“Durante alguns segundos, que pareciam duras eras, Shizune ficou a espera de alguma reação como quem dá um presente a uma pessoa e fica ao lado, como um abutre a espera de alguma reação positiva. A morena sabia que era normal aquela reação de perplexidade, assim como chorar, gritar de felicidade e sair sorrindo por aí, mas então, pela primeira vez em sua carreira médica, a médica viu uma mulher desmaiar ao saber que estava grávida.”
Sasuke tranqüilamente tentava entender como funcionava a máquina de lavar e seus inúmeros códigos de enxágüe quando o telefone ecoou na casa, chamando sua atenção. A preguiça o fez olhar em direção do telefone barulhento quase como se ele pudesse ler a sua mente e simplesmente parar de tocar já que seu dono não queria atendê-lo. Com um suspiro quase exausto, o moreno se arrastou até o aparelho, largando o grosso manual de instruções de lado, já que qualquer coisa poderia ser melhor do que ler que tipo de amaciante seria bom para lavar calcinhas de cetim. O Uchiha atendeu o telefone sem nem olhar a bina e enquanto o seu “Alô” saiu de modo arrastado e preguiçoso, com uma nítida má vontade de atender, a voz do outro lado da linha soou concentrada e apressada demais para quem há poucos minutos, lia sobre como reusar água de uma máquina de lavar.
—Alô, residência dos Uchiha? Aqui é do hospital de Konoha.
O ninja precisou de alguns segundo para entender aquela frase, para fazer com que o seu cérebro ocioso voltasse a funcionar.
Ele abriu a boca para responder, e antes que eu falasse algo sobre amaciante e calcinhas de cetim a voz do outro lado quase gritou com impaciência:
—Sasuke! Sou eu, merda!
—Shizune?—Indagou o homem, parecendo surpreso.
—Sim ué!—Bufou Shizune do outro lado da linha.
—Bem, então... Qual é a razão da sua ligação?—Perguntou ele, retrucando.
—É sobre a Sakura.— Disse a médica, toda aquela sua energia e impaciência de antes sumira ao tocar no assunto daquela ligação.
Na verdade dava para imaginar certinho a mulher enrolando o dedo no fio do telefone, ansiosa, tentando escolher as palavras para falar.
—O que aconteceu, Shizune?—Insistiu Sasuke, impaciente, trocando os papeis do começo.
—Bem, a Sakura desmaiou.—Desembuchou a morena, escutando em resposta, um silêncio quase mórbido do outro lado da linha, o que a fez fazer uma careta quase que cômica ao telefone.
—Como assim ela desmaiou?—Quis saber o moreno, tendo a voz controlada e fria, desses tons que meio que obrigam as pessoas a responderem rápida e claramente, e era nessas horas que Shizune entendeu por que ele se dera tão bem na ANBU.
—Acho melhor você vir aqui, Sasuke.—Respondeu a morena, mordendo o lábio inferior com força antes de desligar para não ouvir mais nenhuma pergunta do homem.
O Uchiha quase ligou novamente apenas para xingar Shizune pela falta de educação da parte dela por desligar na cara dele, mas logo essa vontade passou, e logo o homem se deu conta do que era importante e saiu a passos largos em direção do hospital. O homem entrou no saguão a procura de Shizune e assustou a atendente do saguão ao praticamente exigir saber onde a médica estava. Felizmente, antes que o ninja se estressasse demais, Shizune foi chamada pela atendente e apareceu para agüentar o humor feroz de Sasuke.
—Olá, Sasuke...— Cumprimentou a morena, exibindo um sorrisinho amarelo e sem graça, tentando ser simpático.
Em resposta, o homem a encarou e rosnou algo que em tempos bárbaros e hostis, poderia ser traduzido como um cumprimento ou ameaça.
Notando que ele não estava de conversa, a médica se virou e o guiou até o quarto onde Sakura fora remanejada. Chegaram rápido, em parte por que o hospital de Konoha não é um lugar tão grande, mas também, por que a guia quase corria para fugir da aura mal-humorada dele, sem contar o olhar fuzilante que ela sentia em sua nuca... na verdade Shizune não se surpreenderia em se virar e notar que seu acompanhante estava usando o temido sharingan. Quando chegaram ao quarto, a expressão carrancuda de Sasuke se dissipou com uma rapidez impressionante, antes ele cuspia fogo, sendo capaz de matar qualquer um que aparecesses em seu caminho, mas foi só olhar a Sakura que pronto, tudo se esvaiu, como se a rosada fosse uma espécie de tranqüilizante natural para o moreno. Ele se aproximou carinhosamente da esposa, que já estava acordada, meio pálida, mas lúcida.
—Como você está se sentindo, meu amor?—Perguntou o moreno acariciando a mão da Uchiha.
Em resposta, a mulher sorriu carinhosamente, desses sorrisos abertos, em que se esbanja alegria e vivacidade, ela já estava bem melhor do que antes. Sakura mordeu o lábio inferior, em sinal de hesitação, mas seus olhos esverdeados brilhavam como se ela fosse uma criancinha cheia de vontade de contar uma novidade.
—Por que você desmaiou?—Indagou o Uchiha quase em um tom de repreensão.
—Digamos que foram emoções demais para ela...—Sugeriu Shizune, sorrindo para a rosada como quem tinha um segredo no olhar, típico de mulheres.
—O que vocês duas estão escondendo de mim?— resmungou Sasuke, como uma criança birrenta, o que fez com que as duas mulheres ali presentes rissem de sua ignorância.
—Sasuke.—Disse Sakura, segurando as mãos do moreno com tanta felicidade e convicção que parecia que ela iria pedi-lo em casamento ali mesmo.—Eu estou grávida.—Anunciou a rosada, estufando o peito com orgulho de si mesma.
Por alguns instantes, o quarto foi preenchido pelo silêncio, mas por um silêncio que coitado, competia para ter espaço diante outros sentimentos, como a ansiedade da Uchiha para saber a reação do marido, a desconfiança de Shizune sobre ter que chamar mais enfermeiros para ajudar o Uchiha, que estava tão perplexo que parecia que iria desmaiar também e por fim, estava o centro das atenções, ele que agora está tão difícil de explicar seus sentimentos a vocês, caros leitores. Suas pernas realmente bambearam, e o seu corpo se inclinou para frente, a médica revirou os olhos, pensando em como a família Uchiha dava trabalho, mas Sasuke manteve-se acordado, apenas desabou em cima da esposa em um abraço apertado. A morena olhou aquela cena com o coração e olhos ternos, adorou ver a rosada ter os olhos marejados de felicidade e o sorriso, raro, no rosto do moreno.
Se sentindo como uma intrusa naquele seio familiar, Shizune saiu do quarto de fininho, sem ser notada por ninguém. Enquanto andava pelos corredores límpidos, a médica sorriu sozinha, pensando em como aquela família era complicada e de certo modo, essa sua “complicabilidade” é o que a tornava tão detalhadamente completa. Miku se surpreendeu ao ver os pais ao buscá-la na escola de ninjas, e adorou a surpresa, principalmente por que os pais lhe compraram sorvete e contaram que teria um irmãozinho. Apesar de toda aquela alegria, eles estavam preocupados como a primogênita reagiria com a chegada de um ser que também acabaria por roubar um pouco da atenção de seus adorados pais.
—Um irmãozinho?— Repetiu a morena, quase deixando que o seu sorvete de creme caísse no chão, derretendo.
—E então... o que você acha da ideia?—Perguntou Sakura, apreensiva, mas tentando forçar um sorriso.
De súbito a menininha abriu seu sorriso bangela e abraçou os pais, que nem se importaram ao serem melados de sorvete, dizendo com uma alegria contagiante:
—Muito obrigada papai e mamãe! Eu amarei ter um irmãozinho!