Chapter 4 – And ended with snow.

Yamato tem consciência de que estar sentado em um balanço que provavelmente já tinha visto dias melhores, enquanto olhava para algum ponto aleatório do cenário sem estar enxergando tal cenário não podia ser algo saudável. Isso é, desconsiderando o fato de que estava nevando e o casaco que estava usando não estava realmente lhe aquecendo.

Infelizmente, mesmo com o grande risco de pegar um resfriado ou algo pior, Yamato não conseguia manifestar a força de vontade para se levantar e ir para... Bom, ele estava relutante em chamar o apartamento onde vivia de ‘casa’, mas no momento sua mente estava distraída demais para pensar em uma palavra mais adequada.

— A culpa é sua, a culpa é sua, a culpa é sua, a culpa é sua! Se não fosse por você eu poderia ser alguma coisa a mais nos olhos de nossos pais ao invés de apenas uma substituta para o herdeiro—

Sentiu como se alguma coisa fria estivesse se remexendo em seu estômago. A sensação era definitivamente desagradável.

— Então, não vai dizer nada? Sua irmã mais nova é tão inútil e tão indigna de ouvir a sua voz que você não vai nem se dar ao trabalho de respondê-la?

O telefonema provavelmente foi a cerca de... Uma hora atrás? Ou talvez mais, tinha perdido a noção de quanto tempo havia passado desde que se sentara naquele balanço. A praça estava vazia, o que não era algo surpreendente considerando a quantidade de neve que estava caindo.

Yamato não sentia muita vontade de se mexer. Os membros de seu corpo pareciam estar mais pesados que o normal, e estava se sentindo um pouco sonolento.

Dormir no meio de uma praça enquanto estava nevando e mal aquecido era certamente algo que não deveria fazer, mas não conseguiu reunir força de vontade o suficiente para mover seu corpo.

— Nós somos gêmeos, GÊMEOS! E nossos pais nem se dão ao trabalho de lembrar que nós fazemos aniversário no mesmo dia! Eles mandaram um email pra você, não foi? Adivinha o que eles disseram pra mim? Não foi ‘feliz aniversário, Miyako’, claro que não, eles disseram ‘você deveria se esforçar mais para ser igual ao seu irmão mais velho, Miyako’. Isso tudo porque você nasceu alguns segundos antes de mim! ... Eu odeio você. Odeio você, ODEIO VOCÊ—!

— Sabe Yamato, sempre achei que você fosse uma pessoa super esperta, um gênio ou algo do tipo, mas acho que estava te dando crédito demais. Me diga, está tentando ver quanto tempo consegue ficar sentado em um balanço no meio de uma nevasca antes de ficar com hipotermia?

Yamato piscou, não esperando que alguém interrompesse seus pensamentos. Devia estar exausto, pois sua mente demorou um pouco para associar a voz com a pessoa a quem pertencia.

—... Hibiki?

Escutou uma risadinha sem humor. Levantou um pouco a cabeça com certa dificuldade e se encontrou encarando o adolescente mais velho, que tinha uma expressão nada amigável em seu rosto.

— Eu trabalho na loja do outro lado da rua, — Hibiki apontou para um prédio de tijolos vermelhos, — E eu vi o momento em que você chegou. Isso foi há uma hora e vinte minutos, Yamato. Você está sentado sem se mexer nesse balanço por uma hora e vinte minutos!

Yamato encolheu-se um pouco. Nunca havia escutado Hibiki soar tão irritado, e ter essa raiva aparentemente dirigida a si causou uma sensação desconfortável em seu peito.

Precisou limpar a garganta algumas vezes antes de conseguir responder.

— Eu... Estava apenas pensando em alguns assuntos pessoais, não é nada que você precise se preocupar. — Yamato odiou o tom hesitante que sua voz havia adquirido.

Hibiki levantou uma de suas sobrancelhas, e Yamato mentalmente traduziu o olhar que recebeu do jovem em algo do tipo: Você está falando sério?

Yamato se encolheu mais um pouco, mas recusou-se a desviar seus olhos dos de Hibiki.

Os dois continuaram se encarando por mais alguns segundos, até que Hibiki soltou algo que pareceu um suspiro resignado e se aproximou do adolescente mais novo, seus movimentos determinados.

Antes que Yamato pudesse perguntar o que o mais velho queria, sentiu as mãos de Hibiki tocando seu pescoço, sua testa e algumas outras partes de seu corpo que não estavam escondidas por roupas. A reação de Yamato foi imediata e violenta, segurando as mãos que estavam lhe tocando com um aperto forte e enterrando suas unhas no pulso do mais velho.

— O que você pensa que está fazendo!? — Sua voz era lívida.

— Checando sua temperatura. — Hibiki respondeu imediatamente, parecendo não sentir, ou simplesmente ignorando a dor que devia estar sentindo em seus pulsos. Ele estreitou seus olhos e continuou, — Yamato, você está congelando.

— Isso não é da sua conta, eu estou bem! — Respondeu indignado. Empurrou os braços de Hibiki para longe de si e tentou se levantar para ir embora, mas assim que ficou de pé, suas pernas cederam ao tentarem sustentar o seu peso. Sentiu os braços de Hibiki lhe segurarem antes que terminasse de cara na neve.

— Acho que nós dois temos significados diferentes para a palavra “bem”. — Hibiki disse, áspero.

Yamato rosnou.

— Veja bem Yamato, você pode dizer quantas vezes quiser que você está bem, que sua saúde não é da minha conta, que eu não tenho o direito de me intrometer na sua vida, ou em qualquer outra desculpa que conseguir pensar para proteger o seu orgulho, mas todas essas palavras vão entrar por um ouvido e sair pelo outro. Eu sou seu amigo, e eu me importo sobre o que acontece com você! Esse é o trabalho dos amigos, se importar! Você pode gritar, me ignorar, me agredir, ou fazer qualquer outra coisa que faça você se sentir melhor mais tarde, mas nesse momento você não está bem e ninguém vai me impedir de ajudar o meu amigo... Nem mesmo ele próprio. — O tom da voz de Hibiki era final.

Yamato cerrou seus olhos, comprimiu seus lábios em uma firme linha, e lançou um olhar gélido na direção de Hibiki.

O mais velho soltou outro suspiro e ajudou Yamato a voltar a sentar no balanço.

— Eu vou chamar um taxi. — Hibiki disse em voz baixa.

Yamato escutou os passos do mais velho se distância de si. Não conseguia sentir suas mãos direito, mas ainda tinha controle suficiente para formar punhos com as mesmas.

A situação em que estava era humilhante. Ele era um Hotsuin, e mesmo assim estava demonstrando fraqueza, como se fosse uma pessoa qualquer. Havia deixado Hibiki lhe ajudar como se fosse uma pessoa indefesa, que não tinha nem a capacidade de cuidar de si mesma.

Pela primeira vez em sua vida Yamato sentiu desgosto sobre si mesmo.

Ele também sentiu seu peito se apertar quando se lembrou das palavras de Hibiki, mas estava determinado a não pensar sobre o porquê estava reagindo daquele jeito.

No fim, palavras bonitas eram apenas palavras.

XxXxXxX