A Faísca: 70° Jogos Vorazes - Interativa escrita por Tiago Pereira


Capítulo 40
Capítulo 40 - Lara Parker


Notas iniciais do capítulo

Quadragésimo capítulo! Uhul! Gente, obrigado por lerem e me acompanharem por tanto tempo, é incrível estar com vocês, sério! Abraço em especial pro Murilo, pro kaochi, pra Yaah, pra Lara e pro Brenno que são os que mais comentam, valeu mesmo! O Dimitrius NÃO vai ganhar, gente, ok? Ele só está vivo até agora porque vocês quiseram ele até aqui... Bem, curtam este capítulo narrado pela Lara e por favor, não me xinguem! LEIAM AS NOTAS FINAIS e... ah!, favoritem, comentem e recomendem esta fic!



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Após as cornetas o hino começa. Me levantei, com as pernas bambas e procurando uma estrutura para me apoiar. Estamos dormindo entre árvores, e é na mais próxima que me escoro. Olho para Crystal. Tornamo-nos aliadas desde o primeiro dia de treinamento, ciente de que com ela me ajudando chegaria dentre os oito finalistas. Estamos em onze, e isso já é um progresso.

Só há um meio de meu retorno para casa: unir-se ao inimigo. Os papéis se inverteram agora. Minha aliada é minha inimiga, meu inimigo é meu aliado. Estes são os Jogos. Ficamos paradas, uma olhando para a outra, podendo digladiar a qualquer momento. Sob a neve, camuflado, duas mochilas com suprimentos.

Não há opção, a aliança se encerra por aqui. Só tenho uma pequena faca que uso para caçar. E num movimento ríspido, puxo a bolsa, jogando sobre o ombro. Posso morrer agora, deixei Crystal sozinha. Pelo menos ainda tem comida lá. Começo a correr na ponta dos pés, e minha boca, quase involuntária, forma um nome, o que mais preciso, talvez o único.

– Phillipe!

Ninguém responde. Mas eu não paro de correr e gritar seu nome. Ele não me quer como aliada, prefere perder os Jogos, perder a vida, do que voltar comigo. Desisto de procurá-lo e fico de quatro no chão, deixando que todas as minhas impurezas sentimentais se vão com minhas lágrimas.

– Eu quero voltar para casa - digo em tom claro, engasgando com o choro.

– Podemos voltar juntos, se você cooperar - diz alguma voz.

Puxo a faca do blusão e vasculho o local com os olhos. Aponto a faca para todos os cantos até encontrar, debaixo de uma penumbra, partes do rosto de uma pessoa iluminados pelo luar.

É Phillipe.

– Você veio... - me levanto e ele vem de encontro comigo.

– Sim - ele diz. - Quero voltar pra casa.

– Espero que a gente consiga - eu disse.

– Vamos arranjar um acampamento logo para dormirmos - ele diz e não discutimos mais.

Andamos silenciosamente pela taiga, enquanto somos salpicados suave e lentamente por flocos de neve que caem do céu. Quando não ouvimos mais nada a não ser berrinhos de gafanhotos ou alguns zumbidos de mosquitos, sabemos que este será nosso alojamento.

– Eu fico de guarda e depois te chamo, o.k.? Vou montar umas arapucas com o que peguei da menina do Quatro, pode dormir - diz Phillipe.

– Tá, tá, certo... - digo, com os pensamentos longínquos.

Tento raciocinar os motivos da gentileza de Phillipe. Mesmo que um necessite do outro para ganhar, ainda nos odiamos, ele sabe disso. Amanhã talvez eu acorde amarrada, ou nem acorde. Sabe-se lá o que esse garoto pode fazer. Estou exausta, mas acordo em períodos curtos de sono, para ver se ele ainda está aí e o que ele está fazendo. Na primeira vez ele estava sentado, apenas observando o local, depois estava dormindo. Não o acordei, porque ele me poupa o trabalho.

Abro os olhos após um estranho e duradouro período de sono. Continua nevando mais forte do que antes. Me retenho um pouco mais enquanto averiguo de que tudo está certo. Mas não preciso de muito esforço para perceber que Phillipe não está presente.

Maldito, fui enganada por ele!, penso. Quantas faces esse garoto vai mostrar? Ele é muito imprevisível. Puxei a faca do blusão e apontei para todos os lados, começando a procurá-lo com toda cautela, observando o chão, desvencilhando de suas armadilhas.

Poucos metros depois de andar sorrateiramente, encontro o infeliz garoto puxando de sua armadilha um coelho. Segurando pelas longas orelhas brancas do animal felpudo. Sem pensar duas vezes, estou gritando com ele e acertando um soco no seu braço.

– Por que não avisou que tinha saído?! Por que não me acordou?! Hein? Não somos uma equipe?!

– Eu estou sendo obrigado a estar aqui com você, agradeça eu ter te deixado descansar e ter caçado por nós dois. - Ele diz friamente.

Ele tem razão, mesmo que eu discorde disso em partes. Não quero ficar discorrendo sobre nossa relação nos Jogos, se ganharmos iremos cada um viver sua vida, evitando um ao outro, ou não. De qualquer jeito, tenho de relevar o que ele disse. Se sobrevivermos por mais tempo, farei de tudo para decifrar o que se passa em sua mente.

É provável que ele não abra sua boca para falar de sua família ou de seus traumas, prefiro não conversar com ele mesmo, apenas quando necessário. Voltamos para nosso acampamento. Recolhi galhinhos no decorrer do caminho e agora estou sentada e pensando se acendo ou não uma fogueira. O vento está mais forte e só tem mais alguns palitinhos. É viável não acender nada.

Observo Phillipe tentar tirar o pelo do coelho, mas ele não tem hábitos de caçar, porque no nosso Distrito não tem nada disso. Apenas um cheiro horrível de fumaça, uma paisagem ilustrada de fábricas e material estranho que usam para passar nas lâmpadas. Mas a oportunidade que temos para aprender é ótima. Depois que ele faz da carne do coelho como isca para atrair outros animais, jogamos a pele bem longe de nós. Compartilhamos parte desta carne crua mesmo. O gosto é intragável.

– Precisamos beber água - digo.

– Mastiga a neve - responde Phillipe.

– A neve está mais seca do que nunca - retruco.

– Só tem um lugar pra gente ir

– E onde seria?

– Você sabe... - ele molda um sorriso malicioso.

– O lago. Mas lá é onde estão os Carreiristas.

– Sim, mas quando anunciaram que dois poderiam ganhar tudo mudou. - Começa ele. - Fui lá hoje de manhã, o garoto do Um está de guarda, os outros, que são do Dois não vão se arriscar e foram matar outros tributos. Podemos ir lá, encher nossas garrafas e cair fora. Soube que eles estão começando a passar fome já.

– Perfeito, vamos lá. Desarma suas armadilhas e já pense em armar outras depois que a gente fugir de lá... quem sabe nós façamos uma vítima.

– Então vamos trabalhar como uma dupla de verdade.

– É, vamos.

– Então fazemos assim, você que é mais silenciosa ao andar, então vai atrás da água e eu vou... bem, vou te ajudar.

Seja lá o que ele quis dizer eu concordo, precisamos de água para viver. Pela primeira vez desde que nos conhecemos trocamos sorrisos. Ele era um menino chorão a primeira vez que conversamos no trem, e isso irritava bastante, mas agora ele está determinado a ganhar. Esse é um dos vários efeitos que a arena proporciona.

Seguimos caminhos opostos, e eu andejo silenciosamente pela neve, dando alguns pulinhos, sem importar se há pessoas. Porém, não sou tola e fico de olho para não cair em armadilhas. E isso é eficaz, porque encontrei uma muito bem camuflada. Analisei-a meticulosamente e só posso deduzir estar minado. Obra de Clevence e parece estar aqui há um tempinho, pelo leve derretimento da parte de baixo.

Comecei a dar saltinhos, esquivando das bombas escondidas. Se alguma coisa ligeiramente pesada cair, morro no mesmo instante. Espero que só esteja aqui esta armadilha, porque Phillipe pode morrer. Foi assim que ele eliminou Jonathan. Foi muito difícil e ainda é lidar com isso. Nós estávamos vivendo um pequeno e escondido romance, mas foi bom ele ter morrido pelas mãos de outra pessoa.

Quando escapo das bombas, observo que o garoto do 1 que não me recordo o nome está segurando uma lança, pronto para abater qualquer pessoa. Se eu aparecer, ele pode me matar neste instante. Lembro que Crystal havia comentado sobre uma camada de gelo que cobria a água, porém não tem nada aqui. A água está límpida e eu já puxo as garrafas da bolsa e nada mais. Pousei delicadamente a mochila perto da árvore, e espero o que Phillipe está tramando.

Logo, vejo um coelho sendo lançado contra o garoto do 1. Ele faz um movimento abrupto e solta um gorjeio antes de vasculhar o local com os olhos. Coloco a touca para não ser reconhecida e encolho todo o meu corpo. Depois de um tempo, outros cadáveres de animais são arremessados de diretrizes aleatórias.

– Phillipe - solto um murmúrio.

Percebo que este é um sinal, porque da para vê-lo escalando uma árvore. O tributo do 1 prepara o lançamento de sua arma, quando é interceptado por uma matilha de lobos selvagens e de plumagem branca. Ele só consegue gritar parte do nome de seus aliados antes dos animais ferozes derrubam-no na neve e começarem a destrinchar seu uniforme. Outros são mais atraídos pelos cadáveres dos coelhos. Ouço ele gritando pelo nome dos companheiros, mas não há resposta ou sequer fôlego.

É a minha chance. Começo a correr para o lago, já com as garrafas destampadas em minhas mãos. Emergi na água gélida, que faz os pelos da minha nuca ficarem de pé. Em instantes, as garrafas se enchem e eu giro novamente a parte superior, tampando-as. Sinto uma mão me tocar e não tenho tempo para puxar minha faca.

Quando olho para trás, percebo que é Phillipe e isso me alivia. Deve ter dado a volta pelas árvores e quando achou seguro veio até mim. Por pouco não caí no lago com o susto. Entrego a sua garrafa e ele me ajuda a se levantar. Observo a morte lenta do Carreirista que prolonga mais alguns instantes em que sou obrigada a ouvir seus gemidos de dor e súplicas. Ele mal pode falar, mal pode se reconhecer. Creio que agora ele seja um pedaço esfolado de carne e ossos a mostra. Para minha alegria, ouço o tiro de canhão e as mutações-lobos vão embora.

– Vamos, vamos - me apressa Phillipe. Quando viramos para trás, podemos enxergar de longe um par. Eu a reconheço como ninguém: Crystal. - Vamos pegá-la, vamos, vamos.

– Sim, é a nossa chance. Dá tempo da gente guardar as garrafas - e assim fazemos. Enfio rapidamente os objetos na mochila e reparo que não há movimentações da parte dele.

Crystal cruza os braços e Clevence aparece do seu lado, inexpressivo, num raio de bastante metros de distância de nós. Ela grita alguma coisa que é incompreensível pelo som do aerodeslizador que viera buscar o menino do 1. Depois de gritar, ela e seu parceiro viram e saio correndo.

– Vamos seguí-la - Phillipe me puxa despretensioso pelo pulso. Sua força é maior que a minha, e nada posso fazer.

Meus olhos se arregalam de pavor quando me lembro que estamos num campo minado. Não tenho tempo de gritar isso para Phillipe quando nós dois colocamos a bota no chão e o dispositivo explode.

Só consigo enxergar a fuga dos tributos do 3. Da menina que eu fugi na noite anterior, peguei parte de seu suprimento, mas que foi minha aliada. Não há amizade na arena. Phillipe mostrou um lado que eu jamais vou poder compreender. Pudemos nos entender nas últimas horas, e agora tanto ele quanto eu fomos displicentes. E cá estamos nós.

Uma cortina de fogo cobre minha visão enquanto sinto meu corpo implodir. Espero que pedaços da minha carne atinjam Crystal, e carregarei este pensamento para sempre. Nós duas atuamos pecaminosamente.

E foi assim que morri.


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Notas finais do capítulo

Gente, assim. Sobraram somente 8 tributos na arena. Aos 8 finalistas, parabéns, os leitores te amam. Mas, assim, turma, dois podem ganhar... E vocês, sim, VOCÊS irão me ajudar a escolher o vitorioso e etc. Mandem por MP 4 tributos que vocês querem que fiquem entre os últimos 4 (avá) finalistas. Por favor, é essencial! Valeu! Ah, quanto as mortes, estou eliminando as pessoas que vocês escolheram para morrer na Cornucópia, mas adicionando um pouquinho mais de drama, espero que gostem...



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