Passado, Presente e Futuro escrita por Blue Butterfly


Capítulo 15
Futuro incerto


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo ^^
Boa leitura e obrigada a todos os leitores ^^



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Sakura ficou estranha pelo resto da semana, ela dizia que estava tudo bem, mas seu irmão sabia que não. Havia tantas coisas em sua cabeça, tantas questões sem resposta, seu mundo estava virado, nada parecia sólido o bastante, para que ele se sentisse seguro e tranquilo. Foi por isso que ele procurou o parque naquela tarde. Não o parque Pinguim, lá era barulhento, havia sempre crianças demais e paz de menos, ele preferiu o parque abandonado onde as sombras moravam, era o lugar mais mágico de Tomoeda, assustador para a maioria das pessoas, acolhedor para ele.

Sentado debaixo de uma árvore, ele tentou ordenar seus pensamentos dispersos em quebra cabeça. Começou pelo mais fácil: Sakura.

Ela era apenas uma menininha, um pequeno monstro que mal tinha perdido todas as presas, inocente demais para entender como a magia podia ser perigosa e má. Tudo o que ele queria era protegê-la, mantê-la segura do mundo lá fora, sem perdas, sem sofrimento, sem ter que passar pelo que ele passou. Não achava que ela estava pronta, não ainda, e talvez nunca estivesse, só que a magia não vem quando você está pronto, Touya não estava pronto quando a primeira sombra apareceu em seu quarto rugindo em dor, ainda assim ele teve que fazer alguma coisa, aprender sozinho o que fazer e o que não fazer, não foi fácil, envolveu tempo, paciência, muita coragem e um pouco de loucura – muita loucura na verdade. Sakura não estava pronta, como ele não estava quando era pequeno, ainda assim ele sabia que um dia ela estaria, ela aprenderia errando e acertando, até dominar tudo o que era necessário, o irmão não poderia ajudar, esse crescimento teria que ser feito sozinho, se ele interferisse, ele iria atrapalhar mais do que ajudar, afinal magia não era apenas magia, magia era como…música. Cada ser tinha seu próprio gosto musical, cada um tocava um instrumento de sua preferência.

Sakura era alegre e pura, a magia que estava na casa era feliz como o sol, uma música agitada que faria multidões dançarem, a magia de Touya era fria, uma música serena e confiável, ideal para aquietar sombras, muito parecida com a magia que sustentava a aura de Yukito. Por isso, ele não podia interferir, pouco ou quase nada ensinaria a sua irmã e correria o risco de atrapalhar ensinando um controle que não funcionaria para a magia dela, apenas para a sua.

Então, decidiu que não interferiria nem revelaria o que sabia. Quando achasse que era hora, Sakura diria para ele tudo o que estava acontecendo, até lá, ele esperaria.

O segundo pensamento era doloroso, mas tinha que ser enfrentado de uma vez por todas: Kaho.

A mulher enigmática deixara seu coração destroçado, era um pensamento que ele evitava a todo custo, só que agora ele ficou na dúvida se era hora de ir atrás dela e pedir ajuda. Ela sabia muito sobre magia, desde o primeiro dia em que se conheceram ela parecia saber tudo sobre ele e o que ele fazia, como se o futuro estivesse na palma de sua mão, nunca havia surpresa ou espanto, apenas um olhar frio de quem tinha plena convicção do que a vida reservava. Ela poderia auxiliar Sakura, embora ainda fria, sua magia era mais quente que a de Touya e se ela não pudesse ajudar no controle, poderia ajudar com sua previsão, sabendo tudo o que aconteceria com Sakura, ele poderia protegê-la. Mas valia a pena?

Não era impossível encontrá-la, só não parecia certo. Ela tinha partido por escolha própria – e como uma boa vidente que era, sabia a confusão que viria com aquele livro mágico. Se ela quisesse ajudar, ela já estaria de volta. Além disso, ele sabia que previsão não era garantia de proteção, saber não era dominar, Kaho só tinha vislumbres de um futuro próximo na maioria das vezes, ela sabia de antemão, porém sem tempo de mudar alguma coisa.

Trazê-la não faria Sakura mais ou menos segura. Mas o faria mais feliz?

Kaho foi sua primeira e única namorada, com ela aprendeu uma parte que faltava em se tornar homem que a escola e a família não podiam ensinar, foi bom estar com ela, seu coração sempre ficou aquecido, eles se divertiam, se amavam…

Quando ela foi embora… Foi difícil, ele achou que seria o fim, vagou pelos dias sem rumo e sem vontade de viver. Só que aquilo passou, lentamente, um pouco de cada vez, a dor foi passando, a cor voltou para sua vida trazendo um brilho especial, leve como se pudesse voar, inocente como uma criança, delicado como um coelhinho… Ele não estava curado, era diferente, a marca em seu coração ainda estava lá, já não doendo como antes, na verdade, doía quase nada, momentos bons tinham preenchido o vazio que Kaho deixou, latas e mais latas de pêssego em conserva, chocolate, panquecas grudadas no teto, a capacidade de entender até mesmo o seu silêncio, a companhia tranquila, o olhar lotado de ternura, tudo isso e muito mais agora ocupavam seu coração.

Ele estava feliz. Mais feliz do que quando Kaho estava em sua vida.

E naquele momento soube que ela não deveria voltar, não por ele, Touya não precisava mais dela em sua vida. A dor passara. Ele era feliz.

O terceiro pensamento trouxe a felicidade e a confusão que ele já se acostumara, era sempre assim quando pensava em Yukito.

#####

Um menino pálido chutava algumas pedras na rua, mãos no bolso, cabeça baixa deixando que os cabelos prateados escondessem o rosto delicado e harmonioso. Ele suspirou, a cabeça latejava, mesmo assim ele continuava a insistir, jogava ideias e palavras em sua mente, esperando uma resposta. Nada vinha.

Ele nunca se sentiu tão sozinho como naquele dia, os avós estavam viajando – de novo – e Touya tinha saído mais cedo – ou pelo menos foi o que Sakura informou. Não havia ninguém que ele queria procurar, sabia que Higaka não se importaria em ter sua companhia, só que não era a presença do goleiro que o confortaria naquele momento. Havia algo errado, muito errado, ele sentia isso em todos os seus ossos, o que ele não conseguia era entender o que estaria errado, até mesmo Sakura estava agindo estranho, tensa, ansiosa, preocupada, Touya não sorriu mais, sua expressão dizia que ele sabia o que estava acontecendo, mas não iria compartilhar nada, pois pela primeira vez o que estava estranho não tinha nada a ver com ele.

Seus passos o levaram de volta ao parque abandonado onde uma sombra vaidosa tinha tentado matá-lo por diversão. Não era um lugar seguro para ir sem Touya, mas naquele momento ele não pensou nisso, tudo o que ele queria era um lugar quieto que lembrasse seu amigo, torcendo internamente para que o moreno estivesse lá também.

Por isso não foi surpresa quando ele viu o rapaz alto sentado perto de uma árvore, os olhos fechados e o semblante pensativo, emoções vez ou outra surgindo, como preocupação, aceitação, raiva, dor, tranquilidade, esperança, um sorriso…

–To-ya?

O moreno abriu os olhos devagar, o sorriso aumentando quando vislumbrou o rapaz de pé a sua frente.

–Yuki.

Foi só isso, eles ficaram um tempo se encarando, até que o menor decidiu sentar na frente do outro e poupar uma dor de pescoço, sem jamais romper o olhar que trocavam. Havia tanto ali, tantas coisas ditas, algumas escondidas nas entrelinhas, silenciadas em palavras, mas demonstradas em gestos.

–Estou com medo – Yukito confessou num sussurro.

–Eu sei. Eu também estou.

Momentos de silêncio e contemplação se seguiram.

–Você está triste – Touya notou – O que foi?

–Me sinto sozinho – Yukito confessou baixando a cabeça.

Ele não queria que Touya se sentisse culpado, não era culpa dele se havia coisas mais importantes do que Yukito. O menor começou a se arrepender de não ter ido procurar Higaka. Até que uma mão grande e áspera tocou seu queixo, erguendo sua cabeça até que os olhares voltaram as e cruzar.

–Desculpe – Touya pediu com sinceridade – Eu não devia ter sumido. Por favor, me perdoe, não vai acontecer de novo.

–Você não tem que pedir desculpas, não é como se…

–Não vai acontecer de novo – Touya repetiu, interrompendo o garoto com carinho.

Yukito concordou, descansando a cabeça na mão estendida de Touya.

–O que vai acontecer agora?

A pergunta de Yukito podia ser interpretada de tantas formas. O que aconteceria agora que eles estavam lá no parque? Eles iriam para a casa de Touya ou tomariam um sorvete? O que aconteceria agora que a aura de Yukito estava lutando contra ele? O que aconteceria agora que Sakura estava tão estranha? O que aconteceria agora depois que os dias anteriores foram tão estranhos? O que aconteceria agora com a amizade deles? O que aconteceria com eles?

E tantas outras interpretações que Touya desistiu de procurar. Yukito sabia que sua pergunta tinha sido muito vaga, mas era o melhor que ele podia fazer, afinal ele queria resposta para muitas questões.

Touya não tinha nenhuma resposta para essas questões. Tudo o que ele sabia é que, naquele momento, Yukito estava lá, tão humano como sempre foi, com suas dúvidas, medos, inocência e sua confiança cega e absoluta no moreno.

–Eu não sei – sussurrou – Mas podemos descobrir juntos.

Tudo o que Touya sabia é que na sua frente estava uma das pessoas mais importantes do seu mundo que o ensinou a cada dia a melhor forma de amar a vida, que o fez rir, e principalmente sorrir.

–Eu aceito – Yukito sussurrou, fechando os olhos enquanto o calor da mão de Touya aquecia seu rosto.

Tudo o que Touya sabia é que ele nunca abriria mão do rapaz a sua frente, independentemente do que o futuro traria.

Pois ainda que o futuro fosse incerto, o presente lhe dava todas as garantias que ele precisava para seguir em frente. Pois o presente lhe deu Yukito.


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Notas finais do capítulo

ACABOU!!!!!!!!!!!!!!
Espero que tenham gostado tanto quanto eu, principalmente as meninas fofas que comentaram a história e me incentivaram a fazer uma continuação.
Bem, recadinho especial:
Muito em breve - daqui no máximo dois meses - começo a postar a continuação de "Passado, presente e futuro", minha mais nova e linda história "Percepções"
Espero encontrar todos vocês lá.
Um grande beijo meu, do Touya e do Yukito ^^
Até breve



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