Tales of Arendelle escrita por Gerda Andersen


Capítulo 2
Capítulo 2: "A pessoa mais legal, gentil e calorosa de todas"


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o segundo one-shot. Podem fazer algumas sugestões de one-shots, se quiserem.



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Para Anna, Elsa sempre foi legal e gentil.

Isso nunca mudou muito em sua opinião, não importava as circunstâncias estranhas e desconcertantes em que ambas se encontravam, afinal, a menina sempre tentou preservar a imagem que ela tinha em suas memórias: a irmã mais velha de cabelos loiros que sempre seria a pessoa mais linda (quase tanto quanto sua mãe!), gentil e legal de todos os tempos. Esses fatos eram algo que deixou uma marca na mente remexida de cinco anos da princesa mais nova de Arendelle, mas, tinha algo que até ela percebia com sua mente inocente.

Para Anna, Ela sempre foi fria.

Tudo sobre sua irmã parecia gritar frieza. Seus cabelos loiros, quase da cor da neve, que só eram vencidos pela própria pela cor de neve que a futura rainha sempre possuiu. Seus olhos eram da cor do mais puro e azul gelo, seus vestidos sendo escolhidos meticulosamente da mesma cor. Sua voz, seus gestos, seu olhar, sua graça. Tudo, mas tudo mesmo gritava sobre frieza em sua irmã.

Claro, quando era menor, Anna acreditava que isso nunca seria algo ruim, porque ela era Elsa. Sua irmã mais velha e a pessoa mais gentil e legal do mundo. Só que, enquanto crescia a meio de solidão no castelo de pedras frias, dias de bonecos de neve e risadas ficando cada vez mais para trás, a princesa perdeu qualquer fé que tinha nas coisas frias. Afinal, não haviam mais bonecos de neve para lhe recomfortar com a ilusão de que o frio era bom.

Isso só piorou quando seus pais saíram em viagem. E nunca mais voltaram.

Anna se lembrava perfeitamente de quando o conselheiro os informou de que o navio havia desaparecido em meio das frias água, enquanto iam em direção de Corona. De repente, seu coração caloroso parecia uma grande bola de neve e tudo o que ela sentia era frio. Frio quando teve que observar suas pinturas sendo cobertas por aquele pano negro, eternamente escondendo suas faces sorridentes. Frio quando viu suas coisas, para nunca mais serem tocadas. Frio no funeral. Apenas frio, frio e mais frio.

A princesa também se lembrava quando foi falar com sua irmã mais velha. Por um momento, ela teve o pensamento mais egoísta que já havia tido em sua vida. Com seus pais mortos, ela não teria mais ninguém com quem falar. Então, teria que falar com ela, certo? Apesar do desgosto por si própria quando percebeu que estava se aproveitando da morte de seus pais, ela não conseguiu deixar de ter um pouco de esperança, uma pequena chama que queimava em seu peito. Contendo o impulso que quebrar a porta com seus chutes, ela bateu na mesma, cantou e até chamou sua irmã mais velha com sua frase de sempre.

O frio voltou de repente, o choque térmico quase físico enquanto ela sentava de costas para a porta (a porta era fria, tão fria. Por que era tão fria?) e chorava, as lágrimas que deviam ser quentes pareciam geladas contra seu rosto. Seu corpo tremia de frio. E aquela tinha sido a primeira vez que ela notou algo sobre a futura rainha.

Pela primeira vez em sempre, ela notou que Elsa era fria.

Algo que ela sempre quis negar, é, claro. Afinal, a mesma era sua irmã, não era? Ela se importava com ela... Não se importava? Era o que ela achava, mas Elsa era uma criatura fria. Sem coração. Porque apenas uma pessoa sem qualquer coração faria isso com sua irmã mais nova. A deixaria sozinha no funeral. Não falaria com ela. Não a abraçaria, como família deveria ser. Elsa não era mais família, apenas uma estranha que morava na própria casa.

Uma estranha fria, Anna percebeu, muito fria.

No dia da coroação, Anna estava pronta para desacreditar em algumas de suas crenças sobre a nova rainha.

Afinal, ela estava muito feliz. Por uma vez na eternidade, finalmente saíra daquele castelo de pedras frias (“Frias como sua irmã”, sua mente traidora sussurrou, mas ela estava animada demais para ouvir), havia visto a vila, os moradores, os nobres a tinha até conhecido um rapaz (um príncipe, se corrigiu) muito bonito. A coroação oficial tinha sido maravilhosa e agora todos estavam dançando. Anna até se sentia graciosa, para ao lado da rainha.

Mas, é claro, sua irmã tinha que arruinar o momento de graça e lhe dizer que estava uma graça.

Não que não estivesse feliz com isso, afinal, era a primeira vez que ouvia a voz de sua irmã sendo dirigida para ela em muitos anos. Porém, sendo a desmiolada que ela era, tinha que dizer algo em troca e se enrolar com sua resposta, falando besteira e se humilhando. Provavelmente perdendo a única chance que tinha de se reconciliar com sua irmã mais velha, agora uma rainha...

Então sua irmã riu. O som da risada de Elsa era uma das coisas mais bonitas que Anna já havia ouvido, era um som estranha, mas bonitos. Levou um tempo para reconhecer que já havia ouvido esse belo som antes, praticamente treze anos atrás e não conseguiu parar de pensar em como era legal da parte de sua irmã ignorar a auto humilhação da mais nova.

Sim, durante os anos, ela havia se esquecido de como Elsa era legal, mas, agora, sentia algo estranha preencher seu peito. O mesmo calor que sentiu quando saiu dos portões pela primeira vez. Ou quando falou com aquele príncipe gentil, Hans. Sua irmã era muito legal, ela só não mostrava muito isso. Só que, com essa contradição, Elsa também era sua irmã e, por conseqüência, tinha que fazer algo para lhe atormentar.

Por isso, oferecer ao Duque de Weselton para que ele dançasse com Anna, foi uma tacada de gênio. O idoso pisou em seu pé, dançou feito um maluco possuído e quase a derrubou várias vezes. Mas, vendo Elsa sorrir ao meio de tudo isso, ajudou muito a melhorar o humor de Anna, mesmo com os pés machucados e a respiração fora de qualquer ordem.

Quando voltou, a menina com cabelos loiro-morango bufou enquanto andava em direção de sua irmã. Por uma vez na eternidade, sentia como se fosse uma criança de cinco anos novamente, pronta para brincar com sua irmã mais velha, fazer bonecos de neve e comer chocolates e mais chocolates. A coisa que ela mais gostou foi o fato da rainha ter lhe dado um sorriso simpático e gentil quando a princesa voltara, fazendo aquele calor estranho voltar.

Depois de muitos anos, a princesa havia esquecido o quanto sua irmã podia ser gentil. A quantidade de vezes em que Elsa a abraçara gentilmente quando ela tinha um pesadelo, sua irmã lhe ajudando a limpar seus machucados quando caia, sua irmã gentilmente prendendo os cabelos de Anna enquanto lhe prometia que um dia lhe ensinaria a fazer uma trança. A mais velha sempre tinha olhos gentis enquanto fazia essas coisas. Anna havia se esquecido, afinal, faziam quase treze anos. Mas esses traços de Elsa nunca sumiram, não, ela só perdeu suas chances de ver.

Só que esses momentos foram arruinados quando elas discutiram sobre como os portões poderiam estar sempre abertos. Elsa disse não. Anna já esperava por isso.

Por essa razão, quando ela esbarrou em Hans, o príncipe bonito que conhecera mais cedo, ela se sentiu aliviada. Eles riram, comeram e cantaram. O tempo todo, Anna sentiu algo em seu peito. Mais um tipo de calor, enquanto ela estava junto a Hans. O pensamento de que ele poderia ir embora era assustador, por isso, quando ele a pediu em casamento logo no mesmo dia em que eles se conheceram, ela não hesitou em dizer sim imediatamente. Anna não queria que aquele calor fosse embora, não queria ficar mais sozinha naquele castelo de pedras frias com uma irmã igualmente fria.

Mas Elsa não entendia isso do mesmo jeito que Anna.

Ela olhara estranho para os dois, como se estivesse tentando entender se isso era uma brincadeira. Mas, então, ela percebeu que não era pediu para falar com Anna a sós, seu rosto com uma expressão nervosa. Por uma vez na eternidade, Anna relutou com sua irmã e a fez falar na frente dela e de Hans que a princesa simplesmente não podia se casar com alguém que ela tinha acabado de conhecer. A parte mais lógica de Anna, concordou com Elsa, sabendo que não era uma boa idéia se casar com alguém que acabara de conhecer, mesmo com a estranha sincronização mental que ambos tinhas. Mas, a maior parte, a parte que não queria que o frio voltasse, discordou e falou sobre amor verdadeiro.

– Anna, o que você sabe sobre amor verdadeiro? – A mais velha havia perguntado, sua voz e face friamente calma.

“Faça algo.” Anna implorou mentalmente. “Grite comigo, me chame de idiota, fique feliz por mim, mas, por uma vez na eternidade, aja como a minha irmã mais velha, não seja fria, por favor, Elsa, por favor.”

Mas ela não fez nada disso e Anna explodiu.

– Mas do que você. – A princesa falou e ficou satisfeita pelo quando sua irmã parecia machucada com seu comentário, seus olhos azuis triste.

Mas, pelo menos, ela não estava mentindo. Estava certa.

Levou um inverno eterno, uma rainha da neve que acabara sendo sua própria irmã, um doce cara com uma rena, traição e, mais importante ainda, um boneco de neve falante, para que Anna percebesse o quanto ela estava errada.

E lá estava ela, uma estatua de gelo puro, que recusara o beijo de amor verdadeiro (de Kristoff. Ah, Kristoff, por que ela não percebera antes que o amava? Que amava seu sorriso doce, seu jeito gentil? Que amava o calor que ele trazia para seu peito?) para salvar sua irmã do príncipe que ela achava que amava e que tentou matar sua irmã (Hans, aquele traidor maldito, miserável, que trouxe de volta o frio em seu coração mais do que nunca). Por algum motivo, Anna não estava morta, não exatamente.

Ela podia sentir tudo ao seu redor, podia sentir sua irmã, que agora a abraçava, podia sentir suas lágrimas caindo em seu peito. Podia sentir tudo. E era quente. Surpreendentemente, tudo sobre Elsa naquele momento era caloroso, suas lágrimas, seus braços e até sua pele geralmente fria. Ter sua irmã ali, chorando por ela e lhe dando seu primeiro abraço em treze anos a fez sentir aquele calor em seu peito, assim como antes. Por uma vez na eternidade que foi os treze anos sozinha, no castelo de pedras frias, sua irmã praticamente se tornando uma porta fechada e seus pais indo embora, para sempre; ela percebeu o que era aquele sentimento caloroso.

Era amor.

Sim, ela amava sua irmã, amava ela mais que tudo em sua vida. Amava seu sorriso gentil, seus comentários legais e abraços calorosos. Porque Elsa era sua irmã. E ela era a pessoa mais caloroso de todo o mundo. O sentimento de calor começou a crescer mais e mais e Anna percebeu que não estava mais com frio. Que não era mais gelo. Que amava a sua irmã.

E, quando seu coração finalmente descongelou, ela falou isso pra ela.

...

Olaf falava muitas coisas sem sentido. Muitas mesmo, Anna tinha que admitir.

Teve um ponto em que ela parou de levar em consideração tudo o que o boneco de neve havia falado, esse ponto, ela tinha quase certeza que havia sido logo após de sua canção sobre como ele iria se divertir no verão e se bronzear. Sim, aquilo tinha sido muito estranho. Mas ele tinha frases que simplesmente eram ótimas e a inspiravam muito, como quando ele disse que havia pessoas para quais valiam a pena derreter.

Então, enquanto ela via Elsa brincar com crianças, criando rinques de gelo para patinação, congelava as fontes e fazia nevar, Anna tentava patinar com a ajuda de Olaf, seu gravetinhos de mãos a segurando para que ela não caísse, a princesa sorriu para o boneco de neve.

“Você estava certo, Olaf.” Anna pensou com um sorriso.

“Eu aposto que ela é a pessoa mais legal, gentil e calorosa de todos.” Olaf havia dito alguma hora durante a jornada pelo verão.

E Anna concordava.


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