Inferno Astral e outras coisas escrita por Tenie


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/474155/chapter/1

Que o Inferno Astral era bem confuso, isso era. Quem tivera a ideia de fazer um corredor onde todos os signos tivessem que conviver era louco! Doidinho de pedra!

Afinal, havia noites em que Touro e Sagitário praticamente entravam em uma briga de faca por causa de suas diferenças. Tinha semanas em que Câncer só chorava, e Áries, impaciente, dava piti por causa disso – o que só fazia Câncer chorar mais. E ninguém aguentava Leão quando ele começava a contar – de novo, de novo e de novo – como foi que ele havia sido trazido de longe e viajado por várias cidades magníficas e como ele havia sido esculpido pelo melhor... O único problema era que todos haviam sido trazidos juntos, pelo mesmo caminho, depois que foram esculpidos pela mesma pessoa.

Os signos não gostavam daquilo tanto quanto qualquer um, mas, como não tinham saída, deixavam para descontar suas frustrações nos alunos. E quando eles encasquetavam que alguém não era o que era de fato, eles não perdoavam.

Viny sabia bem disso. Capricórnio era marrento e cheio de demandas, achava que tinha a escritura da Verdade – e, portanto, era o autêntico Dono da Verdade, o que era contestado por praticamente todos os signos em algum momento. Logo, se você não fosse como ele achava que deveria ser, o cabritinho faria a egípcia sempre que você passasse.

Havia ciclos entre os signos. Naqueles tempos, Touro era a grande megera da rodada, mas Gêmeos estava impossível também. E todas as previsões eram péssimas – mais péssimas do que normalmente.

Os Pixies encaminhavam-se para o Inferno Astral, um tanto anestesiados, como acontecia com muitos alunos depois de um tempo de convivência – obviamente os signos achavam uma outra forma de atormentar quando percebiam isso.

Todos eles, menos Viny. Aquela história de ser rejeitado pelo próprio signo era insuportável! Contrariava-o profundamente, e, naqueles momentos, ele até parecia um capricorniano pensando!

–Como eu ia dizendo – o paulista emendou, tentando não pensar naquele corredor vazio – O pessoal quer montar uma versão de “O despertar da primavera” e eu aceitei...

–Tão bobinho, você! – disparou Caimana, com algum veneno, rindo em seguida.

–Ser o protagonista.

Claro que isso vai dar certo. Porque ninguém seria louco de implicar com uma peça sobre sexo sendo encenada para vários menores de idade por outros menores de idade. – Índio pontuou, também exalando alguma coisa venenosa.

–Eis aí uma coisa em que eles não pensaram.

De longe, ele já viu que o corredor não tinha quase ninguém. Ia ser um inferno mesmo, porque ele não era tão atormentado quando tinha mais gente e os signos tinham mais horóscopos para espalhar.

Só que quando estava vazio, a coisa mudava de figura.

Era só pisar ali que Aquário voava em sua direção, seco de vontade de contar-lhe o que ele achava que aconteceria! Capricórnio, em contrapartida, fazia questão de que ele visse-o virando a cara.

–Eu não acredito nesses dois! – murmurou, bagunçando os próprios cabelos – E, além de tudo, tá vazio!

–Relaxa – Cai passou o braço por sua cintura e ele, em resposta, colocou o braço em seus ombros – Por que você vai ligar pra opinião de dois blocos de pedra?

–Porque um deles deveria me amar e me aceitar acima de tudo!

–Mesmo que você não o represente? – alfinetou Índio.

–Desde que tu arrumou aquela namorada doidinha, ‘cê anda muito folgado!

O mineiro deu de ombros e soprou um resignado “É a convivência, uai” antes que pudesse perceber, provocando uma troca de olhares entre os três – porque Capí estava quieto, focado em alguma coisa.

–Vão ficar olhando pra mim? – Índio ralhou, fechando a cara.

–Não, não. Depois dessa cara que ‘cê tá fazendo, é capaz de alguém virar pedra! – Cai zombou.

Capí continuava calado.

–Véio, que foi que...

–Eu acho – começou, cauteloso – que a menina ali no fundo do corredor tá chorando.

Poucos passos de adentrar o Inferno Astral, eles pararam e olharam. Havia exatamente uma pessoa ali, parada quase na saída do corredor, encolhendo os ombros como se quisesse sumir – o que não estava sendo nada discreto, porque eles estavam vendo dali.

–Pois eu digo: Terás azar se cortares o cabelo. Se ele já está assim preso, imagine se não puderes prendê-lo o que não será! Vais morrer velha e seca!

–Falou o mais sensual do Zodíaco – provocou Sagitário.

–Cala boca, lacraia! Pegue esse buzanfão de vaca...

–Cavalo! – interrompeu-o o ofendido.

VACA! – cantarolou Touro – E suma daqui! E você – o bloco tornou a olhar a garota – Pare de ficar se desmanchando em prantos como Câncer! Isso é uma vergonha à força taurina!

Tudo o que Touro conseguiu com aquilo foi fazer com que a menina chorasse mais – e o bloco de Câncer começasse a chorar, atraindo a imediata solidariedade de Peixes.

Foi em um átimo que Capí atravessou o corredor.

–O que acontece com vocês, afinal? – ralhou, inconformado, a meio caminho de onde estava a chorona.

Ela voltou o rosto para encará-lo, como se tivesse levado um grande susto. De longe, o trio, que seguia atrás do capixaba, não viu que ela ficou branca e, depois, vermelha. Só viram quando ela saiu correndo.

–Engraçado. – suspirou Cai, ignorando Peixes, que berrava em seus ouvidos – Sempre vi várias pessoas dessa escola correndo para o Capí, mas é a primeira que eu vejo correndo dele.

Virgílio deu de ombros, fingindo que não ouvia Virgem, desvairada em sua predição.

–Tá esperando o quê, véio? Vai atrás da Cinderela! – Viny gritou para Capí, mas seus olhos estavam focalizados na virada de cara dramática de Capricórnio e na sombra que era Aquário correndo para ele – Nem vem!

–Não vais encontrar um grande amor.

Você jura? – ironizou, rolando os olhos – Já disse que eu sou de CA-PRI-CÓR-NIO!

–Ele diz que não.

–ELE ESTÁ ERRADO!

Foi o suficiente para estourar uma briga do lado oposto àquela que acontecia entre Touro, Gêmeos e Sagitário, porque nada irrita mais Capricórnio que ouvir que está errado em alguma coisa.

–REPETE!

Uma das sobrancelhas do loiro ergueu-se, enquanto sua boca repuxava-se em um sorriso de deboche.

–Eu disse que você tá errado. Errado.

Se um bloco de pedra pudesse enfartar de desgosto, certamente Capricórnio teria caído duro no mesmo minuto.

Uma vez que finalmente conseguira o que queria, sustentou a discussão.

Cai passou por ele e disse-lhe para largar mão. Ele contrariou – como bom aquariano que era, ou que deveria ser. Sem sucesso, ela e Índio ficaram esperando logo após o final do Inferno Astral por mais um tempo. A garota saiu primeiro.

–Viny, tô indo, tá? – Cai avisou, acenando.

–Te vejo depois! – ele respondeu, sustentando um sinal de positivo com o polegar, que se desfez em um aceno distraído – Quer que eu traga a minha mãe aqui? Ou tu acha que a minha mãe não sabe quando me pariu?

Ficou apenas Virgílio, mas não tardou a ir também, logo que a namorada alcançou-o.

Nádia passou correndo atrás de Viny.

–Fala, loiro!

–Fala, loira! Ou quase, sei lá! – respondeu rapidamente, virando apenas um pouco para ver seu borrão – Seus argumentos não são válidos! Quer que eu te mostre minha certidão de nascimento?

Ele ainda virou o rosto a tempo de ver a garota pular nos braços, aparentemente abertos, de Índio e chapar-lhe um beijo na boca.

Viny gritou de onde estava – ignorando Capricórnio, que ficou ainda mais possesso – e aconselhou Índio a não perdê-la jamais.

–Ela certamente não tem um registro preciso!

–Ah, mamãe deve ter lembranças muy vívidas do acontecimento! Eu nunca pari pra saber, mas dizem que é uma coisa que não se esquece assim, como você esquece festa ruim com salgadinho murcho e refrigerante sem gás!

Continuava alfinetando um bloco de pedra cada vez mais exaltado, ignorando Aquário, que queria aparecer de qualquer forma, porque se deixar esquecer quando era exatamente o que queriam era contra sua natureza.

Na realidade, não passara muito tempo ali, mas começava a cansar-se daquilo. Só conseguiu se desligar da discussão quando ouviu vozes invadindo o corredor. Uma delas estava impaciente, enquanto a outra era agitada e um pouco magoada.

Na mesma hora, os signos se movimentaram. Inclusive Aquário, para sua surpresa.

–Eu só estou te dizendo – começava a voz impaciente, de garoto – Que é pra você parar com isso!

–Mas eu quero ficar com você! – rebateu a outra.

–Eu não vou ficar com você. – ele bufou – Quer saber de outra? Fica aí. Se vira. Talvez amanhã você me alcance!

Viny cerrou os punhos ao ver o primeiro sair correndo, deixando para trás um menino de cabelos enrolados e pele cor de chocolate, que, no mesmo minuto, começou a mover a cadeira de rodas atrás do cretino, mas não na velocidade ideal para pegá-lo. Áries e Aquário perseguiam-no, debatendo se ele seria ariano ou aquariano, mas eram duramente ignorados no momento.

O paulista não precisou pensar duas vezes. Deixou o sangue subir à cabeça mesmo - ele não era o Capí, afinal. Interceptou o primeiro, que cruzou os braços e bufou.

–Qual é o seu problema, Pixie?

–No momento, é você. No geral, eu não sou a favor de quebrar narizes, mas você realmente está pedindo por isso.

Viny não esperou-o raciocinar e acertou-o em cheio, com tudo, levando-o ao chão.

Se nada der certo, eu posso substituir o Popó. Por que não?, pensou consigo mesmo.

O garoto ficou observando a cena, dividido entre espanto e encantamento. Viny correu para ele.

–‘Cê tá bem?

Ele assentiu, meio ressabiado.

–Esses dois chatos tão te enchendo? – ele apontou para Áries e Aquário.

–Eles não sabem de onde eu sou, mas eu tenho certeza que sou aquariano – respondeu, atropelando-se – Tenho certidão pra provar.

O loiro abriu um sorriso gentil e adorável, abaixando para sussurrar-lhe ao ouvido:

–Sabe que eu estou aqui há um tempão e nunca convenci ninguém de que sou capricorniano, e não aquariano?

–Hã...? – ele balbuciou, a vermelhidão subindo pelo pescoço.

–E se a gente atormentar um pouquinho esses chatos? O que me diz?

Lucas riu.

–Seria ótimo.

–No três. – riu-se o loiro – Um... Dois... Três.

Sem hesitar, Viny tascou um beijão em Lucas, que deixou os doze signos e o próprio garoto em choque. Câncer e Peixes suspiraram, enquanto Virgem especulava sobre os germes que um beijo poderia ter.

–Vamos sair daqui – ofegou Vinícius, imediatamente após romper o beijo – Pronto pra voar?

Posicionando-se atrás do encosto da cadeira, empurrou Lucas o mais rápido que conseguiu, deixando para trás o outro cara, ainda meio atordoado.

Uma vez do lado de fora, o loiro puxou papo.

–E aí? Como ‘cê se chama?

–L-Lucas.

–E vem de onde?

–Sã-ão Paulo.

–Tá nervoso?

–Nãão – maldita voz! Tinha o traído num momento daqueles!

–Fica não. Eu sou legal.

–Eu sei – murmurou, quase sonhador.

Viny fingiu que não ouviu, apenas para deixá-lo mais confortável. Algumas pessoas ficavam um tanto nervosas perto dos Pixies, esquecendo-se que eles eram como qualquer outro aluno ali.

–Tu veio de Sampa, né?

–Uhum.

–Da hora. Eu sou de Santos. Desculpa dizer, mas eu venho de um lugar mais legal! – brincou, mexendo no cabelo de Lucas enquanto seguiam.

–Sampa também é muito legal!

–Não tem mar. Perde muitos pontos no quesito “Ser legal”.

–A gente tem a Bolsa de Valores.

–E ela serve pra quê? Além, é claro, das coisas pra que ela serve... Mas... Eu tô falando... Tu não vai dar uma volta na Bolsa, tu não sai de casa pra admirar a Bolsa e ninguém vende apartamento em Sampa dizendo assim: “Com visão privilegiada para a Bolsa de Valores!”!

Lucas gargalhou.

–Você venceu. Sampa não é tão legal. – admitiu, sua voz diminuindo gradativamente – Não tem você.

Viny calou-se por um momento, sentindo a nunca esquentar um pouco, o que não era típico. Sorriu.

–Ah, pare! Assim eu fico vermelho!

–Claro, porque você é tímido! – Lucas zombou.

–Eu sou!

–Sei!

–Pois eu vou te convencer de que eu sou tímido!

–Duvido.

–Aposto que, até chegarmos à porta do seu quarto, eu te convenço de que eu sou tímido.

–Vai apostar o quê?

Viny inclinou-se para encará-lo. Eles se entreolharam por um momento e riram de novo.

–Não sei. Me diz você.

Parecia que, dali em diante, quem faria inferno no Astral seriam os dois.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que o Lu realmente aprecie. Eu ia esperar até o aniversário dele, mas fiquei com medo de não conseguir publicar, de fazer alguma besteira e perder tudo ou sei lá o que!Ademais, obrigada à Nádia, que foi minha cúmplice enquanto eu preparava isso aqui!Por favor, deixa sua crítica, eu ficarei encantada em lê-la!Muito obrigada pela atenção!Fiquem bem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Inferno Astral e outras coisas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.