Nós Somos A Evolução escrita por Menina Estrela


Capítulo 3
Esfaqueado - Steve


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Megára e Camila por terem favoritado, vcs são fofas :3 Espero que gostem do capítulo, bjs



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Tentei não olhar para baixo. Mesmo já tendo feito isso várias vezes, este era um prédio de doze andares, e me jogar lá de cima era de certa forma assustador.

Agitei os braços e respirei fundo. Mentalmente contei minhas respirações, me preparando para o pior. Coloquei os pés na beirada da cobertura; eu cairia num beco vazio, portanto não correria o risco de alguém me ver, antes de tentar tomei o cuidado de escolher bem o lugar. Andei lentamente. Um passo, depois outro, depois outro... Até não haver mais em quê me apoiar.

Comecei a cair muito rápido, o vento batia vorazmente em meu rosto; dois segundos e com um baque ensurdecedor eu já estava no chão. Com dificuldade olhei em volta e vi uma poça de sangue enorme ao meu redor. Minhas pernas estavam quebradas e tortas. Meu braço esquerdo se deslocou e um osso do meu ombro estava à mostra. Não era nem de perto o pior que eu conseguia fazer.

Arrumei primeiro meu braço, depois ajeitei aquele osso no lugar. Então desentortei minhas pernas e as coloquei onde deveriam estar. Peguei a mochila que eu havia deixado minutos antes ali em baixo. Troquei a camisa o mais rápido que pude, vesti uma bermuda qualquer e enfiei a roupa manchada de sangue na mochila. Comecei a ouvir ao longe o som de sirenes.

_ Droga! – resmunguei impaciente – Chamaram a polícia de novo! Não dá pra acreditar que alguém tenha ouvido um barulhinho desses de ossos quebrando e em vez de ligar pra ambulância ligam pra policia! Idiotas.

Tirei da mochila um pano e uma garrafinha daquelas de energético. Tentei limpar meu rosto ao máximo com os pouco segundos que me restavam, e depois comecei a correr.

Corri o máximo que pude, já estive encrencado antes e se me pegassem agora eu estaria ferrado. Virei numa rua de feira, e num instante me enfiei no meio de comerciantes fingindo estar interessado em uma caixa com cinco quilos de peixe. Como se alguém fosse querer realmente aquilo. Depois de meia hora inalando aquele odor insuportável os policiais foram finalmente embora me deixando seguir para a faculdade. Tive que ficar quinze minutos na rua esperando que um taxi parasse, até que enfim um deles fez isso. Não foi uma viagem agradável se eu contar quantas indiretas ele me deu por causa de um pouco de sangue que eu ainda tinha e do fedor de peixe.

Ao chegar, percebi que Christian, meu colega de quarto, estava acordado.

Ainda deitado na cama, ele se levantou um pouco e tampou o nariz. Sua voz saiu desnecessariamente esganiçada.

_Cara, você fede! Aonde se meteu? – ele quis saber.

_ Fui num hotel que acabou de inaugurar, o principal. – respondi simplesmente e joguei a mochila na minha cama.

_ De doze andares? O Welcome Los Angeles?

_ Não, não. Aquele em formato de abacaxi que o Bob Esponja acabou de alugar, qual outro seria? – retruquei com ironia.

Mas Christian ficou sério.

_ Não é hora pra sarcasmo Steve. Isso é sangue? – ele apontou para meu pescoço – Eu não acredito que você fez isso de novo!

_ Não enche Christian! Você não é a minha mãe! – respondi impaciente me jogando na cama.

_ Não enche? – ele me encarou indignado – Isso é sério sabia? Qualquer dia desses vou te internar, você vive tentando suicídio!

_ Não estava tentando suicídio! – devolvi – Eu só quero entender por que eu sou assim caramba! Não posso me machucar ou tentar me matar porque eu me curo, me regenero ou... Sei lá que droga é essa.

_ É eu sei disso. Apenas acho que isso está começando a passar dos limites. – ele disse.

Nos encaramos. Ficamos pelo menos um minuto assim. Era insuportável, então me levantei e fui em direção a estante com os materiais.

_ O que vai ter hoje? – perguntei.

_ Não faço ideia cara, a primeira aula começa daqui a duas horas e só o que eu quero é dormir. – Christian respondeu jogando a cabeça contra o travesseiro.

_ Não sei onde eu estava com a cabeça quando quis ser arquiteto, é uma das profissões mais chatas que eu conheço. – resmunguei.

_ A propósito... – Christian se manifestou – Vê se toma um banho, porque você tá realmente precisando.

Ele estava certo. Eu fedia tanto a peixe que se um gambá se aproximasse de mim sairia correndo. Fui rápido para o chuveiro tomar um bom banho. Quando terminei, lavei a roupa suja (tarefa nem um pouco fácil quando não se tem uma maquina de lavar), e voltei para o quarto para pegar as coisas da primeira aula.

_ Ah não, eu não vou andar com você desse jeito não! Tira esse boné! – gritei.

Christian usava um boné ridículo de aba reta, colocado para o lado, de um time de futebol americano de baixo escalão. Estava imundo.

_ Não! Eu gosto dele, as garotas acham incrível! – ele segurou o boné com um instinto protetor que me fez rir.

_ Só se for incrivelmente horroroso. Deixa de ser ridículo e tira essa coisa da sua cabeça pra gente poder ir. – falei fechando a mochila.

Contrariado, ele deixou o boné na cama e fomos embora para a aula.

Aquela foi sem duvida a manhã mais entediante que eu já tive na vida. As aulas foram as mais chatas que assisti esse ano e quando acabaram, fiz questão de ir logo para o almoço, que infelizmente não durou muito.

Fui andando para o prédio da próxima aula que começaria em vinte minutos. Durante o caminho fiquei pensando nas inúmeras vezes em que eu tentara me machucar e permanecer com pelo menos com um arranhão, sendo que tal coisa nunca acontecia é claro. Me lembrei de quando tive que me mudar de Nova York deixando meus pais lá porque uma garçonete me viu regenerando depois de um corte profundo com tesoura, e saiu espalhando para todo mundo da escola que eu era um ser sobrenatural que intocável. É claro que não havia como provar que era verdade, mas as simples palavras que ela usava conseguiram causar um alvoroço enorme.

E foi aí que eu decidi me mudar, e nesse processo de mudança que coisas estranhas começaram a acontecer. Não era apenas eu quem tentava me machucar, mas pessoas estranhas começaram a me vigiar e me seguir, e as tentativas de suicídio acabaram se tornando de homicídio, e foram pelo menos umas quinze! Porem, graças a Deus, há dois anos essas coisas malucas pararam de acontecer e eu pude voltar a minha vida normal ou nem tão normal assim.

Deixando de lado meus pensamentos e lembranças, já quase chegando ao prédio da aula, vi uma briga começar a surgir, e foram aparecendo cada vez mais pessoas ao redor daquilo. Foi quando eu vi um deles tirar sorrateiramente uma faca, que não é preciso ser um gênio para adivinhar aonde ela iria parar. Mas eu era idiota a ponto de querer evitar mortes e me meter em brigas sempre que podia pra tentar separar, e era impossível pra mim simplesmente ver e deixar aquilo acontecer.

Também não é difícil adivinhar que eu corri para impedir.

Tudo aconteceu tão rápido que não pude explicar direito, só o que consegui entender é que numa tentativa desesperada de proteger o outro cara eu me enfiei na frente e... Nada. A única coisa que me lembro foi de ver rostos espantados em minha direção, olhando para a faca que estava agora desferida em meu peito bem próximo do coração. E foi aí que eu entendi que agora eu deveria estar caído no chão, morrendo de dor e com uma perda grave de sangue. Eu juro, naquele instante eu descobri que posso correr mais que campeão mundial em atletismo, pois só parei quando estava de volta ao meu quarto e comecei a jogar tudo o que via pela frente dentro de uma mala. Foi quando Christian apareceu.

_ Steve, por acaso você viu uma revista amarela e grossa que eu deixei ontem à noite na... Pelo santo dos bonés da sorte! – ele exclamou – O que é isso no seu peito?

_ O quê? – perguntei. Então baixei os olhos e vi que a faca ainda estava cravada em mim – Ah, essa droga de faca! – tirei-a com força e joguei de qualquer jeito no chão. O ferimento não demorou a se fechar.

Christian ainda estava parado me encarando.

_ Mais que droga é essa que você tá pensando que vai fazer? Você não vai embora está me ouvindo? – ele gritou.

_ Não vou? – respondi impaciente – É o que veremos.

_ Caramba, você não pode sair assim desse jeito! Por acaso você pode me explicar o que deu em você pra decidir sair assim tão de repente? E a propósito, aproveita e explica o que aquela coisa tava fazendo enfiada dentro de você porque eu ainda não tô entendendo nada!

Christian tinha aquele jeito especial de por qualquer um mais nervoso do que já está, com suas perguntas.

_ O que importa é que por causa de uma maldita briga que seu grande amigo estúpido aqui resolveu se meter, eu levei uma facada e um monte de gente viu que eu não morri! Não caí, não senti dor, eu simplesmente fiquei parado ali com cara de idiota e depois saí correndo como um doido com esse negócio enfiado no meu peito! – definitivamente eu estava alterado.

_ Não! – ele respondeu como se fosse spoiler do seu filme preferido – E agora, o que a gente faz?

_ Você não faz nada. – falei – Mas eu vou embora daqui. Não tem mais jeito.

_ Pra onde? – ele quis saber.

_ Primeiro pra Nova York. – foi a primeira cidade que se passou na minha mente – Falar com meus pais, pegar algumas coisas e me despedir. – acrescentei rápido – Depois eu ainda não sei, mas garanto que vai ser pra bem longe daqui.

Ele não disse mais nada apenas me ajudou a arrumar as coisas e me desejou boa sorte quando eu parti. Peguei um moto-táxi dessa vez, e fui para o aeroporto. Assim que comprei as passagens, e como ainda faltavam meia hora para o desembarque, fui para uma loja qualquer comprar algo para me distrair durante a viagem (como se isso fosse possível), quando vi um livro chamado “Manipulados” que me interessou muito.

Anunciaram meu voo e no instante em que pisei no avião percebi que algo importante aconteceria em Nova York. Sei lá, como aquelas sensações ou frios na barriga... Eu senti isso.


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Notas finais do capítulo

Próximo na quinta ok? Bjs