Não tinha Escapatória. Como se, em um único instante, meus sonhos se despedaçassem revelando um mundo horrendo por trás dele. Nunca pensei que a realidade pudesse ser tão diferente do que havia estudado nessas ultimas semanas. Que por trás de sorrisos graciosos houvessem sorrisos de um único demônio.

Quando acordo, tenho uma breve, porém deliciosa, sensação de alivio. Não só porque o Navio do Capitão Killian Jones parece se manter estável, mas há de ser mais seguro ficar com os Piratas do que vagando por ai sozinha.

Ainda tento me manter de pé com as situações em que ando me metendo, mas parece impossível. Ás vezes chega a ser difícil enfrentar o dia seguinte com o pé direito. Mesmo com todo o pânico instalado em mim, eu tento – aos poucos – sair desse lugar.

Neverland - o lugar em que estou - parecia mágico nos Contos que minha Mãe lia para mim quando ia dormir, mas a realidade é totalmente o contrário e aterrorizante. As plantas da Ilha, ou eram comestíveis ou eram cobertas por um liquido pegajoso no qual os Piratas e Garotos Perdidos usavam para manipular o inimigo. As sereias, ao contrário de delicadas, expressavam sua raiva através dos dentes afiados e brancos, aconselho não ficar perto delas quando houver noite de Lua Cheia.

Na minha cabeça, este mundo parecia ser mais normal do que meu antigo mundo, claro que tinha suas dificuldades, porém ser independente de si próprio era algo que todos aqui eram, até eu.

Meus pés finalmente tocam o chão do quarto de Killian. Apesar de parecer estranho, o Capitão Killian Jones – Ou Gancho – era um homem maduro e inteligente, ao contrário do livro, ele é o bonzinho. Mesmo eu sendo a arrogante , ele me dera um lar aqui no Navio temporariamente e me treinava com armas toda manhã.

Meus pés recuaram automaticamente ao me virar e ver um garoto sentado no sofá, olhando para o Horizonte da janela a sua frente. O sol parecia existir há mais de 3 horas, e o mar não estava agitado como ontem. O garoto parecia se entreter com aquilo e como em um passe, seu rosto foi mostrado pelo vidro da janela.

Adrenalina percorre todo o meu corpo, apagando toda a preocupação do dia, enquanto me concentro na ameaça imediata que se encontra diante de mim. Peter Pan.

Acalme-se, ordeno a mim mesma. Não que seja a primeira vez que eu tenha o visto. Isso já havia acontecido duas vezes desde que vim para Neverland, mas Killian estava sempre comigo. Impossibilitando meus argumentos para o garoto brincalhão.

Mas onde havia se metido Killian afinal? Será que não percebeu a grande ameaça presente no seu próprio quarto? Será que algo havia acontecido a ele?

Meus olhos tentam espiar a expressão de seu rosto, mas era inútil. Sem nem ao menos notar minha presença, pensei em correr o mais rápido que podia. Fiquei alguns segundos esperando qualquer movimento seu e assim que percebi que ele ficaria naquela postura mais algum tempo disparei para a porta da saída. Assim que toquei a maçaneta da porta, mãos me puxaram pela cintura e me empurram bruscamente para a parede ao lado da minha saída.

Então, quando percebi que minhas costas tocavam a parede, olhei para o garoto que segurava meus pulsos.

Seu rosto estava tão próximo ao meu, que apenas seus olhos escuros eram vistos por mim. Ele tinha a mesma expressão perversa dos últimos dias...Engoli seco e desviei meus olhos para criar alguma distração.

–O que faz aqui Pan? –Perguntei franzindo o cenho. Ele riu e se afastou, mas suas mãos ainda me prendiam impossibilitando alguma forma de escapar.

–Onde estão suas maneiras de tratar um amigo?–Ele sorriu e finalmente soltou meus pulsos. As marcas vermelhas que ele havia deixado estavam expostas e massageei tentando parecer com raiva. –Não apertei tanto assim, Lena.

Franzi a testa. Ele sabia meu nome e já me dera um apelido tosco. Mas oque ele fazia aqui afinal? Porque veio até mim? Ele estava buscando informações sobre mim, mas o que ele queria? Balancei a cabeça e prestei atenção no garoto que acabara de pegar uma adaga.

Seus olhos percorreram meu corpo e senti um calafrio quando ele se aproximou de mim, recuei o máximo que pude e assim que toquei minhas costas á parede senti que estaria morta. Ele sorriu maliciosamente e com um ato já perceptível acariciou meu rosto com a lamina afiada.

–Preciso que seja algo para mim.–Ele ergue a sobrancelha e sorri dando um pequeno corte em minha bochecha. Grunhi e senti uma forte tontura invadir meu corpo, e quando tudo parecia estar se apagando, caí nos braços de meu maior inimigo. Peter Pan.