Frozen Titan escrita por Gerda Andersen


Capítulo 1
Prólogo: O Começo


Notas iniciais do capítulo

Eu consegui o tema dessa história por um pedido para minha série de one-shots de Frozen, mas acabei expandindo o bastante para ser uma história inteira. Sinto muito pelo prólogo pequeno, vou aumentar os próximos capitulos.



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O brilho do pôr-do-sol banhava o campo de terra, sinalizando a caída da noite para os habitantes do Distrito de Anders, dentro da Muralha de Arendelle, a mais segura entre as três. No campo de terra, onde geralmente se passava treinamento militar, haviam quatro figuras, sendo que três estavam em pé, observando a quarta que estava conectada a um dispositivo de DMT que estava preso em dois altos mastros de metal, sendo suspensa a alguns metros do chão, simulando a experiência que vários soldados obtinham no ar.

A pessoa suspensa não passava de uma criança, o que era surpreendente, pois só se alistavam para treinamento militar recrutas a partir de doze anos, no mínimo. A menina, com seu corpo pequeno e aparência saudável, estava com suas bochechas cheias com apenas gordura de bebê vermelhas, seu corpo todo tremendo de exaustão. Seus cabelos eram de um loiro-morango quase avermelhado, que estavam presos em dois rabos de cavalo um a cada lado de sua cabeça. Sua pele era bronzeada e brilhava no sol. Ela usava uma simples blusa verde e uma calça branca suja de terra, com botas que batiam em seu tornozelo de coloração marrom. Seus olhos azul-esverdeados tinham uma expressão de determinação. Ela parecia ter problemas em ficar parada no ar, se concentrando ao máximo para não tombar de cabeça para baixo.

Havia outra criança no campo de treinamento, um pouco diferente da que estava se equilibrando em DMT. A menina era um pouco mais alta e parecia mais velha que a outra, que aparentava uns cinco ou seis anos, mas essa aparentava nove ou dez, seu rosto maduro e sereno adicionando mais anos em sua aparência. Seu corpo era esbelto e parecia forte, como o da outra, mas ela tinha menos gordura de bebê. Sua pele era esbranquiçada, a dando um efeito fantasmagórico sob a luz do pôr-do-sol. Seu cabelo loira-platina estava preso em uma única trança que mal passava de seus ombros e seus olhos azul-gelo eram duros. Vestia uma imaculada calça branca, blusa azul-escura e botas negras sujas de terra. Observava a mais nova com uma expressão rígida e séria.

– Vamos, Anna! – A loira-platina falou seriamente, quando viu a loira-morango tombar para frente, quase ficando de cabeça para baixo. – Você acha que os Titãs vão ficar te esperando se equilibrar? Não! Agora fique reta se não quiser virar comida de Titã. – A mais velha exclamou e a mais nova, Anna, ficou com uma expressão ainda mais determinada ficando reta, ainda tremendo, mas muito menos que antes.

– Hum, Elsa, você não acha que está sendo um pouco dura com Anna? – A mulher mais velha ao seu lado questionou, levantando sua sobrancelha.

– Não, Gerda. – A loira-platina, Elsa, respondeu firmemente, ainda encarando Anna, que parecia estar se equilibrando muito melhor.

Gerda era muito mais velha do que ambas Elsa e Anna, aparentando ter de vinte cinco a vinte e nove anos. Seus longos cabelos eram um avermelho alaranjado, que lembrava da luz do por do sol que acontecia no momento e estavam presos em um coque mal feito, com vários mechas fios soltos. Ela era alta comparada as crianças, mas um pouco baixa para sua idade. Sua pele tinha um complexo pálido e seus músculos eram visíveis pela fina blusa branca de botões que ela usava por baixo de uma jaqueta cor de marrom-caramelo. Também usava calças brancas e botas da mesma cor de sua jaqueta. Seus olhos cor de mel brilhavam da luz e ela tinha suas mãos em sua cintura.

– É necessário ser firme com Anna, Gerda. – O rapaz ao seu lado falou, em tom passivo. – Principalmente se for pela Elsa. Anna sempre ouve o que a irmã mais velha diz.

– Eu sei, Kai, eu sei. – Gerda suspirou, olhando para o parceiro.

Kai era um rapaz com uma altura mediana para sua idade, mais alto que Gerda. Seu corpo era musculoso, algo que era visível através do uniforme igual ao da parceira. Sua pele era mais escura do que as dos demais, adotando um tom de chocolate claro. Seu rosto era bonito e exótico, com uma expressão passiva em sua estrutura máscula. Seus cabelos curtos e pretos estavam bagunçados e seus olhos negros observavam as duas outras meninas. Sua jaqueta tinha o mesmo símbolo da que Gerda usava: um unicórnio verde com crina e chifre brancos em frente a um escudo.

– Eu não sei por que desisti da Tropa de Exploração pra entrar pra Polícia e acabar cuidando de crianças. – Gerda murmurou, cruzando os braços, com uma expressão indignada em seu rosto bonito.

– Você sabe o motivo sim. – Kai respondeu, sua expressão passiva se tornando uma doce. Ele a abraçou por trás, colocando as mãos em sua barriga malhada, que em breve estaria um pouco maior.

– É. – Ela corou, não acostumada com os gestos afetivos de seu noivo. – Temos sorte de ficarmos nos Dez Melhores no Treinamento Militar.

– Sim, Senhorita Segundo-Lugar. – Ele disse com um sorriso brincalhão, apertando a bochecha dela.

– Cale a boca, Senhor Eu-sou-fodástico. – Gerda sussurrou irritada, se soltando dos braços do moreno.

– Exatamente, mas também aceito Senhor Primeiro-Lugar. – Kai escondeu o sorriso de satisfação ao ver o rosto da ruiva ficar mais vermelho.

– Se já terminaram com o namoro. – Elsa falou sem hesitar, estourando a bolha de felicidade dos dois. – Já acabou o tempo da Anna no DMT, podem tirá-la abaixá-la. – A loira completou, levantando o cronometro redondo e branco, mostrando a contagem de duas horas, trinta minutos e quarenta e dois segundo.

Os dois assentiram e foram em direção da menina que agora estava perfeitamente ereta e calma. Gerda geralmente odiaria ter que obedecer as ordens que uma criança de oito anos, tendo sua personalidade forte, mas, nos poucos meses em que estava com Elsa, entendeu que todos os pedidos da menina saiam como uma ordem, mesmo para os seus pais. Ela era uma líder nata. Logo, os dois abaixaram Anna e a desconectaram de seu equipamento. A menina de cinco anos quase desabou quando pôs os pés no chão, mas, quando viu que os olhos cor de gelo de sua irmã mais velha a observavam, ela se estabilizou, ainda tremendo e insistiu que podia andar sozinha, tentando acelerar o passo para andar com a loira-platina.

– Eu não preciso de ajuda, Gerda. – Anna insistiu, aumentando a velocidade de suas pernas tremulas para seguir a mais velha.

– Eu não entendo essa obsessão dela com a Elsa. – A mulher em questão murmurou, andando com seus braços cobertos por mangas marrom-caramelo. – Na verdade, eu não entendo quase nada delas.

– Eu sei como se sente. – Kai geralmente discordaria das birras da ruiva, mas dessa vez não podia.

Nos dois meses em que estiveram cuidando de Anna e Elsa, ambas exigiram treinamento no manuseio do DMT. De primeira, os soldados discordaram, não acreditando que duas crianças queriam aprender a utilizar o equipamento. Mas, depois de ambas demonstrarem duas habilidades em exercícios de equilíbrios simples, eles tiveram que aceitar, principalmente com a permissão dos pais das duas para o treinamento. Elas progrediram mais do que alguns soldados em apenas dois meses e alegaram estar treinando para entrar para a Tropa de Exploração.

Nós queremos ser livres. – As duas alegavam quando lhes perguntavam o motivo de querer entrar na Tropa de Exploração, suas respostas exatamente iguais, como que previamente ensaiadas.

Depois disso, ambos decidiram não perguntar mais. Eram exatamente as palavras que ambos Kai e Gerda responderam um para o outro quando se conheceram no Distrito de Snedronningen, um ano antes de se alistarem para o Treinamento Militar.

– O que?! – A exclamação indignada de Anna fez com que ambos desviassem seus olhares para as duas irmãs. – Como assim eu levei duas horas?!

– Duas horas, trinta minutos e quarenta e dois segundos. – Elsa corrigiu imediatamente, seus olhos azuis calmos, assim como sua voz.

– Isso não é justo! – Anna chutou uma pedra grande que estava a sua frente, a mesma voando com o impacto. O pé da loira mais nova estava latejando, mas ela ignorou.

– Anna. – Kai falou no mesmo tom de voz de Elsa. – Esse tempo já é maravilhoso para vários recrutas, e para você, que tem cinco anos, esse tempo é quase perfeito.

– Mas a Elsa mal fica uma hora! – Ela reclamou.

– Só que Elsa é mais velha. – Gerda interrompeu antes que a menina pudesse reclamar mais. – Ela já tem oito anos e tem um controle melhor do próprio corpo.

– Mas... – A garota de olhos azul-verde começou, mas logo sua irmã estava a sua frente, seu olhar antes passivo agora duro.

– Anna, pare de reclamar de algo que não se pode mudar no momento. Se você levou esse tempo, é culpa sua. – A voz rígida da mais habilidosa fez a menor fechar a boca, olhando para seus pés. Mas, quando sentiu mãos com calos remexerem seu cabelo, olhou para cima com surpresa, encontrando os olhos de Elsa, que agora pareciam ser duas piscinas de gelo derretido. – Você foi muito bem, irmãzinha.

Depois disso, a menina passou o resto do caminho saltitando em direção da casa, suas botas marcando a terra abaixo. Elsa continuou calada e, depois daquele breve momento de gentileza, voltou a seu comportamento passivo, mas seus olhos permaneciam um azul de gelo derretido, enquanto observava sua irmã mais nova dançar no caminho para casa. Kai e Gerda simplesmente observavam a cena com um sorrisos, suas mãos dadas fazendo movimentos de balanço.

– Eu espero que nossa filha seja assim como um delas, bem determinada e cheia de vida! – Kai murmurou, torcendo para que Gerda não ouvisse. Infelizmente para ele, a mesma escutou, sua cabeça se virando para o rapaz como a de uma coruja.

– Você disse menina? – O tom da ruiva era perigosamente calmo e seus olhos âmbares pareciam pegar fogo, mesmo com o brilho alaranjado do pôr-do-sol já ter desaparecido e a lua e as estralas começarem a fazer sua apresentação no palco da noite escura. – Pare de insistir nisso, Kai! Vai ser um menino!

– Mas eu sei que vai ser uma menina! – Ele rebateu, insistindo em sua opinião sobre o sexo de seu filho ainda não nascido. – Eu sou o pai!

– E eu sou a mãe e estou carregando essa criança! – Ela argumentou. – E eu sei que vai ser um menino! Entendeu? M-E-N-I-N-O, Kai. Menino!

– Ta, ta, o que você disse. – Kai respondeu contrariado, parte porque ele sabia que não tinha resposta para o que ela disse e parte porque argumentar com Gerda era inútil.

Logo, os quatro chegaram à casa das duas meninas. Era uma casa bem grande, feita de pedra e com uma boa arquitetura, não a mais bonita, mais uma bem sustentável que sobreviveria a vários desastres naturais. Com muitos quartos e pintura clara e elegante, certamente parecia uma casa para pessoas ricas. Ficava em um dos melhores bairros do Distrito de Anders, mas em umas das áreas que ficavam perto do Centro de Treinamento, por isso não levaram muito tempo.

– Então, vocês duas tratem de tomar banho e jantar. – Gerda instruiu, entrando na casa vagarosamente e indo em direção de seu próprio quarto arranjado na mansão. – Depois, nós iremos viajar. Seus pais pediram a sua presença.

– Nossos pais? – Os olhos de Anna brilharam quando ela fez a pergunta e Elsa parecia estar muito mais interessada. – Por que eles pediriam nossa presença? Tem algo de errado?

– Se tivesse algo de errado, eu duvido que ele arriscaria suas vidas e os chamariam para a beira da muralha Gerda. – Kai respondeu, mas seu tom ficou brincalhão quando ele disse o nome da muralha que era o mesmo de sua noiva. A mesma deu um soco em seu braço, sua expressão enfezada.

– Mas, não são dias de viagem entre Arendelle e Gerda? – Elsa questionou, sua mente trabalhando rapidamente para tentar entender os motivos de seus pais.

– Geralmente, como de carroça ou a pé. – Gerda respondeu, eles já haviam subido a escada e passavam por um corredor com grandes janelas de vidro e metal em ziguezague para sustentar o vidro direito. – Mas ganhamos permissão especial para levá-las no DMT, aparentemente, seus pais têm motivos para chamá-las.

– Entendo. – A criança mais velha falou calmamente. – Deve ser por isso que vocês só apareceram a tarde, dormiram a manhã toda para passar a noite acordados na viagem. – Eles assentiram, observando a calma que ela portava, mas sua irmã mais nova não estava tão calma. A loira estava praticamente pulando no corredor de animação.

– Vamos ver nossos pais, Elsa! Vamos ver nossos pais! – Ela exclamava com um grande sorriso em seu rosto, sua felicidade tão aparente que até a loira-platina teve que sorrir.

– É, nós vamos. – Elsa sussurrou, então pegando o pulso de Anna e a guiando para o quarto que elas dividiam. Não por falta de espaço, mas por amor uma a outra. – Temos que nos arrumar e ir jantar, para começarmos a viagem mais rapidamente.

– Claro! – A garota com cabelos loiro-morango seguiu a outra para o quarto, ainda radiando sua felicidade.

– É bom ver as duas tão felizes. – Gerda falou com um pequeno sorriso. Elsa pode não ter demonstrado muita animação, mas estava claramente feliz.

– É. – Kai parecia distante, voltando seu rosto com olhos preocupados para a noiva ruiva. – Gerda, o que você acha que o Doutor e a Doutora Christian querem com as duas? – Ele perguntou, se referindo aos pais das meninas.

– Eu aposto que não é nada. – A ruiva respondeu, soltando seus cabelos e começando a andar. – Me leva até meu quarto?

– Claro. – O rapaz não hesitou em responder, mas seu olhar ainda estava distante. – Não deve ser nada mesmo...

Mas Kai não conseguia parar de pensar em como algo estava a ponto de acontecer...

Ano: 845

Diário do Doutor Leif Christian, Onze e quarenta e dois da noite.

Depois de meticulosamente analisar os experimentos 1876 (apelidado de Jackie), 1877 (apelidado de Trippie) e 1878 (apelidado de Kaymmie), creio ter compreendido as habilidades dos Titãs sobre sua regeneração e sua energia. Juntando meus conhecimentos aos que adquiri em minha última viagem para O Vale da Pedra Viva, posso afirmar que meu soro especial está completo e tenho o segredo para criar um Titan Shifter (vários borrões, como se o escritor tivesse errado muito antes de escrever isso), como Grandpabbie me instruiu.

Mas, com minha pesquisa, esse Titã será diferente. Baseando-me no fato da alta temperatura do corpo dos Titãs, assim como sua energia e regeneração instantânea vêm da energia solar que seu corpo absorve com facilidade, conseguir criar uma formula para que o Titan Shifter, em sua forma seja de Titã ou humana, consiga absorver o máximo de energia possível e armazene em seu corpo, para que não necessite do sol o tempo todo e se movimente a noite.

Essa será uma das maiores descobertas de toda a humanidade: um soldada perfeito, que conseguirá lutar com todos os Titãs na sua própria altura e força, com a agilidade e a técnica de um soldado crescido. Seu corpo continuará se regenerando, mas sua temperatura será extremamente baixa para gastar o mínimo de energia e consiga se movimentar durantes horas, ou até dias e semanas.

Não posso experimentar em um soldado, seria muito arriscado: seus corpos já estão completamente formados e, mesmo que sobreviva a injeção do soro, ainda existe o risco do meu experimento ser tirado de mim caso descubram, o que seria minha ruína. Tenho que experimentar em alguém que tenha mais de vinte por cento de chance de sobreviver, que ainda não tenha um corpo completamente formado, que nunca conte sobre isso para ninguém...

Já tenho a criança perfeita, ela chegará em algumas horas, poucas horas, mas apenas posso começar o experimento a noite, quando os Titãs estiverem inativos e para confirmar minha teoria de que ela poderá absorver energia da luz que vinha da lua também-

– Leif? – Uma voz feminina que o homem conhecia muito bem questionou, abrindo a porta vagarosamente, deixando feches de luz entrar no laboratório escuro e iluminando a face do mesmo.

Leif era um homem bonito, mas parecia cada vez mais cansado com os anos. Ele era alto, com uma aparência forte apesar de passar a maior parte de seu tempo dentro de um laboratório escuro. Seus cabelos eram um loiro-mel, perfeitamente penteados e arrumados e seus olhos eram de um tom de azul-verde, da mesma cor dos de Anna. Tinha feições másculas e um fino bigode da mesma cor de seus cabelos. Ele usava uma simples camisa branca de botões, calças brancas e botas marrons, com um jaleco branco sobre tudo isso, com o símbolo de duas asas brancas costuradas no braço direito do jaleco: o símbolo da Tropa de Exploração.

– Ah, Freja. – Leif piscou algumas vezes, fechando o diário cuidadosamente para não ficar suspeito e se levantando calmamente. – O que houve?

Freja hesitou, mas ligou a luz do laboratório e entrou. Ela usava as mesmas roupas de Leif, incluindo o jaleco com o símbolo da Tropa de Exploração. Seu corpo era muito mais delicado e pequeno, claramente feminino por debaixo do jaleco. Seus cabelos castanhos pareciam estar presos em uma espécie de choque feito com uma trança que passava pelo topo de sua cabeça, uma fina franja cobrindo sua testa. Seus lábios rosados pareciam secos e seus olhos amendoados brilhavam na luz.

– Nossas filhas chegaram, Leif. – Ela disse com um sorriso caloroso, dando um beijo em sua bochecha. O homem sorriu, pegando a mão da esposa.

– Elas estão dormindo? – O cientista perguntou e Freja assentiu, ambos andando em direção do quarto onde Gerda e Kai haviam colocado as meninas para dormir. – Entendo, então começaremos o experimento amanhã a noite.

– Leif... – Freja começou com uma face sombria, sua voz cuidadosa. – Tem certeza que Elsa tem que passar por isso? Não pode ser outra pessoa? Tem que ser nossa filha?

– Se você quiser pode ser Anna, que é muito menos disciplinada e mais frágil que sua irmã mais velha. – O homem respondeu tão calmamente que ela não tinha certeza se ele estava falando sério ou não, mas teve o efeito desejado.

– Não, a Anna não... – A morena murmurou, abrindo a porta vagarosamente do quarto de suas filhas.

– Então, você entende o motivo de ter que fazer isso. – Leif falou assim que eles entraram no quarto escuro, iluminado por apenas um abajur no meio da cama das duas crianças.

O espaço era pequeno, mas relativamente confortável para um quarto em uma base militar de pesquisas, com paredes brancas, uma pequena do lado oposto da porta, que mostrava grandes árvores com folhas verde-escuras do lado de fora. Haviam duas camas de solteiro, separadas apenas por um criado mudo de madeira com um abajur em formato de cone, com uma base de cerâmica marrom arredondada dando suporte. As camas ocupavam quase todo o espaço, mas ainda tinham duas cadeiras na parede oposta da das camas, feitas de madeira simples e com duas pessoas sentando nelas.

– Doutor Christian, Doutora Christian. – Um dos soldados que foram designados para cuidar de suas filhas, Gerda Zheymo, levantou bruscamente, os cumprimentando. Seu parceiro, Kai Komolova, apenas lhes cumprimentou colocando um de seus punhos em seu peito e o outro em suas costas, o sinal de cumprimento militar, algo que Gerda logo fez também.

– Zheymo, Komolova. – Freja, sempre a mais social, cumprimentou com um sorriso gentil. – Eu e meu marido já estamos aqui, podem descansar que nos cuidamos de nossas filhas.

– Mas... E o seu trabalho, Senhores? – Kai perguntou com uma pequena careta, como se estivesse tentando entender algo.

– Já acabamos por hoje, resumiremos nossas pesquisas no dia seguinte. – Leif dispensou e os dois fizeram a Saudação Militar mais uma vez, se dirigindo a porta de madeira de carvalho. Mas, antes que pudessem sair, Kai hesitou.

– Er, Doutor Christian? – O Komolova questionou, sua expressão preocupada quase escondida pela imagem que a luz vinda do lado de fora do quarto escuro, iluminando suas costas e Gerda, que estava atrás dele. – Por que vocês chamaram Elsa e Anna tão urgentemente?

– Oh, não é nada. – O Doutor mentiu suavemente, com um sorrisinho amigável. – Apenas queríamos passar mais tempo em família.

– Entendo... – Kai murmurou, mas não a ponto de ser desrespeitoso. Seus olhos negros estavam com uma expressão que ambos Leif e Freja não podiam ver pelo fato de que já estava de costas. – Boa noite, Doutores.

Então ele fechou a porta e a escuridão engoliu a família de quatro em seu abraço gélido.

Anna, com seus três anos de idade já era uma pessoa curiosa. A menina, com seus cabelos loiro-morango curtos demais para serem presos, sentava em sua cama de solteiro com cobertores em vários tons de verde, suas pernas pequenas balançando pra frente e para trás, não conseguindo alcançar o chão com seus pés descalços, exatamente. Estava com uma camisola que parecia grande demais para ela, em um tom de verde bebê muito claro e desbotado, como se tivesse sido lavada várias vezes.

Ela observava Elsa que, com cinco anos, já era extremamente graciosa. Os pés da mesma já alcançavam o chão, mas mal o tocavam. Ela penteava seu cabelo loiro com uma pequena escova branca, para tirar as marcas deixadas pela liga quando fez seu rabo-de-cavalo. A mesma usava uma camisola parecida com a de Anna, mas, diferentemente da irmã, ela não parecia estar sendo engolida por panos e suas mangas estavam dobradas apenas algumas vezes ao invés de umas dez. A cor era um azul-marinho bem escuro, que fazia contraste com sua pele branca.

– Elsa? Anna? – A mãe de ambas, Freja, abriu a porta cuidadosamente, entrando no quarto com seu marido e pai das duas. Eles usavam seu uniforme de sempre: sua blusa branca, calça da mesma cor, botas marrom e jaleco branco. Os cabelos de Freja também estavam em seu penteado diário: seu coque embutido com trança. – Vocês já estão prontas para dormir?

– Mama! Papa! – Anna exclamou feliz, pulando de sua cama alta e agarrando as pernas de ambos. Leif pegou sua filha mais nova no colo, lhe dando um beijo na testa.

– Mama, Papa. – Elsa falou muito mais calmamente, descendo graciosamente de sua cama e dando uma abraço gentil e Freja, que sorriu para sua filha mais velha. – Sim, estamos prontas para dormir. Podem nos contar a história de hoje?

– Claro que sim! – Freja respondeu entusiasmada, sentando na cama de Elsa, com seus cobertores em vários tons de azuis frios, onde a mesma estava subindo, recusando a ajuda de sua mãe. Leif colocou Anna sentada na cama, muito para seu desgosto, já que queria fazer as mesmas coisas que Elsa. – O que vocês querem ouvir hoje? “O Anjo”? “Os sapatos vermelhos”?

– Não, já ouvimos essas histórias um milhão de vezes! – Anna reclamou, se jogando dramaticamente sob o colo de seu pai. – Não podem nos contar algo mais realista?

– Realista? Anna, você só tem três anos, nem devia saber o que é realista. – Freja interrompeu, uma careta em seu rosto bonito.

– Mas a Elsa sabe. – A menina com cabelo loiro-morango rebateu irritada. – Por que eu não posso saber? – Sua mãe estava a ponto de responder, mas seu marido a interrompeu bruscamente.

– Anna tem razão, Freja. – Leif falou, cuidadosamente colocando sua filha hiperativa ao seu lado. – Hoje, eu irei contar a história. Uma história real.

– Sério, Papa? – Anna perguntou animada, pululando ao lado do homem na cama esverdeada. – Qual é o nome?

– Se chama “Os Titãs”. – Ele respondeu. As outras duas que estavam no quarto o encaram com olhos arregalados, reconhecendo muito bem o nome. Anna parecia apenas estar mais animada do que nunca.

– Leif... Ela... Ela é muito nova... – Freja murmurou, não entendendo a motivação do marido para falar horríveis verdades para sua filha mais nova.

– Não, ela tem que saber. – O home disse firmemente e a mulher olhou para seu colo, não sabendo como responder. Ele tomou isso como um sinal de iniciativa e se virou para a loirinha de três anos. – Anna, o que eu irei lhe cantar é uma história real.

– Sim, pode contar. – Ela respondeu, o encarando com inocência infantil.

Há décadas a humanidade foi quase exterminada pelo súbito aparecimento de seres humanoides gigantes, conhecido como Titãs. – Anna de pulular na cama, encarando seu pai com atenção e seriedade. Ela sabia que a população era pequena e que eles não podiam sair das Muralhas, mas nunca soube o porquê... – Os titãs são criaturas que, aparentemente, possuem pouca inteligência, mas com uma força quase insuperável, no qual o seu principal objetivo é devorar seres humanos, sem nenhum motivo aparente para isso.

– Como... ? Isso é verdade? – Anna quase gritou em indignação. Devorar humanos? E... sem motivo algum? Ela olhou para sua mãe e sua irmã, esperando que elas dissessem que aquilo era uma piada de seu pai, que não era verdade, mas elas continuaram caladas, desviando seus olhares. – Mas por quê? Por que eles comem pessoas?

– Não se sabe, Anna. – Elsa interrompeu, seus olhos azuis frios como gelo. – Como Papa disse, é aparentemente sem motivo. Agora o deixe continuar a história. – A mais nova assentiu, voltando a encarar seu pai.

– No entanto, um pequeno grupo de seres humanos sobreviveu, no interior de três Muralhas, três vezes maiores que a altura dos Titãs já conhecidos. – Anna sentiu seu coração gelar, a história ia ficando cada vez mais verdadeira e tudo começava afazer cada vez mais sentido. – A maior foi chamada de Gerda; a segunda, um pouco menor, foi chamada de Kai e a terceira, a menor de todas, foi chamada de Arendelle, que é onde estamos no momento.

– Mas a história não acaba aí. – Elsa continuou, vendo os olhos de seu pai ficarem cada vez mais distantes ao longo da história. – A humanidade não se conformou com isso no começo, fizerem um Exercito Real. A Polícia ficaria dentro das Muralhas, cuidando da paz dentro da Capital e cidades. A Tropa Estacionaria cuidaria da segurança das Muralhas. Mas os mais importantes sempre foram a Tropa de Exploração: eles saiam para o mundo lá fora, tentando conhecer mais sobre os Titãs, tentando ajudar a humanidade a sair e ver o mundo lá fora. Por isso o símbolo da Tropa de Exploração são as Asas da Liberdade. Eles nos ajudam a sermos livres.

– Mama, Papa? – Anna perguntou, sua voz geralmente alta e animada estava quebrada e suave, seu choque entrando em seu tom. – Vocês não são da Tropa de Exploração?

– Sim, Anna. – Freja respondeu, seu olhar um pouco mais distante. – Eu e seu pai... Nós também queremos ser livres. Mas a humanidade já se conformou com as paredes que nos rodeiam. Eles não entendem! Não estamos vivendo, estamos sobrevivendo! Os tempos de paz nos deixaram cegos para com isso.

– Mas... Lá fora não tem... Titãs? – O tom da voz de Anna estava ainda mais quebradiço do que antes, sua voz agora tremula. – Eles comem pessoas... Vocês não tem a chance de serem... Comidos? – Os três ficaram um pouco chocados quando viram Anna levantando seu rosto, que estava coberto por um véu trêmulo de lágrimas. – Eu não quero perder vocês.

Freja logo levantou da cama de Elsa, se sentando ao lado de sua filha mais nova e a envolvendo em um abraço quentinho. Elsa também se levantou, indo em direção a sua irmã e segurando sua mão com força, já que teve a mesma reação quando descobriu sobre isso. Leif ficou calado, mas colocou sua mãe no ombro esquerdo de Anna, o que fez sua filha virar sua cabeça para ele, seus olhos da cor do mar marejados de lágrimas.

– Anna, entenda. – Ele começou, limpando algumas de suas lágrimas de seu rosto. – O mundo lá fora é um lugar cruel. Tem morte, destruição e caos. – Elsa e Freja olharam para ele chocadas, não vendo como isso ajudaria a menina de cabelos loiro morango. A mesma começou a chorar mais alto. Leif apenas pegou o queixo da filha, a fazendo olhar para ele. – Eu ainda não terminei. Sim, o mundo lá fora é cruel, mas é muito lindo, querida.

– Lindo? – Anna perguntou confusa, tentando esfregar as lágrimas de seus grandes olhos de tons esverdeados.

– Sim, o mundo lá fora é lindo, filha. – Leif disse com um sorriso, seus olhos da mesma cor dos dela brilhando. – Cheios de grandes árvores, florestas de pedras, rios flamejantes, grandes massas de água chamadas de mar e a neve, querida, a neve!

– O que é a neve? – Anna questionou, seu choro já tendo parado completamente quando ouvira sobre a beleza do mundo do lado de fora.

– Ninguém nunca viu de verdade, mas relatos mais antigos diziam que a neve era feita de gelo e aparecia no frio. Era branca fofa e água congelada e caia das nuvens, assim como a chuva. As pessoas sempre brincavam com ela antes. – Elsa respondeu animada no lugar de seu pai. Sempre adorara a neve desde o momento em que ouviu falar dela e não podia se conter quando falavam dela.

– Parece maravilhoso! – Anna exclamou, pulando na cama. – Eu quero vê-la! Eu quero ver esse mundo... – Seus olhos suavizaram e ela parou de pular, olhando para seus pais e sua irmã. – Esse mundo cruel, mas lindo.

– Então terá que treinar muito, se quiser entrar para a Tropa da Exploração. – Freja falou. Mães normais estariam preocupadas se seus filhos falassem algo assim, mas ela estava completamente animada com isso. – Vai ter que aprender a matar Titãs.

– Sim, eu vou me esforçar! – Ela exclamou, socando o ar acima dela com seu pequeno punho direito. – Eu vou entrar para a Tropa de Exploração.

– Eu também vou. – A voz calma de Elsa cortou o clima animado, mas a mesma tinha um pequeno sorriso. – Eu vou matar os Titãs e vou libertar a humanidade.

– É isso aí, Elsa! – Anna pulou para o chão, onde sua irmã mais velha também estava em pé. A menor pegou as mãos da maior e deu um sorriso animador. – Vamos libertar a humanidade! Juntas!

– Sim, Anna. – Elsa falou suavemente, abraçando sua irmã e corando de felicidade. – Juntas. Sempre.

Anna acordou calmamente, seus pequenos punhos de cinco anos esfregando seus olhos dormentes, seus cabelos loiro-morango uma bagunça completa, desafiando a gravidade. Levou um tempo para ela simplesmente focar sua visão, mas o que viu foi duas cadeiras a sua frente vazias. Seu cérebro levou certo tempo para perceber que o quarto estranho onde estava era o qual ela geralmente ficava quando visitava seus pais na base militar em que trabalhavam na Muralha Gerda. A mesma levou seus olhos para a cama ao lado que estava perfeitamente arrumada, demonstrando que sua irmã mais velha já havia acordado antes dela e provavelmente já estava treinando.

– Hum... Por que será que eu sonhei com aquele dia... ? – A pequena se perguntou, saindo da cama e indo em direção ao banheiro, para se arrumar para o dia.

Aquele dia...” Anna pensou, escovando os dentes enquanto se olhava no espelho, suas olheiras um pouco menos pronunciadas com a boa noite de sono. “Foi quando eu decidi que entraria para a Tropa de Exploração... Quando decidi que acabaria com os Titãs...

A menina tratou de trocar suas roupas, colocando uma blusa verde-escura, uma calça branca e botas verdes, assim como uma jaqueta marrom-caramelo. A menina prendeu seu colar especial em torno de seu pescoço, o veludo que segurava o belo pendente em seu pescoço de criança fazia com que o calar batesse quase em sua barriga. Seu pai mencionou que o desenho era como assumiam que os flocos de neve eram, em uma desenho verde-escuro dentro de um circulo verde-claro,

Elsa também tinha me prometido... Que nos duas também estaríamos juntas... Sempre...” A menina pensou, penteado seus cabelos rebeldes, que surpreendentemente cediam para a escova verde que usava. Logo, estava prendendo suas mechas loiro-morango com duas ligas negras. “Mas... A Elsa está sempre na minha frente... É tão difícil alcançá-la...

Anna começou a andar em direção da cafeteria que tinha na base militar, suas botas de material resistentes fazendo seus passos mais duros, seu corpo de cinco anos já acostumado com o peso de suas roupas, sendo que uma menina de sua idade normal não conseguiria nem se levantar direito. A mesma pegou seu prato assim que chegou na cafeteria, ganhando alguns olhares dos recrutas mais novos, que não estavam acostumados com a criança. Ela era baixa demais para ver por cima do balcão, mas a cozinheira já estava acostumada e lhe deu seu preto.

– Eu coloquei um pouco de chocolate que chegou ontem para você, Anna, como presente de boas vindas. – A cozinheira falou com um sorriso gentil. – Sua irmã já comeu o dela.

– Obrigada. – A mais nova disse com um sorriso brilhante e doce, ganhando uma piscadela da cozinheira.

– Anna! – Ela ouviu a voz de Gerda a chamar enquanto procurava uma mesa. Ela e Kai estavam sentados juntos de um rapaz.

Ele tinha curtos cabelos e de um loiro bem claro, uma face máscula e seu corpo era bem forte, algo obvio a partir de seu uniforme de soldado. Sua pele era branca, algo que lhe lembrava de Elsa, mas seus olhos eram de um azul tão escuro e arroxeado que pareciam violetas. O rapaz tinha um olhar um pouco distante, o que deixava seus olhos ainda mais sobrenaturais. Em suas roupas havia a marca das Asas da Liberdade, mostrando que ele era da Tropa de Exploração. Não parecia ter mais de quinze anos.

– Venha sentar com a gente! – A ruiva falou. Seus cabelos agora estava em um estilo parecido com o de Freja, mas pareciam ser duas tranças que cruzavam sua cabeça.

– Oi, Gerda. – Anna disse sorrindo, se sentando na mesa. Então, ela assentiu para Kai. – Kai. – Seu olhar logo se desviou para o outro ocupante da mesa. – E você seria?

– Eu sou Rudy Fuller. – O rapaz de olhos violáceos falou com tom distante, não rude ou mal-educado, mas distante. – Prazer em conhecer a Anna Christian, um prodígio para sua idade.

– Estou surpresa que as pessoas ouçam meu nome mesmo com o de Elsa. – A Christian mais nova respondeu, com um pequeno sorriso.

– Ficaria surpresa com o que as pessoas ouvem, Anna. – Rudy deu um sorriso.

O resto do café da manhã havia passado sem nenhum evento importa, com Gerda e Kai tendo suas discussões de casais e Anna se metendo na vida de Rudy. Ela descobriu que ele morava com seu avô antes de entrar para a Tropa de Exploração e que era bom em fazer casas de brinquedos. Eles entraram em um acordo de que um dia Rudy deveria fazer uma casa de brinquedo para ela e os dois logo se deram bem.

Depois de comer, Rudy foi trabalhar com sua parceira, Babette. Ela tinha curtos cabelos castanhos com grandes cachos que parava em seus ombros, seus olhos da mesma cor amendoada. Seu corpo era um pouco delicado para um soldado, mas Rudy garantiu que ela era boa com uma luta. Tinha um laço avermelhado em um de seus cachos grossos. E, pelo jeito de como Babette olhava para Rudy, ela o considerava muito mais do que sue parceiro.

Gerda, Kai e Anna foram em direção ao campo de treinamento, onde Elsa provavelmente estaria treinando. Os três caminharam relativamente em silêncio, com apenas alguns comentários vindo de Anna e Gerda. Quando finalmente chegaram ao campo de treinamento, que era quase idêntico ao de Arendelle, a não ser pelo fato de que era muito mais vasto e com mais equipamentos, a terra arada para combate e com certeza mais dura do que a de Arendelle.

Elsa estava treinando com um recruta que parecia ter treze ou catorze anos. O menino tinhas curtos cabelos negros e olhos castanhos e um físico bom, mas sua técnica não parecia estar acompanhando a de Elsa. A menina de oito anos se concentrava em sua velocidade, seus golpes sendo dados lugares predeterminados, como se ela estivesse manipulando toda a luta. Enquanto o recruta parecia cada vez mais cansado, Elsa parecia estar muito bem. Finalmente, ela lhe deu um chute na perna que o desconcentrou por um momento e o jogou no chão, seus braços sobre o pescoço do adolescente e suas pernas em seu abdômen.

– Eu achava que era uma lenda, mas você é muito boa mesmo, Senhorita Elsa. – O garoto falou, dando um risinho. – Eu desisto.

– Você também foi muito bem. – Elsa disse e então lhe lançou um sorriso arrogante. – Mas, infelizmente, eu sou melhor.

– As lendas deveriam falar sobre sua arrogância também. – Ele murmurou, mas também estava sorrindo. Logo, ele se afastou acenando para a mais nova.

– Elsa, aquilo foi incrível! – Anna, como a fã número um de sua irmã, teve que lhe cumprimentar primeiro e animadamente, saltitando e correndo em direção da menina de cabelos loiros.

– Aquilo não foi nada, Anna. – Respondeu friamente a loira-platina, colocando as mãos em sua cintura que estava coberta por sua calça branca e seu cinto azul-escuro, assim como sua blusa. Ela usava a mesma jaqueta que a mais nova. – Veio aqui pra treinar?

– Sim, vim treinar com você! – Ela mencionou animadamente e ficou decepcionada quando viu o sorriso de sua irmã cair, o que fez seu sorriso brilhante cair também. – O que foi?

– Eu não sei... Eu posso te machucar... – A menina com olhos azul-gelo murmurou, não olhando nos olhos cor de mar da garota a sua frente.

Anna sentiu como se seu interior ardesse de raiva. Claro, ela não era tão boa quanto Elsa, mas não era ruim. Poderia muito bem ter derrotado o oponente de sua irmã e sabia que poderia durar um bom tempo em uma luta com a outra.

– Eu vou ficar bem, Elsa. – Ela disse o nome de sua irmã com veneno, o que fez a mais velha recuar. Anna assumiu sua posição preferida, seus braços se esticaram a sua frente para defender seu torso e seus pés estavam na posição mais flexível para desviar. – Não me subestime.

– Lembre-se que foi você quem pediu isso. – Elsa assumiu sua posição: seus braços estavam mais separados de seu corpo, mais preparados para o ataque e seus pés um pouco mais separados, lhe dando mais chance de ataque. Anna sabia que a posição parecia dar muitas aberturas, mas sua irmã sabia o que estava fazendo.

Previsivelmente, Anna deu um soco mirado para uma das aberturas de Elsa, tentando acerta seu lado direito. A loira-platina bloqueou com seu braço esquerdo trazendo o punho direito para um soco no rosto da garota com cabelos loiro-morango. A mesma desviou por pouco, soltando um de seus braços das mãos de sua irmã e mirando uma chute em seu tornozelo, algo que Elsa desviou com facilidade. Logo, as duas estavam em uma dança e socos, chutes e desvios, a trança de Elsa dançando no vendo com elas. Elsa, pronta para acabar com isso, mirou um chute na perna direita de Anna, enquanto a distraia um soco do outro lado.

Surpreendentemente, Anna pareceu perceber o que ia acontecer. Ela levantou a perna que sua irmã ia chutar poucos segundos antes, acertando um chute na barriga de Elsa, mas levando o soco que foi mandado para seu pescoço. Ambas tombaram para trás, mas logo se recuperaram. Elsa mirou um soco para o ombro de sua irmã, que desviou e lançou um soco na direção do pescoço da loira-platina. Mas ela usou a mão que teriam atingido o soco e segurou o braço de Anna, usando toda a força que tinha para lançá-la sobre seu pescoço e na terra arada.

A menina de cabelo loiro-morango sentiu uma dor em suas costas e tinha quase certeza de que tinha no mínimo fraturado algo. Elsa estava em cima dela, seu braço em seu pescoço como antes, mas não forte o bastante para a prender ou a machucar, como se ela entendesse que sua irmã estava com dor. A luz do sol iluminava as costas de sua irmã, que estava perfeita com aquele sorriso gentil em seu rosto.

– Eu não esperava por aqueles movimentos, Anna, você foi muito bem. – Aquilo foi o bastante para que Anna não sentisse mais dor alguma e com que seu peito se enchesse com uma felicidade indomável. Elsa estava reconhecendo suas habilidades! Finalmente poderia mostrar para sua irmã que não era inútil.

– Você também foi maravilhosa, Elsa. – Anna respondeu, vendo a mais velha se levantar e oferecer sua mão. Ela pegou e aceitou a ajuda para poder se levantar. – Deveríamos lutar mais algumas vezes, sabe.

– Que tal agora? – A loira-platina questionou, seu sorriso logo se tornando brincalhão enquanto ela tomava sua posição. – Ou está com medinho?

– Eu? Medo? – Anna perguntou como se fosse a coisa mais ridícula do mundo, assumindo sua posição. – Pode vir, Christian.

Freja observava suas filhas lutarem com um aperto no coração. Mais uma vez, considerava se realmente deveria seguir com o plano do marido. Afinal, quem sabe como isso poderia afetar Anna? E mais importante ainda, Elsa? A cientista sabia que era necessário fazer esse experimento na filha mais velha. Ela era forte, na idade certa e confiava neles com sua vida, pois eram, de fato, seus pais. Ela também sabia que era egoísta de sua parte, não querer envolver suas filhas nessa pesquisa que era apenas para o bem da humanidade, mas era um egoísmo que qualquer mãe teria.

– Freja? – A voz de Leif questionou e a mesma pode ouvir passos atrás dela. Logo, sentiu-se envolvida pelos braços quentes do marido e viu sua reflexão no vidro da janela, mas não disse nada. – Vocês não devia estar se preparando para o experimento de hoje a noite?

– Leif... – Ela sussurrou, observando as figuras de suas filhas lutando alegremente, desejando que fosse sempre assim. – Você tem certeza que deveríamos fazer esse experimento em Elsa? Não pode ser... Outra pessoa? – Questionou, já sabendo a resposta mesmo antes de ela ser respondida.

– Mas é claro que não, Freja. – Leif respondeu como se fosse a coisa mais obvia que ele já havia dito, soltando-a de seus braços. – Estamos nos preparando para isso a meses, hoje conduziremos e observaremos os resultados.

– Sim, é claro... – A mulher falou, cruzando os braços enquanto via seu marido andar na direção de seus equipamentos, se preparando pata mudar completamente o destino de sua filha mais velha. Então, desviou seu olhar para Elsa, que novamente tinha derrubado sua irmã mais nova no chão. – Eu sinto muito, Elsa.

Porque, naquela noite, ela faria algo imperdoável para sua filha. Para o bem da humanidade.

– Mama, Papa! – Anna foi a primeira a perceber a entrada de seus pais na cafeteria.

Depois de vários rounds de luta com Elsa, elas finalmente acabaram para poder treinar mais com seus DMTs. Ambas conseguiram diminuir o tempo que levavam para se equilibrar perfeitamente com a ajuda de Kai e Gerda, terminando a tarde com um humor maravilhoso pelos acontecimentos. As duas logo se preparam para o jantar tomando banho e se arrumando o mais meticulosamente possível.

Anna havia lavado seus cabelos e os prendido nos dois lados de sua cabeça com a ajuda de Gerda. Ela usava um vestido negro no tronco, mas com saia verde clara. Ela usava uma blusa branca abaixo do vestido, cujas mangas eram curtas.Também usava uma sapatilha preta e meias brancas. Já Elsa usava um simples vestido azul com um bolero azul escuro de mangas longas, meia-calça branca e sapatilhas pretas, com seus cabeços em uma simples trança loira-platina.

Kai e Gerda sentavam ao lado das duas, ambos com seus uniformes. Rudy e Babette estavam sentados a outra mesa, discutindo fervorosamente sobre alguma coisa. Leif sorriu para suas filhas, caminhando em sua direção com sua bandeja de comida com pão e leite. Freja não sorriu e parecia completamente desconfortável, mas seguiu Leif com sua bandeja idêntica, seus olhos amendoados vazios.

– Anna, querida. – Leif respondeu sua filha, lhe dando uma beijo na testa, o que a fez rir quando o bigode dele fez cócegas em seu rosto. – Elsa. – Se dirigiu para sua outra filha com um sorriso muito maior, repetindo sua ação. – Como estão minhas duas garotas preferidas? – Enquanto ele falava isso, Freja permaneceu calada.

– Hoje eu e Anna lutamos, Papa. – Elsa respondeu com um pequeno sorriso no rosto, que logo sumiu quando ela viu o rosto sem expressão que geralmente seria gentil de sua mãe. – Estamos... Melhorando. – O entusiasmo em sua voz sumiu, enquanto ela observava sua mãe.

– Fico feliz por vocês. – Freja falou, sua voz passiva não demonstrando a “felicidade” que aclamava ter. – Elsa, depois eu e seu pai precisamos falar com você. – Ela deslizou seus olhos pelas figuras de Gerda, Kai e Anna, que os observavam. – A sós.

– Sobre o que? – Anna, que não estava nem um pouco feliz em ser deixada de fora, questionou rapidamente.

– Isso só se resume a sua mãe, Elsa e eu. – Seu pai interrompeu, seu tom de voz rígido e olhos severos. – Por favor, não pergunte, Anna.

– Mas, Papa... – A menina com olhos verde-azulados começou, mas sua mãe não a deixou terminar.

– Anna, por favor. – Ela falou e sua filha mais nova se calou, olhando para as mãos que estavam juntas em seu colo. Logo, a mulher de cabelos castanhos se virou para sua filha mais velha, seus olhos amendoados ainda vazios ao ver a tristeza da garota com cabelos loiros-morangos. – Elsa, nos encontre no laboratório assim que for a hora de dormir, pode vir com seus pijamas.

– Sim, Mama. – Elsa respondeu, agora encarando a triste Anna. – Eu vou estar lá.

– Bom. – Leif respondeu com um sorriso, dando uma mordida em seu pão.

O resto do jantar foi passado em silêncio.

– O que você acha que Mama e Papa querem com você? – Anna perguntou, sentada na mesma cama que dormira antes e observando sua irmã desfazer sua trança.

– Eu não tenho idéia, Anna. – Elsa respondeu, penteando suas mechas loiro-platinas cuidadosamente com sua escova azul. Seu rosto e voz estavam passivas, mas no fundo ela estava preocupada. O que seus pais poderiam querer com ela e não com Anna?

– Eles devem querer te dar os parabéns por ser a melhor filha que eles poderiam ter. – Anna sugeriu amargamente, fazendo Elsa se virar em sua direção. – A mais bonita, a mais controlada, a mais forte...

– Você sabe que não é bem assim. – A loira-platina falou, deixando sua escova de lado e envolvendo a mais nova com seus braços. De primeira, Anna resistiu, mas logo se aconchegou nos braços da mais velha. – Você é melhor filha por quem eles poderiam pedir. Doce, animada, gentil, determinada, forte...

– Elsa... – Seu rosto agora corado estava com um sorriso radiante. Ela sempre admirara sua irmã mais velha e ouvir elogios dela a faziam envergonhada e faziam seu ego inchar. – Obrigada.

– Não precisa me agradecer, é tudo verdade. – Ela falou como se não fosse nada, dando um beijo na testa de sua irmã e se levantando. Passou as mãos mais algumas vezes por seus cabelos claros para ajeitá-los e ajustou sua camisola, que era azul clara, com mangas que paravam em seus cotovelos. Elsa colocou suas sapatilhas negras indo em direção a porta.

– Boa sorte, no que quer que você vai fazer. – Anna murmurou, deitando na cama e desligando o abajur.

– Eu vou ficar bem. – Elsa respondeu, fechando a porta do quarto. – Boa noite, Anna.

– Boa noite. – Anna fechou os seus olhos cansados.

Alguns minutos depois que Elsa foi embora, dois olhos verde-azuis se abriram na escuridão do quarto.

– Kai?

O rapaz de cabelos escuros abriu seus olhos. O quarto estava escuro, apenas a luz da lua entrando pela janela, formando quadrados de luz em sua cama. Ele levou um tempo para conseguir enxergar direito da escuridão, mas logo conseguiu ver a face familiar de Gerda, iluminada pela luz da lua. Seus cabelos ruivo-alaranjados estavam soltos, cachos caiam sobre seus ombros e entravam nas curvas de seu pescoço. Ela usava uma calça solta e azul para dormir, com uma camiseta combinado. Seus olhos cor de mel pareciam ouro derretido na escuridão, mas estavam com expressão preocupada demais para ser bonito.

– Gerda? – Kai questionou, preocupado pela preocupação de sua noiva. – O que foi?

– Eu... Eu acho que vai acontecer algo de ruim com a Elsa, hoje. – Ela respondeu, seus olhos passeando inquietamente pelo quarto escuro, como se estivesse procurando algo, mas ele sabia que era apenas sua Síndrome de Hiperatividade . – Eu sinto isso, Kai e não consigo deixar de pensar o pior.

– Se acalme. – Ele falou, a segurando em seus braços e levantando sua coberta, para que ela deitasse ao lado dele. A mesma hesitou, ainda preocupada, mas entrou do mesmo modo, se aconchegando no peito caloroso do mesmo. – Elsa está bem, afinal, ela está com o Doutor e a Doutora Christian. Além de serem ótimos cientistas, você sabe que eles são vorazes no campo de batalha.

– É, eu sei... – Gerda hesitou, como se não quisesse acreditar no que ia falar depois. E, realmente, ela não queria acreditar. – Mas, e se... Os pais dela a machucarem?

– Gerda! – Ele exclamou, olhando para ela surpreso. – Como você pode pensar que eles machucariam a própria filha?

– Eu não sei... Doutora Freja estava tão estranha hoje... Doutor Leif estava tão feliz, mesmo com a tristeza aparente da esposa... Eu não entendo... – A mulher murmurou, afundando sua cabeça no corpo de Kai. – Eu só estou preocupada... É só isso...

– Eu sei, também estranhei muito como eles estavam agindo, mas não deve ser nada. Eles podem apenas querer falar mais com Elsa sobre suas responsabilidades para com Anna. – Kai deu um beijo em sua testa, colocando sua cabeça ao meio de seus cabelos cor de pôr-do-sol. Ela estava tão linda, como sempre. – Apenas durma, Gerda, está tudo bem.

Com a segurança de que Kai estava provavelmente certo, Gerda Zheymo, quase uma Komolova, fechou seus olhos e acolheu o sono, não sabendo como ela estava certa.

– Mama, Papa? – Elsa perguntou incerta, observando seus arredores. – Onde nós estamos exatamente?

A loira-platina olhou ao seu redor, as árvores grossas quase privavam a floresta da luz da luz, a grama estava seca sob seus pés e o ar estava úmido e pesado. Seus pais estavam ao lado dela, tendo dispensado seus jalecos e optado pelas roupas normais do Exercito Real, usando o símbolo da Tropa de Exploração e seus DMTs. Eles pareciam sobrenaturais iluminados pelos poucos raios de luz da luz que passavam pelas folhas das árvores. Ambos olhavam para Elsa com uma expressão que a menina de oito anos não conseguia reconhecer.

– Por favor, me respondam. – A pequena implorou mais uma vez. Seus pais estando tão quietos a desconsertavam.

– Estamos do lado de fora da Muralha de Gerda, Elsa. – Sua mãe respondeu olhando para seus sapatos. A menina sentiu seu sangue gelar. Claro, ela já tinha pensado nessa possibilidade, mas não queria acreditar.

– O que? Por quê? – Elsa quase gaguejou enquanto fazia essas perguntas, seus olhos azuis olhando para cada canto possível, procurando Titãs. Ela sabia que eles não atacavam durante a noite, mas isso não a deixava nem um pouco menos apavorada.

– Elsa, precisamos que confie em nós, por favor. – Seu pai falou, pegando o braço da menina. – Essa é uma área em que menos aparecem Titãs, muito menos a noite. Não lhe traríamos aqui se não tivéssemos certeza de que era seguro. – Elsa pareceu aceitar a resposta de seus pais, assentindo. – Agora, eu preciso te dar uma injeção.

– Injeção? – A loira-platina fez uma careta. Ela não gostava de injeções e o fato de que seus pais esperaram até a calada da noite para lhe aplicar essa injeção não a reconfortava muito. – Por que eu tenho que tomar uma injeção? – Pela primeira vez em muito tempo, ela reclamou de acordo com a sua idade. Mas, até uma das melhores soldados de oito anos tinha o direito de não gostar de injeções.

– Sim, vai ser bem rápido, ok? – A voz de Freja era gentil, mas seus olhos pareciam vazios. Ela tirou de sua maleta (uma que Elsa não havia percebido antes) uma seringa com um líquido verde, assim como uma agulha enorme. – Mas eu não posso garantir que não vai doer, minha querida.

– Mama... – Elsa hesitou, mas logo foi em direção a sua mãe, deixando a mulher limpar seu braço com álcool. Não era difícil achar as veias da menina, já que ela era tão branca que era quase transparente. – Por que eu preciso tomar uma injeção? – Freja não respondeu, mas logo Leif interrompeu.

– Minha filhinha, Elsa, você quer matar todos os Titãs e tornar esse mundo cruel, mas lindo em um lugar livre, não quer? – Seu pai questionou e ela assentiu vigorosamente. Era tudo o que ela mais queria. – Essa injeção vai lhe tornar mais forte e irá lhe dar um novo poder: uma arma secreta para derrotar todos os Titãs.

– Uma... Arma secreta? – Mesmo com sua mente de oito anos e plena confiança nos pais, Elsa percebia os buracos na história e recuou um pouco.

– Sim, Elsa, uma arma secreta que pode ajudar a humanidade. – Ele falou rapidamente vendo ela recuar. De repente, um pensamento veio a mente: um argumento que ele sabia que não poderia falhar. – Que pode ajudar a Anna.

– Ajudar... Anna? – Pelo tom de voz de Elsa, ele sabia que suas palavras haviam sortido o efeito desejado. Por mais que a mais velha de suas duas filhas amasse muito seus pais, Anna sempre viria em primeiro lugar. Sempre. Determinação preencheu os olhos azulados de Elsa, que brilharam na luz da luz. – Tudo bem, eu aceito.

– Ótimo. – Freja disse com um sorriso vazio, puxando o braço de Elsa para perto dela bruscamente. – Vai ser rápido, então não deve doer mais do que uma picada de mosquito.

Elsa assentiu, estendendo os braços e fechando os olhos, esperando a “picada”. Mas, o que ela sentiu não foi nada como uma picada. Era como se um Titã tivesse abocanhado seu braço direito e a menina não conseguiu resistir ao impulso de gritar. Quando finalmente essa dor parou e ela sentiu que poderia suspirar de alívio, outra sensação veio. Apenas um minuto depois, ela sentiu como se o sangue que corria por suas veias não fosse mais sangue. Não, era veneno puro que queimava suas veias e seu corpo por dentro. Depois de ter relaxado um pouco, ela não esperava por isso e deu um grito estridente, se jogando bruscamente no chão e se contorcendo.

Lágrimas quentes e pesadas caiam em seu rosto, que mais pareciam laminas de facas cortando suas bochechas. Sua pele estava completamente sensível e sentia como se tudo estivesse cada vez mais quente. Estava levemente notificada da presença de seus pais ao seu lado, tentando segurá-la e entender o que estava errado, mas Elsa só sentia uma dor agonizante em seu ser, tentando arrancar a própria pele para ver se chegava a suas veias que derramava o sangue envenenado que corria lá dentro. Ela mordeu a própria mão, tentando conter os seus gritos e arrancando um bom pedaço de carne de sua mão direito.

E foi então que a noite se viu coberta de névoa gélida.

As vezes, até Anna tinha que admitir que era estúpida.

Mas não sem culpar alguém antes.

Primeiramente, era culpa de seus pais por terem levado Elsa para discutir coisas secretas e nem sequer tê-la chamado, como a etiqueta exige. Segundamente, era culpa de Elsa, que não fez nada na realidade, apenas foi convidada quando Anna não havia sido. Terceiramente, era culpa de Kai e de Gerda, que também não fizeram muia coisa para defender Anna, apenas discutiram sobre o sexo de seu bebê.

Quartamente, era culpa de Anna, que tinha sido estúpida o bastante para seguir seus pais e sua irmã mais velha em uma floresta escura do lado de fora da Muralha de Gerda e se perder. Perfeito.

Anna apertou seu manto verde-escuro ao seu redor, engolindo o seco enquanto andava pela floresta. Tinha que admitir que estava com muito medo, o que era normal para uma criança de cinco anos. Ela andava em passos vagarosos pela floresta, com medo de ter que esbarrar em um Titã adormecido ou algo do gênero. A menina de cabelos loiro-morango estava tão distraída que não percebeu que a sombra atrás dela não era simplesmente as árvores. Mas, quando se virou por sentir uma presença quente atrás dela, congelou no lugar.

Deveria ser da classe de dez ou onze metros, com uma aparência bem humanóide. Sua cabeça era pequena, sua boca assustadoramente grande, sua pele amarelada e seu tronco enorme em relação a cabeça. Tinhas braços um pouco pequenos e pernas grandes, adicionando mais desproporcionalidade ao seu corpo de Titã. Os olhos amarelados brilhavam no escuro. Parecia ter um sorriso grotesco em seu rosto, enquanto observava a pequena Anna.

A mesma tombou para trás, assustada enquanto observava o Titã.

– Mas... Como... ? – Anna gaguejou, segurando o choro. – É... De noite...

Anormal. Sim, aquele Titã era uma anormal, que podia se movimentar na noite.

Com o todo o fôlego que tinha em seus pulmões, Anna gritou.

Assim que a névoa gélida se dissipou, Freja e Leif ficaram observando a cena a sua frente, paralisados de surpresa e animação.

Onde antes estava Elsa, agora havia uma Titã. Sim, uma de aparência feminina. Era alta, pelo menos com treze metros. Seu corpo era musculoso para um Titã, mas não só isso, também haviam algumas curvas femininas, assim como um busto pequeno que se formava. A pele era extremamente branca, como a neve que Leif, Elsa e Anna sempre teriam imaginado. Os cabelos eram curtos, caiam nos ombros musculosos da mesma, da mesma cor de sua pele e esvoaçante com o vento frio da noite. Seu tronco parecia brilhar, como se fosse purpurina em sua pele. Seus olhos azuis, da mesmo cor do gelo, os encaravam e brilhavam na noite escura.

Leif estava completamente animado. O experimento havia sucedido! Ele estava certo! Elsa havia conseguido formar um Titã, assim como Grandpabbie havia previsto. E uma Titã maravilhosa, a primeira fêmea de sua espécie, pelo o que ele sabia. O corpo parecia forte e o mais humanóide possível, com vários traços diferenciais do que dos demais e traços que ainda demonstravam que ela era Elsa.

Freja estava completamente horrorizada. Primeiro, tinha que ver sua família passar por uma dor agonizante em sua frente, vendo-a se contorcer e chorar, para acabar se tornando um dos monstros que ela sempre quis exterminar para libertar o mundo. Mesmo assim, ela não conseguia deixar de ficar orgulhosa pelo quanto sua filha já se demonstrava diferente dos outros Titãs, com sua pele brilhante e olhos cor de gelo.

Mas, antes que qualquer um dos três pudesse fazer algo, um grito horrível e estridente cortou o silêncio da floresta dos Titãs, fazendo o sangue de todos gelar. Não só porque seria o grito que uma garotinha daria antes de ser assassinada impiedosamente, ou por ter sido tão alto que já fazia isso aterrorizante. Mas porque todos já conheciam aquela voz. Já haviam a ouvido cantar, falar e rir.

Era Anna.

Freja e Leif se viraram na direção do grito, não querendo acreditar que aquele som inconfundível era sua filha mais nova. Mas Elsa já parecia ter pulado qualquer estado de negação, correndo na direção de onde o grito havia vindo, suas grandes pernas de Titãs apertando seu passo. Os dois também saíram de seu estado de choque, prendendo os cabos de seu DMT nas árvores e ganhando impulso com o gás, tentando seguir os passos de sua filha agora Titã

Quando eles chegaram no local, seus olhos tentavam compreender a cena a sua frente. Anna estava tombada no chão, coberta por um manto verde e olhando para o Titã que estava a encarando como se ela fosse seu lanchinho da meia noite. O mesmo estava abaixando sua mão para pegar a menina e provavelmente a engolir, ou a engolir parte por parte, eles não sabiam e não iam dá-lo a chance de demonstrar.

Os dois estavam prontos para simplesmente cortar a parte de trás do pescoço do Titã, mas Elsa foi rápida. Ela pegou o Titã pelo ombro, o virando bruscamente e lhe acertando um soco no rosto. Ele quase tombou para trás, mas ela o pegou mais uma vez, segurando seu braço e o jogando por cima de seu ombro, como uma demonstração do que fez com Anna no treino mais cedo. Seus olhos cor de gelo brilhavam com malicia e cede por sangue, mas também com algo mais profundo, como se seu ataque fosse mais para proteger Anna do que matar por prazer.

Mas o Titã era mais forte do que ele parecia, partindo para cima de Elsa e mordendo seu ombro. A mesma pareceu irritada com isso, o tirando com força de cima dela. O Titã havia conseguido um grande pedaço da carne da mesma, desconectando seu braço esquerdo de seu corpo. Elsa não pareceu se importar quando ele mordeu seu pescoço do lado direito, mas ela usou sua boca de Titã para morder o menor em seu ponto fraco, decepando sua cabeça e o matando. Logo, o corpo do Titã começou a evaporar no ar, fumaça saindo de seu cadáver.

Elsa também não parecia muito bem. Seu corpo grande caiu de cara no chão, aparentemente começando a evaporar também. Freja e Leif começaram a entrar em pânico, não tendo certeza do que aconteceria com sua filha mais velha ao acontecimento. Mas, eles perceberam que Anna, quem eles haviam ignorado desde que Elsa começou sua luta com o outro Titã, se aproximava da forma Titã de Elsa que evaporava. Mais especificamente do pescoço.

Eles não tinham percebido antes, mas no pescoço, onde era o ponto fraco dos Titãs, havia algo envolvido em carne e pele que parecia se dissipar em névoa frigida. Era Elsa. Ela ainda usava suas roupas de antes, seu cabelo exatamente igual enquanto ela saia de dentro de seu corpo Titã. Anna se aproximou vagarosamente, pulando na pele gelada da Titã e colocando suas mãos nos ombros de Elsa.

– Elsa... ? – Anna murmurou, lágrimas escorrendo por seu rosto.

Ela estava com tanto medo. Tanto medo. Tinha certeza que ia morrer e nunca mais ver sua família, Gerda e Kai. Tinha tanta certeza... Mas aquela Titã havia lhe protegido. E, de algum modo, Elsa era aquela Titã. Elsa tinha a protegido. Elsa estava lá.

– Elsa! – Anna envolveu sua irmã em seus braços, chorando descontroladamente.

Quando Elsa finalmente acordou, sentia como se tivesse tomado um banho de água gelada durante seu sono.

A menina se levantou vagarosamente, todo seu corpo latejando e seus músculos trêmulos, como se tudo em seu corpo se recusasse a se levantar. Ela percebeu que seus cabelos loiros estavam desarrumados, usava a mesma camisola da noite passada e sentia-se exausta. Ela esticou seu pescoço para o lado quando percebeu que havia uma sensação quente em sua mão e viu que era apenas Anna.

Com suas roupas de treino diário e cobertas verdes sobre ela, Anna parecia completamente pacifica. Sua mão calosa de tanto treino de combate segurava a mão igualmente calosa de Elsa. A mais velha passou seus dedos por cima das mãos da mais nova, se perguntando o que exatamente havia acontecido. A menina de cabelos loiro-morango pareceu perceber que sua irmã tinha acordado, pois seus olhos esverdeados se abrindo para encontrar os de Elsa.

– Elsa! – Anna pulou da cadeira onde estava, observando cautelosamente a irmã mais velha. – Você finalmente acordou!

– Sim, eu acordei, Anna, por que...? – Ela começou, mas foi interrompida quando sua irmã deixou escapar algo que obviamente não deveria.

– Elsa, você pode se transformar em um Titã!

Nenhumas duas sabiam o que falar depois desse comentário.

– Então, vocês me levaram para o meio da floresta no meio da noite para me injetarem com uma injeção para eu ter a habilidade de me transformar em um Titã? – A voz de Elsa era calma, mas extremamente perigosa.

– Sim, foi exatamente isso. – A voz de Leif estava tão séria quando a de sua filha e até um pouco animada.

Já era de noite. Elsa não havia acordado exatamente cedo, estava escurecendo quando a menina despertou novamente, tendo gastado muita energia com sua primeira transformação. Mas, assim que ela ouviu aquela frase vinda de Anna, seu corpo todo entrou em um estado de choque. A mais nova tentou explicar, mas ela precisava de uma explicação vinda de seus pais. Eles haviam a usado como uma experiência. Haviam usado seu corpo para testar algo. E haviam a transformado em um monstro. Agora, seu pai a olhava com um sorriso animado e sua mãe com um olhar vazio, como se tudo fosse a coisa mais normal do mundo.

Elsa queria gritar, espernear, socar seu pai até que ele mostre alguma das reações que ela queria. Mas não o fez, pois tinha medo que não conseguiria parar lá caso o fizesse. Por isso, ela correu do laboratório. Correu da base militar. Correu em direção para a floresta, não se importando se tivesse algum Titã lá. Afinal, agora era um deles, por que a atacariam?

Ela correu até suas pernas não conseguirem mais, até finalmente cair em seus joelhos e chorar tudo o que queria. Ela era um monstro. Um dos monstros que ela sempre quis destruir. Ela podia machucar os outros. Podia comê-los... Podia comer Anna. Apenas esse mínimo pensamento a fazia querer vomitar todos seus órgãos para fora. Machucar Anna seria completamente imperdoável... Imperdoável...

– Elsa? – A voz de sua pessoa preciosa a tirou de seus próprios pensamentos.

– Anna? – A menina olhou para a sua irmã, que ainda estava com suas roupas de treino. Elsa provavelmente parecia horrível, com sua camisola amassada e seus pés sujos de grama e lama. – Vai embora... Eu não quero te machucar...

– Mas, você nunca me machucaria, Elsa! – Anna insistiu, pegando as mãos de sua irmã de surpresa. – Ontem mesmo... Aqui... Sob luz dessa mesma lua, você me salvou de um Titã! Você o matou e meu salvou! Elsa, aquilo foi incrível!

– Foi? – A loira platina questionou, segurando com força as mãos de sua irmã mais nova.

– Foi sim, eu adorei! – Ela exclamou e logo, um sorriso tímido se formou em seu rosto animado. – Você... Pode fazer de novo?

– Fazer de novo? – Elsa perguntou sem acreditar. Sua irmã gostaria que ela se transformasse em um monstro?

– Sim, de novo! Você era um Titã maravilhoso, Elsa! – A mesma disse animada, suas mãos juntas a frente de seu corpo. – Por favor, por mim!

– Assim eu não consigo dizer que não, eu vou fazer. – Elsa falou, dando alguns passos para trás. Anna não lhe seguiu, assumindo que sua irmã precisava de espaço para transformação.

Na verdade, Elsa não tinha a menor idéia de como se transformar e tinha certeza que não era a idéia mais prudente, mas tinha que tentar. Ela absorveu o máximo de memórias que tinha da noite passada, tentando se lembrar. Se lembrava da dor, se lembrava de ter se contorcido no chão, se lembrava de... Morder sua mão.

Hesitante, ela levou sua mão a sua boca, hesitando quando pensava na dor que isso iria causar, mas a expressão animada de sua irmã a fez seguir em frente. “É por Anna” Ela pensou, dando uma grande mordida em sua mão, nevoa gélida cobrindo todo o campo iluminado pela luz da lua. Assim que a névoa se dissipou, Anna conseguiu ver os olhos azuis como gelo de Elsa brilhando na escuridão.

Por um momento, Elsa ficou parada, apenas olhando para Anna, que acenava feliz para sua irmã agora em forma Titã. Por fim, Elsa-Titã segurou Anna com suas mãos, a levando a altura de sua face. A mais nova não discordou, assumindo que era apenas algo que sua irmã queria fazer para demonstrar algo. Mas logo começou a ficar cada vez mais apertado e desconfortável.

– Elsa... – Anna falou, ficando um pouco sem ar. – Tá doendo... – Sua irmã não respondeu, apenas a encarou e ela começou a ficar preocupada. – Elsa... ? – A menina que se tornou Titã respondeu, mas não do jeito que Anna queria.

Elsa abriu sua boca e engoliu Anna por inteiro.


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