Problem Temptation escrita por Boow, Brus


Capítulo 6
Truths Manipulated




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A areia fina entrava no meio dos dedos do meu pé e me fazia cócegas. Eu não ia muito a praias. Principalmente porque Miami não é considerada a melhor point beach da regiãono entanto o lugar era agradável. Digo, a praia. Gabriel gostava de lugares como esse, ele gostava de coisas movimentadas e lugares quentes. Além de tudo, Gabriel era um nadador de muito talento, então creio que qualquer lugar com espaço suficiente para ele movimentar seu corpo em círculos ao mesmo tempo em que bate os braços e as pernas para sair do lugar seja agradável suficiente para ele. Mas um fato importante para lembrarmos é que Gabriel estava à milhas de distancia.

No entanto, as outras pessoas mais importantes da minha vida estavam bem ao meu lado. Quer dizer, quase todas. Oliver e Daniel já se divertiam como duas crianças pequenas que acabam de descobrir todo o esplendor marítimo do oceano. Com certeza Noah já teria se juntado a eles se não fosse por sua noiva pedindo - vulgo mandando daquele jeito que apenas Megan sabia fazer - para que ele a ajudasse com o protetor solar.

De qualquer forma, acho que Noah estava bastante satisfeito em ter um motivo razoável para poder passar as mãos pelo corpo da noiva.

Não que eles precisassem de motivos para isso.

Ashley também havia sucumbido às ordens da prima de que ele tinha que ir a praia conosco. Inicialmente ela usou a desculpa de que eles eram primos e não se viam há muito tempo, então um final de semana em família seria extremamente necessário. Claro que Ashley sendo um cara esperto não acreditou na prima, no entanto, ele não teve como negar o pedido quando ela gritou para qualquer hóspede que quisesse ouvir as seguintes palavras:

Ashley Evans, você não vai simplesmente estragar meu final de semana. Entre dentro de uma droga de calção e esteja no estacionamento na hora marcada, ou eu arranco toda a masculinidade concentrada entre o meio de suas pernas!”

Obedecer Megan, foi de longe a coisa mais sensata que Ashley fez. Nunca se sabe quando minha melhor amiga loira e estressada resolverá pegar a faca da sua cozinha e realmente cumprir com suas ameaças. O que inegavelmente seria um feito não tão bom para qualquer garota que quisesse usufruir das utilidades masculinas concentradas no meio das pernas de Ash. O que de forma alguma interferia na minha vida.

No entanto, eu não diria que Ashley estava exatamente feliz com aquele passeio. Na verdade desde que acordou, Ashley não parecia exatamente feliz com nada. Inclusive comigo. Começando quando esbarramos na cozinha e ele me lançou um olhar ameaçador, como se de certa forma aquilo tivesse sido intencional. O que sem dúvidas não havia sido, levando em consideração que não era muito confortável bater os ombros contra os ossos duros de Ashley. Certamente desde aquele momento eu estava tentando evitar diálogos com mais de cinco palavras com ele.

Se Evans desejava ter surtos e transtornos humorísticos, pensei, que fosse-os ter com qualquer outra pessoa que tinha habilidade para aturá-los. Não eu.

Me joguei em uma das cadeiras de praia que Megan havia colocado estrategicamente em baixo da sombra do guarda-sol, e pude notar quando Ashley fez o mesmo. Não que ele precisasse se esconder do sol, Ash parecia ter uma estranha e muito útil imunidade contra o calor. Havíamos passado a semana toda trabalhando sob o sol e se você prestasse atenção, eu que mal havia feito o serviço pesado, parecia muito mais afetada do que ele 'o grande trabalhador’.

—Vocês não pretendem ficar ai, certo? – Megan perguntou encarando a mim e ao primo com um tom sério de advertência, enquanto tentava empurrar o tubo com protetor solar novamente para dentro da bolsa abarrotada de coisas não tão necessárias para uma tarde na praia.

— Megan, agradeça por eu simplesmente estar aqui ao invés de continuar dormindo no meu chalé. – Ashley disse com os olhos cerrados pelo sol e o cabelo pouco mais claro e arrepiado do que de costume. Eu estava pronta para deixar de olhá-lo quando em um movimento rápido e quase inconsciente, Ashley se arrumou na cadeira e tirou sua camisa cinza colocando-a sobre o braço da cadeira, como se treinasse tal ato a vida inteira.

O que, se pensarmos bem, era um pouco verdade.

Vejam bem, eu não sou o tipo de garota carregada de hormônios que começa a imaginar coisas censuradas todas as vezes que vê um cara bonito sem camisa, ou no caso de Ashley, um cara excessivamente bonito e sem camisa. Até porque eu já tenho vinte e um anos e não sou mais uma adolescente com hormônios descontrolados por todos os cantos, e, além disso, eu tenho um namorado. Porém, ver Ashley daquele jeito era uma coisa diferente. Não que eu já não tivesse visto ele desse modo antes, digo descamisado, até porque Ash não me parecia ter pudor algum quando o calor era demais durante nosso serviço e ele simplesmente arrancava aquele pedaço de pano do corpo e desfilava pela pousada com o seu peitoral à mostra. Mas dessa vez o que havia prendido minha atenção não era apenas Ashley. Eram as letras negras e cursivas em sua pele que hoje pareciam estar ainda mais escuras que o normal. Eu não havia perguntado a Ashley o que dizia, nem em que idioma estava, mas não pense que foi por falta de curiosidade. Talvez o excesso de timidez, mas nem de longe falta de curiosidade.

— E você Erin? – Ouvi a voz de Megan chamando minha atenção ao mesmo tempo em que Ashley voltou a encostar-se à cadeira listrada verde e azul que Megan trouxe consigo para a praia bloqueando completamente minha visão sobre a tatuagem. – Vai perder a diversão? – Disse arqueando as sobrancelhas e tirando os óculos redondos do seu rosto. Em lugares como o que estávamos agora, a beleza de Megan parecia irradiar de cada milímetro do seu corpo. Seus cabelos loiros brilhavam em uma competição com o sol do mesmo modo que seus olhos azuis se tornavam ainda mais azuis para que pudessem mostrar para o mar que ainda que ele fosse grande e extenso, podiam existir coisas que superavam sua beleza. Mesmo coisas com o tamanho incerto de duas bolas de gude.

— Você sabe que vou. – Disse olhando ela por trás das lentes do ray-ban aviador em meu rosto. Aquela não era o tipo de discussão de precisávamos ter. Entrar no mar estava fora de questão para mim, e Megan estava bastante ciente disso. De certa forma, estava de acordo também.

— Você tem que começar a superar esses seus medos Erin. Isto está consumindo você aos poucos. – Disse entoando uma reclamação e ao mesmo tempo deixando uma expressão irritada passar por seu rosto. Eu revirei os olhos sem dizer nada, apenas observando minha melhor amiga e o seu corpo esbelto se encaminharem em direção ao mar.

— Isso é sério? – Ouvi aquela voz de repente e me dei conta de que Ashley permanecia lá sentado ao meu lado com uma pequena faixa de areia nos separando. Olhei em sua direção e pude notar que ele conseguia enxergar meus olhos por trás das lentes dos óculos, porque sempre que mantínhamos esse contato visual direto, algo oscilava em mim palpitando que talvez aquilo pudesse ser errado. – Medo de cavalo, medo de mar... o que mais? – Ele perguntou com um sorrisinho sarcástico no canto dos lábios. Sinceramente, eu preferia os dias que o humor de Ashley estava mais para cavalheiro montado no cavalo branco aos dias em que ele se transformava no próprio cavalo.

— Não tenho medo do mar, tenho medo de me afogar. – Disse como se isso já não fosse uma conclusão óbvia. Desviei meus olhos dos de Ashley e passei a olhar para meu irmão tentando afogar Megan em baixo da água. Um calafrio percorreu meu corpo. – Tenho meus motivos. – Completei e o olhei de canto enquanto ele balançava a cabeça para cima e para baixo devagarzinho.

— Trauma de infância? – Perguntou enfim. Bom, eu não diria que se tratava de um trauma de infância, já que eu já havia completado dezesseis anos quando aconteceu. No entanto, achei desnecessário explicar isso a Ashley e me expor aos seus comentários, então tudo o que eu fiz foi balançar a cabeça para cima e para baixo da mesma forma que ele havia feito pouco antes. – Como? – Questionou novamente me fazendo lhe lançar um olhar indagador para que ele assumisse de vez o que queria com tantas perguntas. Olhando em seus olhos por apenas alguns segundos consegui chegar a uma conclusão rápida. O cavalo-branco não estava mais lá. Ou talvez estivesse, mas controlado pelo cavalheiro.

— Gabriel me afogou na piscina da escola quando eu entrei pra o ensino médio. – Falei rápido, mas pelos olhos dourados de Ashley pude notar que cometi um grande equívoco. Não é muito legal dizer para alguém que seu namorado afogou você em uma piscina de escola. – Claro que era pra ter sido só uma brincadeira e eu havia provocado ele. Não houve más intenções. – Tentei explicar, mas seus olhos se mantiveram bem abertos e atentos às informações, como se eu acabasse de ter dito àquele cara cheio de coisas erradas, uma coisa que superasse toda a sua lista. E talvez fosse verdade, de forma alguma eu conseguia ver Ashley afogando uma garota. Mas eu não diria que havia uma placa ou algo do tipo no rosto de Gabriel quando ele me empurrou para dentro da imensidão azul com gosto de cloro. Homens são imprevisíveis.

— Então você está me dizendo que seu namorado tentou te afogar, mas tecnicamente não houve intenção de afogamento? – Dei de ombros voltando a desviar o olhar. Eu não era tecnicamente obrigada a olhar para Ashley com aquela expressão confusa e debochada com uma única covinha no lado esquerdo do rosto e em uma tentativa de equilibrar as expressões, a sobrancelha direita bem arqueada.

— Ainda não éramos namorados. E nem mesmo éramos amigos. – Justifiquei tentando defender meu namorado que não estava perto para fazer isso. O que era ótimo, já que ele provavelmente não aprovaria o tom de voz do meu querido colega de teto. – Ele era amigo de Oliver e vivia em minha casa, Oliver e eu tínhamos aquela coisa de irmãos adolescentes que não se suportam e Gabriel adorava pôr o dedo no meio das nossas brigas. Quando eu entrei pro ensino médio, não demorei a entrar pro grupo de líderes de torcida e o Gabriel tinha um tipo de fetiche por elas. – Disse contorcendo os lábios com a lembrança não tão boa. – Logo eu mudei drasticamente em sua visão de irmã pirralha do melhor amigo para a irmã gostosa e líder de torcida do melhor amigo, mas Gabriel pra mim continuava sendo o mesmo cara de sempre. Um grande babaca. E eu não me lembro exatamente como, mas um dia começamos a discutir depois do treino de natação dele e ele me jogou na piscina sem esforço algum. Era uma piscina de mergulho e mesmo que eu tivesse controle sobre minhas pernas não conseguia colocar o pé no chão. Gabriel mergulhou quando percebeu que eu não estava fingindo um afogamento, mas ele sempre foi meio lerdo pra essas coisas. Então eu acho que apaguei. – Olhei pra Ashley que me olhava atentamente escutando toda a história como se fosse uma aventura épica, no seu rosto não havia nenhuma expressão que entregasse o que ele estava pensando, porém eu ri ao me dar conta de que seus olhos continuavam a me estudar. – Quando acordei estava no hospital, no meio de uma visita do Oliver e de um Gabriel de olho roxo. No início pensei que tivesse sido Oliver a bater nele... – Então deixei a frase morrer com um meio sorriso implantado nos lábios.

— Eu teria feito muito mais que um olho roxo em qualquer cara que fizesse isso com minha irmã. – Eu ri. Gargalhei ao mesmo tempo em que ficava surpresa por saber que Ashley tinha uma irmã. Nunca nem sequer havia me passado pela cabeça falar sobre a família daquele cara. Na verdade, eu não tinha muita certeza se ela existia, digo, a família, levando em consideração que ele morava em um chalé na pousada de sua tia viúva.

— Não foi Oliver. – Falei reprimindo o riso. – Descobri uma hora depois de acordar que havia sido Megan a grande defensora da minha honra. – E ela havia feito isso no intervalo da escola, então não demorou para que o colégio inteiro ficasse sabendo como Gabriel Austine, o cara que afogou uma líder de torcida, havia apanhado de uma garota. Mas claro, eu não falei isso para Ashley.

— Eu sempre soube que um dia Megan se tornaria o tipo de ameaça humana... – Ele comentou bem-humorado. – Agora me esclareça, em qual dos momentos dessa emocionante história de amor, você descobriu que ele era o cara da sua vida? – Nenhum. Tive vontade de dizer. Eu não sabia se Gabriel era o cara da minha vida. Nem sequer conseguia me ver ao lado dele do mesmo modo que Megan e Noah sonhavam em estar. Mamãe sempre falou que quando é certo, sabemos que é certo, porque não vamos nos importar com nenhum dos erros ao nosso redor. “Se for certo pra você Erin, corra atrás.” É o que ela sempre diz. Eu não sabia se eu e Gabriel éramos certos, no entanto logo estaríamos juntos em Nova York. E eu tinha esperanças de que quando isso acontecesse, todas as minhas dúvidas se extinguiriam. Afinal, tínhamos um futuro promissor pela frente. Uma ótima faculdade, e logo que nos formássemos teríamos um excelente emprego. Era impossível não ser certo.

Mas em vez de falar tudo isso, preferi contar apenas o básico.

— Não sei exatamente. Foi em uma festa na casa de Megan no segundo ano do colegial. Eu sempre fui meio fraca para o álcool e estava bêbada quando apostei cinquenta pratas com minhas amigas que eu ficaria com Gabriel. Não foi uma missão muito difícil se lembrarmos que eu ainda era uma líder de torcida naquele tempo e como era o último ano de Gabriel na escola, acho que ele estava a fim de realizar todos os seus sonhos. – Não inclui para Ashley a parte em que tudo depois da aposta é um borrão e eu acordei na manhã seguinte com Oliver tirando o Gabriel a gritos de dentro do quarto de hóspedes da casa dos Fell em que eu e ele estávamos. Descobri um tempo depois que Danny tinha visto a gente quando foi arrumar a casa com a irmã e ligou pro Oliver pra avisar que a irmãzinha e o melhor amigo dele estavam indecentes sobre a mesma cama.

— Então quer dizer que no fim, Erin é uma pessoa completamente má, que ilude os caras nas festas? O que aconteceu quando ele descobriu que era só uma aposta? – Dei de ombros.

— Eu nunca contei. Conheci o verdadeiro Gabriel naquela semana e gostei do que vi. Um mês depois estávamos namorando. – Conclui a história com um meio sorriso tentando comparar o quanto havíamos mudado desde aquela época. Gabriel havia se tornado outra pessoa e eu também, mas eu não sabia o quanto disso era bom ou ruim. – Estamos juntos há quase quatro anos. – Comentei baixinho mais para mim do que para Ashley, para ser mais exata, se tratava de três anos e meio, sendo que há um ano e oito meses estávamos consideravelmente longe um do outro.

— Não se veem há quanto tempo? – Ele perguntou. Só então me dei conta de que Ashley parecia realmente interessado em minha conturbada vida amorosa. E para ser sincera eu preferia quando falávamos de coisas chatas como futebol ou ficávamos olhando os turistas da pousada e comentando sobre suas roupas bregas. Quer dizer, Ashley não gostava muito do segundo item, mas a partir do momento que eu me esforçava para falar de futebol, Ashley tinha a obrigação de opinar sobre a moda. Mesmo que não entendesse coisa alguma sobre o assunto.

— Onze meses. – Disse esperando encerrar o assunto. Não queria falar de Gabriel com Ashley, da mesma forma que não queria falar com nenhum dos outros. Porque, por mais que há alguns meses tudo o que eu desejava fosse mudar para Nova York e viver sob o mesmo teto que o meu namorado, a realidade da ideia ser posta em prática em menos de três meses estava começando a me assustar. Quer dizer, eu e Gabriel não tínhamos o tipo de relação estável com troca de carinhos a todo momento. Tínhamos momentos críticos. Muito críticos.

Quando ele morava em Miami, tenho certeza de que terminei mais vezes o meu namoro com ele do que disse ‘bom dia’ para a minha família. E se tudo isso voltasse a acontecer novamente, eu não sabia o que faríamos, porque estar na casa do meu namorado em Nova York significava muita coisa, inclusive que eu não teria para onde correr quando nossas brigas acontecessem. Eu não poderia simplesmente pegar um avião e voar para Miami como se tivesse dinheiro caindo dos bolsos para financiar minhas viagens. Teríamos que viver como um casal de verdade. Como Megan e Noah querem viver. Como mamãe e papai vivem há trinta anos. E bom, é isso que me assusta.

Fui tirada dos pensamentos completamente desnorteada quando uma música ligeiramente conhecida começou a tocar e elevar o som de forma gradual. Vi Ashley se mexer na cadeira por alguns segundos, até ter um aparelho celular em suas mãos. Seus dedos compridos deslizaram sobre o ecrã e por fim a música cessou na perfeita sincronia que Ashley levava o telefone ao ouvido. Seus lábios formaram uma linha tensa e seus ombros levantaram apenas um pouquinho. Sua mão esquerda deslizou por entre os fios castanhos de sua cabeça e por fim ele disse algo.

— Alô...? – Veja bem, eu ganhei educação o suficiente para saber o quanto é errado escutar a ligação pessoal de alguém. No entanto, a menos que eu cavasse um buraco no meio de toda aquela areia e enfiasse minha cabeça lá dentro por algum tempo, não conseguia enxergar uma forma de não escutar o que Evans dizia. – Agora? – Ele pareceu nervoso. Como se agora estivesse acontecendo algo que realmente lhe assustasse. Olhando descaradamente em sua direção, notei quando sua mão passou pela segunda vez por entre os cabelos e seus olhos se fecharam enquanto seus ombros se encolhiam quase que imperceptivelmente. Eu diria que Ashley estava ganhando um belo de um sermão. Não sei quem exatamente era a pessoa que se atrevia a dar sermão em um cara tão cheio de autoconfiança quanto Ashley, mas por algum motivo essa pessoa havia dobrado a personalidade de Evans com maestria, fazendo-o parecer um garotinho assustado. – Tudo bem Had, encontro você em quarenta minutos... – Ele olhou em minha direção por dois segundos e então me senti na obrigação de desviar o rumo dos meus olhos para meus amigos se divertindo na água novamente. – … no lugar de sempre. – Completou encerrando a chamada. Queria voltar a olhá-lo, mas depois de ser pega em flagrante espiando a conversa de alguém, não conseguia reunir os farrapos da minha coragem para fazer isso. Então apenas continuei assistindo meus amigos, e ouvindo os ruídos de Ashley na cadeira ao lado.

Soube que ele se levantou e colocou novamente a camiseta, porque simplesmente não conseguia evitar não ver. Tudo bem, eu podia ter olhado para a direita onde meu ângulo de visão provavelmente deixaria de ser a pequena parte onde Ashley estava, mas quem sou eu para fazer isso se não uma simples mortal? Quer dizer, não são todos os dias que dezenas de músculos concentrados em apenas um peitoral contraem-se e descontraem-se em perfeita sincronia bem na frente de nossos olhos.

— Eu vou ter que sair. – Ele disse trazendo minha atenção do seu peito agora coberto pelo tecido cinza da sua camisa, para seu rosto que parecia tenso demais para notar o tamanho da minha momentânea concentração em seu rosto. – Eu... acho que não voltarei hoje. Você trouxe a chave do chalé? – Balancei a cabeça positivamente e ele se manteve em minha frente por dois ou três segundos, completamente alheio ao seu redor. Como se de alguma forma não estivesse lá realmente. – Tudo bem. Tenho que ir. – E com um aceno rápido Ashley saiu a passos largos pela areia da praia, deixando que suas pegadas medianas se misturassem as outras centenas ao seu redor.

Evans sabia ser insuportavelmente misterioso.

E instável.

Estávamos todos ao redor de uma mesa de bar simples em Palm Springs. Não tinha grande movimento apesar de ser mais ou menos dez horas da noite, um horário de pico para esses tipos de comércio. Um garçom caminhando por entre as mesas, aparentando um terrível mau humor carregava uma bandeja com doses aleatórias de bebidas, e não parecia muito satisfeito com a presença de cinco jovens dispostos a gastar suas energias em um bar na noite de sábado. No entanto, não questionou quando Danny lhe prometeu uma boa gorjeta até o fim da noite.

Noah e Danny riam de algo sem cabimento que Oliver havia acabado de falar e Megan parecia satisfeita em me contar como havia sido a primeira semana de semi-férias ao lado do noivo. O que eram realmente detalhes demais até mesmo para mim, sua melhor amiga.

Eu estava rodando no copo a terceira dose de gim, enrolando para bebê-la já que pretendia estar sóbria até a hora de voltarmos para a pousada. Aliás, era bem provável que meu irmão, minha melhor amiga, seu gêmeo e seu noivo, precisassem de um guia pelas cinco quadras que se seguiam até a pousada.

— Eu nunca fiquei com alguém na cama do meu ou da minha melhor amiga. – Oliver disse orgulhoso me deixando incerta de quando eles haviam trazido à tona a brincadeira do colegial. Eu na maioria das vezes era campeã naquele jogo. Porque basicamente eu quase nunca havia feito as coisas doidas que meus amigos faziam no colegial, portanto não precisava beber o líquido do copo.

Mas aquele momento era diferente, porque eu não queria jogar algo tão infantil no meio de um bar onde todos podiam ouvir o que estávamos falando, e também porque não estávamos mais no colegial, então não era como se estivéssemos contando vitória sobre os outros, e sim deixando nossas intimidades a deriva dos ouvintes. Eu tinha regras contra isso.

Regras que provavelmente foram corrompidas durante algum momento entre a primeira e segunda dose de gim. Então eu bebi.

Megan me fez uma cara feia por lembrar de tal assunto, mas ela e Noah também beberam, o que automaticamente anulou minha confissão não tão secreta e fez meu estômago se embrulhar. Logo depois Danny bebeu, e antes mesmo que o líquido descesse em sua garganta, Oliver olhava para o amigo e variava entre um tom amarelo e verde.

— Que droga Danny, achei que tínhamos uma regra contra isso. Eu posso ter dormido sobre os projetos dos seus filhos com uma desconhecida e... – Ele entornou a bebida de seu copo em um gole só como se isso diminuísse o nojo. Pelo menos eu e Oliver concordávamos no fato daquilo ser nojento.

— Não era uma desconhecida. Era a empregada de vocês. – Justificou com um sorriso debochado que era sem dúvidas a cópia perfeita do sorriso de Megan. – E eu não disse que foi na sua cama Ollie. Apesar de ser uma revelação inusitada para todos os aqui presentes, por isso prestem atenção eu não vou repetir, Erin é a única garota com potencial para ser minha melhor amiga. Já que ela é a única representante do sexo feminino que não cogita a possibilidade de cair de boca em toda essa tentação que eu represento. – Foi a minha vez de variar entre verde e amarelo. Sentir a bebida indo e vindo no meu estômago e lancei um olhar ameaçador para o cara loiro sentado em minha frente. Aquela era realmente uma revelação inusitada. Quer dizer, não sobre a parte de eu ser a única representante do sexo feminino com moral suficiente para ser a melhor amiga de Daniel, mas sem dúvida alguma, a moral se tornou insignificante depois de imaginar ele e a maldita empregada sobre o meu colchão.

Megan Fell estava correndo o risco de virar filha única a qualquer momento.

— Prevejo um homicídio no recinto. – Oliver cantarolou baixinho ao perceber aquele olhar do qual ele já estava bastante acostumado a receber, sendo direcionado ao melhor amigo. Um olhar que dizia: Corra enquanto tem pernas, otário.

Mas para a minha eterna decepção toda a áurea ameaçadora sobre mim foi quebrada ao ouvir a vibração do meu celular sobre a mesa e ver o nome de Gabriel brilhando sobre o visor. Claro que assim como eu, os outros quatro pares de olhos moveram-se para o celular, e reconheceram instantaneamente a foto do meu namorado com uma cara emburrada e os braços cruzados, brilhando no ecrã. Como se pode imaginar, cada um dos meus amigos manifestou sua reação. Megan olhou quase com escárnio para o visor, enquanto levantava a sua sobrancelha de forma intimidante, tentando mesmo que indiretamente me fazer rejeitar a chamada. Danny pareceu ligeiramente satisfeito por um amigo ter - mesmo que a distância - prolongado seus minutos de vida, e Oliver e Noah me olharam com aquele sorriso cheio de insinuações como seu eu ainda fosse a pequena Erin, aprontando pelos corredores do colégio. Mesmo que eu não aprontasse tanto assim.

Estava prestes a atender ao telefone quando meu irmão o tirou da minha frente e em um movimento rápido o aproximou do ouvido.

— E ai camarada, quanto tempo? Você acabou de pegar a sua garota em um momento pré assassino tendo como vítima nosso colega e futuro ocupante do cemitério de Miami, Daniel. Então eu ia agradecer se você voltasse a ligar em meia hora e deixasse-me ver meu amigo se ferrar por ter pegado a empregada gostosa na cama da Erin e nunca ter me contado nada, tudo bem? – Acredito que na curta pausa que Oliver fez, foi o tempo preciso para Gabriel rir, tentar entender, rir novamente e dizer algo que fez meu irmão rir. – Tudo bem, talvez seja melhor mesmo. Mas toma cuidado, eu não duvidaria que ela pudesse fazer algo bem ameaçador com você, mesmo que por telefone.

Então sem ao menos esperar, tirei o telefone das mãos de Oliver e sai de dentro do bar rindo e ao mesmo tempo revirando os olhos.

Com o tempo eu aprendi uma coisa importante: Sempre que possível, atenda ao telefone longe dos seus amigos. Acredite, isso faz com que momentos constrangedores e totalmente desnecessários sejam evitados.

— Gabriel? – Chamei me abaixando na calçada estreita da rua sem me importar com o quanto aquilo poderia sujar meu jeans e sentei por lá. Logo fiz questão de me livrar dos sapatos altos e encostar-me na parede externa do bar.

— Gatinha, há quanto tempo eu não falava com Oliver? Acho que devia manter mais contato com meu estimado cunhado. – Disse com um ar divertido que me fez rir junto. Gabriel era bom com isso. Fazer os outros rirem quando ele estava feliz. Mas também sabia ser ótimo em estragar a felicidade dos outros, quando fazem o mesmo com a sua. – Como você está? – Perguntou depois de segundos apenas com nossas risadas na linha.

— Bem. Estou do lado de fora de um bar, sentada em uma calçada e descalço. Minha maquiagem deve estar borrada por causa desse calor infernal, e depois das recentes revelações sobre minha cama, Danny e a empregada, estou meio enjoada. – Ele riu.

— Erin não brinque, não acredito que você está bêbada e eu estou perdendo isso! Logo alguém vai passar por ai e lhe dar uns trocados. – Disse brincalhão, eu quase podia imaginá-lo jogado sobre o sofá do apartamento, com uma caixa de pizza vazia em sua frente e o rosto marcado pelo sono. Isso me fazia relaxar um pouco, porque eu sentia saudades de Gabriel e isso era mais uma prova de que éramos certos. Ele também sabia que eu não estava bêbada, sabia porque ele já havia presenciado esses raros momentos, e reconheceria se eu realmente estivesse sob efeito do álcool.

— Eu não sou uma mendiga. – Protestei fazendo bico e sentindo minha voz sair esganiçada, tinha certeza que ele não poderia ver o bico, mas não me importava. Talvez fosse o álcool afinal. – Tenho um namorado talentoso que está fazendo faculdade na NYU e daqui a três meses estaremos juntos e felizes com um futuro brilhante. – Era engraçado saber que mesmo com o leve efeito do álcool sobre mim, aquela ideia ainda me soava assustadora. Mas também era extremamente confortável ouvir a risada de Gabriel no outro lado da linha, como se gostasse e aprovasse tudo aquilo.

— Aposto que sim. Seu namorado deve ser um cara de sorte afinal... e bonitão também. Porque hoje, acredite se quiser, acordei em um frio de quinze graus, mesmo sendo verão. E o que é mais absurdo ainda, é que minha namorada está aproveitando as férias dela, em um lugar quente e cheio de praias, com três caras sem pudor algum e uma melhor amiga altamente perigosa, ao invés de estar comigo aqui, me ajudando a estudar e... com outras coisas também. – Rimos, rimos porque afinal era verdade. Quer dizer, uma verdade pouco manipulada para Gabriel parecer a vítima, mas que de certa forma soava convincente.

O que não era uma surpresa já que Gabriel era cheio de verdades manipuladas.

Nós conversamos por algum tempo, até Oliver aparecer do lado de fora apenas para verificar se ainda tinha uma irmã viva. Assim que desliguei Danny e Megan fecharam a nossa conta no bar, e como prometido Daniel alegrou a vida do garçom ranzinza com uma gorjeta altamente generosa.

Megan precisou ser levada nas costas de Noah, mesmo que não estivesse bêbada ao ponto de não conseguir caminhar. O que eu podia falar, se seu futuro marido gostava de mimar a noiva de todos os modos? Quer dizer, não é algo que eu aconselhe fazer, não com Megan. Mas de algum modo, ela e Noah pareciam perfeitos um para o outro, até mesmo quando estavam bêbados.

Danny vinha caminhando sobre o meio fio, que ao seu ponto de vista era uma missão extremante difícil, de total concentração e muita agilidade. Por isso, vez ou outra ele fechava os olhos e sussurrava algo que nenhum de nós entendia, mas que ele jurava ser um mantra chinês para aguçar os sentidos. O que não funcionava muito bem, já que todas as vezes que ele fechava os olhos, tropeçava no ar e por pouco não era arremessado contra o chão.

Por fim, eu e Oliver caminhávamos abraçados como dois irmãos amáveis que nunca fomos, cantando os singles internacionais do momento, pouco mais alto do que o permitido para o horário. Não estávamos bêbados, pelo menos não tanto quanto Daniel estava, estávamos apenas aproveitando os bons momentos que as noites de Palm Spring podiam nos conceder.

Eu deveria ter imaginado que aquelas noites entrariam em extinção a partir dali.


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