficou parado por alguns segundos, mas logo correspondeu mesmo que ainda tomado pela surpresa. Aquele beijo era bom como ele jamais havia imaginado e o local isolado e paradisíaco ajudava e muito.

Porém, o momento mágico foi interrompido...

— Fabrício!

Ele a soltou e virou assustado. – Papai?!

...

...

Algum tempo antes...

— Por onde será que a gente começa? – Niko se perguntava em seu passeio com a pequena Mel por um local de visitação turística.

— Vamos ver ali em cima, vovô Niko?

— Oh, que amorzinho você me chamando de vovô!... – Pegou no colo. – Fico pensando quando o Ângelo vai estar me chamando assim.

— Quando que ele vai aprender a falar?

— Ah, logo, logo. Ele ainda vai fazer um ano e quando a gente menos esperar ele vai estar dizendo as primeiras palavrinhas.

— Por que não agora? Eu posso ensinar a ele.

— Eu sei que pode. – Lhe deu um beijinho. – E eu quero que ensine mesmo, você é muito inteligente.

— O vovô Félix diz que eu sou inteligente porque puxei a ele.

— Ah... Ele não deixa de estar certo.

— Como assim eu puxei a ele?

— Quer dizer que você é parecida com ele.

— Por quê?

— Porque você é neta dele.

— E por que eu sou mais parecida com ele do que com o papai?

— Ah, meu amor, o seu avô e seu pai também são parecidos, só que você é ainda mais parecida com seu avô.

— Por quê?

— Ah... É a genética, Mel, eu não sei explicar...

— O que é genética?

— Ai, querida... Eu te disse que não sei explicar...

— Por quê?

— Mel, vamos continuar nosso passeio, vamos?

Nessa hora ele ouviu uma risada de um homem que se aproximou.

— Pelo jeito sua filha é muito curiosa.

Niko olhou para o homem e não pôde evitar reparar na beleza dele, que era de tirar o fôlego. Aquela pele bronzeada que ele mostrava através da camisa semiaberta levemente transparente, aquele peitoral largo, o abdômen definido, sem falar na calça fina e tropical, bastante reveladora.

O loiro logo teve uns pensamentos...

— Quê que é isso! Que homem é esse?... Ai, como que eu pensei uma coisa dessas tendo o Félix? Niko, Niko, se concentra!

Deu um sorrisinho sem jeito e falou: - Err... Não, ela não é minha filha.

— Ah, não? Irmãzinha então?

Outro sorrisinho sem jeito. – Imagina... Ela é praticamente minha neta.

— Neta? Não posso acreditar. Você é muito jovem.

— Nem tanto... Na verdade, ela é neta do meu companheiro. É. Meu companheiro, meu marido, meu amor. – Afirmou para si mesmo.

O homem sorriu simpático. – Entendi... Você deve ser bem mais jovem que ele, então. Desculpe a intromissão...

— Não, não tem problema... Sou um pouco, só uns seis anos...

Mel interrompeu. – Eu tenho seis anos.

O homem falou com ela. – Ah, tem? Que bonita que você é.

— Puxei ao meu avô.

Niko riu. – Ele que ensinou isso a ela.

— Minha filha também era esperta assim quando tinha essa idade.

— Você também tem uma filha? – Niko perguntou.

— Tenho, é adotiva. Hoje ela é uma mulher de vinte e um anos, mas a conheci quando ela tinha essa idade e era muito esperta.

— A conheceu?... – Indagou sem entender.

— Sim... Ah, por falar em conhecer, desculpe-me, nem me apresentei. Sou Guilherme. – Deram um aperto de mão. – Eu sou guia turístico por aqui.

— Ah! Guia turístico? Era justamente o que estávamos procurando.

— Ótimo. Eu geralmente guio turistas sul-americanos, mas acho que hoje vocês serão os únicos. Querem vir comigo?

— É... Claro! Por que não? Adoro turismo. Vamos.

Niko foi seguindo o homem que lhes mostrava lugares históricos da ilha. Entusiasmado, o loiro tirava fotos de tudo, inclusive do seu guia bonitão.

— Gente, como ele é fotogênico!... – Pensava. –... Igual o Félix. Ai, ai, eu tô me sentindo tão culpado por estar achando esse cara um gato... Mas, ele é. Se o Félix estivesse aqui pelo menos... já estaria fazendo ceninha de ciúme. Ah, mas, ele que prefere ficar no quarto em vez de vir comigo. E também, não estou fazendo nada demais. Eu amo o Félix, mas... Olhar não tira pedaço. – Tirou outra foto quando o guia estava de costas.

O homem virou. – Quer tirar uma foto daqui? – Indagou mostrando a paisagem a frente.

— A-Ah, sim, sim... É que você passou na frente quando eu ia bater. – Disfarçou.

— Nesse caso, com licença, pode tirar. – Saiu da frente para Niko tirar mais uma foto. – Ah, tem um lugar aqui perto do qual você pode ter uma vista magnífica de quase toda a ilha. Daria uma bela foto.

— Ah, eu quero ver.

— Vamos, é bem perto.

Levou-os até um morro.

— Eu não sei se é seguro a menina subir aí. – Disse Niko sobre Mel.

— Eu consigo. – Disse a pequena que já foi logo subindo afoita.

— Mel! Espera, Mel, não vai na frente...

O guia a segurou. – Ei, mocinha, você não pode subir assim. Sabia que minha filha quando tinha sua idade vivia subindo aqui? Mas, ela caiu e ficou com o joelho todo esfolado. Você não quer que seu joelhinho fique assim, quer?

— Não.

— Então? Quer subir nas minhas costas? Eu te levo.

Ela olhou para Niko em dúvida e ao ver o loiro consentindo, ela aceitou.

Com ela nas costas, o guia foi na frente, já que o terreno era muito íngreme, e ao pôr a menina no chão foi ajudar Niko a subir.

— Vem, pode vir. – Estendeu a mão. Niko segurou em seu braço e começou a subir meio desajeitado. O guia deu dois passos para trás para subirem mais, mas Niko não o acompanhou e pisou em falso numa pedra desequilibrando a ambos. Quando percebeu, o loiro havia caído em cima dele.

— Vovô Niko... Tudo bem? – Mel indagou.

Niko levantou-se na mesma hora sentindo que estava completamente vermelho.

— S-Sim, Mel... E-Eu tô bem, tô bem... Tá tudo bem. – Assim que o guia levantou, Niko pediu: - D-Desculpa, desculpa!... Eu nem vi onde estava pisando...

— Tudo bem, não tem problema. Vamos continuar?

— Continuar? Ah! Sim, sim, vamos.

Continuaram andando e Niko estava completamente sem graça, até que chegaram ao topo e o loiro ficou deslumbrado com a paisagem.

— Que coisa linda! Olha, Mel!

— Que lindo! – A pequena se admirou.

O guia o chamou. – Vocês podem ficar aqui um instante? Minhas chaves caíram do meu bolso na queda.

— Sim, pode ir. E, mais uma vez, desculpa tá?

— Já disse, sem problema. É só um minutinho. – Saiu.

— Mel, vem cá. Toma. – Entregou o celular a ela. – Tira fotos com o celular enquanto eu tiro com a câmera, tá bom?

— Tá.

— Tira daquele lado que eu tiro desse, mas não se afasta muito pra não cair.

A menina tirou uma foto e estranhou ao vê-la na tela.

— Vovô Niko, olha... O tio Fabrício saiu na foto.

— Como é que é? – Pegou o celular e viu que o filho estava lá. – É, é o Fabrício...

— Ele também tá aqui?

— Está, mas não deveria estar. Continua tirando fotos, Mel, eu vou ver ali.

O loiro avistou o filho e ia até lá quando parou surpreso ao ver quando a garota que estava com ele o beijou.

— Mas, o quê... O que aquela... O que ela pensa que está fazendo com o meu filhote? Ah! Eu vou lá!

Chegou mais perto em silêncio.

— E ele tá correspondendo! Esse menino...

— Fabrício! – Falou alto assustando-os.

— Papai?!

Niko cruzou os braços e fechou a cara.

— O que está fazendo aqui, posso saber?

— É... Eu...

— Não arrume desculpas, mocinho. Eu sei muito bem o que o senhor estava fazendo. Eu vi!

— V-Viu? O que exatamente o senhor viu? Por que não é o que está pensando...

— Você não sabe o que estou pensando.

— Papai, o que você está fazendo aqui? Como chegou a esse lugar? – Tentou desconversar.

— Isso não vem ao caso.

— Ah, vem sim. Estava me seguindo, por acaso?

— E eu tenho motivos para te seguir, Fabrício?

— Isso é uma pergunta capciosa?

— Não, é bem direta. Eu não estava te seguindo, te vi aqui por acaso, mas que sorte né? Porque você estava se deixando levar por essa... Desconhecida.

— Não, papai, claro que não!

— “Não, claro que não!”... Sou eu quem está imaginando coisas...

— Pai, ela é...

— Ela é o quê? Uma havaiana que você achou perdida aqui?

— Não, pai, ela é uma garota que eu conheci na internet e eu combinei de me encontrar com ela aqui.

Niko ficou boquiaberto. – Foi pra isso que eu te paguei aulas de inglês? Pra você marcar encontros com gringas pela internet?

Kalena se pronunciou. – É... Na verdade, senhor, eu falo português.

— Espera, você é brasileira?

— Não, nasci aqui, mas meu pai é brasileiro.

— Ah... Tá, tanto faz. Olha aqui, mocinha, eu vi que foi você quem beijou meu filho, tá? E eu vou logo te avisando, não brinca com esse garoto...

— Pai! Tá me envergonhando...

— Não me venha com essa! Mais vergonha você vai ter quando estiver aí babando por ela e ela já estiver saindo com outro.

— Ai, papai, nada a ver...

— Nada a ver? Sei...  Fabrício, ela até parece mais velha que você.

— Não parece não...

Ela se pronunciou. – Fabrício, na verdade, eu sou mais velha sim. Tenho vinte e um.

— Viu só? – Niko indagou. – Você sabia disso por acaso?

— É... Não, mas...

— Isso responde. Você acha que eu não conheço os jovens da sua idade, meu filho?

— Não conhece não. Vamos combinar que no seu tempo era bem diferente...

— Não era tão diferente assim. Eu também queria tudo de uma vez e não pesava as consequências dos meus atos, eu sei como é...

— Pai! Parou, tá? – Fabrício chegou mais perto dele, encarando-o e baixando o tom de voz. – Não é a mesma coisa. Você não sabe o que eu tô sentindo.

— Ah, você acha que eu não sei...

— Não, você não sabe. Por acaso você já se interessou por uma mulher na vida?

—... Não. Nunca.

— Então você não sabe como é.

Niko engoliu seco sentindo-se decepcionado. – Tá bom... Você acha que eu não sei de nada né?

— Não foi isso que eu quis dizer...

— Foi sim. E ouça bem, meu filho... Não interessa o gênero da pessoa que você gosta, o que interessa é que ela goste de você também. O sentimento é o mais importante, o resto não faz diferença nenhuma. Mas, se você se acha tão diferente assim, eu tenho uma coisinha pra te dizer: eu te conheço, te conheço melhor do que ninguém, eu sou seu pai. E eu sei que você ainda vai se arrepender do que acabou de me dizer. Eu poderia apostar até, que antes do fim dessa viagem, você vai me pedir desculpas.

— Ai, papai, não exagera! Até parece que está me ameaçando...

— Não, é apenas um aviso. Você pode estar se sentindo adulto agora, Fabrício, sentindo que já sabe tudo o que poderia saber, mas você ainda é uma criança inconsequente e tem muito a aprender. Por exemplo, a ver além do que os olhos veem.

— Não entendi.

— Vai entender. – Respirou fundo. – Agora, com licença. Eu não vou te envergonhar mais. – Foi saindo.

— Papai, volta aqui... Papai!... – Chamou, mas Niko não lhe deu ouvidos e foi embora.

Fabrício voltou para perto dela.

— O que houve?

— Nada...

— Deveria ir atrás do seu pai e conversar com ele.

— Você acha?

— Acho.

— Eu não sei se eu vou... Ah, é o apocalipse quando o papai me trata como se eu ainda tivesse dez anos!

— Não se preocupa. Acho que é normal todo pai ficar nervoso quando vê o filho ficando com alguém.

— É... Nós estamos ficando?

— Achei que não precisasse dizer.

Ele riu mordendo os lábios e a segurou pela cintura. – Quer saber? Tenho certeza que o papai não vai ficar chateado comigo por muito tempo. Depois eu falo com ele. E agora, onde eu parei mesmo? Ah, já sei... – Beijou-a.

...

...

— Por favor, podemos ir embora? – Niko perguntou ao guia ao encontrá-lo.

— Sim, mas por quê? Não quer continuar o passeio?

— Não, eu perdi a vontade.

— Não foi algo que eu fiz, foi?

— Não, não, você foi ótimo, Guilherme, eu só... Estou cansado mesmo. E... A Mel deve estar com fome. Por falar nela, onde ela está? Não acredito que me descuidei assim...

— Não se preocupe, eu já a levei lá para baixo, ela está nos esperando. Quer que te ajude a descer.

— Quero, estou com medo de escorregar.

— Pegue na minha mão.

Niko pegou na mão dele e foi descendo até que escorregou numa parte mais lisa. Antes que ele caísse o guia o segurou pela cintura.

— Nossa! Que pegada! – Pensou alto, mas logo se redimiu. – Q-Quer dizer, você é bem rápido, hein?

— Tenho bons reflexos. – Riu. – É... Quer que te solte agora ou vamos descer assim mesmo?

— Hã? A-Ah, sim, pode soltar! – Niko ficou outra vez ruborizado e o soltou. Desceram, pegaram a menina e foram embora.

...

O guia levou-os até perto do hotel e se despediu.

 - Foi um prazer fazer esse passeio em tão agradável companhia.

— Deve estar falando da Mel, não é? – Niko deu um sorrisinho tímido.

— Dela e de você. – Niko ruborizou. – Bom, Niko, se estiver interessado em conhecer um pouco mais as ilhas, haverá uma excursão para um dos vulcões amanhã de manhã.

— Ah, eu quero ir sim! Adoraria! Nunca vi um vulcão de perto.

— Ótimo. Sairemos às seis da manhã de frente do posto de turismo.

— Ok, não vejo a hora.

— Eu posso ir também? – Perguntou Mel.

— Desculpe, mocinha, mas essa excursão não é adequada para crianças tão novinhas. – Ele  disse.

— É, Mel, você pode aproveitar pra ficar amanhã brincando com seu priminho Ângelo. – Niko argumentou.

— Tá!... Olha o vovô ali! – Apontou ao ver Félix ao longe descansando numa cadeira de praia. – Eu vou contar a ele tudo que eu vi.

— Vai lá. – Virou para o guia. – Vem cá, essa excursão não é perigosa não né? Porque você disse que não era adequada a crianças...

— Não, não é perigosa, apenas o terreno que não é muito fácil, há de se tomar um cuidado que as crianças ainda não têm, é por isso.

— Ah, tá... E... Quantas pessoas terão? O-Ou será só nós dois de novo? Por que se for eu não vou. Não é por nada, mas...

— Não, terá mais gente, pelo menos é o que eu espero. Está marcado com um grupo de oito pessoas, além de que eu serei o guia assistente, há outro que é especialista em fazer a caminhada até os vulcões.

— Ah, nesse caso, eu vou. Deve ser interessante.

— Ótimo. E se quiser pode chamar seu companheiro para ir junto...

— Ah... Acho que o Félix não curte muito esse tipo de coisa, mas eu vou tentar convencê-lo sim, é uma boa ideia. – Logo pensou: – Pelo menos eu não penso besteira se o Félix for junto. – E se despediu. – Bom, então, até amanhã.

— Até. – O guia foi embora.

Niko respirou fundo e pensou:

— Ai, ai... O Senhor disse para não cairmos em tentação, mas às vezes não facilita, né? – Riu consigo quando ouviu a voz grave atrás dele.

— Carneirinho.

— Félix! – Deu um pulo. – O-Oi... Você me surpreendeu.

— A Mel foi me buscar. Com quem você estava falando?

— A-Ah, aquele?... É o guia turístico.

— Ah, bom. A Mel estava aqui me contando as aventuras de vocês dois.

— Nós dois?

— É, você e ela. E aí? Já satisfez seu desejo por turismo ou não?

— Oi?

— Criatura, estou perguntando se já passou a vontade de ficar zanzando por aí, tirando foto de tudo quando é coisa.

— A-Ah, sim...

— Niko, tá nervoso com alguma coisa? – Indagou estranhando seu comportamento um tanto quanto afobado.

— Eu? Não, imagina, Félix... Impressão sua. É só que... Eu caí quando a gente estava subindo um morro para ver a paisagem...

— Foi, vô! O vovô Niko caiu bem em cima do Guilherme. – Mel comentou.

Niko engoliu seco esperando a reação de Félix.

— Guilherme?

— É o guia... – O loiro respondeu sem graça.

Diferente da reação que ele esperava de Félix, o moreno apenas comentou:

— Oh, Mel, você está chamando o Niko de vovô agora é? Olha, carneirinho, você não vai ter mais que esperar o Ângelo começar a falar.

— Hã? Ah, p-pois é... Ela me pediu para me chamar assim e é claro que eu deixo, com todo prazer.

— Mel, por que você não vai lá onde eu estava para ajudar o Jayme a cuidar do Ângelo?

— Eu vou! – Correu.

Félix abraçou Niko pela cintura.

— Vamos também, carneirinho? Só assim para você esquecer um pouco seus hobbies turísticos e passar um tempo ao meu lado.

— Vamos...

— Você tem alguma coisa?

— Não... Eu... Só estou um pouco dolorido da queda.

— Ah, sim... Vem cá, você caiu de bunda foi? – Riu.

Niko também riu envergonhado. – Não ri, Félix. Não... Eu caí de frente.

— E que história é essa de que você caiu em cima desse tal Guilherme?...

— Ah... Não foi nada... Eu só desequilibrei e cai bem em cima do guia, acredita? – Deu um sorriso amarelo. – Mas, eu levantei super rápido, fiquei morrendo de vergonha...

— Só com você para acontecer essas coisas, carneirinho. – Mas, Félix ainda estranhou seu nervosismo. – É só isso mesmo?

— É! Claro! O que mais seria? – Deu outra risadinha, mas na verdade estava se sentindo culpado por ter sentido atração por outro.

— Não sei, você parece nervoso...

— Eu? Imagina, Félix... Bom... Na verdade estou sim, por causa de algo que vi. É sobre o Fabrício.

— O que ele fez?

— Eu te conto quando chegarmos ao hotel. Agora, Félix, deixa eu só te dizer uma coisa?

— Diga.

— Eu te amo. Muito. Muito mesmo. Eu te amo com todas as minhas forças. – Afirmou olhando-o nos olhos.

Félix sorriu. – Por que isso agora?

— E tem hora para eu reafirmar que te amo?

Félix sorriu e o beijou e logo o levou de volta ao hotel.

...

...

Mais tarde...

No quarto, Niko contava o que viu para Félix. O loiro andava de um lado a outro enquanto o moreno o ouvia sentado na cama.

—... E aí aquela... Moça, o beijou, Félix! Beijou o Fabrício e ele se deixou ser beijado, acredita?

— Acredito. Ele tem dezessete, ia perder essa oportunidade?

— Você não tá nem um pouco preocupado? O nosso filhinho, nosso caçula, tá por aí com uma desconhecida, sabe-se lá o que ela quer com ele...

— O que ela poderia querer, carneirinho? O que todo jovem nessa idade mais quer é...

— Nem me fale. Eu não quero ver meu filho ficar abobalhado por uma moça qualquer e se entregar fácil assim.

— Se entregar? Que coisa antiga, carneirinho, pelas contas do rosário...

— O que você está querendo me dizer?

— Você acha que o Fabrício... Nunca...

— Nunca o quê?

— Ai, Niko... Hoje em dia é muito difícil um jovem de dezessete anos ainda ser virgem.

—... Você acha?

— Não acho, eu sei.

— E-Eu não acho! Ele é meu filho, eu conheço ele. E se ele já tivesse... Ficado assim com alguém assim, ele teria me dito, não?

Félix olhava para ele balançando a cabeça em negativo.

— Que é, Félix? Não me diga que ele disse alguma coisa pra você e você não me disse...

— Relaxa, carneirinho. Ele não me disse nada, eu também não sei, mas suspeito. Você sabe que há anos o carneirinho júnior vive rodeado de admiradoras e admiradores secretos, às vezes nem tão secretos assim. Eu já soube de alguns namoricos dele, eu soube até quando ele deu o primeiro beijo.

— Eu também sei. Ele tinha catorze anos.

— Catorze? – Félix riu. – Ele tinha doze, carneirinho.

— Doze? - Niko sentou na beira da cama.

— Foi. Ele mesmo me disse.

— Ele te disse? – Niko ficou com uma expressão triste.

— Que foi, carneirinho?

— Me sinto mal por ele ter dito isso a você e não a mim.

— Ah, é que eu fico mais tempo em casa né? Ele me contou isso uma vez depois de chegar da escola, você não estava e ele confiou em mim, só isso.

— Não é só isso, Félix. Você não vê? Ele não confia em mim.

— Claro que ele confia, criatura, para com esse drama...

— Eu não sei se ele confia. E não é só isso. Nós prestamos atenção no Fabrício, nós dois sabemos dos namoricos que ele já teve durante a adolescência, inclusive os que ele escondeu da gente. Você entende o que eu quero dizer?

— Acho que entendo...

— Félix, ele está se tornando um homem agora e não deve estar sendo fácil. Ele deve estar confuso talvez e... Eu, sinceramente, também não sei o que fazer. Foi tão simples com o Jayme, mas não está sendo com o Fabrício.

— É porque ele é genioso como você, carneirinho.

— Félix, é sério...

— Eu sei, criatura, eu sei, estou entendendo. Mas, ainda acho que você está fazendo tempestade em copo d’água.

Niko suspirou. – Félix, o que vamos fazer, hein?

— Nada. Quem tem que fazer é ele, Niko. O Fabrício tem que viver a própria vida e a gente não tem no que se meter.

— Mas, eu tenho medo, Félix... Tenho medo de ele ter tantas dúvidas que se deixe levar pelo papo mais bonito ao pé do ouvido...

— Eu vou repetir o que já te disse, carneirinho. Nosso filho é inteligentíssimo e, por mais adolescente que seja, ele sabe o que faz. Não vai fazer nada do que se arrependa, muito menos se envolver com alguém que não o faça bem.

Niko olhou para Félix e sorriu. – Não pensei que a essa altura da vida você é quem estaria me dando conselhos.

Félix riu. – Ah, meu lindo carneirinho, eu sempre estou disposto a te surpreender. – Deu-lhe um selinho e pegou em seu rosto. – Agora me fala uma coisa... É só por isso que você chegou tão nervosinho?

— Hã... N-Não, é... Eu... Eu também estou pensando no Jayme e na Angélica. Eles se acertaram?

— Ah, você não sabe da última.

— Qual?

— Eles fizeram uma aposta, nem te conto...

— Conta.

— Tá louco pra saber o babado, né? Carneirinho curioso...

... ... ...

— Angélica, onde você estava? Não ouviu o bebê chorando não? – Perguntou com o filho nos braços.

— Eu estava no banheiro, Jayme.

— De novo?

Ela suspirou impaciente. - Você podia ter preparado a mamadeira dele né? – Foi pegando a mamadeira e o leite na bolsa.

— Eu estava desfazendo a mala, por isso não vim logo.

— Não importa. Eu vou deixar algumas mamadeiras prontas e você fica com ele agora pela manhã...

— Aonde você vai?

— Eu vi que tem um SPA no hotel e eu quero ir conhecer. Afinal, viemos aqui para relaxar não foi?

— Foi. Mas, eu também quero relaxar.

— Você está querendo dizer que não relaxa quando está com seu filho, por acaso? – Indagou com uma mão na cintura.

— Não foi isso que eu disse. Pelo contrário, às vezes eu relaxo mais sozinho com ele que com você.

Ela ficou boquiaberta. – Não acredito que você disse isso! – Exclamou revoltada.

— Olha aqui, você não é mais a mesma, tá?

— Não? E em quê você acha que eu mudei? – Perguntou como se o testasse.

— Você... Você mudou, não sei explicar... – Chegou perto dela. – Eu só não queria que a gente brigasse. Me diz, está acontecendo alguma coisa com você que eu não sei.

Ela titubeou como se fosse falar algo, mas desistiu.

— Não, Jayme, não... Olha... Vamos fazer o seguinte... Não vamos mais brigar.

— Você promete?

— Prometo. Eu vou tentar me acalmar e você tem que me prometer que vai ter mais paciência. Eu só estou... É... Nervosa.

— Mas, me fala por que, meu amor?

— Por... Por nada, Jayme. Depois a gente conversa, tá bom?

— Está bem.

— Então, cuida bem do nosso filho. Vou deixar uma mamadeira pronta, se eu demorar você faz outra né?

— Faço.

— Ei! Você ainda não está satisfeito, não é?

Ele suspirou. – Não, Angélica. Eu sinto que ainda tem alguma coisa que você não quer me dizer. Além disso, olha o lugar onde estamos, olha esse paraíso... Eu queria aproveitar com você, não ficar aqui.

Ela sorriu. – Já sei. Aposto que você queria fazer igual a seus pais né? Que agora devem estar aproveitando a suíte numa eterna lua de mel.

— Provavelmente. – Riu.

— Meu amor, nós temos um bebê, fica um tantinho mais difícil...

— Sim, mas por outro lado nós temos uma família bastante prestativa. Entendeu?

— Entendi. – Riu e teve uma ideia. – Ok, vamos fazer uma aposta. Nós pedimos para seus pais ou seu irmão ficarem com o Ângelo para nós vivermos uma verdadeira lua de mel, se...

— Ih, lá vem... Se o quê?

— Se você ficar cuidando do nosso filho hoje o dia todo.

— O dia todo? Você vai ficar enfiada no SPA o dia todo?

— Jayme, pensei que não íamos mais brigar...

— Eu sei, eu sei, desculpa. Mas, aonde você vai o dia todo?

— Vou ao SPA, vou... Ver outras coisas... Não sei, só sei que vou demorar. Ah, mas não pense que a aposta é apenas para você. Eu também vou ficar um dia todo cuidando do nosso filho para você fazer o que quiser. E quem passar por esse dia melhor, sem muita ajuda do outros, faz tudo que o outro pedir. E aí topa?

Ele pensou e apertou sua mão. – Topo. – Aceitou dando-lhe um beijinho.

— Ótimo. É bom você conseguir, viu? Se conseguir eu te dou uma grande surpresa.

— Hum... Mal posso esperar. E se você for a vencedora, o que vai querer de mim?

Ela arqueou os ombros. – Me surpreenda. Mas, minha surpresa ainda vai ser a melhor.

Depois que ela saiu, Jayme ficou sozinho com o filho.

— Agora somos você e eu, filhote. E aí? Quer passear com o papai? ... O que será que sua mãe tem, hein? Ainda estou a achando estranha... Mas, deixa. Hoje nós vamos cuidar um do outro, e ela vai ver, seremos a melhor dupla. Você vai me ajudar né? – Brincava com o pequeno.

... ... ...

— E foi isso, carneirinho. Quando eu decidi sair do quarto e ficar um pouco na praia, o Jayme me pediu para ajudá-lo. Estava meio enrolado, mas até que está dando conta.

— Pelo menos se pode dizer que eles se acertaram né?

— Eu diria que eles nunca se desentenderam de fato.

— Félix... Está sabendo de alguma coisa que eu não sei? Quer dizer, de mais alguma coisa?

Félix riu. – Eu sei de tanta coisa, carneirinho...

— Ah, me conta.

— Conto nada, carneirinho curioso. Não conto porque você me deixou sozinho esta manhã com vontade de... De você.

Niko fez de novo cara de culpado. Lembrou-se da culpa que estava sentindo por ter ficado admirando o guia turístico. Félix perguntou:

— Me diz... Era só por causa dos nossos filhos mesmo que você estava nervosinho quando voltou?

— Eh... É. Era por... Tsc, nada demais...

— Sei. Carneirinho, quantos anos estamos comemorando juntos?

— Dezessete.

— E você ainda acha que eu não sei quando você está mentindo?

— H-Hein?

— Carneirinho, desde que te conheci eu sei que você não sabe mentir. Eu sei quando você esconde alguma coisa. Me fala... O que mais te atormenta?

Niko não queria confessar o que havia realmente acontecido. Pensava: - Eu não vou dizer, não quero magoar o Félix, ele vai ficar chateado comigo... Ou pior... E se ele perder a confiança em mim?...

Niko pensou e rapidamente encontrou a solução. Empurrou o marido em cima da cama e sentou em seu colo com uma perna de cada lado, e então o beijou vorazmente.

Félix não entendeu nada, mas obviamente adorou aquela atitude.

Ao soltarem-se para respirar, Niko comentou:

— Me desculpa, Félix? Acho que essa era minha vez de levantar um cartaz pra você dizendo me desculpa.

— Te desculpar por que, carneirinho?

— Porque... Porque eu te deixei sozinho esta manhã. Mas, agora eu quero passar uma tarde todinha te compensando.

Félix abriu um largo sorriso. – Ah é?... Adoro... Faz só uma coisinha antes?

— O que você quiser.

— Se certifica de que a porta está trancada. E coloca uma daquelas plaquinhas de “não perturbe” na maçaneta.

Niko riu e fez o que ele pediu. O loiro estava disposto a satisfazê-lo e demonstrar-lhe todo seu amor e desejo por ele e aliviar sua própria consciência.

...

...

No dia seguinte...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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