Show Me Love escrita por noOne


Capítulo 64
Decadence


Notas iniciais do capítulo

Yey, voltei! Faltando 6 capítulos para o término da fic, já começo a sentir saudades de tudo isso... :c
Um beijo enorme e boa leitura ;*



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POV Marceline

20 semanas se passaram desde o ocorrido, algumas coisas mudaram pra pior.

Arthur e Violet completam 5 meses de vida. Marshall completa 5 meses de quase morto. Assim que Fionna entrou em coma, ele também parou de viver. Entrou em uma fossa tão fodida que ninguém foi capaz de tirar ele de lá. Se recusa a ver a luz do sol, briga com todo mundo, resmunga o dia inteiro, fuma feito uma chaminé e bebe como um louco. A situação ali está triste.

Faz umas 3 semanas que eu não tenho contato com ele, já que ele resolveu que não queria ver a minha cara nunca mais. “Suma daqui e me deixe morrer em paz!” foi o que ele gritou um pouco antes de bater a porta na minha cara. Atualmente, somente Cake, Jake e Chris tem falado com ele, quando ele raramente abre a porta do B19.

Mesmo assim, ainda o amo. Me parte o coração vê-lo daquele jeito. Meu coração de irmã durona amoleceu bastante com a chegada desses bebês. E foi com esse coração mole que eu resolvi voltar atrás, visto que eu não conseguiria continuar muito tempo sem falar com aquele imbecil. Preciso ver como ele está.

Parei no corredor pro prédio e fiquei encarando a porta fechada, lembrando da última vez que estive aqui... meu sangue ferve só de lembrar daquela discussão. Bati na porta três vezes e chamei seu nome, mas ele não atendeu. Talvez só estivesse me ignorando, como de costume, mas mesmo assim insisti e bati novamente.

Nada.

Me invoquei e meti a mão na maçaneta, a girando e entrando com tudo, pronta para aguentar a santa ignorância do Sr. Marshall, mas o que encontrei foi algo bem diferente disso. Foi bem ruim.

Pra começar, o apartamento cheirava a mofo e estava mais desorganizado do que nunca.

Ele estava estirado no chão, de costas, aparentemente desmaiado ou morto. Não respirava nem se mexia. Como estava sem camisa, pude ver todas as curvas de sua coluna, marcas de suas costelas e os ossos da escápula e ombros saltando sob a pele mais branca que uma folha de sulfite. Ao seu lado havia uma garrafa vazia e em sua mão esquelética estava uma bituca de cigarro apagado.

– M-Marshall? – O chamei, mas o silêncio continuou instaurado na sala.

Ajoelhei ao seu lado, segurando-o em meus braços. Seu corpo estava leve como o de uma criança, gelado e puro osso. O balancei bruscamente, para ver se ele acordava, gritei seu nome diversas vezes, e quando já estava á ponto de me derramar em lágrimas e concluir que ele se fora, o mesmo grunhiu.

– Marshall, fala comigo, pelo amor de...

– Ngh... cala essa boca, Marceline – Ele tocou meus lábios, com o resto de forças que ainda tinha – Minha cabeça está estourando... não vê que estou tentando dormir?

Aquilo foi um alívio, pelo menos não estava morto.

– Olha só seu estado! – Disse, nervosa – Levanta, veste uma camisa. Eu vou te levar ao hospital.

– Não consigo – Ele resmungou, ainda no chão – Vá embora e me deixe morrer em paz. Apague a luz e feche a porta.

– Se não consegue levantar, eu te carrego – Segurei em seus braços e o joguei em meus ombros - Não posso deixar você desse jeito. Isso já passou muito dos limites.

– Me solta agora, Marcy! – Ele exclamou, elevando a voz – Você não pode me obrigar.

– Pare de se torturar, garoto! – Elevei a voz também, apertando seus braços sobre meus ombros – Se matar não vai fazer Fionna voltar.

– Não toque no nome dela! – Ele puxou o braço e me empurrou, ficando de pé – Vá embora, eu estou mandando.

– Por favor, me deixa te ajudar – Implorei – Você vai morrer desse jeito.

– É tudo o que eu mais quero – Ele caminhou até a janela e a fechou, escurecendo a sala.

– E quanto ao Arthur? – Questionei – E Violet?... Eles não significam nada pra você?

Ele ficou quieto por um tempo, de costas para mim, apenas encarando o quadro torto na parede. Nele havia uma fotografia dele com Fionna, eles sorriam e brindavam o ano novo. Me lembro bem daquele momento, porque fui eu que tirei a foto. Eles estavam tão felizes... Agora todo o passado parece ter virado apenas cinzas de cigarro e fumaça, pairando no ar e entrando em sua cabeça.

– Hein? Me responda! – Gritei – Nós não somos nada pra você? Fionna estaria orgulhosa disso?

Ele parecia estar chorando, levou as mãos ao rosto e sentou no chão, virado para a parede. Dobrou os joelhos contra o peito e inclinou a cabeça. Abraçou as pernas com os braços e se calou de vez.

– Isso não é vida, Marshall – Suspirei, caminhando até o mesmo – Me ajude a te ajudar.

– Eu sei – Ele disse baixo – Eu não preciso de ajuda. Estou bem. Agora vá embora.

– Bem? Você tá mais magro que judeu em campo de concentração – Me ajoelhei na sua frente – Olha isso: tá puro osso. Mais pálido do que nunca... Há quanto tempo você não penteia esse cabelo? E estas marcas pelo corpo? Isso é estar bem?

– Eu vou ficar bem, prometo – Ele olhou pra mim – É sério, não se preocupe comigo. Apenas cuide das crianças.

– Você é um péssimo cumpridor de promessas – Estendi minha mão – Vamos, você não vai se erguer sozinho.

– Marceline, por favor – Ele afastou minha mão – Me deixe sozinho. Respeite minha dor, meu espaço, meu resto de vida.

– Você está se suicidando aos poucos – Repousei minha mão em suas costas – Existe um mundo lá fora, todos estão sentindo sua falta.

– Ninguém precisa de mim – Ele virou a cara – Chris e Babi vão casar, Finn e Flame têm uma ruivinha linda, Você e Cake estão formando uma família... Todo mundo já tem com o que se preocupar. As coisas não são mais como eram antigamente.

– Nós estamos tentando seguir com as nossas vidas e você deveria fazer o mesmo – Me sentei ao seu lado – Eu fui ontem no hospital, ver a Fi... Os médicos disseram que o quadro dela está estagnado. Se nada acontecer até o fim dessa semana eles vão desligar as máquinas.

– O que? – Ele arregalou os olhos – C-como?

– Nossas esperanças estão indo embora com o tempo – Olhei pra ele – Você tem que seguir em frente sem ela.

– Não! – Seus olhos se encheram de lágrimas – Eu prefiro morrer do que ver isso acontecer!

– Eu sinto muito – O abracei, senti seus ossos. Ele chorou por horas no meu ombro enquanto eu entrelaçava os dedos em seus cabelos emaranhados.

Ele dormiu chorando sobre mim, o arrastei até a cama e o cobri. Arrumei o apartamento como pude, o limpei, joguei uma infinidade de tralhas e lixo fora, abri as janelas e destranquei as portas. Fiz o que pude para consertar as coisas.

Ele acordou ao anoitecer, o convenci a tomar um banho, se alimentar e vestir uma roupa limpa, para que pudéssemos visitar a coelha e dar um último adeus.

Ele estava muito fraco e abatido, era a tristeza em pessoa. Pensando bem, no lugar dele eu também estaria assim. Fala sério, é uma desgraça após a outra, e quando ele pensa que finalmente está tudo bem, a vida chega e acaba com tudo.

Ele não me direcionou nenhuma palavra durante a viagem, e também não disse nada enquanto estávamos no hospital. Fomos em silêncio até o quarto em que Fionna estava, e continuamos assim quando chegamos lá. Só se ouvia o barulho do monitor cardíaco e mais nada. Marshall só esboçou uma emoção quando estávamos lá... e foi de cortar o coração.

Ele pegou uma caneta na cômoda e passou a escrever algumas coisas num pedaço de papel que tirou de seu bolso.

– O que está fazendo? – Indaguei, curiosa

– Carta de despedida – Ele disse sem nem tirar os olhos do papel, riscando sem parar.

– Isso é realmente necessário? – Inclinei a cabeça

– Pode nos deixar sozinhos por um segundo? – Ele pediu, sem desviar o foco.

– Tudo bem – Respondi e dei as costas.

Fechei a porta e deixei os dois lá dentro. Fui meio sem rumo até a recepção, me deparei com a máquina de café. Depositei as três libras na máquina e observei o café cair quente no copo de isopor. Segurei-o em minhas mãos e estremeci, o tempo estava tão frio lá fora que congelava a alma. Caminhei até a entrada do hospital e fiquei observando a chuva cair vorazmente sobre a cidade.

Me pergunto quando é que esse mau tempo vai passar... E eu não me refiro ao clima londrino.

°°°

Algumas horas depois, Marshall já havia se despedido oficialmente e estava pronto para ir embora de vez. Fizemos questão de deixar pra Fi flores em vida, então eu a entreguei uma rosa branca e ele uma vermelha. O vampiro ainda enxugava as lágrimas enquanto andávamos em direção a estação do metrô. A chuva caia forte sobre nós, mas ele parecia não se importar. Aquela com certeza foi uma das piores noites de nossas vidas.

E quando você pensa que não tem como piorar, a vida te surpreende.

O persuadi para que ele passasse uma noite no meu apartamento, visto que ele não estava nada bem. Para minha surpresa, ao chegar em casa encontrei Cake em prantos, ligando para a polícia.

– Graças á Deus vocês chegaram – Ela veio em nossa direção

– Pensei que ela não acreditas...

– Por Glob, aonde você estava? – Ela deu um soco fraco em meu ombro – E o que você está fazendo aqui, Marshall? Eu bati feito uma louca na sua porta e nada de você atender!

– O que tá acontecendo? – Ele questionou

– Seus filhos – Ela se virou para ele

– O-que tem eles? – O mesmo indagou, preocupado

– Eles sumiram.

Tudo ficou em silêncio por um tempo. Logo em seguida ele balbuciou

– C-como é que é?

– Você só pode estar brincando... - Levei as mãos á cabeça - Como pode?

– Eu não sei, eu cheguei agora e comecei a procurar por vocês, mas vocês não estavam em lugar algum! Eu pensei que eles estavam com você, mas se vocês não estão com ele, com quem eles estão?! – Ela dizia com voz de choro – Eu já procurei em todos os lugares! Liguei pro Chris, pro Jake, Finn, Flame... Ninguém sabe de nada!

– Puta merda Cake, como você é irresponsável! – Exclamei – Como é que tu deixa essas crianças sozinhas?

– Eu deixei, você tem certeza? – Ela elevou a voz – Eu saí de manhã cedo pra trabalhar e só voltei agora! Você é quem devia estar cuidando delas!

– Eu pensei que você estivesse em casa hoje! – Gritei no mesmo tom – Eu fiquei fora o dia todo, como é que eu vou saber?

– Parem de discutir e façam alguma coisa! –Marshall berrou – Vocês dizem que eu sou o inconsequente, mas perderam meus filhos! Que merda é essa? É assim que vocês cuidam deles?

– Olha aqui, seu emo de merda, se você estivesse cuidando da tua cria ao invés ficar se drogando, trancado e isolado do mundo, isso não teria acontecido! – Cake jogou na cara

– Não se meta na minha vida, você não passou nem pela metade do que eu passei! Não tomou as decisões que eu tive que tomar e nem foi culpada por tudo, a vida toda! – Ele apontou o dedo na sua cara - Porque não fecha essa sua boquinha e vai consertar a merda que você fez?

– Tira essa mão esquelética da minha cara e pare de gritar comigo! – Ela apontou o dedo em seu rosto, gritando.

– Sai da minha frente antes que eu faça alguma merda, vai – Ele a empurrou e saiu andando

– Mais merda do que você já fez? – Ela indagou – Impossível. Fionna está em coma por sua causa. Eles vão desligar as máquinas, por você!

– Cake... – Adverti

– O que foi que você disse? – Ele se virou pra ela

– Fionna morreu por culpa sua – Ela repetiu

– Cala a boca! – Ele desceu a mão em sua face.

Cake virou a cara, eu fechei os olhos, mas não escutei o estralo. Marshall parou a mão no ar, á poucos centímetros do rosto da gata. Suspirei, por pouco. Ele fechou o punho e socou a parede. Uma lágrima escorreu pelo seu olho, logo depois se curvou e se calou.

– Eu sei – Ele murmurou – É tudo culpa minha... tudo... tudo...

– Legal, voltou a depressão – Ela revirou os olhos

– Porra, Cake! – A empurrei – Você tinha mesmo que ter feito isso, né? Puta que pariu!

– Marshall, desculpa... – Ela pediu, inclinando-se a ele.

– Não, deixa... você tá certa - Ele ergueu o olhar – Fionna morreu por minha causa. Meu pai morreu por minha causa. Arthur e Violet sumiram por minha causa.

– Isso não é verdade – Ela insistiu

– Sim, é verdade! – Ele gritou, fazendo-a se afastar – Você sabe que é verdade, todo mundo sabe! Marshall Lee é um assassino! – Sorriu, abrindo os braços e com os olhos cheios de água.

– Não! Você não é! – Ela gritou também – Pare de se culpar, droga! As circunstâncias os mataram, não você.

– Vocês falam como se ela já tivesse morrido – Empurrei os dois – Porque não confiam no otimismo? Porque não param de brigar um segundo? Porque não vão atrás de Arthur e Violet? Ficar aqui discutindo não vai ajudar em nada!

– O que você quer que eu faça? – Cake se virou pra mim – Eles podem estar em qualquer lugar do país. Com qualquer pessoa.

– Com qualquer doente – Eu falei

– Com o Gumball – Marshall afirmou

O silêncio dramático se instaurou novamente. O telefone tocou. Nos entreolhamos, todos correram para atender ao mesmo tempo.

– A-alô? – Peguei primeiro.

– Coloca no viva-voz – Cake pediu

– Boa noite, senhorita – A voz do outro lado da linha ecoou na sala.

– Quem é? – Disse, nervosa

– Adivinhe, meu amor – Ele riu

– Vai pro inferno, Gumball!!! – Marshall gritou, tomando o telefone da minha mão – Aonde estão meus filhos? O que você fez com eles? Seu filho da puta, eu vou te matar!

– Nossa, calma vampirinho – Ele gargalhou – Pra que essa raiva toda? Que ódio no coração... Seus filhos estão bem, por enquanto. Não se preocupe, é só obedecer as minhas ordens que tudo acabará bem. Ou quase.

– Escuta aqui seu boiolinha do caralho, você vai me dizer aonde estão meus sobrinhos ou eu vou ter que enfiar um três oitão na tua cara? – Indaguei

– Ai nossa – Ele riu – E aonde você vai arrumar uma dessas?

– Para de enrolar e fala o que você quer – Cake ordenou

– Nah, vocês sabem muito bem o que eu quero – Ele disse – Mas como eu quero ser breve, vou explicar meu plano pra vocês. Como vocês já devem estar sabendo, eu prometi que nunca iria permitir que você e Fionna ficassem juntos... E como eu já soube que a coelha está partindo dessa pra melhor, só falta você, vampirinho.

– Se é a mim que você quer, deixe meus filhos em paz – Marshall disse.

– Então vamos fazer uma troca – Ele propôs – Sua vida em troca destas duas lindas crianças, o que você acha?

– Feito – Ele disse sem pensar duas vezes

– Marshall! – Exclamei

– Ótimo – Gumball deu-se por satisfeito – Você sabe onde fica aquele casebre abandonado, na margem entre a floresta e a estrada principal que corta o estado, não é?

– Claro – Ele suspirou – Foi pra lá que você levou a Fi, quando sequestrou ela.

– Garoto esperto – Ele riu – Eu quero você lá, ás 4 da manhã, sem falta.

– Eu estarei

– Só você e eu, entendeu? Não quero polícia envolvida nisso

– Ok.

– Caso você der uma de malandro pra cima de mim, eu estouro os miolos da menininha e jogo o garotão aqui no ácido – Ele falou – Ácido... Isso te lembra alguma coisa, Marceline?

– Vai se ferrar – Ela rosnou

– Também te amo – Ele riu – Até daqui a pouco, vampiro. Você tem 5 horas para se despedir do seu pessoal.

Ele desligou, deixando tudo com clima de velório.

– Você não vai fazer isso – Disse

– Eu preciso – Ele se virou pra mim – Você não vê? Acabou.

– Não, tem que ter um jeito – Cake andava em círculos.

– Não vai adiantar nada ficar quebrando a cabeça – Ele afirmou – Eu vou fazer o que ele quer. É uma troca justa... eu não vou mais criar problema nenhum a partir de hoje.

– Tá bom Marshall, você quer ir, você vai – A gata se virou pra ele – Mas eu simplesmente não posso deixar você morrer assim.

– E eu lá tenho outra escolha? – Ele arqueou a sobrancelha – Na melhor das hipóteses, irei encontrar Fionna no céu.

– Você sabe muito bem pra onde é que você vai agindo desse jeito... – Revirei os olhos – Isso é suicídio. Não vou deixar você ir.

– Não pode me impedir – Ele deu de ombros – Você querendo ou não, eu irei.

– Posso ao menos chamar a polícia? – Cake indagou – Só pra garantir que tudo vai acabar bem.

– Vocês escutaram o boiola – Ele advertiu – Nada de envolver a polícia nisso. Eu preciso ir só.

– Se você for sozinho, ele vai te matar e sumir com Violet e Arthur – Ela falou – Você deveria saber que o Gumball é um mentiroso dissimulado. Nunca confie nele.

– Tá, e o que a gênia sugere que eu faça?

– Nós poderíamos nos esconder nos arbustos e observar – Sugeri – Caso Gumball fuja com as crianças, depois de tirar sua vida, nós saberemos.

– Espera... você tá aceitando minha morte tão facilmente assim? – Ele se virou pra mim

– Não é isso o que você quer? – Franzi a testa – Relaxa, eu não vou permitir que nada aconteça com você.

– Como se você pudesse fazer alguma coisa... – Ele bufou

– Eu gostei da ideia – Cake comentou – Só pra garantir, nós deveríamos ligar pra polícia.

– Eles vão fazer um escarcéu, com direito a sirene, alto falante, helicóptero e armas de fogo – Marshall revirou os olhos – Não dá. Se Gumball descobrir, já era.

– Ele não vai descobrir – Insisti – As autoridades vão saber o que fazer. Tenho certeza de que eles irão bolar um plano melhor que o nosso, resgatar essas crianças e ainda salvar sua vida.

– Eu não confiaria tanto assim, mas... – Ele se deu por vencido – Tudo bem.

– Sabia que você iria dar ouvidos á razão uma hora ou outra – Ela levantou as mãos

– Mas eu quero que você me garanta que só irão fazer alguma coisa quando Violet e Arthur estiverem á salvo – Ele disse

– Certo – Afirmamos em uníssono.

– E se não der certo? – Sua expressão mudou

– Se não der... – Minha expressão mudou também – Eu quero que saiba eu te amo... E você não foi um irmão tão mau assim.

– Eu sei... Mas não deveria – Ele sorriu

– Sem negatividade, galera – Cake pediu – Vai dar tudo certo, confiem.

– Mesmo assim, posso fazer um último pedido pra vocês? – Ele fez cara de cachorro pidão.

– Hm

– Fala

– Eu preciso dar uma volta nessa cidade mais uma vez – Ele deu meio sorriso.

– Really? – Cake arqueou a sobrancelha – Você está por um fio da morte, seus filhos estão com o Gumball e tu quer dar uma volta?

– Ahh, qual é? Confiem em mim. Gumball já disse que eles estão bem. Ele não vai fazer nada até as 4 – Ele suplicou – Vamos lá meninas, quando foi que vocês ficaram tão ranzinzas?

– Quando você resolveu se isolar do mundo, á uns meses atrás – Cruzei os braços – Você é muito louco, Marshall... Sinceramente...

– Gente, foi nessa cidade que eu vivi por 2 anos inteiros... Foi nesses dois anos que eu tive a melhor fase da minha vida! Foi aqui que eu evolui, amadureci, conheci todos vocês... Eu preciso ver as luzes da cidade á noite uma última vez – Ele juntou as mãos em sinal de prece – Vocês não podem me negar isso.

– Tá bom – Cake arrastou a voz, pegando as chaves do carro – Você vem, Marcy?

– Vou né – Ela revirou os olhos – É cada ideia nonsense que esse garoto tem, que eu vou te falar... Acho que todo esse tempo enfurnado em casa te deixou meio pancada das ideias...

– Também te amo maninha – Ele riu – Vamos passar na casa do pessoal também?

– Sério? – Cake se virou pra ele

– Porque não? – Ele indagou – Eu quero vê-los uma última vez.

– Não é uma última vez – Garanti – Eu sei que tudo vai acabar bem.

– Foi isso que você me disse no dia em que Fionna entrou em coma – Suspirei – Você também é uma péssima cumpridora de promessas, assim como eu.

– Nah, somos todos uns cretinos – Ela deu meio riso também

– Ainda bem que vocês sabem – Cake olhou pra cima

– Relaxa, você tá nessa também – O vampiro repousou o braço em seu ombro.

– Sabe... eu senti falta do velho Marshall... Babaca, largado e sardônico – Ela disse

– Queria que esse teu espírito de deboche ficasse entre nós pra sempre – Olhei pra cima

– Se pra sempre quer dizer até ás 4 da manhã, eu estarei - Ele repousou o outro braço sobre meu ombro – Ei... Eu adoro vocês duas, sabia?

– Até quando vai durar essa fofice irritante? – Indaguei

– Enquanto eu viver estarei te irritando – Ele deu um beijo em minha bochecha.

– Vide até as quatro? – A gata questionou

– Exatamente – Ele disse como se fosse piada, abrindo a porta do carro e entrando em seguida.

– Seu jeito de brincar com a morte me assusta – Cake franziu o cenho.

A gata deu partida, arrastando o carro pelo asfalto. Como essa é a última noite de vida (na cabeça do Marshall) que ele vai ter, permiti que ele ocupasse o meu lugar no banco da frente, o que foi uma péssima ideia, já que o mesmo resolveu ligar o som no último volume e colocar a cabeça pra fora da janela. Ás vezes eu tenho dúvidas sobre a saúde mental desse garoto.

Uma noite que começou com uma trilha sonora vibrante e good vibes e terminou com músicas lentas e depressivas, dignas de um bêbado largado na fossa. Pra quem começou a viagem com uma cara de bobo pra fora da janela e terminou calado, com cara de nada e observando as luzes dos postes passarem, foi no mínimo deprimente.

If I Lose Myself – One Republic

I stared up at the sun (Eu olhei para o sol)

Thought of all of the people (Pensei em todas as pessoas)

Places and things I've loved (Lugares e coisas que amei)

I stared up just to see (Eu olhei só pra ver)

Of all of the faces (De todos os rostos)

You were the one next to me (Você foi aquele que esteve ao meu lado)

You can feel the light start to tremble (Você pode sentir a luz começar a piscar)

Washing what you know out the sea (Levando o que você conhece para o mar)

And you can see your life out the window (E você pode ver sua vida lá fora pela janela)

Tonight (Esta noite)

If I lose myself tonight (Se eu me perder esta noite)

It will be by your side (Será o seu lado)

If I lose myself tonight, yeah, yeah, yeah (Se eu me perder esta noite)

If I lose myself tonight (Se eu me perder esta noite)

It will be you and I (Será só você e eu)

Lose myself tonigh (Me perco esta noite)

– Droga de vida – Ele murmurou baixo, olhando para as estrelas – Tudo o que eu queria era você aqui.

– Oi? – Cake se virou pra ele, mas não obteve resposta. Ele estava em outro mundo.

– Cara... como foi que eu cheguei até aqui? – Ele indagou, depois de muito tempo sem dizer nada.

– Na ponte London Bridge? – Cake indagou, sem desviar o olhar da estrada.

– Não... como é que eu cheguei á esse ponto da minha vida? – Ele continuava observando as luzes – Sentado em um carro, tentando desesperadamente compensar a tragédia que é minha vida com uma última volta pela cidade, com vocês.

– Se você quiser voltar pra casa... – Eu sugeri

– Não, tudo bem. Eu quero continuar – Ele se inclinou no banco – Só queria que alguém me explicasse porque eu sou assim.

– Assim como, garoto? – Cake indagou

– Vocês sabem, desajustado – Ele fechou os olhos – Tudo o que eu faço é uma burrada atrás da outra. Agora eu só tenho 5 horas de vida, Fionna está morrendo... Perdi tudo. Nunca imaginei que o fim da linha iria chegar tão cedo pra mim.

– Não acho que seja o fim da linha – Coloquei a mão em seu ombro – Sempre há uma esperança, se você acreditar.

– Nessa altura do campeonato, esperança não faz parte do meu dicionário – Ele se virou pra mim – Eu já aceitei o fim.

– Você é quem sabe – Me inclinei pra trás novamente – Você vai ver que eu estou certa, como sempre.

– Faltam duas quadras para a rua da escola – Cake nos trouxe de volta a realidade – Quem você quer visitar primeiro? Finn ou Jake?

– Tanto faz, os dois devem estar no bar – Ele se virou pra ela – Preciso beber um pouco mesmo...

Ela assentiu com a cabeça e lá fomos nós. O chute de Cake estava certo, os dois estavam no pub... não só eles como todo o resto do pessoal. Jake cuidava do caixa, enquanto Finn o ajudava, atendendo algumas mesas. Chris estava sentado em um dos bancos altos na frente do balcão, ao lado de Babi, Beemo, que se acabava no milk shake e Flame, que segurava a pequena ruivinha no colo. O pré-adolescente foi o primeiro a me ver.

– Olha só quem tá aqui – Meu pequeno cunhado arregalou os olhos.

– Marshall? – Finn parecia não acreditar. Eu também não acreditava, como assim ele deixou a barba crescer? What? – Caraca, meu irmão... Há quanto tempo!

– Eu devo estar sonhando... – Chris se levantou – Marshall Lee Depressão Abadeer finalmente saiu de casa? E tomou um banho? Oh my glob, é um milagre!

– Até penteou o cabelo – Flame abriu um sorriso – Ain, acho que vou chorei.

– No entanto... continua com a mesma manta vermelha xadrez de sempre – Babi arqueou a sobrancelha.

– E vocês, continuam os mesmos filhos da mãe – Sorri

– Ah, vem aqui, seu babaca – Chris me deu um abraço – Nunca mais invente de sumir assim, ouviu?

– Ahh, sentiu minha falta? – Retribui o abraço – Olha só, continuou o mesmo gay de sempre...

– Todos nós sentimos – Flame me abraçou também – Tu é nosso brother, cara... Para de querer morrer.

– Ok, Flame – Ri – Vou tentar parar de “querer morrer”.

– Own, quero entrar na festa também – Babi também me abraçou.

– Nunca vi tanta viadagem em um lugar só... nem na Gay Parade – Finn deu dois tapas na minhas costas – Bom te ver de novo, bro.

– Valeu, cara – O abracei mesmo assim, o que o deixou vermelho.

– A lenda voltou, é isso mesmo produção? – Jake chegou depois – Cheguei atrasado pra festinha ou a sessão de viadagem ainda tá rolando?

– Ora, seu grande idiota... – Ri, o abraçando também – Caralho, senti muita falta de vocês. De verdade.

– Agora o convençam a ficar – Cruzei os braços

– Porque? Ele vai embora? – Chris indagou

– Tá querendo ir – Cake comentou – Tipo, pra sempre.

– Vai voltar pra américa? – Finn questionou

– Não, pro inferno mesmo – Respondi

– Marcy! – Ele se virou pra mim

– Que foi? – Olhei pra ele – Só disse verdades.

– Não, perai... Agora explica essa história direito – Jake pediu

– É, senta aqui com a gente – Finn puxou uma cadeira

– Tá bom – O vampirou revirou os olhos – Tô vendo que essa vai ser uma longa noite...

E pela primeira vez na vida, lhe dei toda a razão.


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Notas finais do capítulo

Gumball, sendo um maldito fdp desde sempre ¬¬
Ainda to elaborando o fim da fic, agradeço eternamente qualquer sugestão... Peço que me ajudem a fazer o final mais épico ever *--*
Beijão, até semana que vem!