–Dukan?- a voz soou dentro da cabeça dele quando estava dormindo e ele se assustou momentaneamente.

–Ni... - ele começou a falar e foi interrompido.

–Shiii! Não fale meu nome Dukan. Não é bom dizer meu nome ai.

Ele suspirou sem muita paciência:

–O que você quer?

–Saber se esta bem. Mas depois vou dizer que acho que achei um meio para te tirar daqui.

–E quando pode ser isso?

–Vai demorar um tempo. Tenho que ver algumas agendas e outras coisas, e então preparar tudo... Se pudesse arrumaria as coisas o quanto antes, pois eles gostam de te ter, Dukan. A maioria das cobaias que chegam não é como você, e muito menos com o poder que você desenvolveu. Agora você esta chamando muita a atenção. E Jess tem um interesse especial em você.

–Fale mais sobre esse Jess. - Ele não tinha muito que fazer.

–Ele é o comandante do setor de triagem de cobaias, que avalia os potenciais de cada humano para os tipos de testes que temos. A sugestão dele é mais considerada pelos Guias, que pesam as opiniões de outros comandantes dos diversos setores de pesquisa, para então definirem para qual setor a cobaia vai. Desde que você chegou Jess expressa um interesse incomum. Teve outros antes, mas nenhum o deixou assim... E isso é um problema. Ele não é do tipo “bom dono”. Por enquanto ainda está discutindo par aonde você vai.

–Quanto tempo...

A porta se abriu e Kan fechou a boca. Jess apareceu o olhado de cima e pegou a placa translucida a analisando.

–Dukan?– ele ouviu a menina e continuou apenas encarando o homem.

O traje fez Kan se levantar e se afastar da cama e ele ficou parado. Jess entrou olhando a prancheta e deu a volta por ele o analisando.

–Os meninos quase te afogaram. -ele passou os olhos pelos de Dukan rapidamente. -Mas um minuto é bastante tempo para ficar sem oxigênio. Talvez possamos melhorar isso com alguns treinos diários.

Jess se afastou e Kan foi atrás dele como se levado por uma coleira invisível pelos corredores.

Poucos minutos depois uma pessoa surgiu vindo em direção contraria a deles. Alec caminhava de cabeça baixa, os cabelos antes longos agora estavam com um moicano preso em um elástico trás, as laterais tinham alguns cortes precisos demais para serem por alguma agressão. Kan diminuiu o passo para vê-lo, mas o outro nem o notou ou olhou, seguindo a pessoa de branco a sua frente. Os sons das botas deles se afastaram e o que Kan seguia também parou notando a diminuição do ritmo dele.

–Não se importe com os outros se quer ficar vivo aqui. - comentou Jess dando um novo comando para o traje de Kan fazendo-o andar. - Vamos começar com o seu treinamento recruta.

–Ah não, ele disse recruta?– sussurrou a menina que agora só ouvia o que acontecia. -Acho que decisão do Guia foi tomada. Talvez você se de bem. Mas terá que ser resistente.

Os dois entraram em uma sala de teto baixo e paredes escuras que eram refletidas pelo piso deixando tudo sombrio e frio. Então Dukan acompanhou o senhor para uma porta larga em uma das laterais da sala e eles saíram em uma sacada que dava visão para um salão cheio de aparelhos, divisórias de energia e soldados andando para todos os lados. Jess e ele desceram por uma escada até o piso mais baixo, e o comandante o levou para um dos soldados desocupado que logo fez um comprimento ao vê-lo e recebeu a ordem de “cuidar” de Kan. Jess entregou a prancheta para ele e continuou a vagar pelo lugar. O soldado não disse nada ao analisar as informações e deu os comandos através da prancheta para o traje de Kan que o colocou em uma posição de costas para a parede próxima e imóvel.

–351 o objetivo do que fazemos é melhorar seu condicionado até o seu melhor. Então não lhe faremos cortes ou coisas desse tipo, pois nessa divisão trabalhamos com a parte física e parte o psicológico. - o soldado começou a despejar as palavras memorizas com pressa. -Você pode ficar aliviado de estar conosco neste momento, mas as coisas aqui dependerão exclusivamente de sua capacidade de auto superação e resistência. -um sorriso forçado surgiu. - Você é capaz! Acredite.

Logo a expressão do soldado voltou a ser a indiferente e ele se afastou para perto de um pedestal com controle, onde passou a digitar comandos. Logo presilhas saíram das paredes e se prenderam aos calcanhares de Kan. O traje foi desativado, fazendo Dukan se sentir estranho e desequilibrado, ao mesmo tempo em que escudos elétricos de três metros de altura surgiram saindo das paredes de seu lado e o fecharam em um cubículo. Por um momento ele olhou o soldado através do escudo que o olhou de volta antes de apertar um botão, e Kan girou para o lado na parede sendo levado pelas presilhas nos tornozelo em um movimento circular até ficar de cabeça para baixo de costas para a parede.

–Puxe a alavanca e conseguirá se soltar. - o soldado apontou entre os pés de Kan uma alavanca laranja no meio do preto cinzento das paredes. –Tente sempre, você consegue! –disse o soldado encenando otimismo. - E tome cuidado com aterrisagem.

Depois o soldado se afastou e foi até um grupo de soldados que discutiam algo entre si.

Dukan analisou o lugar, onde era basicamente um grande espaço com varias divisórias de escudo de energia, e no alto de uma das imensas paredes havia uma grande tela que mudava constantemente para mostrar as diversas cobaias e suas tentativas de vencer o desafio proposto. E Kan não era o único de cabeça para baixo.

–Pelo que estou entendendo é melhor tentar agora. -disse a voz na cabeça de Kan. –É o melhor momento. Se não tentar, eles não ligarão pra você, ficara sem comida e sem energia. Eles não farão nada por você, se você mesmo não fizer alguma coisa.

Dukan suspirou, Nia tinha razão. E sua primeira tentativa o surpreendeu, pois não conseguiu alcançar a alavanca. Seu condicionamento físico não estava como antes, o teste de Matiel e aquele traje deixou seus músculos mais preguiçosos. Ele tentou mais algumas vezes com a cabeça começando a latejar pela posição e se cansou. Assistiu o telão por mais algum momento vendo as tentativas de outros, que não eram apenas rapazes. Ver outros jovens lembrou-o de que não sabia o que aconteceu com os outros depois daquele ataque, ou se Alec tinha dado alguma informação e o Estado estava os atacando naquele momento. Ele olhou a alavanca novamente e resolveu tentar novamente com mais determinação. E em vez de desistir quando não aguentava mais se sustentar, conseguiu um novo impulso e a segurou. O mecanismo ficou travado suportando o peso dele até que tardiamente fez um crack e se abaixou. Ele caiu no chão que não era confortável. Além da dor que percorreu suas costas o novo musculo no abdômen latejou o deixando um pouco mais sem ar. Ele girou sobre o chão e começou a se levantar, notou que o escudo a sua volta havia mudado de cor para um verde e se viu no telão por mais tempo do que qualquer outro que foi mostrado.

Olhando através do escudo a sua frente Dukan o mesmo soldado que o deixou ali, chamou sua atenção dando algumas palmas com a prancheta de vidro negro debaixo do braço, mas logo ele parou e começou a registrar mais algumas coisas no quer que esteja registrado naquilo.

–351 foi muito bem para o primeiro teste. - o traje foi reativado. - Normalmente as coibais não são tão animadas assim para terminar no primeiro dia, e... acabam que dá um trabalho quando elas não resistem o suficiente.- Kan se levantou e seguiu na direção do que falava. - Seria divertido ver você na segunda fase, mas ainda temos que dividi-lo com outro setor até que uma ordem diferente seja dada.

O escudo em sua volta se desfez e ele foi guiado para uma sala com diversas celas pequenas, onde ele recebeu comida, que era a mesma gosma com os nutrientes que ele precisava, e segundos depois de se forçar a comer aquilo dois homens altos com casacos brancos com uma listra amarela do ombro até a bainha em baixo se aproximaram junto com um soldado. Dukan se levantou e os seguiu para longe daquele lugar.

Novamente ele estava com Matiel que ficou horas analisando o sangue dele para depois fazer pequenos testes de ferimentos, queimadura, corte, ácido, danos internos que gerariam roxos, ossos, entre outras coisas, mas sempre em um escala pequena comparada ao primeiro teste que o velho fez com Kan. Mas nem por isso menos dolorosa ou incomoda. Assim o velho estava estudando sua habilidade especial.

No final daquele dia Dukan foi arrastado para sua cela cansado e dolorido por todos os testes que Matiel fez e que exigiu o gasto de energia e resistência para se curar.

–Dukan, você pode me ouvir?

–Sim. – ele respondeu continuando deitado e de olhos fechados. Não conseguia dormir depois de tudo aquilo, mas precisava aproveitar o momento de paz para se recuperar.

–Eu desliguei o fone depois que Matiel começou com os seus testes. Espero que esteja bem. -Ele não falou nada. – E nesse tempo descobri que eles ainda não se decidiram qual setor você ficara. Estão te dividindo entre alguns setores. Mas um não pode afetar o outro então estão pegando leve.

–Pegando leve?... -ele sorriu sarcasticamente. -Porque você esta fazendo isso afinal?

A menina ficou em silencio por alguns minutos.

–Estou cansada desse lugar. De ver o que eles fazem para beneficiar apenas as pessoas dessa nave, que gostam de viver como estão e muitas vezes não dão valor ao que descobrem com as cobaias e gostam de se ver como superiores dos terráqueos. Eu soube sobre você e seus amigos em alguns boletins diários. E quando dois de vocês vieram para cá resolvi ajudar. Se vocês não conseguirem colocar essa nave no lugar, o futuro dos moradores da terra pode chegar à servidão á nós, por medo ou por benefícios que podemos oferecer.

Antes o objetivo da nave buscava ajudar a humanidade toda, e já não era aceitável. Agora eles continuam com essas pesquisas, mas apenas em benéfico próprio, e isso se tornou intolerável.