Reis e Rainhas. escrita por BlindBandit


Capítulo 4
A Jornada de Melody




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Melody –

Des de que eu consigo me lembrar, eu tenho corrido para o abrigo. Em noites alternadas, as vezes por dias seguidos, as vezes, ficávamos meses sem ir. Mas eu sempre acabava lá. Retirada subitamente de qualquer coisa que eu estava fazendo, e trancada com minha família, enquanto esperávamos os rebeldes partirem.

No começo, eu não questionava. Se esses “rebeldes” eram capazes de assustar a meus pais e todos no castelo, eles deviam ser monstros brutais. Quando eu era nova demais para entender, eu imaginava eles como monstros, seres surreais, como os vilões dos livros. Quando cresci, descobri que eles eram pessoas como nós, mas eu ainda os temia. Deveriam ser pessoas horrorosas para destruir minha casa daquela maneira.

Eu perguntei a respeito deles a meu avô, mas ele sempre dizia que eu era nova demais, e quando chegasse a hora, eu entenderia tudo.

As vezes eu acho que ele quem era velho demais. Suas ideias, ultrapassadas demais.

Eu não me lembro do meu percurso até o acampamento dos rebeldes. Naquele momento, eu estava assustada demais. Temia o que iria encontrar quando chegasse lá. Minha imaginação infantil me fazia imaginar seres assustadores, servos da magia, um homem envolto em sombras, minha sentença de morte. Tudo isso se dissipou quando eu ouvi uma risada.

Meus olhos clarearam. Eu estava entre varias fogueiras, e varias pessoas sentavam-se ao redor delas. Não os monstros que eu imaginara. Pessoas.

O que chamou minha atenção aquela noite foi um garotinho. Ele usava uma blusa rasgada e segurava um coelho de pelúcia encardido com ele. Seus grandes olhos, mesmo que castanhos, me faziam lembrar de minha irmã.

Meus raptores já tinham seguido adiante, praticamente sem notar que eu tinha parado. Eles sabiam bem que eu não teria como escapar, e logo alguém viria me buscar. Eu era a prisioneira deles, afinal.

– Olá – eu disse para o garotinho. Ele se acanhou um pouco, ameaçando correr, mas eu ajoelhei a seu tamanho, e ele deu um passo a frente. – Como você se chama?

O menino abanou a cabeça, mas segurou minha mão, me puxando atrás dele. Ele me conduziu para uma das fogueiras, onde pessoas de varias idades sentavam-se. Ele soltou da minha mão e se jogou no colo de uma mulher mais velha, provavelmente a mãe.

– Desculpem-me - eu disse quando todos me encaram. – Ele me trouxe até aqui por razão nenhuma, e vou voltar....

– Não seja boba! – disse um homem barbudo e magrelo. – Senta aqui com a gente! Você tem onde jantar?

– Bom, não mas....

– Então venha – ele disse me puxando. Eu me sentei no tronco de madeira ao lado dele.

– De onde você é? – perguntou um outro homem. Esse era mais gordo e tinha uma grande cicatriz na bochecha.

– Eu sou...

– Pare de metralhar a menina com perguntas! – disse a “mãe”. – Ela vai falar da vida dela quando quiser. Vocês sabem muito bem como cada um tem seus segredos, e talvez prefiram não lembrar de onde vem.

– Desculpe Mama Abigail. – disse o homem mais gordinho. – Eu sou Bruce – ele estendeu a mão para mim, e eu a apertei.

Era estranho. Como princesa, em um castelo, as pessoas sempre me trataram como uma superior. Até o nascimento de um irmão menino, eu era a herdeira ao trono de Illéa. A não ser por minha família, eu nunca fora tratada como uma igual. Era uma sensação esquisita, mas eu gostava.

– E eu sou Max – disse o mais magro ao meu lado. – Aquela ali, como você já viu, é a mama Abigail. E o pequenininho ali, é o Kore. Na verdade, a gente chama ele assim. Achamos ele vagando sozinho, sem família. Ele não fala, mas já é da família.

– E você mocinha, como se chama? – Mama perguntou, limpando as mãos no avental.

Eu pensei que não teria sentido esconder meu nome. Logo, eu seria anunciada a todos como a princesa herdeira capturada.

– Eu me chamo Melody – eu disse estendendo a mão para ela.

– Melody? Mas esse não é o nome da princesa? Acho que a mãe de alguém estava inspirado na família real quando te batizou.

Eu ri. Não deixava de ser verdade.

– Na verdade, minha mãe meu deu esse nome porque eu chorava muito quando eu nasci, mas ela disse que tinha certa melodia.

Eles riram, e eu me juntei a eles.

– Essa é uma razão melhor do que homenagear a princesa – disse Max. – Quero dizer, ela ainda é uma criança, mas crescera para ser um deles.

– O que você quer dizer por um deles? – perguntei.

– Você sabe. Presunçosos, tratando-nos como lixo em uma sociedade injusta. – disse Bruce. – Castas. Tudo bem, isso pode ter sido uma boa ideia no começo, mas agora? Forçar pessoas a serem o que elas não querem ser? Determinar condição social por números? Mama aqui era uma Sete, mas tinha a voz de um anjo, nunca pode cantar, já que esse era trabalho para um Cinco. Que tipo de vida é essa?

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Max tomou de onde ele parou.

– A única forma de acabar com isso é derrubando a monarquia. Se tomarmos o poder, podemos ajeitar as coisas.

– E atacar o castelo, matar guardas inocentes e funcionários é a maneira de ajeitar as coisas? – eu perguntei, já com raiva. Eu podia ainda ser criança, mas estudara politica minha vida toda, sabia uma coisa ou outra.

– De que lado você está, afinal? – Max perguntou.

– Eu só acho, que invadir e matar não seja a melhor ideia. Vocês já tentaram negociar? Tenho certeza que o príncipe Maxon...

– Todos sabem que não é o príncipe que manda. Ele e aquela Cinco trouxeram um pouco de esperança para nós. Ainda mais quando a garota durante a Seleção propôs a extinção das castas. Mas parece que é o velho rabugento que continua mandando.

– Você é nova para saber – disse Mama – mas o rei Clarkson é um carrasco dos piores. Ele queimou casa de pessoas que nem tinham nada com a rebelião, só para mostrar que tinha poder. Ele retira as pessoas todos os dias de suas casas e as joga na rua, como oitos. Nós recolhemos quem pudemos. Estamos a margem da sociedade criança. Somos mais baixos do que oitos. Nem existimos.

Antes que eu pudesse dar continuidade ao meu argumento. Fui puxada pelos braços por dois homens carrancudos.

– Ei! Me soltem! Vocês estão me machucando! – eu exclamei.

– Você vem conosco – um deles disse.

– Mas o que a garota fez ? – perguntou Max.

– Ela não fez nada. – sorriu o grandalhão. - O problema é quem ela é. Erra é a princesa herdeira de Illéa, Melody Schreave.

Todos os meus três novos “ amigos” escancararam as bocas, em surpresa.

– Nós a capturamos no castelo – disse o homem, eu o reconheci como meu raptor. – Na verdade, traríamos a menorzinha, mas ela se dispôs a ir no lugar da irmã. Quanta nobreza – ele caçoou.

– Agora, se vocês nos derem licença, temos uma prisioneira para levar – o homem grandalhão disse, e saiu me arrastando pelo acampamento. Agora, todos sabiam quem eu era, e os olhares deixaram de ser amigáveis.

America –

Toda a luz tinha ido embora da minha vida e de todo o castelo. Aquele lugar nunca parecera tanto uma tumba quanto nos dias que se seguiram ao rapto de Melody. Eu passava a maior parte do tempo no quarto. Os médicos temiam que eu perdesse o bebe por causa da depressão.

Maxon passou dias sem me visitar. Quando eu o via, era muito brevemente. Ele tinha bolsas de olheira e andava pelo castelo como um zumbi. Ele tentava desesperadamente contata os rebeldes, oferecendo qualquer coisa por Melody em troca. Mas era em vão. Não fazíamos ideia de onde eles estavam. Só nos restava esperar.

Lira era quem mais me partia o coração. Ela sempre perguntava se a irmã voltaria logo para elas brincarem, e andava pelos corredores meio perdida, com duas bonecas na mão, como se fosse esbarrar com Melody e elas brincariam.

Meu coração se apertava cada dia mais. Onde estaria minha menininha?

Melody –

Depois daquela primeira noite agradável, minha vida se dificultou. Eu dormia no chão, sob uma manta velha, e caminha muito todos os dias. Sempre acampávamos em um lugar diferente. Eu não tinha permissão para falar com ninguém. No começo cogitaram me algemar, mas dai lhes ocorreu que eu tinha apenas seis anos e era uma princesa. Eles não poderiam estragar a mercadoria. Então, sempre haviam dois homens me vigiando. Nunca os mesmos. Quantas pessoas tinham naquele lugar?

Eu estava deitada, tentando dormir quando ouvi uma voz familiar. Eu sabia quem era o chefe dos rebeldes, mesmo nunca tendo falado com ele. Eu era apenas um Gatinho que valia um bom dinheiro a ele - e Mama. Os dois estavam conversando fora de minha tenda. Ou melhor, estavam discutindo.

– Você não pode fazer isso com a garota Guilard! – exclamou mama - ela é uma criança, pelo amor de Deus!

– Ela é uma ratazana, com o sangue daquelas outras ratazanas. Só porque é um filhote, não significa que não ordenará nossa morte quando assumir o trono!

– Eu falei com ela no primeiro dia! Ela não é um monstro, é uma garota! E ela sabe mais que nós! Considere! Ela viu nossos ataques aos olhos de uma criança assustada, e me fez perceber que nós não somos os salvadores que pensamos! Ela perguntou porque matávamos os guardas, e as criadas! Essa criança já viu morte e medo assim como nós Guilard. O único culpado disso tudo é o rei, Não os guardas que matamos...

– Abigail, escute...

– Não, escute você. Nós matamos pessoas inocentes, e eu nunca parei pra imaginar isso. Eu sei, eu sei que eles fizeram o mesmo, mas nós não nos gabamos de ser melhor do que eles? Muitos daqueles homens e mulheres, a quem tiramos as vidas só para abrir caminho ao nosso objetivo só estavam fazendo seu trabalho! Aposto que algum daqueles guardas era um seis, que foi escolhido no recrutamento, e mandava dinheiro para a mãe sustentar os outros cinco filhos que ela tem em casa! Eu não consigo dormir a noite pensando nisso Guilard. O quanto essas pessoas são diferentes de nós?

– Nós precisamos limpar todo o sangue que eles derramaram!

– Como? Com mais sangue ainda?

Depois disso, Mama se retirou. Todos no acampamento assistiam a cena, e aos sussurros comentavam sobre a conversa. Eu só notei que chorava quando passei as mãos no rosto. O sono não veio fácil aquela noite.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado! nãose esqueçam das reviews (:



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