Não que eu odiasse profundamente tudo o que fosse rosa, purpurinado ou feminino, mas não estava com humor nenhum pra poder fazer uma festa do pijama.

Sério, o que essa patricinha problemática tinha em mente quando planejou que nós, garotas frustradas e completamente diferentes, íamos achar super divertido fazer uma festa do pijama, aquela coisa de menininhas frescas e problemáticas que são adoradas por todo mundo.

Não que eu seja uma menina antipática e sem amigos, mas eu tenho alguns amigos aqui ou ali, nada muito extravagante. Meu melhor amigo é o FatLouie e simplesmente ele. Aquele gato é o único que me entende por completo.

Nem nerd, nem popular. Simplesmente aquele que fala com qualquer pessoa, sem nenhum patamar necessário. Já eu não sou muito de conversa, gosto mesmo é de ficar na minha pensando em como o mundo é estupidamente ridículo. Por exemplo: não fico reclamando aleatoriamente em como eu tenho medo da Clarice, porque ela simplesmente não fez nada contra mim.

E é assim que eu levo o mundo: amando meu gato. Ele é tudo pra mim, o meu mundo das formas mais diversas. Era com ele que eu brincava, com quem assistia filmes e com quem eu sempre saio.

Hoje ele estava comigo nessa festa do pijama, o que tornou as coisas mais aceitáveis, pelo menos. O seu pelo malhado é algo que, de alguma forma, faz com que eu tenha menos raiva e agonia daquela espécime de gente que é Silena Beauregard. Então acho que o fato de acariciá-lo foi o que me fez não surtar quando ouvi a voz dina da patricinha.

— Garotas, essa podia ser apenas mais uma reunião feminina, mas hoje vamos nos juntar para planejar algo contra aqueles brutamontes.

— Sinto como se isso fosse uma indireta. Será que eu fui a única aqui que notei que o único "brutamontes" é aquele tal Chales sei-lá-das-quantas? — indagou uma das irmãs Gardner.

Bem, acho que eu poderia comparar Katie como uma especialista em amor, porque pra poder "domar" aquele ser estúpido que se chama Travis Stoll tem que ter alguma coisa muito especial, como uma carta de Hogwards ou um doutorado em Ciências Biológicas. Ou mesmo ter uma paciência invejável, para poder aguentar todas aquelas pegadinhas diárias. Só que, no fundo, eu apenas acredito que se tem que ser uma Gardner, porque Miranda tem uma relação meio iô-iô com o outro irmão Stoll, Connor.

— Todos os meninos são meio selvagens. Até Zack Efron.

— Você não tinha dito "selvagens", mas eu tenho que concordar com você. Desde que chegamos aqueles meninos não demostraram organização e muito menos higiene.

— Hey, meus irmãos são higiênicos. Já até vi meu irmão limpar o quarto. — indagou Kaitlin.

— Por que? Ele tinha perdido o celular? — respondi rindo.

— Não, o meu console mesmo. Fiz ele arrumar o quarto até achar ele pra mim.

— Faz sentido.

É, isso só comprova que não se pode mexer com os filhos de Hermes, aqueles loucos desvairados que adoram fazer coisas ilegais (ou pelo menos o que eu acho ser ilegal, como não ter um gato e sim um mini pig de estimação).

Só que, de uma hora pra outra, o silêncio domou o quarto, deixando tudo bem entediante. É sério que ninguém estava se pronunciando.

— E agora, o que devíamos fazer, menininha mimada? — falou Clarice sarcástica.

— Bem, nessas festas geralmente passamos maquiagem, fofocamos e falamos sobre meninos. Só que tenho uma leve impressão de que essa técnica não vai funcionar com vocês.

— Obrigada por finalmente entender o nosso ponto, gênia. Agora podemos fingir que isso nunca aconteceu e voltar para o que realmente venhamos a gostar de fazer? Tipo, acho que socar um saco de areia é bem mais interessante do que fazer uma preparação para dormir.

— Isso não é uma preparação pra dormir porque não vamos fazer isso de forma alguma. Hoje temos que nos socializarmos umas com as outras.

— Porque, claro, somos completamente iguais. Andamos pelas ruas e as pessoas pensam que somos irmãs gêmeas.

Ri do comentário irônico de Thalia, mas uma coisa bem fraca, quase imperceptível. Uma punk, uma ninja, uma patricinha, uma índia, uma jardineira, outra jardineira, uma trolladora e eu. Nossa, será que tem como as coisas ficarem mais estranhas que já estão? É, obviamente acho que já ultrapassamos os limites permitidos de estranheza.

— Por que a gente não faz uma coisa radical?

— E qual é a sua definição de radical, Grace?

— Podíamos invadir a cozinha do hotel e passarmos a madrugada lá comendo. Ouvi dizer que eles tem mais de setenta sabores diferentes de sorvete.

— Achei que você falaria pra furarmos as nossas orelhas e colocarmos alargadores. — disse.

— É isso passou na minha cabeça uma ou duas vezes, mas eu saquei que ninguém seria tão rebelde a esse ponto.

— Eu tenho medo de agulhas, então prefiro pular essa parte.

Sim, não me chamem de infantil, mas até hoje faço o maior escândalo pra tomar vacina. É como se meu corpo paralisasse e eu entrasse em um estado de pânico incomparável. Por isso que sempre tenho umas três ou quatro enfermeiras de prontidão sempre que entro em um hospital.

As meninas concordaram de prontidão, então rapidamente saímos do quarto. Fácil essa parte. Agora tudo que precisamos é chegar na cozinha sem sermos notadas. A sorte é que meu pijama não é fluorescente.

Tudo que fizemos foi correr na ponta dos pés até chegar em uma porta grande e, acima de tudo, trancada. Segunda parte do plano: pular a janela. Como era a mais baixa, fiquei por último, sendo ajudada por Thalia. E não, não consigo explicar a surpresa que tive quando vi que tínhamos também uma patrulha masculina lá dentro.

— Espaço delimitado feminino hoje, brothers. — indagou Kaitlin sorrindo de lado.

Como que aquela menina consegue ser tão ameaçadora com um pijama do Bob Esponja?

— Já estamos de saída. Só viemos aqui pra ver se tinha alguns petiscos.

— E tem, Jackson? — perguntei.

— Não, mas doces é o que não falta aqui.

— É diabético?

— Não, só não gosto muito de doces.

— Até falaria algo, mas sou vegetariana.

— Quites então?

— Digamos que por enquanto.

— Até amanhã, então.

— Até. — o vi ir embora.

Mas, o que eu só pude notar depois foi que, no meu bolso, ele havia deixado um papelzinho dobrado.

Então, enquanto eu tomava sorvete, vi uma coisa que me surrpeendeu.

"Me desculpe"