Vício M(eu) escrita por Menina Sem Tabu


Capítulo 21
Capítulo 20 - Cala a boca, Linda.


Notas iniciais do capítulo

(notas no capítulo)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/475592/chapter/21

Notas: GENTE, 6.905 palavras, ufa! Escrevi metade do capítulo nessa madrugada até as 4 da manhã e terminei agorinha! Bom, passando então para desejar-lhes um feliz ano novo e para pedir desculpas por eu sempre demorar, sei que é horrível, e sei como é acompanhar fics de autores que demoram para postar. Vocês sabem como minha vida é, e principalmente agora no fim de ano fiquei super ocupada com o teatro (pq todo mundo quer performance natalina), só tô dizendo isso, para avisar para vocês que quando demoro horrores, não é por falta de respeito ou consideração com vocês, porque honestamente, amo cada um de vocês e tenho uma gratidão enorme! ♥ Ah, e queria pedir desculpas pelo capítulo anterior, sei que ficou confuso para alguns de vocês e na verdade também me pareceu meio estranho. Espero que esse não esteja horrível. Então, para quem ainda tem paciência em estar por aqui, nos vemos lá em baixo! ♥

Capítulo 20 – Cala a boca, Linda

Agora quem parecia não estar entendendo o que estava acontecendo era Zack.

–– Emily, eu acabei de me de... –– ele leva as duas mãos ao peitoral, gesticulando.

–– Você acabou de ser um idiota, Zack. –– completo por ele.

–– Mas Emily! –– pelos seus olhos indo para lá e para cá, percebo que está procurando argumentos num diálogo interno.

–– Mas Emily, nada! Como, diabos, você se acha no direito de vir no meu quarto e me agarrar? –– o questiono.

–– Você retribuiu o beijo. –– ele joga na minha cara.

Merda. É, ponto para você, Zack.

–– Sai do meu quarto. –– digo pausadamente, olhando para baixo.

–– Eu vim pedir desculpas! –– o leitor segura meus braços, como se implorasse para eu olhar para ele.

–– Você realmente acha que um pedido de desculpas e um beijo forçado vão me fazer te perdoar? –– olho no fundo de seus olhos.

Suas duas sobrancelhas estão levantadas, os olhos arregalados e a boca entreaberta. O ver assim me traz agonia, sinto vontade de abraçá-lo e dizer: “Esqueça tudo, eu te amo. Fica comigo e ponto.” Provavelmente o faria, se o som de sua voz xingando minha mãe ainda não ecoassem em minha mente.

Ele continuava em silêncio.

–– E outra Zack, você deve um pedido de perdão para Sheron, não para mim. –– desvencilho meus braços de suas mãos, me abaixo e pego o seu moletom que estava caído no pé de minha cama.

–– Agora, será que dá para você sair do meu quarto? –– grudo o moletom contra o seu peito e o empurro até a porta.

–– Mas Emi... –– ele diz quando já está no corredor.

–– Boa noite, Zack. –– o corto. Fecho a porta na sua cara e atrás de mim.

Sinto a madeira gelada contra minhas costas. Levo os dedos da mão direita até meus lábios, que pulsam.

Eu acabei de ser beijada por Zack. Eu ainda o amo. Eu acabei de lhe negar meu perdão.

Oh, meu Deus. Qual é o meu problema?

Alguém impulsiona a porta para ser aberta, o que me faz ser jogada para frente. Emi entra derrubando pipoca de um clichê pote de listras vermelhas e brancas, escrito “PIPOCA”. Minha outra eu leva um pequeno susto com impacto que a porta faz em meu corpo.

–– Mas o que você está fazendo aí? –– ela diz com a boca cheia de pipoca. Se abaixa e me ajuda a levantar. Emi me conduz até a cama e faz uma pausa para me encarar. De repente, os seus olhos se arregalam, ela larga o balde de pipoca e começa a pula enquanto balança as mãos.

–– Eu não acredito! –– Emi exclama. Eu apenas balanço a cabeça positivamente.

–– Pode dizer, que beija melhor? –– ela arrebita o nariz, me desafiando. Eu apenas fico em silêncio.

Muitas vezes o silêncio é o mais agradável, confortável e seguro.

–– Por favor, nem precisa responder, óbvio que sou eu. –– ela dá de ombros, convencida.

Nos aninhamos para voltar a ver o filme. Não consigo prestar atenção no roteiro, não que fosse muito difícil se distrair assistindo aquela coisa, mas... Eu não parava de repetir a cena do beijo.

–– Você quer conversar sobre isso? –– me pergunta Emi atenciosa.

–– Você sabe tudo o que quero falar. –– cochicho, encarando a tela sem enxergar os atores.

Minha outra eu desliga a TV, apaga a luz do quarto e volta para a cama. Sinto seus braços me envolverem, enquanto ela faz seus seios de travesseiro para mim. Emi nos cobre com o cobertor e acaricia meu braço. Ela sabe ser tudo o que preciso.

___________________________________________________________

–– Emily, acorda! –– ouço minha voz desesperada invadindo minha mente adormecida.

–– Estamos atrasadas! –– a voz insiste.

–– Emily! –– abro os olhos e vejo Emi me sacudindo pelos braços. Olho o relógio e constato que ainda falta uma hora para o despertador tocar. A encaro irritada.

–– Vá para o inferno, Emi. –– digo com os olhos entreabertos e com a voz sonolenta, viro pro lado e volto a dormir.

–– É óbvio que eu vou para o inferno, mas antes vou fazer você perder a sua nuvem ao lado do Senhor também. –– consigo enxergar minha outra eu fazendo o sinal da cruz, olhando para cima e se desculpando com um “com todo respeito”.

Emi me descobre, sinto o uma brisa fria me chicotear, mas continuo de olhos fechados. Não se dando por vencida, a menina escancara as cortinas e os primeiros raios de sol adentram o meu quarto. Aquilo já era um pouco demais.

–– Está bem, Emi. Você ganhou. Pronto, estou acordada. –– digo sentando em cima de meus pés, na cama. Ela sorri, vitoriosa.

–– Agora, –– continuo minha fala –– será que dá para explicar toda essa ansiedade?

–– Não é óbvio? Precisamos estar prontas o mais rápido possível para chegarmos o mais rápido possível na escola. –– ela revira os olhos.

–– O que? –– não estava acompanhando o raciocínio de Emi.

–– Pelo amor de Deus, Emily! Hoje sai o resultado do teste! –– ela ergue os dois braços para cima, anima. –– Temos que estar lá antes de todos! –– conclui.

–– Está bem, Emi. Está bem. –– digo como se aquilo fosse um grande sacrifício, mas no fundo eu também estava muito ansiosa. Talvez até mais do que minha outra eu.

Entro em meu banheiro e começo a me despir. Tiro uma peça de cada vez e escuto o estrondo que fazem ao encontrarem-se com o piso. As Lajotas brancas reclamam, por causa do impacto que sofrem, mas aguentam firme a dor e terminam a missão sem nenhuma fissura, verdadeiras guerreiras.

Fico em dúvida entre o boxe e a banheira, mas acabo escolhendo pelo chuveiro.

Movo a porta do boxe para o lado e faço com que meu corpo entre no retângulo espaçoso e transparente. Giro o registro e liberto as ansiosas gotas d’água para se jogarem alegremente na imensidão, até o ralo do chuveiro. Brinco com a água até ela ficar na minha temperatura ideal e depois desfruto do banho como bem quero. Quando termino, Emi já está pronta vestindo um vestidinho rodado, com a cintura marcada, com estampa de carnudos lábios vermelhos e fundo branco, com decote em V. Nos pés, um sapato preto de salto agulha 15.

–– Emi, vou ter que lhe dizer que você é muito lerda. –– minha outra eu confessa.

–– Quantas vezes vou ter que pedir para você não me chamar de Emi, mas que saco! –– digo irritada. Porque mesmo que eu esteja explodindo de ansiedade, com borboletas no estômago, ânsia de vômito e o coração mais acelerado do que não sei o que, consigo arranjar um espaçinho, nesse amontoado de sentimentos, para sentir raiva da menina igual a mim.

Giro o meu corpo, e vou para o meu closet, pegar as primeiras peças de roupas que meus braços alcançarem. Saio de lá com uma regata vermelha e uma jeans clara um pouco justa, mas quando vou pegar meu fiel all star, encaro um par de sapatilhas pretas com um top rosa bebê na ponta, que em algum dia da minha vida ganhei e nunca usei. Não sei ao certo o motivo, ou talvez só não quero admiti-lo nem para mim mesma, mas sinto vontade de usá-las. Ignoro meu preconceito, e calço o par de sapatilhas.

Quando saio, Emi deixa claro que estranha minhas roupas, mas acho que lhes agrada, já que sorri no final das contas.

Tenho a infeliz coincidência de abrir a porta de meus aposentos no mesmo momento em que Zack abre a dos dele. Ficamos um segundo no encarando em silêncio, cada um da sua respectiva porta. Ele está com fortes olheiras, o cabelo bagunçado de uma forma realmente bagunçada e não despojada, como sempre o arruma. Veste uma camiseta preta lisa e uma jeans. O leitor faz menção que vai me dizer alguma coisa, minha reação é passar reto por ele e descer cada degrau da escada sem olhar para trás.

Jogo a mochila que estava pendurada no meu ombro esquerdo no canto do sofá e poucos segundos depois escuto acontecer o mesmo com a mochila de Zack. Quando chego na cozinha Karen, a empregada, estava recém iniciando a fazer o café. Karen é bonita, deve ter uns 30 e poucos, tem cabelo castanho claro curto, com olhos verdes apagados, lábios nem finos nem grossos, de nariz pequeno e quase mais magra que eu. A moça não é lá de muita vaidade, o máximo que passa é um batom rosinha. Karen é simpática, nunca falei muito com ela, mas nunca falei muito com ninguém. Mas mesmo assim, sempre que paro para observá-la, percebo uma graça nela. Não tem nada marcante, mas é graciosa. Pego apenas uma maça e saio a comendo. Passo reto por Zack mais uma vez.

Dessa vez faço o percurso normal para escola, porque não estou com paciência de suportar aqueles caras. Emi saltita ao meu lado, enquanto tento caminhar e comer ao mesmo tempo. Para alguém como eu, é difícil coordenar a arcada dentária e os pés ao mesmo tempo. Oh, meu Deus, e eu ainda quero entrar para uma equipe de líderes de torcida. Só posso ter merda na cabeça.

–– Pare com esse drama, você faz atos enquanto morde, muito bem, muito bem mesmo. –– minha outra eu diz com malícia.

Ouço o motor de um carro com pouca velocidade ao nosso lado. Viro o rosto para o lado e encontro Zack acompanhando nossos passos, com o seu carro.

–– Nós precisamos conversar. –– ele grita. Eu continuo andando, reto, em silêncio. –– Emily, por favor. –– o leitor insiste, eu persisto com um passo após o outro, sem lhe dar atenção.

–– Será que você pode parar de ser infantil? –– Zack grita. Eu paro de caminhar, ele para de dirigir.

–– Como é que é? Agora eu sou infantil, Zack? –– grito também. –– Eu não tenho nada para falar com você. Será que você pode me deixar ir para escola em paz? –– ele fica em silêncio. Eu volto a caminhar, dessa vez mais rápido.

O rapaz volta a me seguir com seu carro.

–– Está bem, então não conversamos, mas entra no carro, Emily! –– ele pede. –– É ridículo morarmos na mesma casa e não irmos juntos. –– argumenta.

Paro outra vez de caminhar, automaticamente Zack também para. Abro a porta do carona, entro no carro, me acomodo no banco ao lado do leitor e fecho a porta brutalmente. Estico o cinto de segurança em diagonal no meu tronco e cruzo os braços, como sinal de que aquilo não era uma trégua.

–– Você realmente não quer conversar sobre on... –– ele tenta.

–– Não. –– o corto, brusca.

Do banco de trás, Emi observava toda a cena atentamente, como uma criança conhecendo um novo mundo, mas permanecia calada. Pelo menos por enquanto. Meu coração se acelera triplamente. Como se já não bastasse o resultado do teste, agora eu tinha Zack do meu lado, provocando todas as coisas que o leitor me provoca. Além de tudo, me sentia culpada por gostar do rapaz, assim como também me sentia enganada por ele. Só queria sair correndo dali. Assim que o rapaz acha uma vaga para estacionar salto do carro, Emi me segue ainda em silêncio.

Logo que entro no prédio principal do colégio, me deparo com a pequena imensidão do saguão. Olho para minha esquerda, onde está o corredor que leva ao corredor principal, que agora não deve ter um grande fluxo de alunos, na minha frente a parede principal do saguão, que é enfeitada por um monumento do mascote do colégio, uma naja, sempre me perguntei o motivo desse ser nosso mascote e nunca cheguei a conclusão nenhuma, mas independentemente da coerência, lá estava ela, em formato da letra S, com uns dois metros de altura, uma naja de cobre, com sua língua para fora e seu olhar penetrante. Ao seu lado está o armário de vidro que comporta todos os troféus que a escola já ganhou, tem também algumas fotos dos alunos que se destacaram nas competições, sejam intelectuais ou esportivas. Por fim, na parede direita do saguão, está a redação da rádio/jornal da escola, chefiado por Diana, uma menina de cabelo chanel loiro, com pequenos olhos cor de mel, nariz pequeno, lábios também pequenos, mas em formato de coração. Mas isso não importa, o que importa é que do lado esquerdo da porta da sala da redação está o único mural que é realmente atualizado e cuidado. É diretamente nele que vou, porque se o resultado do teste já saiu, é certamente, ali que ele está. Impresso numa folha de ofício A4, pendurada no mural por um alfinete de cabeça colorida.

Dou um passo de cada vez, e começo a enxergar tudo em câmera lenta, meus batimentos ecoam pelas paredes. Emi caminha lentamente atrás de mim, como se me fizesse de escudo. Chego à metade do saguão no que parece uma eternidade, e constato que vou demorar mais uma eternidade para cruzar a metade que resta até o mural. Observo meus pés se moverem, um após o outro, procrastinando a ação que me cérebro ordenava o máximo que podiam. Na verdade, eu não tinha bem certeza se queria chegar do outro lado. Mas mesmo assim continuei caminhando.

Chego na frente do mural de olhos fechados. Respiro fundo e solto o ar com serenidade. Abro primeiro meu olho esquerdo e só enxergo um tecido verde musgo do mural. Rapidamente abro o direito e só vejo cartazes de boas vindas às voltas aulas. Nada de resultado de teste nenhum. Não sei se estou aliviada ou com raiva. Certamente um pouco dos dois.

Eu e Emi cruzamos novamente o saguão e seguimos pelo corredor que leva ao corredor principal. Passamos pela secretaria, pelos banheiros e pelas primeiras salas de aula, até que dobramos a direita, entrando no corredor principal. Como o esperado, a escola ainda está bem vazia e só alguns alunos perambulam pelos corredores. Nós duas vamos seguindo em direção à aula de inglês, a última sala do corredor, onde na frente ficam dois banquinhos almofadados muito simpáticos. Quando não tem aula, sempre tem gente se agarrando ali, é conhecido “Caverna”, porque realmente parece uma.

–– Loirinha! –– escuto uma voz masculina me chamar assim que passo pelo armário de Jake, onde normalmente é o ponto de encontro do time de futebol. Olho para trás e tenho certeza deque vou encontrar Call, mas quem vejo é Luke. Isso porquê o seu armário fica a dois armários do de seu capitão, ou Deus, sei lá.

Ele corre até mim para me alcançar. Luke veste uma camisa polo verde musgo, da mesma cor que os murais da escola são revestidos, com uma jeans meio gasta. A camisa colada resalta todos os seus músculos, que como os de todo o time, não são nada pequenos. Seu cabelo escuro está cuidadosamente desarrumado num topete cheio de gel, esse é o jeito que a maioria dos meninos arrumam o cabelo. Principalmente os populares. A cor verde musgo estranhamente faz seus olhos azuis se destacarem mais do que já se destacam por natureza, principalmente envoltos por uma camada de cílios negros gigantes. Seus lábios são grossos, aliás, segundo uma enquete feita há uns dois anos pelo Jornal Clandestino, os alunos elegeram ele como o dono da boca mais sexy do colégio. Lembro que na época, isso causou um abalo na popularidade de Jake, mas daí ele deu uma festa monstruosa, embebedou e drogou todo mundo e tudo voltou ao normal.

–– Eu não posso não te dar os parabéns. –– ele diz sorrindo. –– Você deu um show ontem! –– Luke continua sorrindo.

–– Ah, obrigada. –– digo sem graça.

–– Com certeza você já tá dentro do time. –– ele dá de ombros.

–– Bem, o resultado ainda não saiu, então não dá para afirmar nada...

–– Por favor né, Emily! Nem precisa sair. –– Luke fala e eu me sinto muito bem sendo elogiada por ele. Não fico a vontade, bem pelo contrário, mas mesmo assim, me sinto muito bem.

–– Você não veio com o Zack? Onde ele está? –– pergunta o jogador, mas acho que é mais para quebrar o silêncio de alguns minutos do que por interesse no leitor.

–– Sim e não sei. –– digo. –– Acho que ele foi resolver algo na secretaria. –– completo, mesmo que seja mentira, apenas para minha fala não ficar tão vaga.

–– Pensei que fosse o único que vinha cedo para resolver coisas na secretaria. –– ele diz. É impressionante como as pessoas acham que são as únicas que fazem e pensam coisas que todo mundo faz e pensa. Se esquecem de que gente é tudo farinha do mesmo saco.

–– É um ótimo plano. –– tento agradar.

–– Sou um ótimo estrategista. –– Luke se gaba.

–– Por favor, não deixe o papo morrer, você está indo bem! –– Emi fala ao meu lado, como uma professora orgulhosa. –– E ele é lindo. –– ela completa.

A ignoro revirando os olhos.

–– E você veio resolver o que hoje? –– com muito esforço, pergunto.

–– Vai ganhar 5 estrelinhas, Emi. –– minha outra eu diz, sarcástica.

–– Cala a boca, Emi. –– falo telepaticamente.

–– Mudei o horário da minha primeira aula de hoje. –– o jogador informa. Apenas espero que ele conte-me mais sobre, porque não sei como ficar resgatando assunto.

–– Antes eu tinha História dos Estados Unidos, agora tenho Inglês.

–– Sério? –– Luke confirma com a cabeça. –– Estamos na mesma turma, então. –– concluo.

O jogador sorri.

–– Perdeu, Zack. –– minha outra eu decreta.

Na aula de Inglês a professora nos lembra de que temos apenas mais duas semana para entregarmos a redação polêmica, o que faz com que eu me lembre que não escrevi nenhuma palavra da minha.

–– Mas já escolheu o tema. –– Emi fala e pisca para mim.

Luke faz questão que eu me sente ao seu lado, e eu outra vez entro clandestinamente no território dos populares. Me sinto estranha durante a aula, não sei, é como se todos me observassem com os olhos esbugalhados respirando no meu cangote. No fundo é só paranoia, sei que sim, mas o sentimento que fica em mim é terrível. Esse mesmo sentimento persiste durante o resto das aulas até o intervalo. Quando soa o sinal, avisando que o intervalo chegou, saio correndo da sala, em direção ao mural atualizado do saguão, com Emi correndo elegantemente de salto atrás de mim. Tudo daria muito certo e chegaríamos primeiro que qualquer um no mural, mas ficamos presas na multidão de alunos do corredor principal. Estou entrando em desespero quando ouço um chiado vindo da saída de voz, em formato de um megafone bege no canto direito superior do corredor.

–– Olá amigos, aqui quem fala é Sofie Brown, a chefe da equipe de líderes de torcida! –– ela anuncia e o murmurinho acaba instantaneamente. Todos ficam quietos para escutar a Deusa do colégio.

–– Tenho aqui comigo o resultado do teste que realizamos ontem para ingressar na nossa família de cheer! –– ela continua. O silêncio persiste, consigo escutar as respirações a minha volta.

–– E a vencedora é... –– Sofie começa a frase, mas é cortada.

–– Diz que foi por unanimidade dos votos! –– cochicha uma voz.

–– Cala a boca, Linda! –– a Deusa perde a compostura e xinga a dona da voz também cochichando.

–– Sofie, diz! –– a trigêmea mais simpática insiste.

–– Por unanimidade dos votos da banca, a vencedora é... –– agora faz um suspense proposital.

Meu coração acelera e já o vejo esparramado no chão, depois sendo pisoteado por todos os alunos. Suo frio, e tenho a real sensação de que vou vomitar. Puta que pariu, Sofie, diz logo.

–– Emily Fox. –– meu coração para.

Emi grita e me abraça. Os alunos continuam em silêncio.

Mas um segundo após começam a me aplaudir e gritar. Quero dizer, ninguém havia me reconhecido, mas estavam aplaudindo a minha vitória.

Vou tentando passar entre as pessoas e quando quase piso nos pés de uma menina aleatória, a escuto perguntar para sua amiga:

–– Foi essa a menina fez o Jake de impulso, não foi?

–– Sim, foi ela sim! –– a amiga confirma.

Enquanto continuo tentando passar, uma ou duas pessoas descobrem que eu sou a nova cheer e me parabenizam, o que faz outras pessoas que estavam na volta virem me dar os parabéns também. Quase morro de constrangimento, mas sobrevivo. Eu e Emi conseguimos finalmente chegar no mural e lá estava, o resultado numa folha de ofício A4. Com o meu nome impresso nela. Ficamos encarando a folha por alguns segundos.

–– Você é Emily Fox! –– uma voz feminina afirma. Viro pro lado e encontro Diana, segurando um bloco de notas e uma caneta na mão. Ela veste uma baby look laranja fraquinho, que deixa uma faixa de sua barriga aparecendo, com uma minissaia jeans reta e um salto preto, nem tão alto quanto os de Emi, mas nem tão baixo assim.

–– Sim, acho que sou. –– respondo, desnorteada.

–– Ah, meus parabéns! –– ela diz, docemente. –– Registrei sua performance ontem, foi realmente muito boa.

–– Obrigada. –– digo, sem graça. Não sei lidar com elogios.

–– Foi um prazer, agora se me der licença, tenho muito trabalho para fazer! –– Diana diz, e se manda para dentro da sala da redação do rádio e jornal.

Considero tudo muito estranho, mas ignoro e eu e Emi seguimos para o refeitório.

Já estou preparada para seguir com minha bandeja para a biblioteca, como sempre faço, quando quase esbarro em Linda e quase tomo um banho de comida alheia novamente.

–– Foi quase. –– ela diz fazendo uma careta, quando consegue desviar de mim a tempo.

–– Realmente. –– concordo e nós duas rimos.

–– Você não quer lanchar comigo? –– Linda me convida. Demoro um pouco para processar o acontecido. Nunca fui convidada para lanchar, nem almoçar.

–– Pode ser, mas suas irmãs e amigas não vão se importar? –– receio.

–– Eu meio que me desentendi com elas, vou dar um tempo, depois vejo vou me desculpar. –– ela diz como se já tivesse executado esse sistema muitas e muitas vezes.

–– Sendo assim... –– concordo. Olho para Emi, ela está com um sorriso de orelha a orelha, acho que ainda está desfrutando da conquista.

–– Só precisamos achar uma mesa que não seja de nenhum grupinho. –– a cheer ri enquanto tenta ver por cima da multidão, alguma mesa vazia. –– Ali! –– ela diz apontando para algum lugar que não enxergo. Linda começa e eu e minha outra eu a seguimos. Nos sentamos numa mesa perto da porta.

Conforme as pessoas entravam cumprimentavam e elogiavam a trigêmea simpática. Mas duvido muito de que soubessem que ela era Linda e não Kate ou Taylor.

A menina me informa de que eu já começaria hoje no time, portanto eu era para estar no ginásio assim que a aula terminasse. Seria o meu primeiro treino. Todo entusiasmo se esvai para dar lugar ao medo. Mas isso dura só até Call chegar e se sentar com a gente. Ele dispersa qualquer ambiente. Era inevitável não notar que o jogador e a cheer se gostavam bem mais do que como amigos. Estava estampado na cara dos dois.

Após o término do intervalo, eu e Emi seguimos para nossa aula de geografia. Dessa vez me sento em meu rotineiro lugar. Ninguém me dá os parabéns e nem noto cochichos sobre mim, apenas duas meninas da equipe de líderes de torcida –– onde uma delas é a japinha que jogou a sua salada de frutas em mim e a outra é uma loira de cabelo liso, comprido e reto de olhos verdes com cara de sonsa –– ficam me olhando com cara de “Será que é ela?”. Tudo corria normalmente, até que o professor de estatura média, cabelos grisalhos, olhos castanhos, com uma barriguinha e com os poros das maças do rosto abertos resolve fazer a chamada. Estou concentrada no mapa dos Estados Unidos que está na minha frente, quando escuto meu nome.

–– Emily Fox. –– ele me chama.

–– Presente. –– respondo de modo automático.

–– Parabéns pela conquista, Srta Fox. –– o professor diz com um sorrisinho.

–– Obrigada. –– digo em tom de interrogação.

Um segundo depois começo a escutar “Parabéns” e “Você foi muito bem ontem” aleatórios de todos os cantos da sala. Mesmo que você não saiba como lidar com elogios, é maravilhoso recebê-los.

As aulas se arrastam até o almoço e é aí que o verdadeiro desespero bate. Me dou conta de que não tenho roupas adequadas para ir para o treino. Tenho apenas uma hora de almoço e levarei uma meia hora só para ir até em casa, e pedir uma carona para Zack estava fora de cogitação. Certamente vou chegar atrasada na próxima aula.

–– Mas onde você vai com toda essa pressa? –– Luke está no seu armário quando passo voando as tranças pelo corredor principal.

–– Não tenho tempo de explicar, preciso ir para casa e voltar em uma hora! –– digo sem nem me dar por conta do que estou falando. Ele ri.

–– Muita calma, lorinha, muita calma! –– Luke diz gesticulando. –– A sua casa fica a dez minutos de carro, eu te levo e você me explica no caminho. –– ele fala.

Penso seriamente em recusar a carona, pois me sinto incomodada, mas a aceito e lhe agradeço mil vezes. Conto para ele o motivo de eu ter que voltar para a casa e Luke fala que fica feliz em poder ajudar uma integrante da equipe de cheer, já que a equipe sempre ajuda o time de futebol.

Tendo a pegar uma calça de moletom e uma camiseta aleatória. Mas, Emi me manda pegar um shorts de malha preto e uma regata vermelha, para eu já ir entrando no clima. Aceito sua sugestão, porque para mim já está bem mais que claro que terei que mudar no mínimo minha roupas, isso é, se eu realmente quero prosseguir com esse meu plano.

–– Deixa para ter crise de identidade outra hora, ainda temos que comer alguma coisa, estamos sem tempo agora. –– Emi diz e sei que está certa, por isso ignoro qualquer dúvida que eu estivesse sentindo.

Luke nos leva de volta para o colégio e me convida para almoçar junto com o time de futebol, mas eu recuso por motivos óbvios. A obviedade mais confusa e intensa que eu já vi.

Pego apenas um sanduiche e um suco de laranja e com o coração acelerado sigo para a biblioteca. Comer é uma missão difícil quando se está nervosa. Ao mesmo tempo que se tenta engolir a comida, é como se tivesse uma mão empurrando-a de volta para fora. No meu caso, isso é extremo e sinto vontade de vomitar a qualquer momento. Minha outra eu tenta me acalmar de todos os jeitos, mas nenhum adianta, nem me xingar como no teste.

A cada passo que dou meu coração acelera mais. Estou com medo e agora, as portas do ginásio que se estendem a minha frente, parecem maiores do que realmente são. Me sinto constrangida, nunca apareci com tanta pele exposta no colégio.

–– Você vai me fazer entrar no seu corpo outra vez? –– Emi me pergunta, claramente sem paciência para o meu drama.

–– Não seria uma má ideia. –– admito. Ela me olha com pesar, passa na minha frente a empurra a porta. As meninas já estão lá dentro. Respiro fundo e tento caminhar normalmente até o centro da quadra, onde estão concentradas as cheerleaders.

Sofie sorri simpaticamente quando me vê, no mesmo instante minha outra eu revira os olhos.

–– Você não perde por esperar. –– ela diz entre os dentes, fuzilando a chefe com seu olhar. Mando Emi se aquietar, mas ela não me obedece.

–– Meninas, vamos nos reunir no círculo! –– ordena a Deusa. Todas se organizam e eu me encaixo num lugar aleatório. Olho para os lados e quase tenho ilusão de ótica, por causa da sequência de uniformes vermelhos e brancos.

Sofie se posiciona no centro da forma geográfica que fizemos.

–– Hoje é o primeiro dia de nossa novata, Emily Fox! –– ela anuncia a algumas garotas fazem cara feia para mim.

Fico procurando o rosto das trigêmeas para ver se encontro Linda, acho que só a presença dela me fará sobreviver às próximas horas que estão por vir. Encontro duas das irmãs, mas como nenhuma delas me acena, nem dão nenhum sinal de que me conhecem, presumo que são Kate e Taylor.

–– Cada uma de nós irá se apresentar para a Emily. –– Sofie explica. –– Podem começar.

Penso que virá um nome de cada vez, de forma civilizada. No entanto, o que se sucede é metralhadora de 18 nomes sendo falados ao mesmo tempo. Ainda assim, consigo gravar o nome de algumas. A japonesa se chama Tami, a loira que estava ao seu lado na aula geografia é Sarah, uma menina magra de cabelo castanho escuro pelo ombro e olhos também castanhos, que está sempre usando uma faixa na cabeça, é Marina e sei que também existe naquela equipe uma Karol, uma Victória e não tenho certeza, mas acho que escutei também Arielle.

Nem as irmãs de Linda, muito menos Alice, –– uma menina branquela de longas ondas loiras e dois olhos verdes gigantes, –– e Yasmin –– morena, de cabelo negro e cacheado até o meio das costas, com dois pequenos olhos amendoados –– as rainhas do colegial, se dignaram a pronunciar os seus nomes. Elas juram que todos sabem quem elas são, e estão redondamente certas. Nem preciso citar Sofie.

–– E eu sou Linda! –– a trigêmea simpática entra pela porta do ginásio –– Mas Emily já sabe. –– ela dá de ombros enquanto se aproxima do círculo e se posiciona ao meu lado.

Todas da realeza a lançam um olhar não muito amigável. Acho que o grupinho de Linda não está muito feliz com ela.

–– Resolveu aparecer, Lin. –– uma de suas irmãs diz.

–– Tente não se atrasar para o próximo treino, Linda. Daqui a pouco as eliminatórias começam e nós temos muito o que fazer. –– Sofie diz, autoritária. As outras meninas permanecem indiferentes, como se a postura da Deusa fosse essa rotineiramente.

–– Não se preocupe, Sofie, não vai se repetir. –– a cheer que está ao meu lado abaixa a cabeça. A chefe arqueia a sobrancelha e fica mirando Linda por alguns minutos, todas ficamos em silêncio.

–– Mas quem essa vadia pensa que é? –– todas, menos Emi.

–– Sofie, temos que começar. –– Yasmin avisa.

–– Então vamos lá, se alongando, meninas! –– a Deusa grita e todas começam a se movimentar de formas variadas. Fico parada esperando alguma orientação.

–– Você quer um convite especial para começar a se mexer, Emily? –– Sofie é ríspida e meu coração gela. Não sei o que responder.

–– E-eu estava esperando uma orientação. –– gaguejo. Toda a equipe ri, dentre todas as risadas, a que mais se destaca é a de Tami, é como se eu me teletransportasse para a o dia em que tomei um banho com o seu lanche.

–– Orientação? –– a chefe cruza os brancos e ri, incrédula. –– Aqui cada uma tem um profundo autoconhecimento, cada uma sabe onde precisa se alongar mais. –– ela explica, e sua voz toda conta de todo o ginásio. Sofie é autoritária e rude.

–– Se você não consegue nem se alongar sozinha... –– começa Kate ou Taylor.

–– Não tem capacidade para ser uma cheer. –– completa Taylor ou Kate. Do meu lado, Linda faz uma careta, como se estivesse com vergonha de suas irmãs.

–– E se for o caso... –– Alice começa a falar.

–– E pelo visto é. –– afirma Yasmin, cortando a amiga.

–– Você pode dar meia-volta e sair por onde entrou. –– a outra rainha termina sua fala.

Fico em silêncio. Emi espuma de raiva.

–– Estamos esperando uma resposta. –– Sofie exige.

Me sinto diferente , olho para os lado e não enxergo minha outra eu em lugar nenhum. Repentinamente sinto minha boca sendo forçada a se abrir.

–– Não se preocupem comigo, eu tenho a minha própria série de alongamentos. –– digo, sem dar nenhuma ordem para o ato acontecer. Permaneço encarando Sofie por alguns segundos, até que ela desvia o olhar. Ao meu lado, Linda dá um risinho.

–– Muito bem, de volta ao trabalho! –– a Deusa grita.

Volto a me sentir como eu novamente.

–– De nada. –– Emi cochicha para mim e depois pisca.

Não sei o que seria de mim sem ela. Começo a fazer a série de alongamentos que aprendi com as pessoas do puteiro, o que já emenda numa pequena coreografia. Sinto alguns olhares em mim.

–– Olha Sofie, a novata tá ansiosa para aprender as coreografias. –– Yasmin grita.

–– Então, vamos às coreografias! –– a chefe anuncia e sinto a maldade na sua voz.

Todas se espalham pela quadra, e eu faço o mesmo. A realeza, incluindo Linda, se posiciona na frente.

–– Hoje vamos passar a coreografia de abertura do primeiro jogo e vai ficar como dever de casa para vocês criarem gritos para animar a nossa torcida e também para acabar com a torcida alheia! –– Sofie anuncia de costas. As meninas gritam, animadas.

Linda coloca a música para tocar e rapidamente volta para o seu lugar.

–– É bom que você tenha facilidade em pegar coreografias. –– Sarah, a loira com cara de sonsa, que agora está do meu lado me fala.

–– Já disse para não se preocuparem comigo. Se precisar eu invento uma coreografia na hora. –– digo instantaneamente e me surpreendo por Emi estar fora do meu corpo. Ela faz um sinal de joinha para mim e Sarah vira para frente, com a cara fechada.

A equipe inteira começa a executar os movimentos já conhecidos, mesmo prestando muita atenção nos passos, consigo perceber que várias ainda cometem erro. É estranho, mas não demoro muito para lembrar a ordem dos passos. Não os faço com perfeição, mas dá para o gasto. Emi dança ao meu lado animadamente, como se passasse aqueles movimentos todos os dias ao acordar.

Lá pela quinta passada, Sofie deixa o resto da realeza responsável por guiar a coreografia e começa a rondar as meninas, expondo o que cada uma fazia de errado.

–– Se concentrem na expressão de vocês! Não podemos aparentar estar cansadas! –– ela grita e todas começam a sorrir forçadamente.

–– Tem quer natural! –– ela ordena, como um general –– Temos que fazer com que todos tenham vontade de estar em nosso lugar, nós vamos roubar a cena dos meninos! –– agora é um general narcisista.

–– Temos que fazer com que todos tenham vontade de dançar junto com a gente! –– ela completa.

Esqueço a ordem de sorrir a todo momento, e deixo me expressão livre para representar o que cada passo influenciar. Me sinto mais livre e consigo pegar os movimentos e executá-los de forma muito mais natural.

O tempo vai passando entre passos, sorrisos, caras e alguns comentários desagradáveis que sou obrigada a escutar. Mas sobrevivo a todos, e respondo a muitos. Penso em ir tomar banho no vestiário logo depois que encerra o treino. Mas me sinto constrangida, então me ofereço para ajudar Linda, que recolhe os materiais. Quando terminamos de arrumar tudo, as outras meninas já estão saindo limpas e cheirosas. O que me tranquiliza.

–– Bem, agora é a nossa vez de tomar banho. –– comemora a trigêmea simpática e lhe dou um sorriso amarelo, porque meu constrangimento não diminui.

Nos encaminhamos ao vestiário e Linda começa a se despir naturalmente. Vergonha aparece, gorda e alta. Tão grande que quase não passa pela porta do vestiário feminino. Me apavoro com sua presença, mas Emi me ajuda a comê-la. A engolimos por inteira e começo a tirar minha roupa também, ficamos eu e Linda apenas de calcinha e sutiã. Agradeço a Deus por estar com os dois bem bonitinhos.

–– Nossa! –– a cheer exclama, me olhando.

–– Que foi? –– pergunto assustada.

–– Você é linda! –– a menina diz sorrindo.

–– Ela é igual a mim, você queria o que, querida? –– minha outra eu diz.

–– Obrigada. –– é estranho, mas ao invés de constrangimento, sinto um alívio. –– Você também é. –– digo, porque era a mais pura verdade. Ela sorri e entra no seu boxe, eu e Emi fazemos o mesmo.

Já é noite, a lua minguante caçoa de mim lá do alto da escuridão sem estrelas. Estou esparramada em minha cama, encarando-a. No momento, sou o cúmulo da confusão e não faço a mínima ideia de onde está Emi.

Estou feliz por ter sobrevivido ao meu primeiro e treino, mas também estou um pouco dolorida, acho que me esforcei demais. Zack é a grande interrogação que me envolve e me nina. Não sei o que pensar sobre ele, não sei o que aconteceu, muito menos o que significou. Será que ele gosta de mim? É o que parece, mas é tão surreal, que não consigo crer, não estou convencida de que seja honesta. Não me sinto segura confiando nele, mas ainda assim, mesmo assim, o amo e a cada segundo que passa meus sentimentos ficam mais intensos e urgentes.

Ouço a porta da frente bater. Alguém chegou. Escuto passos apressados subindo os degraus da escada. A pessoa chega ao corredor e silencia. Nem um bate de portas, nem mais passos, quiçá uma respiração. Sinto uma ponta de medo, mas ladrões não entram pela porta da frente, não é.

Duas batidas na porta de meu quarto são suficientes para meu coração disparar. Levanto, e abro a porta, dou de cara com o leitor. Meu coração para.

–– Por favor não fecha a porta na minha cara. –– ele se apressa em falar e eu concedo o seu pedido.

–– Será que eu posso entrar? –– arrisca. Estou para negar, quando ele resolve argumentar.

–– Sei que você não tem nada para falar comigo, mas eu tenho Emily. Preciso falar com você, e tem que ser agora. –– Zack diz. Penso um pouco e resolvo dar passagem para ele. O leitor entra nos meus aposentos e eu encosto a porta.

–– Fala. –– quase não se escuta a minha voz.

Por um momento ele simplesmente me olha, como se estivesse escolhendo as palavras. Estamos em pé, um na frente do outro, me sinto vulnerável perto de Zack, ele consegue me desmontar com o mais simples olhar.

–– Eu acho que você não entendeu o que eu fiz ontem. –– o rapaz inicia.

–– Eu entendi sim, Zack! Você...

–– Ah, você entendeu realmente, Emily? –– ele me corta. –– Você entendeu? –– repete a pergunta, dessa vez agarra o meu rosto, me obrigando a olhá-lo mais.

–– Você entendeu que eu te amo? –– Zack me questiona e meu coração para e acelera ao mesmo tempo, suo frio, minhas pernas falseiam, preciso me concentrar muito para permanecer em pé.

–– Eu te amo, Emily. Eu tô apaixonado por você. –– ele desenrola a palavra “apaixonado”.

–– Eu não suporto mais ficar nessa casa, com você aqui e não poder te falar isso. Não poder te tocar, como eu realmente sinto vontade. –– Zack sorri, dá pra notar que também está nervoso.

–– Eu te quero desde que derramei café em você. –– ele fala, como um último suspiro. –– Por favor, diz alguma coisa! –– o leitor pede. Mas não sei o que dizer, nem raciocinar, portanto só fico o olhando com uma expressão apavorada.

–– O que você quer que eu diga? –– pergunto, honesta. Sinto meu olho lacrimejar.

–– O que você sente, o que você realmente sente. –– ele dá ênfase ao “realmente”.

Eu fico em silêncio, com a boca aberta, mas não sai uma única palavra.

–– Eu duvido que você não sinta nada por mim. –– sinto que vou desmaiar –– Eu duvido, Emily. –– Zack diz novamente.

–– Será que você não perceber que isso não poderia estar acontecendo? –– grito. Sinto uma lágrima cair enquanto solto meu rosto de suas mãos, viro de costas para ele, e encaro a parede enquanto mais lágrimas caem.

–– Mas por que não? –– questiona.

–– Zack, nós moramos na mesma casa! O seu pai é sei lá eu o que da minha mãe! –– falo me virando para ele novamente.

–– E aliás, –– continuo –– você odeia a minha mãe. –– cuspo as palavras.

–– Eu já te pedi perdão! –– o rapaz se defende.

–– Eu perdi a cabeça naquele jantar, Emily! Será que isso nunca aconteceu com você? Você nunca passou dos limites? –– ele continua e eu penso no tapa que lhe dei.

–– Eu não vou deixar esses dois atrapalharem a nossa vida. –– Zack se aproxima de mim e encosta sua testa na minha, sinto sua respiração pesada. Começo a andar para trás, e logo estou sendo prensada na parede.

–– Só preciso que você diga que quer ficar comigo, Emily. Só isso. –– ele fala de olhos fechados, como se rezasse. Logo após me encara, se estivesse um centímetro mais perto, eu iria enxergá-lo desfocado.

Tudo se contorce em mim. Não sei o que fazer.

–– Eu te amo, Zack. –– sussurro e ele sorri.

Sorri como se não acreditasse no que estivesse escutando. Um sorri abobalhado, encantado e estupidamente lindo. O leitor volta a segurar meu rosto e me puxa para um beijo. Um beijo quente, com sabor de urgência. Sinto seus músculos contra meu corpo pequeno. Quero cada vez mais um pedaço maior de Zack. Com minhas mãos, puxo seu pescoço para mais perto de mim, também passeando pelo seu cabelo. Suas mãos também dão uma voltinha pelo meu corpo o que me faz ficar arrepiada.

Escuto o barulho de um carro estacionando e logo em seguida a porta da frente volta a bater. Interrompo o beijo.

–– Chegaram mais cedo. –– aviso, ainda com minha mão direita segurando sua nuca.

–– Logo hoje! –– ele reclama rindo.

–– Acho melhor você ir para o seu quarto. –– digo com pressa já o puxando para a porta. Logo após a abrindo e o jogando para fora.

Escutamos passos e vozes no andar de baixo, nos encaramos e ele me puxa para um outro beijo meio demorado, quase me perco em meio ao momento, mas nos separamos e mando Zack para o seu quarto, apenas mexendo a boca. Ele olha para a sua porta e depois volta seu olhar para mim, vem em minha direção para um novo beijo, mas ouvimos passos no início da escada. Ele a encara e depois me olha, arriscando um selinho. O rapaz ri do risco.

–– Boa noite, Zack. –– cochicho da porta, rindo um riso mudo também.

Ele voa para o seu quarto e rapidamente fecho a porta do meu atrás de mim. Mordo meu lábio inferior e sorrio, me deixando ser mais uma vez amparada pela madeira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, muito terrível? Me digam o que acharam pelo amor do santo Deus! Odiaram? Gostaram pelo menos um pouquinho? Por favorrrr!