Depressão escrita por Clarinha


Capítulo 3
Lie


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o terceiro capítulo, espero que gostem. Logo, quarto capítulo!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/475616/chapter/3

No dia seguinte, acordei com meu despertador tocando “Wild World”. Troquei de roupa, comi uma torrada e pedi ao meu pai para que me levasse ao hospital.

Infelizmente, meu pai teria que trabalhar muito naquele dia, então peguei uma carona com Gus. Durante todo o caminho, permaneci em silêncio.

– Hazel, fale comigo!! – Insistiu.

Fingi não notar sua presença falando com a minha pessoa. Porém, ele ficava saculeijando o carro, até que perdi a paciência.

– O que foi Gus? Não está vendo que acordei de mau humor?

Bem, qualquer um perceberia só de olhar meu cabelo. Estava todo dessarumado. Além dele, minha cara de bêbada e fumada.

– É, percebi.

Naquele momento, eu juro, que se eu tivesse uma faca eu deixaria-o sem órgão genital para eLE NUNCA PODER TER FILHOS PESTINHAS IGUAL AO PAI. Mas apenas olhei para a janela... Observei um livro com capa verde e escrito em dourado que estava na vitrine da biblioteca. O nome era “Pulsos felizes”. Fiquei pensando em quem foi o fora do ar que deu este nome, mas depois entendi o verdadeiro significado. Era um livro de auto-ajuda para quem se cortava. Óbviamente pensei em comprar para Charlie, mas não ainda.

Chegando no hospital, fui correndo para a recepção.

– Oi, eu poderia visitar Charlie, da sala 7?

Infelizmente, a moça disse que não. Tive que passar meia hora apenas olhando a cara de Gus, que apesar da idade, tinha uma mentalidade de criança. Deu o horário de visitas, eu entrei no quarto e vi Charlie assistindo à TV.

– Charlie!! – Eu disse gritando, indo em sua direção.

Charlie me recebeu de braços abertos, apertando fortemente até minhas bochechas ficarem vermelhas. Durante todo o período de visitas, eu, Charlie e Gus ficamos conversando sobre a questão do bullying. Apesar de Charlie dizer que não era nada, eu consegui sentir sua aflição diante de seus olhos. Eles estavam sem aquele brilho especial.

– Charlie, por quê não me contou antes?

Ele abaixou a cabeça, pôs a mão na nuca e me olhou.

– Eu tinha medo de você se afastar de mim...

– Claro que não!!

No mesmo instante, fui perto dele e o abracei. Em seguida, Gus me abraçou. Ficamos naquilo durante um bom tempo, até que o horário que podíamos ficar lá, acabou.

Saindo do hospital, Gus me levou tomar milk shake de chocolate, seu favorito. Passamos o dia todo conversando. Quando deu 17:00, Gus me deixou em casa. Entrei correndo, fui para a sala e coloquei no canal 47. Estava passando "As crônicas de Narnia", e obviamente eu iria assistir. Porém, acabei dormindo na metade do filme, me senti uma molenga.

Passou-se alguns dias. Eu estava jogando basquete com meu irmão quando ouvi meu celular apitar. Era mensagem.

"Ei, Charlie saiu do hospital! - Gus"

Augustus estava tão prestativo comigo depois daquele dia em que tomamos milk shake. Passávamos horas conversando por sms, falávamos por telefone, saíamos no fim de semana. Bem, confesso que nos tornamos ótimos amigos, mas ele ainda tinha a mentalidade de uma criança.

Peguei minha blusa, e fui para a casa de Charlie. Chegando lá, cumprimentei a todos e me sentei no sofá. A família estava reunida para ver sua condição. Depois de um tempo, convidei Charlie e Gus para irmos ao meu jardim, onde antes ficávamos observando a natureza do ambiente.

Horas e horas apenas lá, sem ter que fazer nada. E a melhor parte, é que eu estava com meus melhores amigos. Porém, aquele dia foi diferente. Charlie teve que ir tomar remédio, enquanto eu e Gus ficamos sozinhos. O mais estranho, foi quando ele pegou na minha mão, me olhou e se aproximou de meus lábios, até me beijar. Até então eu achei que ninguém tinha visto, mas eu estava enganada.

Havia se passado dois meses. Eu e Gus estávamos namorando escondidos, e Charlie estava no hospital de novo. Dessa vez, a coisa era mais grave.

Demos de cara com Charlie na cama do hospital, ele estava com tubos de respiração preso em seu rosto, cheio de aparelhos em seu lado.

– Oi Charlie, como você está?

Mas Charlie só conseguia olhar fixamente para Gus. Era um olhar de reprovação, sem brilho, com lágrimas...

Naquela mesma hora, os aparelhos começaram a apitar. Charlie foi ficando pálido, e sua boca foi ficando sem vida. Aliás, Charlie estava perdendo a vida...

Tinha acontecido tudo ali mesmo, naquele instante, naquele olhar. Naquela noite, Charlie escreveu uma carta para mim.

"Querida Hazel, agradeço por todo esse tempo que você tem cuidado de mim. Tem sido minha melhor amiga durante anos. Sabe todos os meus segredos, sabe de toda minha vida...

Durante todo esse tempo você tem aturado meus ataques que vão parar nos hospitais, tem aturado as piadinhas feitas comigo quando andávamos juntos, e até mesmo fez amizade com meu melhor amigo...

Melhor amigo... há, se eu pudesse apenas descrevê-lo assim. Bom Hazel, provavelmente dessa noite eu não passo, então quero que saiba que, vi você e Gus aquela tarde, se beijando no jardim. No nosso jardim. Minha melhor amiga... e meu namorado.

Bem, eu não lhe culpo. Quero que saiba que, de todos, você foi sempre a que mais me entendeu... Então, obrigado. Me desculpa se não pude ser aquele amigo pro resto da vida, mas minha vida já está no resto, e você permaneceu até aqui. Obrigado mais uma vez.

Não quero que você pense que fui fraco. Pelo contrário, pude aguentar o máximo que pude, mas era muito. Eu te amo viu Hazel? Vou sempre estar te olhando...

Mas me desculpa,

Charlie."

Aquilo para mim foi o ponto final de minha amizade com Gus. Eu não queria uma mentira pra mim, e a culpa em meus ombros.

Durante dias e noites, permaneci com o olhar de Charlie na noite de sua morte em minha cabeça. Lembrei de seus cortes naquele dia, e de como eram fundos...Aght! Eu sentia o gosto de morte em meus lábios, a raiva apertando meus pulsos, minhas lágrimas lutando contra os sentimentos. Tudo estava tão frágil...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Logo posto o quarto capítulo (e último, acho). Abraços!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Depressão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.