Rafael havia dormido por um longo tempo depois que a luta havia terminado, muitos dos Piratas comemoravam, houve uma festa no qual eu não me permiti fazer parte. Gancho havia feito com que os Garotos-Perdidos entregassem sua posição, fazendo então uma estratégia para invadirmos seu acampamento. Eu não gostava de ter que ficar vendo aquilo, era revigorante, e minha maior vontade era poder solta-los, eles são apenas crianças! Alguns mais velhos, mas por que teríamos que mantê-los aqui? Isso não acabou?

De qualquer forma, eu só penso em levar meu irmão para casa, já havíamos provado muito sobre Neverland. E tanto eu quanto ele, não gostaríamos de participarmos de uma guerra ou estar perto da morte.

Havia saído do quarto de Gancho, meu irmão não acordaria tão cedo. Os Piratas ainda comemoravam, e quando apareci, só foi mais um motivo para trazerem mais bebidas. Neguei com a cabeça quando me serviam, e procurei por Gancho. Ele – como quase sempre – era o mais bêbado daquele lugar. Estava deitado longe dos Piratas, e cantava uma canção que não pude entender nada.

– Você devia parar de beber – Murmurei me sentando do outro lado.

– E desde quando você se importa comigo? – Ele perguntou e eu vi pelo canto dos olhos ele sorrir para mim.

– Não me importo – Respondi engolindo seco. Ele riu e pegou uma garrafa e colocou-a na boca tomando aquele líquido ardente.

– Sendo assim, eu vou beber até não poder mais - Ele disse e olhou novamente para mim. – Estava pensando… em você morar aqui.

Arregalei os olhos no mesmo instante.

– Vou para casa Gancho, aqui não é meu lugar e nem de Rafael – Eu disse fazendo com que Gancho desviasse o olhar.

– O garoto é inteligente, mas eu não acho que vocês possam voltar para casa.

– Por que?! – Eu fiquei de pé irritada.

– Porque, se você quer ir para casa, precisa falar com Pan – Gancho respondeu normalmente.

Arregalei os olhos novamente e pensei na possibilidade. Peter Pan me odiava, deveria estar pensando em como me matar. Eu estava perdida, não voltaria para casa, mas deveria tentar. Poderia fazer um acordo, já ficaria grata o bastante se ele levasse Rafael para casa. Mas, pelo jeitinho de Peter, ele não vai querer. Ele deve estar com raiva de mim por tê-lo vencido.

– Não me diga que você vai querer tentar – Gancho olhou para mim na esperança que eu desistisse.

– Eu vou sim, preciso falar com ele – Eu disse e ouvi o resmungo dele.

Não o esperei e corri até o quarto e vi que Rafael ainda dormia. Seria bom se ele não participasse do que estava prestes a fazer, seria de extremo risco e eu não me perdoaria se alguém o machucasse. Escrevi uma carta para ele e deixei-a no seu bolso da calça, depois voltei para fora e vi que Gancho falava com os Piratas, mesmo parecendo bêbado, ele passava ordens e quando me viu virou a cara. Ele devia estar irritado, mas o que mais eu podia fazer? Dava para notar que Gancho não queria que eu tentasse voltar para casa.

– Vamos agir agora! – Gancho olhou para mim. Arregalei os olhos mas depois assenti. Se ele estava dando uma oportunidade, eu não negaria. – Você vai com aqueles dois ali.

Ele apontou para Smih e um outro que tinha um tapa-olho. Assenti novamente.

Depois de um tempo, o barco já estava preparado. O único pressentimento ruim que tinha era sobre a coisa que havia me atacado enquanto subia no navio. Elas não eram uns amores, e depois do que aconteceu, meu corpo tremulava em resposta. Tratei de pegar uma espada para não ter complicações enquanto avançássemos com o barco. Olhei para trás, e via que estávamos nos distanciamos. Suspirei, Rafael é um garoto inteligente, não vai dar problemas enquanto estiver fora.

– Perdão senhorita, mas Gancho não quer vê-la com uma espada – Smih disse pegando a espada de minha mão.

– Por que? – Quis saber.

– Não vai precisar, não agora – Smih respondeu suspirando e olhando em volta preocupado.

– O que são? – Perguntei me referindo a coisa.

– Sereias, senhorita – Ele respondeu tremulo.

Arregalei os olhos e abri a boca em um perfeito “O”. Não acredito! Como elas podem ser tão diferentes?! Elas são delicadas! São como a Ariel. Deveriam ser, mas eu não podia botar tanta fé nisso.

– O meu nome é Maria. Sou filha de um mercador. Eu deixei meus pais e 3000 por ano sim senhor – O Pirata de tapa-olho cantarolou completamente bêbado. Smih bateu nele e o barco se mexeu com tal movimento.

– O que foi? – Perguntei preocupada.

– Calado seu idiota! – Smih tampou a boca do Pirata com as duas mãos e olhou para os lados, jogou a espada com o pé para mim e eu a peguei preocupada. Olhei para os lados assim como Smih e o mar estava calmo, a Ilha a nossa frente ainda estava pouco longe, comecei a remar lentamente ainda olhando para os lados.

– Se cantar, pode atrai-las – Smih comentou e eu assenti. Depois soltou suas mãos do Pirata e pegou uma espada. – Acho que está tudo bem.

Ele forçou o sorriso e começou a remar mais depressa.

– Eu ainda espero ser beijado por uma Sereia – O Pirata riu e se deitou como se estivesse prestes a dormir.

– Acho que Gancho não pensou direito quando tratou de escolhe-lo – Eu ri tentando tirar a tensão e Smih me acompanhou.

Quando olho para a praia, eu vejo dois garotos. Cutuquei Smih e ele olhou.

– O que eles estão fazendo? – Smih perguntou ainda não tirando os olhos.

Os garotos estavam rindo e olharam para nós. Depois saíram correndo e entrando dentro da floresta.

– Foram avisar Peter Pan – Respondi engolindo seco.

– Mas ainda não está na hora! – Smih soltou e olhou para mim incrédulo.

– Como assim Smih? – Quis saber mas ele negou com a cabeça. Peguei a espada e apontei para sua garganta. – Me diga.

– T-tudo b-bem – Ele gaguejou então tirei a lamina. – Gancho quer atacar Peter Pan.

– Explique direito, Smih – Ordenei e ele assentiu.

– Ele planeja ataca-lo de surpresa enquanto estiver conversando com Pan – Smih bateu na testa.

Eu não posso acreditar, não acredito que ele quer estragar a chance de eu poder ir para casa! Eu não vou deixar, não mesmo.